segunda-feira, 2 de maio de 2011

UM GRANDE BOTONISTA BRASILEIRO. – VICENTE SACCO NETTO.


Minha gente, hoje vou falar de um amigo, colega, irmão e compadre, pois foi padrinho de minha filha Virginia. Veio para Caxias, transferido da agência de Pelotas, o grande VICENTE SACCO NETTO. Assumiu na agência, e, meio tímido, foi se chegando aos poucos.

Num final de semana, convidado para visitar a AABB, encontrou-nos na mesa, jogando futebol de botões. Isso aconteceu em maio de 1966. Estava sentindo-se em casa. Naquele mesmo dia, com um time emprestado, jogamos a nossa primeira partida, que terminou empatada em um tento. De volta à sua casa, abriu todas as caixas, nas quais, continha sua mudança, e só descansou quando encontrou sua caixinha de botões. Depois disso ninguém mais seguraria o homem. Nos finais de semana, jogávamos de manhã, à tarde e muitas vezes até a noite.

Estávamos praticando a regra gaúcha. Vicente entrou na equipe e disputou campeonatos bancários, da AABB e caxiense. E sempre com ótimos resultados. Era um tremendo botonista.

Na ocasião, eu tinha um fusca azul escuro. Meu percurso era sempre o mesmo, pois Vicente morava no caminho para a AABB. Parava, dava duas buzinadas, e lá vinha o Vicente com o seu temível São Paulo. Participou de todos os torneios, inclusive do famoso torneio que realizamos em comemoração ao primeiro aniversário da Liga Caxiense, quando os baianos estiveram nos visitando. Também ficou encantado e imaginou desde logo como ficaria o seu tricolor paulista.

Foi um dos primeiros a aceitar a nova regra. Todos nós encomendávamos times ao seu José Aurélio, na Bahia. Ele também fez a sua encomenda, mas com uma diferença, pois seus botões eram mais baixos do que os demais. Seu time era parecido com os times atuais, da regra de doze toques. Mesmo assim, era duro enfrentar a fera. Cada dia que passava, ele estava melhor em seu desempenho.

Vicente era um fabricante de botões. Em sua cozinha derretia plásticos e conseguia produzir botões muito bem feitos. Até o advento da Regra Brasileira, usávamos bastante esses botões. Fez um Internacional muito lindo, e me deu de presente. Era um verdadeiro amigão.

Suas conquistas foram se acumulando, e nós nos acostumando com a sua presença, sempre constante em nosso meio. Apelidava todos nós. O Puccinelli era o Pinduca, o Calegari passou a ser conhecido como Caligula, Vasques era o Cardeal, e assim por diante. Na revista da AABB, de circulação mensal escrevia uma página, semelhante a uma página de fofocas da Revista do Rádio, na qual a Candinha jogava os podres de todos os artistas para o público. A página dele era: a Candinha no Futebol de Mesa. Lá dizia que a parede do quarto do Caligula estava toda riscada com fórmulas para atacar e defender, que o Sambaquy e o Puccinelli se visitavam para mostrar a galeria de troféus, dizendo lindo...lindo...lindo, que o centro avante do Vasques, o grande Cardeal, estava marcando muitos gols, pois estava sendo mergulhado em uma vasilha com geléia real, que o time do Rubem Bergmann estava gastando cada vez mais, de tanto ser lixado, para correr sobre a mesa....

E assim, foi com enorme surpresa que, em março de 1968, Vicente é transferido para a cidade de Canguçú, no sul do estado. Sua despedida foi festiva, na AABB, em um jantar de gala, quando, Vicente, visivelmente emocionado disse que era um cigano dentro do Banco do Brasil.

Efetivamente foi um verdadeiro cigano, pois trabalhou em diversas agências no país. Quando esteve na gerência em Taquara (RS), enviou-me um livro e uma carta, datada de 13 de setembro de 1980, guardada com carinho em minhas encadernações. Depois passou por Brasília, Pelotas, Bagé e Canguçú novamente, quando então se aposentou. Em dezembro de 2007, outra carta, trazendo a baila os momentos felizes que passamos em torno das mesas, recordando as nossas andanças pela AABB, Noroeste, Vasco, Guarany. Abriu sua vida para mim, e contou-me o que viveu nos últimos anos. Falou que estava comprando uma mesa, para levar ao seu sitio, em Pelotas. Acompanhava essa demonstração de carinho e amizade, um cartão de prata, em que me homenageava como amigo, irmão e mestre. Fiquei imensamente feliz, e recordei que, quando do campeonato brasileiro realizado em Pelotas, também recebi um cartão de prata da APFM e outro, idêntico, estava destinado a ele. Só que, por motivo muito especial, que conheço, ele não compareceu. Mesmo assim, ninguém poderá tirar-lhe o mérito de ter sido o introdutor da Regra Brasileira em Canguçú, e de lá, pela proximidade ao sul do Rio Grande amado.

Caxias do Sul perdeu um tremendo botonista, mas seu trabalho foi feito em Canguçú, onde logo que chegou, fundou a Liga Canguçuense de Futebol de Mesa. Jogavam com ele o Dr. Breno Mussi, Dr. Claudio Mussi, R. Goulart, J. Nascimento. Nós estivemos por duas vezes jogando com os amigos dessa terra querida. E em todas as vezes que estivemos por lá, a acolhida foi de verdadeiros gaúchos, regadas a um bom chimarrão.

Aliás, que se registre na história da Federação Gaúcha de Futebol de Mesa, que por iniciativa de Vicente Sacco Netto, em 1973, na cidade Canguçú, realizou-se o primeiro campeonato estadual na Regra Brasileira.

Não sei se ele terá acesso a essa crônica, que escrevo com saudade. Mas, se o pessoal que milita as agremiações de Pelotas quiser ter em seu meio um ícone, passo o endereço desse amigo querido: Rua Gal. Neto, 1159 – apartamento 701. Quando não está em seu sítio, pode ser encontrado na cidade. A mesa foi levada para seu sítio e lá, tenho certeza, ele deve estar treinando bastante, pois ainda deveremos realizar o nosso 45º jogo.

A vida nos separou, mas o amor pelo futebol de mesa fez com que essa separação fosse apenas física. Em meus pensamentos, diariamente, recordo passagens inesquecíveis que vivemos. As brincadeiras que fazíamos na saída do Banco, brincadeiras que seriam impossíveis de serem esquecidas, como aquela, em que o Vicente, ao ver uma loira linda em sua frente, ficou caminhando vagarosamente e dizendo: “que coisa linda”, “vai ser gostosinha assim lá em casa”, “com uma mulher assim eu ia morar na lua.”... e ficou falando uma série de besteiras. Ao chegar perto do seu prédio, apertou o passo, para ultrapassar a referida loira linda, e ao passar por ela, quase desmaia, pois ela simplesmente disse: Bom dia, seu Vicente. Era a sua vizinha do andar de baixo...

Nunca mais ele soltou uma piada para gata alguma ... O que nós rimos dessa situação embaraçosa, não tem explicação. Até hoje, quando recordo da situação inusitada, dou risadas sozinho.

Esse foi e é o grande botonista Vicente Sacco Netto, um nome para nunca ser esquecido na história do Futebol de Mesa Brasileiro.

Até a semana que vem se Deus quiser.

Sambaquy.



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