segunda-feira, 30 de maio de 2011

SANTA VITÓRIA DO PALMAR – TERRA DE GRANDES LÍDERES.


Minha gente querida existem cidades que podem ser consideradas referenciais no nosso esporte. Uma delas está chamando a atenção de todos nós, após a conquista em Caxias do Sul, do Campeonato Estadual por Equipes: Santa Vitória do Palmar.

Pois, foi nessa cidade que nasceu uma pessoa muito importante nessa modificação do futebol de mesa, de diversão para esporte reconhecido nacional e internacionalmente.

Já havia escrito em crônicas anteriores que ao assumir meu cargo no Banco do Brasil, na cidade de Caxias do Sul, recebi uma revista que era editada pela AABB. Lendo-a atentamente, deparei-me com a informação de que existia um departamento de futebol de mesa, e, sua responsabilidade entregue a Raymundo Antonio Rotta Vasques. Procurei-o, apresentando-me e dizendo que era praticante do futebol de botões. Ele foi muito solicito e marcamos um encontro no sábado, na sede da AABB, para uma partida. Depois dela, nunca mais paramos de jogar, de promover o esporte, de realizar importantes competições a nível estadual e nacional.

Vasques sempre foi uma pessoa sensacional. Redator perfeito, inteligente e prestativo. São dele muitas das histórias que corriam soltas pela agência. Na troca da regra gaúcha pela regra brasileira, a bolinha era um botãozinho denominado olho de peixe. Não havia ainda sido criada a bolinha de polietileno. Como esse botãozinho era muito raro, o Vasques conseguiu encontrar na Loja Pratavieira, algumas caixas. Mandou embrulhar todas elas. A balconista, intrigada com aquela compra perguntou-lhe o que iria fazer com tantos botões, recebendo como resposta: A minha esposa está fazendo uma bandeira do Brasil com esse tipo de botões e é por isso que vou levar todos. Ficamos todos nós supridos dos botões olho de peixe, tendo inclusive fornecido aos baianos, que já encontravam dificuldades em encontrá-los, algumas centenas deles.

Outra história que fez todos darem boas risadas foi levantada pelo Vicente Sacco Netto, que atribuía ao bom desempenho do centro avante Cardeal, do Vitoriense, clube que Vasques defendia no futebol de mesa, a banhos por imersão em geléia real.

Vasques e Calegari foram grandes divulgadores e assumiram o departamento juvenil/infantil da AABB, fazendo com que inúmeros meninos da cidade praticassem futebol de mesa. Um desses meninos era o filho do Vasques, o Raymundinho, que jogava com o Grêmio Porto-alegrense.

Pela estatística de meus jogos, nós nos encontramos por cinqüenta e duas vezes. E sempre foram jogos em que procurávamos jogar o futebol de mesa de cavalheiros. Árbitro era apenas uma figura decorativa em nossos jogos. O Vasques sempre foi um cavalheiro na mesa de botão.

Houve um campeonato em que ele não conseguia jogar direito e estava na eminência de ficar na lanterninha da competição, o que de fato aconteceu. Para premiá-lo, instituímos a entrega, por ocasião da premiação aos vencedores, de uma lanterninha. Isso acabou tornando-se uma obrigação nos campeonatos da AABB. E a grande alegria dele foi entregá-la, no ano seguinte, ao Homero Kraemer de Abreu.

Afinal, as cores verde e preta, do Vitoriense, deveriam ser resguardadas dessas situações difíceis.

Após a minha saída de Caxias, em 1973, só tive contato com ele uma vez, quando em Curitiba, telefonou-me dizendo que estava com vontade de dar uma chegadinha em Brusque para derrotar o seu eterno adversário. Infelizmente não apareceu e o tempo continuou passando, cada vez mais célere.

Fui surpreendido há pouco tempo com um e-mail recebido do Daniel Maciel, então presidente da AFM Caxias do Sul, informando que a filha do meu amigo Vasques queria entrar em contato comigo. Apressei-me a contatar com a Any, que conheci pequeninha em Caxias e ela me informou que o meu amigo está residindo em Florianópolis. Disse que ele estava bem e que quando fosse até a capital desse uma chegadinha na casa dele, para rememorarmos os nossos tempos de lutas em prol do futebol de mesa. Continuamos a conversar seguidamente e ela tem lido as crônicas que escrevo para a AFM. Acredito que vai gostar de saber da importância que seu pai teve na história do futebol de mesa brasileiro, pois se não fosse ele o diretor do departamento de futebol de mesa, quando eu iniciava a minha carreira, talvez continuássemos a jogar escondido em porões ou garagens. A Any me enviou uma coleção de fotos do Vasques a qual será impressa junto com essa crônica. Os mais antigos terão a oportunidade de relembrar dessa figura querida, que desde 1963 representa Santa Vitória do Palmar, com seu Vitoriense, nos gramados de madeira.

Por isso, hoje eu homenageio essa valorosa terra, terra de botonistas autênticos, cavalheiros no amplo sentido da palavra e que tem, em competições nacionais, honrado o nome desse torrão sulista, com conquistas que foram sonhadas quando demos nossos primeiros passos no sentido de divulgar o futebol de mesa.

Vasques, aqui vai o meu grande abraço.

Até a semana que vem se Deus assim permitir.

Sambaquy.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

...E EIS QUE SURGE A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL DE MESA...



Após a criação da Regra Brasileira, em 1967, havia uma enorme vontade de se promover o sonhado Campeonato Brasileiro. Afinal, fora para isso que envidáramos os esforços no sentido de unir os nordestinos aos sulistas.

A iniciativa partiu de quem estava à frente no tempo. A Liga Baiana, sob a presidência de Ademar Carvalho, num arroubo de coragem, determina que o ano de 1970 fosse o marco inicial na vida dos botonistas nacionais. Conseguem o local e os convites são enviados aos interessados. É sabido que quando vieram ao sul, para participar do Torneio de aniversário da Liga Caxiense, os baianos fizeram várias paradas: Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Resultou disso a curiosidade dos cariocas, que ainda usavam botões sem padronização. Os paulistas não aderiram em momento algum à Regra Brasileira. Por essa razão, ao receberem o convite, os cariocas aceitaram imediatamente. Os restantes seriam os estados do nordeste: Pernambuco, Paraíba, Sergipe e Alagoas, que juntamente com a Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul dariam o primeiro passo dessa caminhada que se prolonga anualmente.

Quem patrocinava o campeonato, determinava o modelo da competição. O primeiro foi desenrolado de duas maneiras: individual e em equipes. E foi um campeonato bem desenvolvido, que apesar da vitória individual de dois sergipanos, estabeleceu uma competição entre os estados de Pernambuco e da Bahia. Eles que se enfrentavam nos nordestões, já tinham sua rivalidade acentuada, agravando-se ainda mais nesse primeiro brasileiro.

O grande líder pernambucano era Ivan Lima. Radialista e com um programa de televisão na TV Rádio Clube de Recife, Ivan logo assumiu a responsabilidade da realização do segundo campeonato, nos mesmos moldes desse primeiro. Esse campeonato foi realizado em agosto de 1971, nas dependências do Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães, o Geraldão. Sua arquitetura era imponente e nele haviam dependências para as delegações serem alojadas. Foi um campeonato em que os pernambucanos tiraram dos baianos o título de campeão por equipes. Estavam realizados os amigos pernambucanos com essa conquista, apesar de individualmente, os baianos ficarem com o campeonato e o vice, nas pessoas de Roberto Dartanhã Costa Mello e Aureliano Cezar Zama.

Dois campeonatos concluídos, e os dois no nordeste do país, fez com que sentíssemos que poderíamos realizar o terceiro aqui no Rio Grande do Sul. Como havia reclamações sobre os elevados custos de deslocamentos, imaginamos uma maneira diferente em nosso campeonato. Seria somente individual, como os anteriores também realizaram, evitando que mais três pessoas se deslocassem de seus estados, numa época onde a inflação estava arrasando a econômica. Foi aceito por todos os demais estados, e, visando incrementar o futebol de mesa na Regra Brasileira, convidamos uma dupla de cada cidade gaucha, onde se jogava a regra. Novamente, quem patrocinou o campeonato é quem determinava o modelo a ser praticado. Faltava uma entidade que regulasse, que patrocinasse, que estivesse coordenando a competição. Nossa competição foi realizada no ano de 1972. E ninguém se ofereceu para ser sede do que seria o quarto campeonato.

Passaram-se quatro anos e dava a impressão que o movimento estaria fadado ao fracasso, quando, novamente o Rio Grande do Sul foi o palco do ressurgimento. A bela cidade de Jaguarão, no sul do estado, quase na fronteira com o Uruguai prontifica-se sob a batuta de José Nunes Orcelli e realiza o reencontro dos botonistas brasileiros.

Ao termino desse campeonato, surge à entidade que doravante seria a promotora oficial das competições da modalidade. Chamou-se Associação Brasileira de Futebol de Mesa.

A ata de fundação da entidade, devidamente assinada por todos os presentes dizia em seu corpo:

“Aos vinte e cinco dias do mês de janeiro de mil novecentos e setenta e seis, nas dependências da Sociedade Harmonia Jaguarão, em Jaguarão (RS), ao término do IV CAMPEONATO BRASILEIRO DE FUTEBOL DE MESA, presentes as delegações de ALAGOAS, BAHIA, PARANÁ, SANTA CATARINA, SERGIPE E RIOGRANDE DO SUL, os abaixo assinados fundaram a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL DE MESA, cujos estatutos foram anteriormente aprovados e são anexos a presente e cuja primeira diretoria, eleita pelo Congresso
do IV Campeonato de Futebol de Mesa, fica assim constituída:

Presidente: JOMAR ANTONIO DE JESUS MOURA (BAHIA)

1º Vice Presidente: OLDEMAR DÓRIA SEIXAS (BAHIA)

2º Vice Presidente: JOSÉ NUNES ORCELLI (RIO GRANDE DO SUL)

3º Vice Presidente: GETÚLIO REIS DE FARIA (RIO DE JANEIRO)

4º Vice Presidente: IVAN LIMA (PERNAMBUCO)

5º Vice Presidente: MANOEL NERIVALDO LOPES (PARAIBA)

Diretor Administrativo: ADEMAR DIAS DE CARVALHO (BAHIA)

Diretor Financeiro: ROBERTO DARTANHÃ COSTA MELLO (BAHIA)

Diretor Técnico: NELSON MENEZES DE CARVALHO (BAHIA)

Conselheiros: ADAUTO CELSO SAMBAQUY (SANTA CATARINA)
MARCOS ANTONIO ZENI (RIO GRANDE DO SUL)
PAULO CARVALHO (PERNAMBUCO)

Suplentes: ZOPHESAMIN CAMPOS DE LIMA (ALAGOAS)
JOSÉ GOMES DE ALMEIDA (SERGIPE)
VANDERLEI R. AVILA (RIO GRANDE DO SUL)

E, para constar, eu, VANDERLEI AVILA, secretário do Congresso, lavrei o presente que vai por mim, e pelos demais fundadores, subscrita

Seguem-se as assinaturas de personalidades do mundo do futebol de mesa, muitos dos quais não estão mais entre nós.

Essa entidade passou a organizar e reger os campeonatos da modalidade e, nos anos oitenta, ajudou na criação da Confederação Brasileira de Futebol de Mesa, juntamente com as entidades das regras de três e doze toques.

Por isso, meus amigos, a importância de termos sido os pioneiros no sentido de organização, de regulamentação e aproximação com as demais entidades, conseguindo com isso a tão sonhada regulamentação de nosso esporte.

Essa é mais uma página da história do futebol de mesa nacional. Que se guardem os exemplos daqueles que lutaram para que os sonhos se tornassem realidades.

Até a semana que vem se Deus assim o permitir.

Sambaquy.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

RUBEM BERGMANN: UM NOME A SER REVERENCIADO PARA TODO SEMPRE.




No distante ano de 1940, Rubem Bergmann, o nosso querido CHICÃO, com 21 anos, solteiro, funcionário público, natural de Caxias do Sul, já acumulava três títulos citadinos de futebol de campo. Era zagueiro do E. C. Juventude, seu clube de coração para toda a eternidade.

Chicão é aprovado no concurso do Banco do Brasil e torna-se bancário. Sempre atuou em Caxias e tornou-se uma lenda nas hostes bancárias. Casou e os filhos apareceram em sua vida.

Quando assumimos na função de escriturário, na agência de Caxias, o Chicão era um dos grandes chefes. Era uma pessoa tranqüila, mas dificilmente nós, funcionários recém admitidos, conseguíamos arrancar suas palavras. Era bem resguardado e pouco acessível.

Em 1963, ano em que assumi minha carreira, iniciamos a pratica do futebol de mesa na AABB. Era na Regra Gaúcha, pois havia uma mesa oficial e dois times feitos de resina plástica. Cada um de nós tinha o seu próprio time e raramente usávamos os botões de plástico que foram vendidos pelo Lenine Macedo de Souza.

Um dia, para surpresa geral, Chicão apanha um dos times e coloca na mesa. Queria aprender a jogar futebol de botões. Foi quando se quebrou o gelo e conhecemos o outro lado de sua personalidade. A principio sofria goleadas de todos os praticantes. Mas, aos poucos, foi pegando o jeitinho e com facilidade foi aprendendo a manobrar seus botões.

Pouco tempo depois, adotamos a Regra Brasileira e cada um dos botonistas foi escolhendo um time e solicitando a mim, que fazia as encomendas ao José Aurélio, na Bahia. Com o Chicão não foi diferente, um dia ele aparece com um desenho de um time do Juventude, verde garrafa na parte de cima e branco por baixo. A chegada dos botões foi festejada pelo Chicão, que agora representava o Juventude em competições oficiais. Não tinha as manhas dos botonistas e adotou o Vicente Sacco Netto como o seu preparador físico. Não raro os botões estavam em poder do Vicente para lixar, passar parafina e fazer deslizar nas mesas. A escalação era a mesma que fora campeã, no seu tempo: Benito, Longhi, Galopeto, Bolaxinha, Bolaxa, Frigeri, Raul, Bortinha, Renato, Garbin, Remo e ele próprio. Em uma ocasião, questionado pelo seu filho sobre os nomes, foi detalhando um a um de seus antigos colegas, para no final, receber de seu filho a indagação que gerou muitas risadas de todos nós: Pai, esse seu time parece um cemitério, só tem caras mortos...

O Chicão tinha a chave da sede no edifício Martinato. A razão é que sempre, aos domingos, ele reunia a família para um almoço e como sobremesa, levava seu genro, o Celso Triches, que jogava com o Fluminense, e ficavam batendo bola à tarde inteira. Era um companheirão tremendo, estava sempre pronto para o que fosse necessário, desde carregar mesas, até apitar jogos.

Em 1968, quando o Dirceu Vanazzi, junto com seu cunhado Dario Turra resolveram abrir o departamento de futebol de mesa no Pombal, convidaram ao Chicão e a mim para uma exibição, cujo ponto alto seria um Fla x Ju. Até então, já havíamos jogado quatorze vezes e a única partida que eu não venci, foi um empate em zero a zero. Após as conversas de apresentação, quando lá estavam os grandes craques que militavam o clube, e entre eles os irmãos Costamilan (Sady e Lady) que faziam parte do meu time. Aproveitei e os apresentei aos legítimos craques, de quem havia herdado os nomes, procurando enaltecer as suas qualidades. Não sei se foi essa emoção, pois sempre fui fã declarado dos dois, ou a certeza de que faria um bonito espetáculo, pois o Chicão era freguês do Flamenguinho, ou alguma obra do destino, pois foi o dia em que deu tudo errado. O Chicão foi soberbo, acertava tudo e saiu na frente, logo chegando a dois a zero. No finzinho do jogo, consegui um gol, com um chute do Zizinho que entrou por cima do Benito.

Além da gozação que sofri naquele dia, tive de escutar o Lady dizer ao Sady: Só quem resolvia mesmo no time era o negão, referindo-se ao Zizinho. Depois disso umas boas risadas.

Logo após ter sido transferido para Brusque, soube da morte do Chicão. Um AVC fatal o tirou de nosso convívio. Foi uma perda terrível para a nossa Liga, pois o importante para o Chicão era jogar, não importando o resultado. Era um adversário que sabia apreciar um gol bem construído e aplaudir. Foi um verdadeiro amigo que estava sempre pronto a ajudar aos botonistas que faziam parte de suas amizades.

Com certeza, agora faz parte do time que joga com Décourt, Claudio Schemes, De Boer, Della Torre, Ângelo Slomp, Deodatto Maggi, Almir Manfredini, Marcos Lisboa e tantos outros que passaram pelas mesas e que se encontram no Plano Espiritual.

A AFM o homenageou denominando um de seus estádios com o seu nome.

Ao Chicão a nossa saudade eterna.

Até a semana que vem.

Sambaquy.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

POR QUE ME AFASTEI DO FUTEBOL DE MESA?


Muitas vezes, pessoas têm vontade de perguntar o porquê da minha parada com o futebol de mesa, de dezembro de 1984 a agosto de 2007. Ficam curiosas, respeitando a minha decisão, e protelam a pergunta indefinidamente.

Eu sempre fui dedicado ao esporte. Lutei com forças enormes para implantar a Regra Brasileira no meu estado natal e posteriormente em Santa Catarina. Tive sucesso em ambas as tentativas. Mas isso tudo minou bastante as minhas resistências, e a minha vida ficou bastante atribulada. Responsabilidade de um cargo de chefia no Banco do Brasil, uma família que dependia de minha presença, Rotary Club e Maçonaria. Aliada a isso tudo a minha indicação à presidência da Associação Brasileira de Futebol de Mesa, que na época fazia o papel que hoje cabe à Confederação Brasileira da modalidade.

Acredito que os problemas que surgiram desse cargo pioraram as minhas já parcas resistências.

Para início de conversa, a indicação se deu em Brusque, por ocasião do Primeiro Campeonato Sul Brasileiro, o hoje Centro Sul, através do então presidente da entidade: Antonio Carlos Martins. E, junto ao meu nome foi indicado Eduardo Tonon Narciso da Rocha, de Criciúma.

Dias antes da realização do campeonato brasileiro a ser realizado em Pelotas, recebo um telefonema de um então líder, afirmando que estavam vetando o nome do Eduardo. Solicitei que o comunicassem da decisão, visto que a chapa apresentada pelo presidente Martins, nos colocava lado a lado. O assunto, tratado dessa maneira, seria de fácil contorno, mas nada foi feito. Ao chegar a Pelotas, com a maior delegação presente a um brasileiro, pois saímos de Brusque lotando um ônibus fretado, fomos procurados por líderes que reafirmaram o desejo de não eleger o Eduardo. Novamente solicitei-lhes que usassem de franqueza com ele e explicassem as razões do veto. Novamente nada foi feito. Ao contrário, criaram uma chapa nova e colocaram o nome do presidente da Associação Brusquense, Oscar Bernardi, como o vice-presidente a ser eleito. Tudo isso causou um tumulto inédito em campeonatos brasileiros. O assunto criou um clima de revolta nos botonistas de Criciúma e Florianópolis, julgando traição por parte dos brusquenses. Tudo isso foi sendo acumulado em minha cabeça.

No dia seguinte começam os jogos. Minha primeira partida é com um menino de Santana do Livramento e não consegui jogar direito. Estava abalado emocionalmente. A segunda partida foi contra um carioca, boa gente, e então meu futebol de mesa voltou, aliviando a pressão. A terceira partida foi contra um campeão brasileiro. Primeiro tempo sem abertura do placar. Foi então que, como uma granada, explodiu a minha paciência de uma vez por todas. Foi o pior segundo tempo que eu havia jogado em minha vida. Sob a complacência de um árbitro gaúcho como eu mesmo, caxiense como eu mesmo, morador de outra cidade como eu mesmo, o meu adversário usou e abusou de estratagemas para me irritar. Mandava colocar o goleiro e ele colocava, vinha para a minha posição, voltava para recolocar o goleiro, retornava para a minha e assim ficava minando a minha paciência. Quando eu ia chutar, depois de ter colocado a paleta em cima do botão, ele pedia, para... para, - vou mudar a posição do goleiro.... e assim foi, até que eu perdi a paciência, a razão e a vontade de jogar. Aquilo foi demais para mim. Passei a ceder dois toques, jogar contra meu gol, fazendo bobagens. Revoltado com tudo aquilo, parei de jogar depois daquela partida, que terminou como a minha primeira partida disputada em 1970. Perdi por 7 x 1, como havia perdido para Miltinho, na Bahia. Só que a diferença dessa,o fato para aquela é que não fiz gol contra naquela, e os gols que levei foram conquistados pela perícia do meu adversário. Ao término da partida simplesmente disse que nunca havia jogado sujo contra ninguém, e que essa fora a minha maior decepção no futebol de mesa.

Aprendi desde cedo que o homem que vive a consciência do bem, da dignidade, do caráter, não usa meios ilícitos, vis, para vencer as dificuldades do cotidiano. Seus instrumentos de defesa são o bem, a convicção, a verdade, a honra. Sua coragem nunca hesita no caminho do dever. O ideal constante do dever faz o homem sincero, justo, compreensivo, absolutamente responsável, no exercício da vida.

Confesso que fraquejei, pois não fui consistente. O que pode saber quem não passou pela experiência das provações? A dor prende-se, por um lado ao sofrimento; e por outro, à felicidade. Podemos dizer que é sempre um esforço da Natureza promover o equilíbrio. Na verdade, para muitos homens, se não fossem os sofrimentos, as provações, a melhor parte de suas potencialidades dormiria um sono profundo.

Fui covarde, pois a coragem é a manifestação silenciosa da disciplina interior que, com dignidade, tudo suporta, tudo sofre por lealdade, consciência da verdade e do dever. O homem forte não é aquele que domina fisicamente, mas é aquele que governa o espírito. Pela disciplina constante, esse homem alcançou a avaliação sobre seus pensamentos, sua linguagem e seus atos, vivendo o respeito por si e pelo próximo, administrando com dignidade as contradições do cotidiano.

Confesso que não consegui dominar meu espírito e fracassei. Deixei-me levar por pensamentos torpes e não soube perdoar uma falha de caráter de meu adversário, ou talvez de meus adversários, por que não dizer, pois incluí o árbitro na minha desdita. E tudo isso prejudicou a muita gente e muitos sonhos foram desvanecidos por minha causa, pois o homem que vive a força do amor, suporta com dignidade as areias movediças do social, administrando o desamor, as traições, a inveja; suporta a mentira, sem esmorecer, construindo sua própria tranqüilidade através da perseverança, da paciência para compreender o ser humano.

Retornei à Brusque e participei do campeonato, mas sem vontade e perdendo jogos por WO, por não comparecer, por estar desiludido com o esporte que eu havia ajudado a criar, e que se mostrava naquele momento, bem diferente daquilo que imaginara.

Foi então que me aproximei do pessoal de São Paulo, do Paraná, do Rio de Janeiro e de Brasília, sempre no sentido de uma união, que desde o início mostrou-se impraticável, por diversas regras existentes. Mas, lutando juntos, conseguimos o reconhecimento pelo CND de três regras que predominam no país.

Senti falta do futebol de mesa, mas a lembrança daquele jogo fatídico impedia a minha aproximação das mesas. A mesa que tinha em casa foi vendida a um amigo: Toni Nicolas Bado, que em 1986 conseguiria ser campeão brusquense.

A minha parada influenciou negativamente aos amigos brusquenses, os quais apesar de possuírem uma sede própria, construída com os esforços de todos nós, acabaram entregando-a aos antigos juvenis, que tentaram por algum tempo realizar campeonatos. Terminaram parando definitivamente. Sinto-me responsável por esse fato lamentável.

Voltei por influência de amigos que jogam na regra de 12 toques. Mas não tenho mais a vontade que possuía, quando estava no apogeu, sempre em atividade. Hoje jogo de vez em quando, de dois em dois meses, ou até mais tempo, pois gosto mesmo é da Regra Brasileira.

Foi assim que parei. Por causa de atitudes inconvenientes de pessoas que mandavam na Associação Brasileira de Futebol de Mesa, por atitudes maldosas num jogo de responsabilidade, que poderia ter sido evitado se o árbitro se impusesse, aliados aos problemas que se acumulavam em minha cabeça, os quais, eu não soube administrar como relatei acima. Foi uma fase difícil que está enterrada no passado para jamais voltar a existir. Tudo passou e não existe mais. Enfim, tudo isso acabou, acalmando-se e voltando ao normal com o tempo. Felizmente, as pessoas que estavam imunes aos meus problemas carregaram o futebol de mesa e fizeram dele a potência que hoje vemos diàriamente em todos os estados da União, com líderes que o promovem com amor e dedicação.

Acredito que devia essa explicação aos meus amigos botonistas que não conhecem toda a minha história.

Até a semana que vem.

Sambaquy.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

UM GRANDE BOTONISTA BRASILEIRO. – VICENTE SACCO NETTO.


Minha gente, hoje vou falar de um amigo, colega, irmão e compadre, pois foi padrinho de minha filha Virginia. Veio para Caxias, transferido da agência de Pelotas, o grande VICENTE SACCO NETTO. Assumiu na agência, e, meio tímido, foi se chegando aos poucos.

Num final de semana, convidado para visitar a AABB, encontrou-nos na mesa, jogando futebol de botões. Isso aconteceu em maio de 1966. Estava sentindo-se em casa. Naquele mesmo dia, com um time emprestado, jogamos a nossa primeira partida, que terminou empatada em um tento. De volta à sua casa, abriu todas as caixas, nas quais, continha sua mudança, e só descansou quando encontrou sua caixinha de botões. Depois disso ninguém mais seguraria o homem. Nos finais de semana, jogávamos de manhã, à tarde e muitas vezes até a noite.

Estávamos praticando a regra gaúcha. Vicente entrou na equipe e disputou campeonatos bancários, da AABB e caxiense. E sempre com ótimos resultados. Era um tremendo botonista.

Na ocasião, eu tinha um fusca azul escuro. Meu percurso era sempre o mesmo, pois Vicente morava no caminho para a AABB. Parava, dava duas buzinadas, e lá vinha o Vicente com o seu temível São Paulo. Participou de todos os torneios, inclusive do famoso torneio que realizamos em comemoração ao primeiro aniversário da Liga Caxiense, quando os baianos estiveram nos visitando. Também ficou encantado e imaginou desde logo como ficaria o seu tricolor paulista.

Foi um dos primeiros a aceitar a nova regra. Todos nós encomendávamos times ao seu José Aurélio, na Bahia. Ele também fez a sua encomenda, mas com uma diferença, pois seus botões eram mais baixos do que os demais. Seu time era parecido com os times atuais, da regra de doze toques. Mesmo assim, era duro enfrentar a fera. Cada dia que passava, ele estava melhor em seu desempenho.

Vicente era um fabricante de botões. Em sua cozinha derretia plásticos e conseguia produzir botões muito bem feitos. Até o advento da Regra Brasileira, usávamos bastante esses botões. Fez um Internacional muito lindo, e me deu de presente. Era um verdadeiro amigão.

Suas conquistas foram se acumulando, e nós nos acostumando com a sua presença, sempre constante em nosso meio. Apelidava todos nós. O Puccinelli era o Pinduca, o Calegari passou a ser conhecido como Caligula, Vasques era o Cardeal, e assim por diante. Na revista da AABB, de circulação mensal escrevia uma página, semelhante a uma página de fofocas da Revista do Rádio, na qual a Candinha jogava os podres de todos os artistas para o público. A página dele era: a Candinha no Futebol de Mesa. Lá dizia que a parede do quarto do Caligula estava toda riscada com fórmulas para atacar e defender, que o Sambaquy e o Puccinelli se visitavam para mostrar a galeria de troféus, dizendo lindo...lindo...lindo, que o centro avante do Vasques, o grande Cardeal, estava marcando muitos gols, pois estava sendo mergulhado em uma vasilha com geléia real, que o time do Rubem Bergmann estava gastando cada vez mais, de tanto ser lixado, para correr sobre a mesa....

E assim, foi com enorme surpresa que, em março de 1968, Vicente é transferido para a cidade de Canguçú, no sul do estado. Sua despedida foi festiva, na AABB, em um jantar de gala, quando, Vicente, visivelmente emocionado disse que era um cigano dentro do Banco do Brasil.

Efetivamente foi um verdadeiro cigano, pois trabalhou em diversas agências no país. Quando esteve na gerência em Taquara (RS), enviou-me um livro e uma carta, datada de 13 de setembro de 1980, guardada com carinho em minhas encadernações. Depois passou por Brasília, Pelotas, Bagé e Canguçú novamente, quando então se aposentou. Em dezembro de 2007, outra carta, trazendo a baila os momentos felizes que passamos em torno das mesas, recordando as nossas andanças pela AABB, Noroeste, Vasco, Guarany. Abriu sua vida para mim, e contou-me o que viveu nos últimos anos. Falou que estava comprando uma mesa, para levar ao seu sitio, em Pelotas. Acompanhava essa demonstração de carinho e amizade, um cartão de prata, em que me homenageava como amigo, irmão e mestre. Fiquei imensamente feliz, e recordei que, quando do campeonato brasileiro realizado em Pelotas, também recebi um cartão de prata da APFM e outro, idêntico, estava destinado a ele. Só que, por motivo muito especial, que conheço, ele não compareceu. Mesmo assim, ninguém poderá tirar-lhe o mérito de ter sido o introdutor da Regra Brasileira em Canguçú, e de lá, pela proximidade ao sul do Rio Grande amado.

Caxias do Sul perdeu um tremendo botonista, mas seu trabalho foi feito em Canguçú, onde logo que chegou, fundou a Liga Canguçuense de Futebol de Mesa. Jogavam com ele o Dr. Breno Mussi, Dr. Claudio Mussi, R. Goulart, J. Nascimento. Nós estivemos por duas vezes jogando com os amigos dessa terra querida. E em todas as vezes que estivemos por lá, a acolhida foi de verdadeiros gaúchos, regadas a um bom chimarrão.

Aliás, que se registre na história da Federação Gaúcha de Futebol de Mesa, que por iniciativa de Vicente Sacco Netto, em 1973, na cidade Canguçú, realizou-se o primeiro campeonato estadual na Regra Brasileira.

Não sei se ele terá acesso a essa crônica, que escrevo com saudade. Mas, se o pessoal que milita as agremiações de Pelotas quiser ter em seu meio um ícone, passo o endereço desse amigo querido: Rua Gal. Neto, 1159 – apartamento 701. Quando não está em seu sítio, pode ser encontrado na cidade. A mesa foi levada para seu sítio e lá, tenho certeza, ele deve estar treinando bastante, pois ainda deveremos realizar o nosso 45º jogo.

A vida nos separou, mas o amor pelo futebol de mesa fez com que essa separação fosse apenas física. Em meus pensamentos, diariamente, recordo passagens inesquecíveis que vivemos. As brincadeiras que fazíamos na saída do Banco, brincadeiras que seriam impossíveis de serem esquecidas, como aquela, em que o Vicente, ao ver uma loira linda em sua frente, ficou caminhando vagarosamente e dizendo: “que coisa linda”, “vai ser gostosinha assim lá em casa”, “com uma mulher assim eu ia morar na lua.”... e ficou falando uma série de besteiras. Ao chegar perto do seu prédio, apertou o passo, para ultrapassar a referida loira linda, e ao passar por ela, quase desmaia, pois ela simplesmente disse: Bom dia, seu Vicente. Era a sua vizinha do andar de baixo...

Nunca mais ele soltou uma piada para gata alguma ... O que nós rimos dessa situação embaraçosa, não tem explicação. Até hoje, quando recordo da situação inusitada, dou risadas sozinho.

Esse foi e é o grande botonista Vicente Sacco Netto, um nome para nunca ser esquecido na história do Futebol de Mesa Brasileiro.

Até a semana que vem se Deus quiser.

Sambaquy.