domingo, 26 de fevereiro de 2012

MEU PRIMEIRO BOTÃO PUXADOR...

No final da década de quarenta e início dos anos cinquenta, o futebol de mesa era praticado pela molecada com botões de roupa, pois não existiam ainda produtos que explorassem os sonhos infantis. Por essa razão, o sofrimento era sempre de nossas mães, pois as queixas de falta de botões em paletós eram frequentes.
Para formar nossos esquadrões, tínhamos de encontrar botões um pouco maiores e que, depois de devidamente lixados em suas beiradas, não pulassem sobre a bolinha. Isso era um trabalho manual, e o melhor dentre todos nós era o Renato Toni. Aliás, nunca jogamos com goleiros feitos de caixa de fósforos, pois o Renato fabricava os goleiros de madeira e depois os levava para serem pintados em uma oficina que existia na frente do armazém de seu pai. Naquela época, todos os meninos da região estavam praticando o futebol de botões. Renato Toni e seu irmão Reni, Mansueto de Castro Serafini Filho, Sérgio Gobetti, Vasco Balem, Ítalo Bazzo, os irmãos Luiz Felipe e Lyon Kunz, Vilson Tomazzi e eu fazíamos os nossos campeonatos nas mesas improvisadas em nossas próprias casas.
Não havia novidades e quando surgia um novo tipo de botão, na cidade, a corrida era geral. Houve um tempo em que foram lançados ioiôs e nós os aproveitávamos para deles conseguir zagueiros vigorosos.
Num dos natais, os irmãos Luiz Felipe e Lyon receberam de uma tia que morava no Rio de Janeiro dois times. Um era Flamengo e outro Fluminense. Eram botões da recém lançada regra do Fred Mello (Regra do toque-toque ou leva-leva), arredondados e que não motivaram a ninguém, a não ser pela sua padronização, pois eram todos iguais e nas mesmas cores dos times cariocas. Continuamos a jogar com os nossos botões de roupa.
Algum tempo depois, os mesmos irmãos Luiz Felipe e Lyon aparecem com uma caixa cheia de botões. Haviam passado alguns dias em Porto Alegre e trouxeram da casa de um parente esses botões. Todos ficaram encantados, pois eram botões de roupa, mas bem maiores dos que estávamos utilizando. Como eram muitos, foram dando um para cada um de nós. Ganhei o meu e logo o transformei no capitão do time. Ele fazia tudo, batia tiro de meta, escanteio e faltas. Era o Messi do meu time...
Só que, alguns dias depois, apareceu, em Caxias, o primo dos irmãos Kunz, à procura dos seus botões. Na casa deles, recuperou quase todos. Faltaram os que haviam sido doados aos demais praticantes da região. Num determinado dia, ele bateu à minha porta e perguntou se eu havia ganhado um desses botões. Disse que sim, que havia sido presenteado com um deles. Então ele me explicou que havia mostrado os botões aos meninos e que guardara a caixa. Os dois voltaram para Caxias e dias após ele procurou os botões, pois iria participar de um campeonato e não mais os encontrou. Entrou em contato com os parentes e eles informaram que os botões tinham vindo junto com os meninos. Diante disso, e sentindo o apreço que ele tinha por esses botões, entreguei-lhe o seu craque, com um nó na garganta por perder o meu melhor craque conseguido até então. E assim ele fez com os demais. A grande maioria só devolveu mediante venda, pois afirmara que havia ganhado e que não queriam saber de que forma os meninos os haviam conquistado. Como o rapaz estava imbuído de retornar a Porto Alegre com todos os seus botões, acabou comprando deles. Muitos ainda troçaram por eu ter devolvido sem pedir uma compensação financeira. Eu estava em paz com a minha consciência, e já tinha um plantel razoável.
Um dia antes de retornar, ele volta à minha casa e pede para falar comigo. Fui atendê-lo e ele me afirmou que estava retornando para sua casa, mas, devido à minha atitude, queria me premiar. E dizendo isso me entregou um botão puxador, de cor azulada. Foi o primeiro puxador que eu vi naquela época. Não é preciso dizer que a minha felicidade foi idêntica a de quem tivesse ganhado uma bicicleta no Natal. Analisando o puxador, cheguei à conclusão que deveria ser muito mais valioso do que o botão que eu havia devolvido. Bem feito, torneado perfeito, cavado com cuidado, era o suprassumo do que eu até então imaginara de um botão para o meu time.
Os demais, que venderam os botões ao seu legítimo proprietário ficaram sem nada. Fui recompensado por ter um coração mole e saber avaliar a dor de perder algo que causava satisfação e alegria ao seu proprietário. Agora eu também tinha um botão diferenciado em meu time e por algumas semanas aquela novidade era convidada a participar de torneios e campeonatos em todas as casas da região.
Algum tempo depois, começaram a surgir os primeiros puxadores na cidade e para adquiri-los nós deixávamos de ir às matinês e assistir ao seriado que estava passando no cinema; deixávamos de comprar picolés e sorvetes e eu ainda deixava de comprar o meu doce preferido: o doce de batata que era feito na sorveteria do Valiatti. E foi assim que, aos poucos, todos nós fomos conseguindo montar grandes times de puxadores e disputar campeonatos fabulosos que, por não pensarmos em termos de futuro, deixamos de anotar seus resultados.
Logo no início dos anos cinquenta, o Vasco Balem conseguiu com seu pai uma sala no prédio em que moravam na Avenida Júlio de Castilhos com a Rua Alfredo Chaves. Levamos para lá a nossa mesa e começamos a disputar campeonatos. Mas, como a barulheira que fazíamos era sempre muito grande, em pouco tempo ele nos expulsou de lá e ficamos novamente jogando em nossas casas. Onde eu mais joguei foi na casa do Renato Toni, na Júlio de Castilhos, quase na esquina da Rua do Guia Lopes. Lembro ainda que nós não parávamos nunca. E, muitas vezes, a mãe dele levantava da cama e nos mandava sair, pois eles queriam dormir e nós fazíamos barulho, já que era o Renato que narrava os seus jogos. Era um são paulino doente.
Foi um tempo maravilhoso e que passou depressa. Ficaram as lembranças, pois foram as nossas vidas modeladas através do futebol de mesa, um esporte que fez de nós pessoas de bem.
Os Botões onde tudo começou
Botões de Chifre

Botões de resina


Botões de Coco

 

Até a semana que vem, se Deus permitir.
Sambaquy

domingo, 19 de fevereiro de 2012

TORNEIO DA FESTA DA UVA – UMA FESTA DENTRO DA FESTA

Na década de trinta, no século passado, JOAQUIM PEDRO LISBOA teve a brilhante idéia de homenagear o povo caxiense, trabalhador por natureza, organizando uma Festa que acabaria se tornando a maior festa do Rio Grande do Sul. E ela vem sendo realizada a cada dois anos com o mesmo brilhantismo de sempre.
Quem foi Joaquim Pedro Lisboa? Bem, ele foi o avô de nosso primeiro campeão caxiense de futebol de mesa, o grande e inesquecível MARCOS PEDRO AMORETTI LISBOA.
Por essa razão, no final do ano 2003, pouco antes de serem iniciados os festejos da Festa de 2004, o nosso associado Daniel Maciel, com a aquiescência do presidente da entidade, Vanderlei Duarte, procurou o SMEL com a intenção de buscar um patrocínio para um torneio em homenagem a nossa maior festa. E o secretário Joel Bastos de Souza foi simpático à idéia, bom desportista que fora, defendendo os dois clubes de Caxias do Sul como futebolista. 
Nossa sede era ainda na Rua Garibaldi e lá foram realizados os jogos emocionantes que premiaram Luiz Ernesto Pizzamiglio como o grande campeão. O troféu, belíssimo, por sinal, em homenagem à uva, foi-lhe entregue pelas embaixatrizes da Festa da Uva que nos honraram com sua presença na sede. Contamos ainda com a participação de pessoas da Organização da Festa. Foi a primeira realização patrocinada pelo SMEL.

Ednei elevou a 2ª Edição
Na festa de 2006, novamente fomos brindados pelo secretário Joel Bastos de Souza, que incentivou a realização desse torneio, tornando-se parte de nosso calendário. Nessa ocasião, estávamos na sede da Rua Hercules Galló, número 570. Nesse ano, a conquista foi de Ednei Torresini que com o seu Grêmio Esportivo Flamengo venceu os outros treze disputantes.




Mario vence Daniel Pizzamiglio na 3ª edição
O torneio de 2008, com a presença do secretário José Luiz Plein e sua equipe, novamente ocorreu na Rua Hercules Galló; vimos Mário Vargas Junior iniciando a sua caminhada rumo ao sucesso, conseguindo levar para a sua estante o magnífico troféu de campeão.






Em 2010 Pizzamiglio vence Mario na final e
Maciel e Crosa completam os premiados
Mais dois anos, e em 2010, com o secretário Felipe Gremelmaier e sua equipe valorosa, na sede atual, no Ginásio do Vasco da Gama, foi a vez do Daniel Pizzamiglio imitar seu pai e levar o lindo troféu de campeão, enriquecendo a sua extensa galeria.







Em todas as competições anteriores, os representantes da secretaria e os organizadores da Festa da Uva, sempre, estiveram prestigiando as competições, fazendo-se presentes até a hora da premiação, quando então ressaltam a importância da festa em nossas vidas. Isso tem motivado os dirigentes da AFM Caxias do Sul a produzirem torneios cada vez melhores e mais sofisticados.
Por essa razão, esse que se avizinha será desenvolvido, pela primeira vez, em dependências do Mart Center Shopping e contará com a presença de trinta e dois botonistas, vindos de várias cidades de nosso estado. O secretário José Luiz Plein estará dando cobertura com sua equipe de pessoas fabulosas que ajudam a desenvolver o nosso esporte com muito carinho. E, pelo local aberto ao público, contamos com a simpatia dos desportistas caxienses, os quais poderão ter a alegria de presenciar disputas valiosas e cheias de entusiasmo pelos grandes ases do botonismo, pois Caxias atingiu um estágio de reconhecimento em todo o território brasileiro, dada às brilhantes participações de seus associados em Campeonatos nacionais.
Consultando os meus arquivos, verifiquei que em fevereiro de 1965, alguns meses antes da criação da Liga Caxiense, foi realizado um Torneio em homenagem à Festa da Uva. Quatro foram os disputantes: Sylvio Puccinelli, Sérgio Calegari, Raymundo Antonio Rotta Vasques e Adauto Celso Sambaquy. Com a dificuldade de troféus, o torneio valeu somente pela confraternização, e esse que escreve foi o vencedor invicto, pois abateu os três adversários. Valeu pelo registro das atividades anteriores à criação dessa entidade que hoje é reconhecida pelas suas grandes promoções. Que isso continue a acontecer por muitos anos.

Até a semana que vem, se Deus permitir.
Sambaquy

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

OS PAIS DA REGRA BRASILEIRA – UMA HISTÓRIA DE SUCESSO

Os pais da regra no Torneio da Cana X Vinho - Santo Amaro (BA)


Ao completarmos quarenta e cinco anos da criação da Regra Brasileira, recordo um pouco daquilo que foi a grande modificação na maneira de jogar e difundir o nosso esporte.
No ano de 1966, quando a Liga Caxiense de Futebol de Mesa comemoraria o seu primeiro aniversário, recebemos a visita dos baianos Oldemar Seixas e Ademar Carvalho. Além de cavalheiros, em todo o sentido da palavra, foram os responsáveis pela apresentação de um futebol de mesa diferente do que era praticado no nosso estado. A mesa foi providenciada e eles a deixaram em condições para a partida de demonstração do jogo, a qual foi realizada após o torneio disputado na Regra Gaúcha. Até então, nenhum de nós havia visto uma partida em um campo considerado enorme para os padrões da época e com dois times padronizados. Foi algo inesquecível e que nos tocou profundamente. Por que não tentarmos fazer algo melhor? Foi esse o pensamento inicial do presidente da Federação Riograndense, Gilberto Ghizi e o meu, pois a antiga regra baiana tinha alguns inconvenientes como o carrinho, pois ao se formar a “cerquinha”, o adversário podia entrar, mesmo que batesse nos adversários, desde que não os deslocasse mais do que um centímetro. Para essa medição, havia uma régua especial. Procuramos, na ocasião, aliar o que havia de bom na regra gaúcha ao melhor da regra baiana.
Havia o convite para a realização do campeonato estadual daquele ano em Caxias. Para isso, seguidamente, recebíamos a visita do Ghizi em nossa cidade, e o assunto, além do estadual, era o da nova regra. Elaboramos um anteprojeto, estudando artigo a artigo, procurando um meio de não desvirtuar nenhuma das duas. Afinal, ambas eram regras de um toque.
Com o anteprojeto definido, apresentamo-lo à Assembléia que participou do Campeonato Estadual, patrocinado pela Federação Riograndense de Futebol de Mesa, sendo aprovado por todos, sem restrições. A responsabilidade foi entregue aos dois interessados, que deveriam seguir rumo à Boa Terra para apresentá-lo aos baianos.
Em Salvador, recepcionados por botonistas de um quilate indescritível, começamos as conversações no sentido de que a nova Regra fosse aceita e praticada, visando à realização de Campeonatos Brasileiros e um intercâmbio entre todos os brasileiros.
Pela Bahia, os participantes foram os dois baianos pioneiros que saíram do verão baiano para o gélido inverno gaúcho: Oldemar Seixas e Ademar Carvalho. A eles se juntaram Nelson Carvalho, o mestre, e Roberto Dartanhã Costa Mello, o homem forte da Liga Baiana de Futebol de Mesa.
ADEMAR CARVALHO. Figura maravilhosa, excelente botonista, brincalhão, gozador, amigo para todas as horas. Trabalhava na empresa S. A. Nacional de Combustíveis e Acessórios SANCA, com sede em Salvador. Seu carro, um Aero Willys era o meio de locomoção de todos nós. Só não deixava o Oldemar sentar a seu lado, pois sempre que saía do carro batia a porta com força. Ademar ficava doido com ele. Pedia que eu sentasse a seu lado e quando eu fechava a porta o fazia como se fosse meu, com cuidado, o que fazia com que ele dissesse que o Oldemar observasse como era o ato de fechar a porta. Além disso, em sua chácara, retirada do centro, reuníamo-nos aos domingos para jogar a famosa baba, aqui chamada de pelada. Os visitantes tomavam banho no chuveiro da família, e os demais num banheiro no lado de fora da casa. Ademar era excelente botonista, mas quando algo não dava certo fazia coisas extravagantes, como certa vez, ao perder um campeonato, quebrou um a um os seus botões do Vitória. Tinha um irmão que jogava com o Corinthians. Seu nome Evandro Carvalho. Outra grande figura. Em sua residência, conheci seu pai, senhor Raul, que editava um Almanaque Brasiluso, presenteando-me com dois exemplares de anos distintos. Esses almanaques estão no Museu Casa de Brusque, pois são de um valor inestimável e uma fonte de consultas.
Ademar faleceu após uma cirurgia cardíaca. Fui o último a conversar com ele, na noite anterior a essa cirurgia. Prometeu-me que tão logo retornasse para casa me ligaria. Desejei-lhe sorte e fiquei no aguardo. Após alguns dias tornei a ligar e a sua esposa, Margarida, deu-me a triste notícia.
NELSON CARVALHO. O mestre era quem organizava os campeonatos, fazia as tabelas e cuidava da escala de árbitros. Metódico, genro do presidente José de Souza Pinto, era uma pessoa finíssima. Seu time tinha um jogador especial chamado Sarapatel. Deixar o Sarapatel chutar ao gol era sofrer gol certo. Foi o grande incentivador e anotava todos os questionamentos sobre a nova regra que estava surgindo. Participou ativamente de todo o trabalho, e foi através de sua iniciativa que conseguimos sair de Salvador com os exemplares impressos da nova Regra.
Nelson era uma pessoa que estava sempre disposta a acompanhar a comitiva baiana que recepcionava os gaúchos. Muitas vezes, orientava-nos quanto ao jogo, à maneira de usar a malícia que ainda não possuíamos. Era uma pessoa que estava sempre junto conosco.
Infelizmente Nelson também não está entre nós. Com o meu afastamento do futebol de mesa, na década de oitenta, perdemos o contato. Guardo com carinho uma fita K7 com depoimentos de vários amigos baianos, inclusive Nelson, Ademar, Webber e Jomar Moura, sempre me emocionando quando escuto suas vozes.
ROBERTO DARTANHÃ COSTA MELLO era o homem forte da Liga. Dono de um mercado na Baixa do Sapateiro deixava seus afazeres para nos servir de guia turístico durante o dia, quando os demais, por obrigações tinham de comparecer aos seus locais de trabalho. Em sua maravilhosa residência, ofereceu-nos um jantar típico de comidas baianas. Foi lá, que instigado por Ademar, Dartanhã, Jomar Maia, Oldemar, Webber Seixas que o Ghizi resolveu experimentar a pimenta baiana. Dartanhã sempre foi um abnegado e nos encontramos em diversas cidades desse nosso país. Em Recife, no segundo Brasileiro, fui o árbitro de sua conquista maior, quando na finalíssima venceu ao excelente Cesar Zama. Depois, encontrei-o em Vitória (ES), quando empatamos em 0 x 0 e eu segui adiante na competição. A última oportunidade ocorreu no Rio de Janeiro, ao apreciarmos o Campeonato realizado em Itapetinga, cujo resultado final não chegou a ser concretizado. Por decisão de todos os participantes, foram declarados campeões brasileiros os botonistas Jomar Moura e Miguel Oliveira.
OLDEMAR SEIXAS. Desde 1965 mantinha correspondência com ele. Conhecemo-nos em 1966, quando de sua viagem ao Rio Grande do Sul. Ficamos hospedados em sua casa, na Estrada da Rainha, número 48. Naquela época, ele era bancário e trabalhava na parte da manhã, ficando disponível no período da tarde. Escrevia uma coluna no Jornal A Tarde, de Salvador, sobre o futebol de mesa. Não há muita necessidade falar sobre ele, pois é conhecido de todos os botonistas brasileiros. Era o goleiro quando praticávamos nosso futebol, tanto na chácara do Ademar quando na praia. Pegava bem no gol. O detalhe é que não escapava da gozação do Ademar; é que Oldemar só bebia guaraná. Mesmo no frio de Caxias nunca sorveu um gole de vinho, nem mesmo com a desculpa de que assim esquentaria. Morria de frio e continuava bebendo guaraná.
GILBERTO GHIZI. Presidente da Federação Riograndense de Futebol de Mesa, o porto-alegrense colorado era um grande botonista na regra gaúcha. Ao chegarmos à Bahia, não se adaptou com os botões baianos que eram novidade para nós. Ao perder umas três ou quatro partidas, colocou os seus puxadores na mesa e jogava sempre com eles. Eram botões cavados, jogando contra lisos. Mesmo assim, não conseguia muito êxito, pois os baianos eram exímios praticantes do futmesa. Foi decisivo na formação dessa regra que hoje em dia nos dá tantas alegrias e felicidade. Ao final dos trabalhos, ficamos com um impasse apenas. Havíamos, em nosso anteprojeto, estabelecido uma mesa intermediária entre a baiana e a gaúcha. Foi então que a argumentação levantada pelo bom senso dos amigos baianos falou mais alto. Nós teríamos de construir nossas mesas, pois mesmo que fosse a intermediária, a antiga mesa da Regra Gaúcha deveria ser abandonada. Ao contrário, a Bahia toda jogava com a mesa de 2,20 x 1,60. Em todas as agremiações que visitamos, as mesas eram nessas medidas. Além deles, os pernambucanos, paraibanos, potiguares, sergipanos e alagoanos já possuíam mesas nessas dimensões. Talvez essa modificação do tamanho da mesa não fosse bem aceita, pois muitas agremiações não tinham muitos recursos para a construção de novas mesas. Fizeram-nos compreender que poderia ser o entrave para a aceitação definitiva da nova regra. Por fim, e diante dessas argumentações, aceitamos a continuidade da mesa baiana como a oficial.
Essa é a história resumida do trabalho que foi construído, em conjunto, por baianos e gaúchos de 8 a 22 de janeiro de 1967.
Para orientar aos queridos leitores, estampo uma foto que foi batida em Santo Amaro da Purificação, quando participamos do Torneio da Uva e da Cana, vencido por Oldemar Seixas, onde aparecem na ordem: Álvaro César (Santo Amaro), Oldemar Seixas, Adauto Celso Sambaquy, Nelson Carvalho, Gilberto Ghizi e Ademar Carvalho. Só faltou o Roberto Dartanhã que não pode comparecer ao evento. Cinco dos seis responsáveis pela criação da Regra Brasileira em um longínquo ano de 1967, no século passado.
Até a semana que vem, se Deus quiser.
Sambaquy

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

DEODATO MAGGI


Na relação dos campeões caxienses, mais precisamente no ano de 1965, um nome se destaca, representando o SANTOS F. C., Deodato Maggi.
Deodato era funcionário da Industrial Madeira Ltda. Apareceu com seu time de botão e se uniu ao grupo que disputava o campeonato desde 1963. Aos poucos, adquiriu ritmo de jogo e se tornou um excelente botonista. Era um abnegado e não se contentava com as poucas mesas que dispúnhamos para a prática de nosso esporte. Por ser funcionário da Industrial Madeireira, conseguia fabricar mesas de pau-marfim, muito superiores as que possuíamos, e isso ajudou no desenvolvimento de nossas atividades. Ele possuía mesa em casa, no seu local de trabalho e a fornecia a quem solicitasse.
Foi o campeão no ano da fundação da Liga Caxiense. Por essa razão, destacou-se como o primeiro caxiense a participar do Campeonato Estadual desenvolvido pela Federação Rio-grandense de Futebol de Mesa. E é dele a primeira glória colhida, pois foi o vice-campeão estadual do ano de 1965, perdendo a partida final para Paulo Borges, este representante  do Clube Piratas de Porto Alegre.
No ano de 1966, no famoso Torneio de Aniversário da Liga Caxiense, teve destacada participação, mas ficou no caminho, não conseguindo chegar às finais que ficaram com Cláudio Bittencourt e Ademar Carvalho. Foi um dos que ficaram encantados com a exibição realizada pelos dois baianos. Por sinal, a tábua de pau marfim, que acabou sendo batizada de Maracanã, foi conseguida por seu intermédio. Mandou levá-la até a sede da AABB, onde os dois baianos a transformaram num lindo campo de futmesa.
A partir daí, começamos a brincar na mesa grande e todos fizeram encomendas de times baianos, fabricados na ocasião pelo senhor José Aurélio. Ele encomendou um Santos, todo branco, com a numeração preta. Ao mesmo tempo, continuávamos a disputar o nosso campeonato caxiense na regra gaúcha. Meu time era composto de botões puxadores de cores variadas. Era a menina dos olhos do Deodato. Numa das rodadas em que disputávamos o caxiense, lá na AABB, ele fez uma proposta irrecusável pelo meu time. Ofereceu o valor de um time baiano pelos meus puxadores. Como eu havia recebido do meu compadre Vicente Sacco Netto um time completo de puxadores, nas cores vermelha e branca, não pensei duas vezes. Fechei negócio e entreguei o time para o Deodato. Afinal, eu já imaginava que os dias dos botões puxadores estavam contados e, dessa forma, eu teria mais um time de botões baianos em meu poder.
Deodato lutava pelo bicampeonato caxiense. Reforçou seu time, mesclando alguns que eu havia vendido com os seus preferidos. Só que ele não contava com a surpresa que eu haveria de proporcionar-lhe. No dia 26 de novembro daquele ano teria de me enfrentar, contando com a vitória, pois eu estava de time novo. Nessa noite, os vermelhinhos não tomaram conhecimento do Santos, e eu venci o jogo por 2 x 1, tirando dele a chance de se tornar o segundo bicampeão caxiense. Paulo Valiatti, com a Ponte Preta tornou-se campeão com uma diferença mínima de pontos.
O destino estava traçado, pois em dezembro realizamos o estadual e no mês seguinte a Regra Brasileira foi criada. Caxias adotou a Regra Brasileira e todos os campeonatos e torneios seriam realizados nessa modalidade. Deodato jogou com o seu Santos, mas sentiu a grande dificuldade de adaptação. Esse mesmo fenômeno aconteceu com Marcos Lisboa, pois ambos haviam desenvolvido técnicas que os tornavam quase invencíveis na Regra Gaúcha. Não se adaptaram aos botões lisos, às mesas maiores, ao novo tipo de bolinha. Aos poucos foi abandonando, jogando até o ano de 1970 quando, por uma proposta vantajosa de Santa Catarina, abandonou o Rio Grande do Sul, sem nem ao menos se despedir de seus amigos.
Encontrei-o há mais de trinta anos, aqui, em Balneário Camboriú. Continuava o mesmo, gritão, gozador e saudoso de nosso tempo de futebol de mesa. Depois disso, perdemos definitivamente o contato, até saber que havia falecido prematuramente.
Procurei fotos em que ele estivesse presente, mas nunca as encontrei, até que, usando os recursos do Google, localizei-o  como ex-presidente da Associação Empresarial de Guaramirim. Sua foto postada com a referência “in-memoriam” indicava que ele deve ter falecido no curso de sua administração.
Hoje, a nossa homenagem é endereçada a quem primeiro trouxe a alegria e a glória de uma conquista ao botonismo de Caxias do Sul. Seu vice-campeonato, conquistado num domingo chuvoso em Porto Alegre, deverá ser preservado e enaltecido como glória que deu início à caminhada de sucesso de nossa atual AFM Caxias do Sul.
Ao Deodato Maggi nossa homenagem e nosso abraço saudoso. Um dia nos veremos novamente e poderemos recordar os bons tempos de botonismo.
Até a semana que vem, se Deus assim o desejar.
Sambaquy