domingo, 26 de maio de 2013

OS CAMPEONATOS REALIZADOS PELA AABB DE CAXIAS DO SUL


Ao receber uma mensagem de celular e, posteriormente, uma cópia do e-mail que o colega Enio Durante encaminhou ao também colega Vicente Sacco Netto, comunicando a chegada de seu novo time do São Paulo, encomendado quando estávamos em Salvador, fiz uma viagem mental aos primórdios do movimento em nossa cidade natal.
Há exatos cinquenta anos, isto é, no ano de 1963, o futebol de mesa começou a ser praticado em clubes na Pérola das Colônias. Na AABB, funcionários capitaneados pelo saudoso Raymundo Vasques, todos adultos, pais de família, voltavam à diversão de seus dias de infância e iniciavam um campeonato de futebol de mesa na regra Gaúcha. Afinal era essa a regra utilizada no Rio Grande do Sul, e a entidade havia adquirido mesa e times das mãos do próprio presidente da Federação Riograndense.
De 1963 até 1971 muita coisa rolou. Houve a migração da Regra Gaúcha para a recém criada Regra Brasileira. Foram confeccionadas algumas mesas e os adeptos cresciam em número e admiração. Passaram pelas mesas abebeanas os colegas: Raymundo Vasques, Sérgio Calegari, Paulo Luís Duarte Fabião, Sérgio Guimarães, Luiz Carlos Carlucci de Campos, Roberto Grazziotin, Rubem Bergmann, José Fiorindo Angeli, Ivan Mantovani, Nelson Mazzocchi, Sylvio Puccinelli, Luiz Carlos Ponzi, Carlos Perez, Jorge Brambilla, Vicente Sacco Netto, Rubens Constantino Schumacher, Dirceu Vanazzi, Osni Freitas de Oliveira, Heitor Stumpf, Homero Kraemer de Abreu, Milton Casanovas Machado, Silmar Haubrich, Walmor da Silva Medeiros, Aldo Oliveira e Luiz Alfredo Gastaldello. Ao todo foram vinte e seis disputantes dos diversos campeonatos realizados. Campeões foram os colegas Adauto Celso Sambaquy (duas vezes), Roberto Grazziotin, Vicente Sacco Netto, Sylvio Puccinelli (duas vezes), Rubens Constantino Schumacher e Walmor da Silva Medeiros. Os três primeiros campeonatos foram disputados na Regra Gaúcha e os demais na Regra Brasileira, com botões lisos.

As campanhas que realizei nos diversos campeonatos, premiaram-me com dois primeiros lugares, quatro segundos, um terceiro, um quinto e um sétimo, este o meu pior ano.
Os adversários que mais enfrentei nesses campeonatos foram Calegari e Puccinelli por sessenta vezes cada um; Vasques: cinquenta e duas; Vicente Sacco Netto: quarenta e quatro; Rubem Bergmann: trinta e três; Paulo Fabião: trinta; Rubens Schumacher: vinte e oito; Walmor Medeiros: dezoito e Roberto Grazziotin: dezessete vezes.
Sambaquy X Sacco, observados por Osny Freitas
Naqueles anos, só jogávamos aos sábados à tarde. Hoje em dia, os treinos e jogos são pelo menos umas três vezes por semana.
Vicente Sacco Neto Campeão
Mas, voltando ao e-mail do Enio, tomei conhecimento através dele que a FENABB aprovou o futebol de mesa nos JEMAB (jogos esportivos entre as AABBs) e que, ele, Enio Durante defenderá o seu título de campeão estadual de Futebol de Mesa na JEMAB. Eis que o nosso amigo Enio, com um time do Flamengo na modalidade livre conseguiu lograr êxito em 2012 e sagrar-se o legítimo campeão dentre todos os praticantes, associados bancários que se dedicam ao nosso esporte na Regra Brasileira.
Desejo sorte ao nosso campeão e que ele consiga levar para a AABB Caxias do Sul, novamente, a honra de portar o título maior dessa disputa.
Enio Durante atuando no cavado
Nós que há cinquenta anos iniciamos a prática do futebol de mesa nas dependências da AABB e por lá permanecemos, jogando até nossa saída para a cidade de Brusque (SC), ficamos felizes em saber que houve o reconhecimento e hoje o nosso esporte é praticado e prestigiado junto aos colegas que comandam a FENABB. Lutamos muito para isso acontecer e, felizmente, depois de muito tempo estamos podendo comemorar esse engajamento que, certamente, só fortalecerá mais o Futebol de Mesa.
Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

GERALDO CARDOSO DÉCOURT – O PAPA DO FUTEBOL DE MESA BRASILEIRO


Já falei muito do amigo Décourt. Todos sabem que ele nasceu em Campinas (SP) em 14 de fevereiro de 1911 e que escreveu o primeiro exemplar de regras de futebol de mesa, (em 1930), denominado de foot-ball celotex. O que talvez tenha passado despercebido é que ele morou em Porto Alegre por cinco anos e ali, em 1946, promoveu um campeonato de futebol de botões, com a cobertura da Folha da Tarde, onde mais ou menos quatrocentos botonistas se inscreveram. Deu a esse campeonato o nome de seu mestre Higino Mangini, que lhe ministrou as primeiras lições desse esporte no ano de 1922.
Décourt era um artista natural. Compunha e cantava músicas, era modelo fotográfico, artista do cinema nacional, tecelão e pintor de quadros.
Certa ocasião, encontrando-se com Manézinho Araújo, ex- cantor de emboladas e ex- proprietário do Restaurante Cabeça Chata no Rio de Janeiro e em São Paulo, logo após o Programa Cesar Ladeira, na Rádio Mayrink Veiga, lá pelo ano de 1935, foram para o Bar da Brahma, no Largo da Carioca.
E a conversa entre os dois, um cantor e compositor de emboladas e o outro cantor e compositor de sambas, foi sobre o futebol de mesa. Manézinho pergunta à Decourt: Você era aquele Geraldo Décourt do Futebol Celotex, que tinha um retrato seu na sede da Liga Pernambucana?  Nele estavas recebendo um troféu. Você conheceu o Jota Soares, cineasta de Recife, presidente da Liga?
A resposta de Décourt: - Sim, Manézinho. Não era eu. Sou eu mesmo!
Esse grande botonista, que iniciou suas atividades muito tempo antes de nós pensarmos em nascer, trabalhou o nosso esporte em épocas onde a comunicação era difícil, onde predominava como comunicação o rádio e o jornal. E mesmo assim, jamais desistiu de mostrar o futebol de mesa aos amigos e divulgá-los em todos os cantos do país.
O conheci nos anos 80. Ele já com seus setenta e poucos anos e eu na faixa dos quarenta. Era uma pessoa cativante, expansiva, agregadora e entusiasta. Já nessa época sofria do Mal de Parkinson. Suas mãos tremiam muito, mas mesmo assim jogava com prazer seu futebol de mesa. Seus botões, em virtude desse problema eram feitos em camadas, para que pudesse descansar a paleta e ir baixando com vagar, até impulsioná-los de encontro à bolinha esférica.
Aprendi muito em conversas com ele. Era um manancial de recordações que nos fazia transportar mentalmente aos primórdios do futebol de mesa nacional. E sua fala mansa era envolvente e compreensiva. Foram muitas as visitas à sua residência. Tínhamos muita coisa em comum, o mesmo gosto pelo esporte, gosto pelas artes e éramos irmãos de fé.
Mantivemos correspondência por muitos anos. E sempre havia alguma novidade nelas. Uma das últimas foi o convite que fez para mim, a fim de completar a equipe paulista que iria participar de um torneio em Curitiba, no Circulo Militar. Honrado,  me fiz presente e ao final do Torneio o trouxe até Brusque. Permaneceu alguns dias na cidade dos tecidos, quando a Associação Brusquense de Futebol de Mesa lhe homenageou com um churrasco, em sua sede social, e ofertou-lhe um magnífico cartão de prata por sua grande participação no esporte que praticávamos.
Uma das últimas cartas recebidas, quando seu estado de saúde já não permitia a sua locomoção, enviou-me a foto que ilustra essa coluna, com o seguinte comentário: Amigo Samba (8/11/88). Estou na foto com meu genro Lúcio Alberto que estava em Londres. Aviso que do cavanhaque passei para a barba. Outra vez mandarei foto mais recente, este é de 12/87. Não estou tão gordo assim, pois na foto estou muito perto (1º plano).
Estou agora com 82 quilos... e na foto sem cinta.
Abraços,
Do Décourt, “apenas”

Sempre foi cuidadoso com a sua imagem, pois ela servia muito ao trabalho que desenvolvia como modelo fotográfico.
Infelizmente não teve a chance de enviar novas fotos.

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

domingo, 12 de maio de 2013

BOBI GHIZZONI, O MAGISTRAL BOTONISTA


Bobi era filho do grande jogador do Internacional e do Grêmio Esportivo Flamengo. Tentou jogar futebol, mas o seu esporte era mesmo o futebol de mesa.

Apareceu no Vasco da Gama, em 1967, quando inauguramos um departamento de futebol de mesa e se apaixonou imediatamente. Como era natural de Uruguaiana e lá havia jogado muito futebol de botões com a garotada, sentiu-se plenamente à vontade para paletar os botões que foram encomendados diretamente ao seu Aurélio, na Bahia. O seu time, o Internacional, cuja escalação era: Gainete, Lauricio, Pontes, Scala e Sady, Elton e Carbone, Valdomiro, Bráulio, Claudiomiro e Sérgio Galocha. Os reservas eram Valmir Louruz e Escurinho.
Era uma festa ver o Bobi jogar, pois ele incorporava ao seu jogo a narração em voz alta da partida. E quando solicitava ao adversário que arrumasse o goleiro, pois iria chutar ao gol, o pessoal se agrupava ao redor da mesa, sabendo que, se lograsse êxito, sairia a espetacular narrativa: - gol, gol, gol de Bráulio, o pequeno gigante da Beira Rio. Seguiam-se a isso umas três voltas ao redor da mesa, simulando o soltar de rojões, fazendo com a boca o barulho semelhante: BUM, BUM, BUM, BUM...
Realmente era uma festa estar presente em jogos do Bobi Ghizoni. E ele assimilou com muita maestria o futebol de mesa praticado da forma como foi trazido para o Rio Grande do Sul, isto é, com botões lisos.
Melhorando cada vez mais, foi o super campeão do Vasco da Gama. Convidado para um Torneio no departamento de futebol de mesa do Internacional, voltou de lá campeão, deixando o vice-campeonato com o Airton Dalla Rosa, outro excepcional botonista.
Esteve presente naquela nossa visita ao grande Vicente Sacco Netto, em Canguçu, quando, após uma rodada de nosso campeonato, resolvemos fazer uma visita, saindo de Caxias lá pelas vinte e três horas e chegando a Canguçu ao amanhecer. Nós estávamos em sete competidores caxienses contra outros sete daquela cidade. E lá, na terra canguçuense, o Internacional do temível Bráulio se tornou campeão novamente.
Participantes do torneio em Canguçu - Ghizoni é o 2º da esq para dir.
Nossos encontros nunca terminaram empatados. Jogamos 14 vezes e o único empate foi no número de vitórias de cada um: sete. Com ele não havia chance de empate. Ganhava-se ou perdíamos. Ele jogava e deixava jogar. Foi um tremendo botonista que, em 1970, deixou Caxias do Sul com sua família e nunca mais soube notícias dele.
Gostaria de saber como anda esse amigo que marcou o botonismo caxiense, alegrando de uma maneira sadia nossas competições. Se alguém conhecer e souber onde ele se encontra, eu agradeceria a informação. A saudade é muito grande e, quem sabe, não acordaríamos um campeão.
Inauguração da Rádio Difusora
Até a semana que vem, se Deus assim permitir.
Sambaquy

segunda-feira, 6 de maio de 2013

AS LUTAS PARA MOSTRAR O FUTEBOL DE MESA AOS AMIGOS


Meus amigos, o assunto de hoje é sobre o que ocorre no futebol de mesa, paralelamente às disputas de torneios, campeonatos e mesmo amistosos.
Em primeiro lugar, deveremos nos munir de uma mesa e de, pelo menos, dois times, um para jogar e outro para emprestar. Depois, um local para instalar a mesa, que seja acessível aos curiosos que poderão tornar-se botonistas como nós. Isso é apenas o começo. Tem de haver uma divulgação sobre o que pretendemos. Reunir amigos e fazer com que entendam aquilo a que almejamos, pois sem isso jamais teremos uma associação de botonistas.
Todas as associações de botonistas começaram dessa maneira. Se não houver um elemento determinado, impulsionador, fatalmente a mesa e os botões acabarão sendo abandonados.

Quando iniciei, a mesa estava na casa do meu amigo Renato Toni. Jogávamos depois das aulas e não foram poucas as vezes que a mãe dele nos mandava embora, fazendo com que ele e seu irmão Reni se recolhessem. Outras mesas existiam. Na casa do Marco Antonio Barão Vianna, do Vasco Alceu Balen e uma mesa enorme na casa do Mansueto de Castro Serafini Filho. Na minha casa eu havia conseguido uma mesa pequena, aposentada pelo meu pai e que levei para o sótão. Risquei as linhas do campo e, como metas, serviram dois pregos grandes com um arame entre eles. As redes eram de filó, coladas com sabão derretido. Não havia proteção lateral e os botões viviam caindo no chão. Nesse tempo, os nossos times eram botões de roupa.
Lembro que o primeiro, ou melhor, os dois primeiros times padronizados que vi foram trazidos do Rio de Janeiro, onde Fred Mello havia lançado um livro detalhando a regra toque-toque, fabricando os times padronizados. Seus proprietários eram o Luiz Felipe Kunz Netto e Lyon Kunz. Mas, ao mesmo tempo em que eram admirados por serem todos iguais, eram repudiados por serem arredondados. As paletas escorriam rapidamente e não havia condições de fazer boas jogadas. Algum tempo depois surgiu o primeiro botão puxador e a febre motivou mais ainda os botonistas caxienses.

Lembro que, aos sábados e domingos pela manhã, o Renato e eu saíamos para jogar em diversos pontos da cidade. Visitávamos o Ruy Pratavieira, Vanderlei Prado, José Roque Aloise, José Pozza, Sylvio Puccinelli nos diversos bairros da cidade. Ora era em São Pelegrino, Bairro de Lourdes, na casa do Ruy Pratavieira ou então na alfaiataria do seu Aloise, em frente à Livraria Saldanha. Tempos depois, o Renato e eu brigamos e, então, descobri o Enio Chaulet e o Marcos Lisboa que também dispunham de mesas em casa. O Marcos era um mago do botão, pois os torneava dando o caimento ideal para cada um deles.
Com a criação da Regra Brasileira, passamos a comprar botões na Bahia. Desenhávamos os tipos de botões e a encomenda seguia via Oldemar Seixas, sendo fabricados pelo seu Aurélio. Algumas semanas depois, via Varig, recebíamos os times e partíamos para as mesas, agora já existindo em quantidade elogiável nas diversas associações da cidade.
Comprei muitos times, tanto do seu Aurélio como do José Castro Sturaro. Os do Sturaro eram mais baratos, mas feitos de acrílico com um bom acabamento. E, muitas vezes, presenteava pessoas que não tinham condição de adquiri-los. Nunca fui de guardar muitos times. Até mesmo o time com o qual fui campeão caxiense, em 1969, foi dado de presente a um menino filho de uma prima.
Botões da regra Brasileira
Em Brusque, quando iniciamos a prática do futebol de mesa, havia uma quantidade enorme de meninos que praticavam, pois o domingo era o dia deles. Muitos encomendavam os times e eu mandava buscar, sempre pedindo mais alguns para ter em estoque. Lembro que, depois de receber um pacote com diversos times, três meninos foram na minha casa para buscá-los  no Jardim Maluche. Com eles estavam dois filhos do roupeiro do Clube Atlético Carlos Renaux. Os dois meninos não tinham condição alguma de comprar, pois o trabalho de seu pai não lhe rendia valor para comprar coisas supérfluas. Os dois olhavam encantados para os times dos seus amigos. Perguntei-lhes se eles jogavam. Disseram que quando alguém lhes emprestava um time gostavam de praticar, mas não tinham como comprar. Então, apanhei do estoque um Clube do Remo e um Náutico e dei a cada um. Os dois choraram emocionados. Até hoje, quando retorno à cidade, lembram do fato e da alegria que sentiram, quando um desconhecido lhes deu um presente que almejavam.
Sei que gastei muito dinheiro com o futebol de mesa, mas acredito que valeu a pena, pois saber que, mesmo com a dificuldade atual de promover o nosso esporte, ele está sobrevivendo e fazendo frente aos jogos eletrônicos que abundam por esse país afora.
Celso Sambaquy Brincando em seu Estrelão.
Muitas vezes fui enganado por espertalhões que entravam nesse mercado. Ao me tornar campeão caxiense, encomendei uma caixa de couro, que era fabricada em Guarabira, na Paraíba, para guardar meus botões. Era uma caixa muito bonita que vinha com o distintivo do G. E. Flamengo na parte de cima e escrito meu nome com os dizeres: Campeão caxiense de 1969. Numa das laterais estava escrito Grêmio E. Flamengo e, na outra, Caxias do Sul (RS). Na parte de baixo, desenhado um campo com 22 botões, sendo que um time com a letra F. Paguei antecipadamente e recebi em minha casa. Tempos depois, quando passei a jogar com o S. C. Internacional, resolvi encomendar outra, dessa vez com a homenagem ao colorado. O referido fabricante me forneceu o preço e eu enviei o dinheiro a ele. Ele fez a caixa de couro, mas nunca me remeteu. Perdi o dinheiro e o amigo.  Ninguém é perfeito e nós continuamos a nossa caminhada.
Foto Antes do Clássico Caju de 2013. Zambi e Rogerinho no desafio do futebol de mesa.
Até a semana que vem, se Deus permitir.
Sambaquy