segunda-feira, 24 de junho de 2013

ATLÂNTICO SUL FUTEBOL DE MESA – SEIS ANOS DE VIDA INTENSA

Não poderia deixar passar a oportunidade de saudar os amigos dessa agremiação tão apaixonante e a grande promotora do futebol de mesa da região balneária de Santa Catarina.
Iniciou em 23 de junho de 2007, por iniciativa de Oswaldo Fabeni, Guilherme Mello, Ivo Castro Júnior, Fernando Castro, Renan Silva, Bartolomeu Dorneles, Joel dos Anjos Junior e Luiz Carlos, reunindo-se no salão de festas do prédio em que residia o Oswaldo, Av. Brasil, 360 na esquina com a Rua 1651. Fui convidado para o Torneio alusivo à fundação do clube, onde compareci levando a fita K7 com o Hino do Botonista, cantado pelo inesquecível Geraldo Décourt.


Em 29 de junho, Oswaldo escrevia no Fotoblog do clube, que havia mantido contato comigo telefonicamente, agendando uma visita a ser realizada na próxima segunda feira. Já, no dia 03 de julho, redigiu: Ontem tive a grata satisfação de passar duas horas falando só de Futebol de Mesa com o Sr. Adauto Celso Sambaquy. Apesar de ter acabado de conhecê-lo, parecia que já havia conversado com ele inúmeras vezes, face ao carinho e cordialidade com que fui tratado. O homem é a história personificada do Futebol de Mesa. Vivenciou o nosso esporte desde os primórdios, participando da elaboração das regras e fundação de várias ligas, federações e a própria Confederação, sendo, por isso merecedor de inúmeras homenagens, como nome de troféus, torneios e mesas pelo Brasil afora. Ele possui times históricos (tudo devidamente documentado e organizado nos mínimos detalhes) de várias regras. A galeria de troféus é imensa. O tempo, lamentavelmente voou e tivemos de encerrar a visita. Está aí uma pessoa que além de amante do futebol de mesa, goza de grande prestígio no meio esportivo e social, que demonstrou nos fornecer subsídios para que possamos fazer do futebol de mesa de Santa Catarina um destaque nacional. O senhor é convidado vitalício a participar de nossos encontros. Será um grande prazer tê-lo junto a nós. Obrigado.
Só que o idealismo e a força de vontade desses desportistas não necessitariam de apoio algum, pois, desde os primeiros passos surgiram como grande potência no esporte que amamos. Começaram no salão de festas do prédio em que o Oswaldo morava, mas ficou pequeno, pois o grupo aumentava sempre. Somavam-se a eles o Rubens Olinger e Alexandre Castelli que pertenciam ao Olímpico de Blumenau. Passaram a jogar em uma sala da empresa da família Queiróz Mello Construtora.
Em 25 de agosto daquele mesmo ano, patrocinaram com enorme sucesso a V Etapa do Campeonato Catarinense de Futebol de Mesa, na Casa Hall Shopping, em Balneário Camboriú. Era o início dessa caminhada.
Em setembro, foi realizada a Taça Adauto Sambaquy, na nova sede social, anexa à Academia Snooker Bar, Rua Jorge Szarschel, 442 (estrada de Cabeçudas), em Itajaí. O clube, contando com 12 mesas em ótimas condições, numa sala acarpetada e um excelente serviço de bar, com petiscos e bebidas geladas servidas no local. Em outubro desse mesmo ano, recebemos a visita da equipe da TV Record, comandada pela editora de esportes Camila Magalhães, realizando uma excelente reportagem, com entrevistas de vários botonistas.
Os horizontes se abriram e a participação dos abnegados botonistas do Atlântico Sul começaram a mostrar-se ao mundo. Mais adesões se incorporavam ao grupo e as conquistas foram sendo aumentadas. As realizações eram concomitantes àquelas que aconteciam no mundo do futebol. Copa UEFA, Libertadores, Copa do Mundo, com torneios que homenageavam personalidades como Geraldo Décourt, Dr. Aldo Mario de Almeida e Jogos Abertos de Verão e C opa da Praia.

Partiram então para os campeonatos Brasileiros. O primeiro foi em Campinas, e o nosso querido amigo Oswaldo voltou embevecido. Afirmava constantemente que o primeiro a gente nunca esquece. O Clube Marcílio Dias resolveu encampar essa luta hercúlea e deu o seu apoio ao grupo, cedendo uma dependência no centro de Itajaí, solicitando que usassem o seu uniforme, representando-o em competições estaduais e nacionais. Com isso, os esforços foram redobrados e a sala que comporta seis mesas foi dotada de ar condicionado e uma linda estante para guardar os troféus que estão sendo amealhados em nome do clube.
Oswaldo no Brasileiro 
Equipe com a camisa do Marcílio Dias
Depois de realizarem dois torneios com o meu nome, deliberaram criar um troféu, no qual será gravado o nome do campeão anual e que ficará sempre no clube; uma posse transitória do troféu, não permitindo a sua saída da estante do clube. E colocaram nele o nome de Adauto Sambaquy, um amigo que eles conquistaram desde 2007.

Ontem foi a festa de sexto aniversário, com direito a churrasco e jogos o dia inteiro. Quem sabe, futuramente, eu diga os resultados, mas o mais importante é o clima de amizade que une esses botonistas há seis anos e que deve perdurar por muito tempo mais.

Galeria de fotos do Atlântico Sul / Marcílio Dias - Itajaí (SC)
Ivo e Sambaquy
Turma reunida na premiação do torneio
Sambaquy, Sydnei e Oswaldo
Oswaldo entre suas duas paixões
Eu também belisquei alguns troféus aqui

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

LUIZ HENRIQUE ROZA - O XAVANTE MAIS ACEITO NO BRASIL.

LH.ROZA-Preparação do xavante
Eu conheci esse amigo em 1980, quando da realização do Campeonato Brasileiro na cidade de Pelotas. Só voltei a ter contato com ele quando a coluna passou a ser publicada semanalmente e, na sua terceira edição, ele postou um comentário, isso em 20 de agosto de 2010. Fui conhecê-lo por ocasião do XXIX Centro Sul, realizado em Caxias do Sul, quando tive a honra de disputar uma partida com esse verdadeiro cavalheiro do futebol de mesa.
PizzaPai, Sambaquy e Roza   / /  Horácio, Roza, Sambaquy e André
Mas, a minha intenção é apresentar aos demais amigos que prestigiam essa coluna a história desse batalhador dinâmico de nosso esporte. Recebi um histórico de suas atividades e vou reproduzi-lo, pois é uma história de amor ao futebol de mesa. Ei-la:
Tudo teve início em 30 de maio de 1953. Ao comemorar seus oito anos de idade, como presente recebe uma caixa com dois times de botões. De plástico, um vermelho com escudos do Flamengo e outro branco com a estrela solitária do Botafogo, de Garrincha. Foi amor à primeira vista, inoculando em seu sangue essa paixão pelo Futebol de Mesa. Com esse amor aflorando, mais tarde foi premiado com outro time, o Bangú. Só faltava a mesa de Eucatex, que foi feita em seguida. Ele e mais três vizinhos jogavam nas calçadas da Rua Prof. Dr. Araujo, em seu bairro. Na garagem de seu primo Gilberto Ramalho descobriu que jogavam com botões grandes e grosseiros dos “velhos casacos”. Passaram a imitá-los. Com o tempo, deram início à fabricação de seus botões com carrinhos de plástico que, derretidos, eram colocados em forminhas e depois raspavam no chão até conseguir um acabamento conveniente.
Mas, como torcedor fanático do G. E. Brasil, durante um jogo noturno realizado no Estádio Bento Freitas, escutou alguns rapazes conversando sobre o JOGO DE BOTÃO. O jogo ficou em segundo plano, pois perdendo a vergonha, aproximou-se e os questionou sobre onde jogavam. Veio o convite para conhecer a recém fundada APFM do próprio ALDYR SCHLEE. Dentre as coincidências, a data da fundação da APFM era a mesma de seu aniversário. Foi nessa data que ele conheceu o futebol de mesa, e o primeiro convite para jogar em uma associação deu-se para uma fundada no mesmo dia de sua data natalícia.
Na APM conseguiu ser Campeão do Torneio de Verão de 1984, Campeão 10º Aniversário da ASURVIC, em 1985, e Vice Campeão do Torneio de Integração ALFM X APFM (São Lourenço do Sul, em 15 de novembro de 1984).
Ochoa-Chinês-Prof.-Getulio-Ronaldo e Roza (1984)
No mês de maio de 1987, recebeu um convite da Diretoria do Círculo Operário Pelotense para ser o responsável pela fundação do Departamento de Futebol de Mesa. Convidou três amigos: João Armando Ochoa, Jader Baldez Morales e Getúlio Duval e iniciaram a procura de interessados em fazer parte do DECOP. E graças ao trabalho desse quarteto, grandes nomes do futebol de mesa gaúcho e brasileiro conquistaram tantas glórias e elevaram o nome da entidade que os abrigava.
Seus títulos no COP: 3º lugar no primeiro Campeonato Interno (1987), Campeão do Torneio Ronaldo Prietsch (1987), Campeão Torneio 21 de abril (1988), Campeão 1º Torneio de Veteranos COP (2001), 3º lugar 2º Torneio de Veteranos COP (2002), Campeão Torneio Inauguração da Mesa do River Plate (12/2002), Campeão Bola Murcha COP (2002), Vice campeão Torneio ARFM x COP (03/2003), Vice campeão Torneio verão COP (03/2003), 4º lugar no Primeiro e Segundo Turno da Taça de Bronze (12/2003).
Defendendo o COP, participou do Campeonato Estadual por Equipes, (1995) em Canguçú, 1º Torneio Florianópolis x Pelotas (11/1995), XII Torneio Centro Sul Brasileiro (06/1996) - no Tijuca Tênis Clube (RJ), XIII Torneio Centro Sul Brasileiro (1997) Florianópolis, 1º Torneio Jaguarão x COP (11/2000), Campeonato Estadual Circulista (FECORS) (10/2003).
Em 1994, seu nome foi indicado ao BBB (Botonista Bola Branca), um grupo fechado de “amigos” onde o ideal é a reunião em torno da mesa jogando o seu esporte, perto de uma churrasqueira e mais perto ainda de algumas “geladinhas”.
Nesse grupo, suas conquistas também são significativas: Vice Campeão IX Bola Branca, em 1994, na cidade de Rio Grande quando enfrentou o fenomenal campeão Brasileiro Guido Garcia, Campeão Bola Murcha BBB (1994), Vice Campeão 5º Frescão do Franz (1995), 4º Lugar XIII BBB (11/1996), Campeão do 8º Frescão do Franz (1997), Vice Campeão 2º Torneio De’ Lei (01/2001).
Agora, residindo em Joinville, passou a dedicar-se à Regra de 12 toques, participando da equipe de Joinville e posteriormente filiado ao Marcílio Dias, de Itajaí. Joga também a modalidade de dadinho. Em 2006, fez parte, com muito sucesso, da AFUMTIBA, de Curitiba, na Regra Brasileira. Frequentemente tem levado troféus para aumentar a sua galeria numerosa, pois continua sendo um excelente botonista e um amigo para todas as horas.
Roza com o pessoal da AFUMTIBA em Curtiba e no Marcílio Dias em Itajaí
Frequentemente, envia mensagens aos seus amigos futmesistas e uma delas, bem ao estilo de quase fronteiriço, é a seguinte: Los amantes Del Fútbol Botones: El futbol botones requiere habilidad e inteligência para conseguir las mejores estratégias y control emocional igual que El futbol. Es um juego de azar y tambien imprevisible em el que no siempre gana el mejor...
Para esse amigo, as suas maiores vitórias são amizades que conquistou em sua caminhada. Essas não são colocadas em estantes, mas, no coração.
Roza e seus troféus

Até a semana que vem, se Deus assim permitir

segunda-feira, 10 de junho de 2013

A ALEGRIA E A DECEPÇÃO DE UM CAMPEÃO ESTADUAL DE FUTEBOL DE MESA

Meus queridos amigos, por ocasião do XXXIX Campeonato Brasileiro, realizado em Salvador, no ano passado, recebi um telefonema do meu amigo/irmão/compadre Vicente Sacco Netto. Ao saber que eu estava na Boa Terra, participando de um campeonato brasileiro, não se fez de rogado e me intimou a comprar um time para ele, já que aquele que possuía juntamente com seus troféus, foi levado por uma enchente em seu sítio. Recomendou que procurasse um São Paulo ou então em Milan. Passei a visitar os estandes de oferta de botões, mas sabendo de seu gosto apurado, não me senti entusiasmado por nenhum.
Conversando com o amigo Enio Durante no saguão do hotel, expus-lhe essa dificuldade. O Enio, solícito, imediatamente me tirou da enrascada. Chamou para junto de nós o Adilson Montenegro seu fornecedor de botões. Ali mesmo fez a encomenda, cuja arte seria apresentada ao Vicente para sua aprovação.
Depois de mais de seis meses, o time chegou às mãos do Vicente. No mesmo dia que o recebeu, ligou-me exultante, parecendo um menino excitado com um presente há muito sonhado.
No mesmo domingo, dia 2 de junho, enviou um e-mail narrando a sua alegria, dizendo que após ter recebido o time das mãos do Enio, passou a dormir menos, pensando em seu retorno aos gramados de madeira. No dia seguinte, continua em sua narrativa, encontrou uma caixinha apropriada para acondicionar os botões. Pintou-a de vermelho, preto e branco e, na tampa, com todo o cuidado do mundo, colocou os distintivos do São Paulo e do Milan. Segundo ele, ficou maravilhosa.
Na sexta feira, decidiu telefonar para o seu amigo Professor Calderipe, colega de escola e amigo, a fim de convidá-lo para visitarem um local onde se encontram algumas mesas. Foi quando aconteceu a primeira frustração, pois o Calderipe se encontra em Punta Del Diablo – Uruguai. No dia seguinte, com a caixinha debaixo do braço procurou o primeiro dos locais informados, onde poderia praticar o futebol de mesa. Caminhou bastante e não encontrou. Acometeu-lhe uma crise de nostalgia, pois não pode contar com o meu fusquinha azul que o levava de um lado a outro em Caxias do Sul, visitando as diversas associações botonísticas. Então resolveu procurar um local indicado pelo Enio – e lá encontrou três parceiros que o receberam muito bem. Foi, então, a segunda onda de nostalgia, pois não encontrou como acontecia na década de sessenta e nas seguintes o Calegari, Puccinelli, Vanazzi, Vasques, Chicão, Fabião, Grazziotin, Schumacher, os irmãos Valiatti, o Guizoni, o Dalla Rosa, o Cláudio Mussi, o Clementino Fonseca e tantos outros que o tempo e a geografia levaram. Dia ainda, a bem da verdade, não encontrei a mim mesmo. Disseram os praticantes locais que, agora, são realizadas competições separadas para botões lisos ou cavados. Que a caída é de 6, 7, 8 graus e só se chuta ao gol de bordoada, para que a bola possa levantar um pouco. Sentiu-se perdido, tal como sapo em cancha de bochas e se limitou a dar uns chutes ao gol.
Retornou a sua casa cabisbaixo, convicto de que o tempo é implacável demais. E o pior de tudo, a saudade que sente das pessoas e mais particularmente de mim, que não abraça há mais de quarenta anos.
Realmente, foi em 1972, por ocasião do Terceiro Campeonato Brasileiro, na época Copa do Brasil que nos encontramos pela última vez.
Último encontro de Sambaquy e Vicente Sacco
Respondi-lhe, explicando que, no Congresso, por ocasião do Campeonato Brasileiro de 1978, realizado no Rio de Janeiro, por sugestão de gaúchos e cariocas, os botões cavados foram aceitos. A partir desse campeonato, os cavados foram ganhando espaço e passaram a dominar os campeonatos, até que os dirigentes da Associação Brasileira (que precedeu a Confederação) viram que eram duas modalidades de características completamente diferentes e as separaram, realizando dois campeonatos anuais nas modalidades liso e livre (cavado).
Particularmente eu entendi a frustração do Vicente, pois nos primeiros anos da Regra Brasileira, os times ficavam dentro das quatro linhas, ocorrendo um ou outro botão estar fora de jogo, nas linhas marginais. Hoje em dia, os times jogam com todos os botões praticamente do lado de fora. Nossos jogos permitiam que usássemos cinco botões levantadores, pois primavam as jogadas de efeito, procurando tirar os defensores e fazendo com que os atacantes conquistassem gols maravilhosos, encobrindo os boleiros. Nós usávamos as palhetas redondas e hoje em dia todos jogam com réguas. Até os baianos, que sempre utilizavam a unha para jogar e fazer jogadas maravilhosas passaram a usar a régua que se tornou uma unanimidade nacional. Mudou muito o nosso esporte e, talvez, isso seja um impedimento para o retorno desse primeiro campeão estadual do Rio Grande do Sul, título conquistado em 1973 na cidade de Canguçu, palco do primeiro campeonato estadual.
Quem jogou naquele tempo não consegue assimilar a maneira atual de jogar. Encontra dificuldades imensas. Foi assim com o Airton Dalla Rosa, exímio botonista que jogava classicamente e nunca deu uma cavada como as que são utilizadas na atualidade. E, também, nota-se a pouca procura dos antigos praticantes da AABB de Caxias do Sul, pois mudou muito a maneira de praticar o futebol de mesa. Sei dos esforços do Enio, que conseguiu conversar com Schumacher, Vanazzi e tantos outros botonistas, mas não conseguiu fazê-los retornar.
O tempo passou e nós paramos nele. Ficamos com aquela maneira romântica de praticar o futebol de mesa e dificilmente nos adaptaremos a esse novo jeito de jogar. Lembro ainda que, quando joguei contra o Luiz Ernesto Pizzamiglio, fui admoestado para não jogar com tantos botões atacantes; em vez de atacantes colocasse botões que pudessem cavar. Eu não sei fazer isso, não tenho precisão geométrica para fazer cavadas, as quais devem priorizar as jogadas seguintes. O melhor mesmo é ficar assistindo.

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

domingo, 2 de junho de 2013

ADEUS, MEU QUERIDO IRMÃO GIOVANNI ZANETTO

Essa é a segunda vez que tento escrever essa coluna de despedida. Confesso que estou ainda sob o efeito do uísque que, inutilmente, tentava fazer esquecer as passagens de nossas vidas que nos uniram como irmãos. Ele nascido em Veneza e eu em Caxias do Sul. Nem por isso deixamos de ser irmãos, pois a força que Deus impregnou dentro de nossos corações nos transformou em membros da mesma família. E isso acontecia naturalmente, pois em minha casa e na dele, entrávamos e saímos com a maior naturalidade como se estivéssemos no seio da família que nos trouxe ao mundo.
Sambaquy e Zanetto ladeando duas lindas colegas da época
Nossa vida começou ainda nos bancos escolares, quando juntos estudávamos e sofríamos nas provas e exames. Mas, levávamos tudo na maior esportividade. Juntou-se a nós o Moacyr Boff, o qual foi convidado a afastar-se do Carmo, vindo para a Escola Normal Duque de Caxias. Formou-se a maior trinca daqueles tempos, pois onde estava um estavam os três.
Lembro ainda de minha cirurgia de apêndice. No Hospital Del Mese, meus dois irmãos fizeram com que a minha mãe fosse para casa, pois eles iriam cuidar de mim. À noite, com sede pedi água, mas o médico havia recomendado que nada me fosse dado. Eles, além de negarem, ainda me faziam sofrer, pois bebiam os copos com água e a derrubavam pela janela. Foi então que acionei a enfermeira e ela, acordada na madrugada, com a cara de braba mandou que eles me dessem água. O resultado foi que acabei passando mal. Mas, éramos unidos e isso é o que valia. Foram os irmãos de minha vida que Deus me deu de mão beijada para os melhores anos de minha vida. Fazíamos tudo juntos: escoteiros, futebol e escola.
O tempo passou. Crescemos. Eu consegui passar no concurso do Banco do Brasil e ele no Banrisul. Foi a primeira separação em nossas vidas. Mesmo assim estávamos sempre juntos, pois continuamos a estudar, primeiro na escola de Contabilidade do Carmo e depois na Faculdade de Ciências Econômicas. Seguimos sempre juntos em nossa vida.
O Giovanni nunca foi um ferrenho botonista. Jogávamos de vez em quando. Junto conosco estudava o Delesson Pavão Orengo. Esse era um fanático botonista. Em sua casa, jogávamos e brigávamos  seguidamente, mas logo após estava tudo bem.
Os nossos locais de trabalho acabaram nos afastando sem, no entanto, perdermos a amizade jamais. Ficamos distantes. O Moacyr foi morar em Curitiba e o nosso time de futebol esmoreceu e acabamos nos afastando. Outras pessoas tocaram o time e nós passamos a nos aventurar na noite. Lembro ainda de namoradas que conseguíamos em diversos lugares. Em Taquara, terra natal de meu pai, duas meninas que paquerávamos nos convidaram para um baile comemorativo na cidade. Seguimos para lá e nos hospedamos em um hotel. Fizemos o maior sucesso. Mas, éramos dois rapazes sem recursos financeiros. Terminado o baile, no dia seguinte nos despedimos e de ônibus voltamos para Caxias. A vida seguia assim.
Com a minha vinda para Santa Catarina, perdemos um pouco o contato. Eu tive de reconstruir a minha vida e ele a dele. Depois de alguns anos, radicado por aqui, um amigo em comum me convidou para um jantar em um clube. Disse que faria uma surpresa. Fiquei curioso e fui. E lá estava o Giovanni, sua esposa, sua irmã Gineta e o marido Adair. Foi uma emoção enorme para mim. Voltei aos tempos de minha juventude, convivendo com aquelas pessoas que me conheceram tão bem em épocas idas. Depois disso, encontros foram mais constantes. Além disso, as meninas de nossa turma de ginásio faziam encontros, nos quais eu comparecia e o encontrava sempre alegre e satisfeito.
Foram mais de sessenta anos de amizade, de irmandade, de comunhão de pensamentos entre nós. Na última, ano passado, quando pude comparecer e disputar, mesmo que sem condições, o torneio Laborcordis na AFM, ele não compareceu. Fiquei frustrado, pois era a minha referência a sua presença. Afinal, era o meu irmão que restava, pois o Moacyr havia falecido em Curitiba. Alegando que devia estar em tratamento no Hospital, não pude encontrá-lo.
Voltando para casa, mantive contatos telefônicos com ele, quase que semanalmente. Senti então que estava se despedindo dessa vida, pois sua voz, antes tão sonora e displicente, agora era bastante agastada. Aproximei-me de sua esposa, a querida cunhada Solange, que me deixou a par da triste situação que meu irmão estava atravessando.
Na última vez que conversamos, prometi-lhe que iria a Caxias para, em sua casa tomar um café. Foi então que o meu dermatologista resolveu retirar uma ferida cancerígena de meu tornozelo esquerdo. Achei que aquilo seria fácil, mas complicou e, com isso, por mais de um mês fiquei em prisão domiciliar. Até que, na sexta feira, às 0h36 minutos a minha querida cunhada Solange me liga para dizer que meu querido irmão havia terminado sua missão no plano terrestre e partira. Que choque! As lágrimas brotaram em meus olhos e a minha sensação de impotência diante do quadro se fez anunciar. Perdera o meu irmão, o irmão que não nascera em meu lar, mas que fora entregue por Deus aos meus cuidados e que marcara a minha vida com sua amizade. Faltou-me o chão e a noite foi longa e difícil. Giovanni Zanetto foi cremado no dia seguinte e deixou para nós, que ficamos, um legado de grandes realizações e uma amizade maravilhosa.
Tenho certeza que Nosso Pai o acolheu e o juntou ao Moacyr, os quais, espero, estejam me aguardando para restaurarmos a famosa trinca dos anos cinquenta.
Senti-me triste por não ter tido a chance de me despedir de meu irmão, mas ao mesmo tempo, recordando dele, vejo-o lépido, faceiro, cheio de saúde e amigo de todas as horas. Vejo-o como sempre o vi. Saudável e sempre pronto para uma nova aventura, coisa que diariamente fazíamos em nossa juventude. Saudade é uma dor que machuca, mas, ao mesmo tempo, é algo que nos faz reviver o impossível, aquilo que já aconteceu e nunca mais se repetirá, a não ser em nossa mente.


Com saudade e lágrimas, até a semana que vem, se Deus assim permitir.