segunda-feira, 29 de julho de 2013

CLAIR MARQUES – O PIONEIRO DE RIO GRANDE

Clair Marques campeão de tudo, colorado
A história do Clair poderia ser a história do futebol de mesa de Rui Grande. Menino ainda, na festa de seus 12 anos, entre todos os presentes, o que mais prendeu sua atenção foi o que seu cunhado lhe entregou. Eram dois times de plástico, dois “times de futebol de botão”, um do América e outro do Flamengo, ambos do Rio de Janeiro. Naquele 15 de novembro de 1956, Clair foi inoculado com o vírus que nunca mais o abandonou.
No piso de madeira da sala de sua residência deixou seu “amor à primeira vista” desfilar, fazendo suas partidas.
Depois disso passou a jogar contra os moleques de sua rua. Dentre eles, sobressaía-se o Robertinho. Era deixar uma bola sem cobertura e tinha de buscar a bolinha dentro de seu gol. Foi o Robertinho que o levou até a Padaria Sul América, onde, após o expediente, seu proprietário Antonio Leite, seu filho Antoninho, Rominho, Grilo, Zé, Walter José Ferreira (o campeão da Padaria) e o próprio Robertinho disputavam campeonatos organizados com uma regra idealizada por eles mesmos. Foi lá que ele foi apresentado aos botões puxadores. Conseguiu dinheiro e adquiriu um time de puxadores, o qual denominou de Real Madrid, o time mais destacado do mundo na época. Todos eles acompanhavam as notícias sobre esses times na Revista do Esporte. Com o Real Madrid na mão, passou a frequentar a Padaria e seu jogo evoluiu consideravelmente.
Mas, a grande dificuldade era e sempre foi a Regra. Cada grupo tinha a sua. E o sonho do Clair era ver todos jogarem com uma única regra, pois assim, em qualquer canto da cidade, os jogos seriam iguais.
Foi então que tomou conhecimento de que, em Porto Alegre, no ano de 1961, um abnegado desportista chamado Lenine Macedo de Souza havia fundado uma Federação Riograndense de Futebol de Mesa. Juntou dinheiro e mandou vir duas mesas oficiais, passando a jogar na Regra Gaúcha. Com isso, participavam de torneios e campeonatos promovidos pela Federação, o que os obrigou a criar uma Liga Riograndina de Futebol de Mesa.
Clair em início de carreira, com Lenine Macedo de Souza e o primeiro campeão riograndino Hallal
Algum tempo depois, toma conhecimento, através da Revista do Esporte, da reportagem “Bahia dá lições de Futebol de Botões”, de autoria de Oldemar Dórea Seixas. Escreve a ele e recebe resposta. Assim é criada a nossa amizade, pois Oldemar nos coloca em contato.
No ano de 1966, ano da comemoração do primeiro aniversário da Liga Caxiense de Futebol de Mesa, Clair é convidado e comparece, tendo a oportunidade de conhecer os dois baianos que estavam presentes: Oldemar Seixas e Ademar Carvalho. O torneio é realizado na Regra Gaúcha, com brilhantismo e com a participação dos dois convidados baianos. Após o torneio, é feita uma demonstração do então futebol baiano, com botões padronizados, num campo muito maior dos oficiais da Regra Gaúcha. Da mesma forma que os demais assistentes, fica maravilhado com a plástica desenvolvida e as jogadas de efeito.
Campeonato Gaúcho em 1966, Caxias do Sul. Clair aparece no meio da foto
Nesse mesmo ano, voltou a Caxias, agora em dezembro. Volta a Caxias, pois a Liga Caxiense fora incumbida de realizar o Campeonato estadual de 1966. Acompanha-o Gerson Marcílio Soares Garcia que disputaria a modalidade juvenil, sagrando-se campeão. Clair não foi muito bem nesse campeonato.
No ano seguinte, em 1967, o estadual de futebol de mesa realiza-se em Rio Grande, sua terra natal. São suas as palavras que foram incluídas num trabalho maravilhoso feito pelo Rangel, no blog da AFUMECA: ”Nesse campeonato, em que terminamos no empate Enio Vogues e eu, fomos declarados campeões. Foi um campeonato estadual realizado em Rio Grande, no Esporte Clube União Fabril, que ficava localizado em frente ao portão lateral do Cemitério de Rio Grande e que já não existe mais. Eu estava em minha casa, já achando que o Lenine e seus convidados não viriam mais, quando escutei o som de fogos de artifício. Fui olhar no portão e vi que estavam se dirigindo para minha casa, num comboio de cinco ou seis carros e uma Kombi, com bandeiras da FRFM e cartazes alusivos ao campeonato estadual de futebol de mesa que seria disputado na cidade. Juntamos o pessoal de Rio Grande com os demais convidados e começamos as disputas do certame.
A finalidade maior desse campeonato estadual, a qual descobri posteriormente, era a de promover os novos botões plásticos “Lione” da fábrica do Lenine Macedo de Souza. Cada participante do campeonato teria de retirar cinco de seus botões de galalite do seu time e, obrigatoriamente, incluir outros cinco da marca “Lione”. Esse detalhe o Lenine não havia comunicado a ninguém de Rio Grande.”
Já estava em vigor a Regra Brasileira, promovida pela Liga Caxiense de Futebol de Mesa, mas os participantes da Liga Riograndina de Futebol de Mesa, diante das enormes modificações entre as duas regras, permaneceram fiéis à Regra Gaúcha. O episódio da inclusão dos botões “Lione” entre os botões escolhidos para comporem os times fez muitos ficarem bastante magoados com a Federação. Mesmo assim continuavam jogando a Regra Gaúcha.
A adesão à Regra Brasileira aconteceu a partir de 1979, quando dois amigos foram convidados a participar do Campeonato Brasileiro desenvolvido em Jaguarão. Voltaram maravilhados com tudo o que viram. Esses dois e mais um grupo de amigos fundaram a Associação Riograndina de Futebol de Mesa. Destaque especial para Ademir Freitas Duarte que confeccionou as duas primeiras mesas e sugeriu o escudo da nova entidade. Junto com Clair, estiveram desde o início: Luiz Alfredo De Boer, Carlos Alberto Perazzo, Ronir de Oliveira, Paulo Roberto Monteiro, Mário Constantino, Gilberto Pereira, Oscar Schmidt, Alfredo Brito, Douglas, Batista, Silvio Silveira e Alam Casartelli. Nascia a entidade mais vitoriosa em terras farroupilhas.
Clair e Silvio dois fundadores da ARFM
Em 1992, transferido para Paranaguá (PR), sem ter adversários, para por quatorze anos de jogar. Até que, em 2005, alertado por Sérgio Oliveira, descobre em Curitiba o botonista carioca Mauro Paluma. Esse havia recebido de Cláudio Savi Guimarães uma mesa oficial e a montara no Clube D. Pedro II. Mauro havia descoberto Jeferson Mesquita, gaúcho de Uruguaiana e que militara o COP – Pelotas. Após a adesão de Clair, apareceram Marcelo Silva, Alexandre Magnus e Luiz Henrique Ramalho da Roza, ensejando a fundação da AFUMTIBA – Associação de Futebol de Mesa de Curitiba e arredores.
AFUMTIBA - Curitiba
Clair tem inúmeras conquistas, dentre as quais destacaremos Tetra Campeão da ARFMN (1979, 1983, 1987 e 1991), Campeão do Torneio Fronteirão (1983), Bi-Campeão da Taça RS (1980-1985).
Somos amigos desde 1966, quando o recebi em minha casa em Caxias do Sul, já que ele participaria do Torneio de aniversário da Liga Caxiense. Lembro ainda que, ao final do torneio, reunimo-nos com os baianos no Alfred Hotel para discutirmos a possibilidade de unificarmos as duas regras. Foi um dos baluartes na idéia dessa unificação. Ao deixá-lo na Rodoviária, de onde partiria de retorno à sua cidade, escutávamos o jogo Flamengo de Caxias x Rio Grande e, no final do jogo, o vovô do futebol brasileiro marcou um gol e ele berrou de alegria. Ao saber que eu torcia pelo Flamengo, pediu desculpas, mostrando o seu caráter digno.
Esse é o Clair Marques, mais uma bandeira do botonismo gaúcho, a quem envio o meu abraço.
Gaúchos em Itapetinga BA. Clair é o penúltimo da esquerda para a direita
agachados.
Guido e Clair, duas lendas do futmesa

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

UMA FAMÍLIA FORMADA NO FUTEBOL DE MESA: OS PREZZI

Talvez eu devesse iniciar essa história da maneira tradicional. ... Era uma vez, um grupo de jovens moleques que foram incentivados a jogar botão, depois que o presidente da Federação Riograndense de Futebol de Mesa fez uma demonstração da Regra Gaúcha no clube onde se reuniam. Era o início dos anos sessenta e o Recreio Guarany acolhia os filhos de seus associados em um salão, onde Lenine Macedo de Souza deixara uma mesa, cavaletes, traves com redinhas, dois times e algumas bolinhas adquiridos pelo clube. Os moleques tinham agora um incentivo maior para os seus campeonatos, pois um adulto estivera explicando as diversas nuances da regra que era praticada de forma oficial no estado.
No clube residia o senhor Frederico Dalla Rosa (Fritz) que ocupava o cargo de ecônomo. Seu Fritz tinha dois filhos: Airton, que desde cedo se tornara um grandioso e imbatível botonista e Sirlei, uma loirinha linda, estudante e recatada. Airton logo se torna um dos líderes desse grupo e reúne seus amigos em ferrenhos campeonatos. Dentre eles, um quase vizinho, futuro odontólogo, chamado Nelson Prezzi. Outros também frequentavam o ambiente esportivo e eram amigos, como Ângelo Slomp, Almir Manfredini, Ariovaldo Sebben, Carlos Berti, Jorge Compagnoni, Ivan Puerari, José Raul de Castilhos, Marcos Meregalli, Milton Berti, Paulo Leonardi, Sérgio Silva (garçom do clube) e Vitório Menegotto.
A nossa história se inicia nas disputas ferrenhas e barulhentas desse grupo que acabou chamando a atenção da Sirlei que foi dar uma espiadela, matando a curiosidade. Naquele momento, o anjinho Cupido estava, também, interessado na barulheira da molecada e, de cima olhando, quando observou a chegada da Sirlei e vislumbrou o olhar que foi trocado entre ela e o Nelson Prezzi. Foram duas flechas certeiras que atravessaram os dois corações. A partir daí, Nelson, quem era sempre um aspirante ao título máximo, passara a ser um mero figurante, com um interesse único de estar presente no clube e, Sirlei, que nunca se interessara pelo futebol de mesa, a torcedora mais apaixonada, não perdendo uma só reunião da molecada.
Desse primeiro olhar passaram ao flerte, ao namoro, ao noivado e finalmente ao casamento. O futebol de mesa criava o primeiro casal de apaixonados que daria muitos frutos.

Da união de Nelson e Sirlei vieram Sheila, Rogério e Alexandre
Tempos depois, dessa linda união veio a bela Sheila, o robustinho Rogério e o fininho Alexandre. Nelson continuava a praticar o futebol de mesa, agora com menos constância, devido aos seus estudos, sua formatura e a prática da odontologia. Seu Penharol ainda fazia estragos nos diversos campeonatos que disputava, tanto na Liga Caxiense, como nos campeonatos do Guarany e do Vasco da Gama.
Quando o Rogério e o Alexandre estavam com cinco ou seis anos, presenteou-lhes com uma mesa de botão (Xalingão). Ao Rogério couberam dois times de plástico; Flamengo e Corinthians e, ao Alexandre, o Fluminense. Marcou a vida dos dois que se tornaram torcedores desses times para sempre. Como eram pequenos, os campeonatos eram realizados dentro de casa ou então na escola. Algumas vezes conseguiam permissão para visitar amigos como Daniel Pizzamiglio ou Marcelo Concli. Recortavam da revista Placar os escudinhos,  criando times diversos, aumentando as disputas internas, o que deveria causar alvoroço nas dependências da residência, pois nenhum queria perder.
Por um dever de consciência e arrependimento, tornei-me padrinho do Rogério, logo após ele ter confessado o grande trauma de sua vida. Explico melhor. Quando ele completaria o seu primeiro aniversário, a festa não pode ser realizada na ocasião, pois seus pais, junto com a Sheila estavam em Brusque, participando de um torneio de futebol de mesa, convidados que foram pela Associação Brusquense. Participaram também Airton Dalla Rosa e Luiz Ernesto Pizzamiglio, que com suas famílias prestigiavam essa entidade catarinense. Senti-me culpado, pois fora eu que os convidara. Assumi sem o consentimento da Sirlei e do Nelson a função de padrinho desse menino traumatizado.
O abandonado Rogério com a Vó Adelina curtindo seu aniversário de 1 ano
Mas, os moleques cresceram e acompanhavam os pais que se deslocavam à sede campestre do Recreio da Juventude, para onde fora levada a Liga Caxiense de Futebol de Mesa. Lá, ficavam incomodando os adultos que queriam jogar livremente, andando ao redor das mesas. Foi então que alguma mente iluminada resolveu o problema. Mandou confeccionar cavaletes com pouca altura e colocou uma mesa à disposição da piazada. Foi a glória dos moleques. Os Prezzi, Daniel Pizzamiglio, Felipe e Francisco Barreto, Fábio Crosa (sobrinho do Daniel Crosa), o filho do Marcos Zeni passaram a realizar campeonatos muito mais emocionantes do que os adultos realizavam.
                       
No final dos anos oitenta houve uma parada com o futebol de mesa em âmbito citadino. Mas, os Prezzi continuavam a usar o Xalingão, disputando inúmeros campeonatos. Na reativação da Liga, obra do Vanderlei Duarte, o Airton Dalla Rosa e o Luiz Ernesto Pizzamiglio os levaram para conhecer a nova sede. Estava situada no entroncamento da  Rua Moreira César. Era bem mais perto do que o Recreio da Juventude e os campeonatos começaram a reunir todos em igualdade. Formaram a Ala Jovem da entidade.
Rogério é presenteado pelo seu tio Airton com um time azul. Airton sempre jogou com o Cruzeiro de Minas Gerais. Ele não poderia, portanto, usar o mesmo time. Pensou em um time azul que pudesse inscrever na Liga. Depois de muitas consultas, optou por Avaí, um time da capital catarinense, campeão de 1997, na série C do Campeonato Brasileiro. Alexandre, afilhado do Luiz Ernesto Pizzamiglio, recebeu de presente um Fluminense. Surgia então a grande disputa que persiste até os dias atuais, quando os dois irmãos se encontram: Avaí x Fluminense. É um jogo sempre esperado pelo pessoal da AFM, pois todos sabem que ninguém facilita nada, um querendo quebrar o outro. Em todas as tabelas é sempre um jogo da primeira rodada, para não haver brigas na família.
Clássico realizado na Franzen
Clássico na AFM Caxias supervisionado pelo PizzaPai
Eles se reuniam às sextas feiras, sempre com a presença do Daniel Pizzamiglio que vinha de Porto Alegre e mais o Rafael, jogando até a madrugada. Era uma época em o Vanderlei abria a sede nas tardes de terças e quintas feiras, onde os dois treinavam com o mestre. Mas, quando começaram a trabalhar, a coisa ficou impossível de continuar e houve uma parada. E, nessa parada, a defecção com a ausência sempre sentida de Airton Dalla Rosa, que se afastou dos gramados de madeira e de seu pai, Nelsinho Prezzi, combatente do vício do fumo, revoltado com o costume de alguns que, no ambiente praticavam livremente a queima de tabaco. Foram duas perdas muito sentidas.
Continuavam no prédio da Rua Garibaldi, uma grande sala alugada, quando a Ala Jovem foi tremendamente reforçada com a chegada do Ednei Torresini e, especialmente, a aquisição do Daniel Maciel que levou com ele seus primos Paulo Rodrigues e Mário Vargas.
2005 - Surge uma força mais jovem na AFM Caxias
Torneio 40 anos de LCFM - Pontapé inicial da evolução
Até então as disputas eram somente locais. Houve a necessidade de se filiar à Federação Gaúcha de Futebol de Mesa, com intercâmbios com as demais agremiações, fortalecendo os laços de amizade com milhares de botonistas, não só do Rio Grande do Sul, mas de todo o país. Com isso, Caxias se torna a Capital da modalidade Liso, no Rio Grande do Sul.
As participações desses irmãos, que trazem em seu DNA o futebol de mesa, aconteceram aos poucos. Alexandre fez parte do grupo que viajou ao Espírito Santo em 2006 e em 2009 sagrou-se Campeão Gaúcho por Equipes, representando a AFM Caxias do Sul.
Os títulos da dupla são de vice-campeões em diversas competições. Alexandre foi vice na série A, B, na Copa Primus, Torneio de Inverno. Rogério foi vice na série B e duas vezes do Torneio Campos dos Bugres.
Os dois já presidiram a entidade. O Alexandre, substituindo o Vanderlei, quando teve problemas a resolver e o Rogério, que foi o presidente mais vitorioso da AFM, ficando no cargo de 2011 a 2012.
Galeria de troféus dos Prezzi
Sempre de perto Nelsinho Prezzi entrega prêmio as filhos
Realmente, a história, como num conto de fadas, mostra que o futebol de mesa conseguiu unir um botonista e a irmã de outro que, casando, aumentaram a grande família botonista gaúcha, produzindo dois excepcionais botonistas, os quais se somando às virtudes do pai e do tio, só engrandeceram o esporte dos botões nessa terra maravilhosa que é Caxias do Sul.

A minha homenagem dessa coluna é para essa família maravilhosa que guardo no meu coração desde aqueles primeiros olhares, acompanhados de longe por mim e que produziram filhos maravilhosos, os quais engrandecem o esporte e fazem com que eu possa sentir a felicidade de haver contribuído indiretamente para tudo isso.
Família Prezzi no 88º aniversário do Vô Fritz
Que Deus conserve esses amigos queridos para todo o sempre.

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

ROBSON BAUER – UM CAMPEÃO EXCEPCIONAL

Robson Bauer
Conheci esse grande botonista por ocasião dos festejos dos 45 anos da AFM. Pessoa de fino trato, afável, respeitoso e correto, um desportista que mostrou sempre o seu valor nas mesas e fora delas. Já nos encontramos diversas vezes nas realizações de competições de futebol de mesa. A última vez foi em Salvador, quando, chegado do Aeroporto subiu diretamente para a sala dos jogos, com a mala na mão, antes mesmo de registrar-se no Hotel Sol Barra. A história desse grande botonista é quase idêntica a de todos os demais.

Torneio 45 anos
Campeonato brasileiro 2012 junto de dois dos criadores da regra brasileira Sambaquy e Oldemar Seixas
Inicia-se em Pelotas, com botões de plástico, goleiros de caixa de fósforos, cheios de areia e enfeitados com as cores dos clubes e com distintivos publicados por revistas. De Pelotas passa a Santa Vitória do Palmar, já com botões puxadores de diversas cores, mas ainda em cima de Estrelões. Nosso campeão era um tremendo negociante de botões, além de fabricar em plásticos, usando tampas de fermento para moldá-los e depois raspando nas calçadas até ralar as pontas dos dedos. Foi nessa época que um de seus amigos ganhou de presente uma mesa de madeira, com goleiras fixas e redinhas. Era o máximo para aquela garotada. Os Estrelões foram aposentados sumariamente.
Em 1990, craque de futsal, descobre que seus colegas Gute e Bebé jogavam futebol de mesa. Levado por eles se encanta ao adentrar nas dependências da ASFM (Associação Santavitoriense de Futebol de Mesa). Mesas enormes, botões uniformizados, sem riscos e ranhuras, caixas sob medida para a sua guarda, bolinhas que não necessitavam ser viradas para levantarem sobre os goleiros, tudo uma grande loucura! Soube que havia fabricantes em Pelotas e solicitou ao seu pai que lhe trouxesse um time, pois assim poderia participar dos campeonatos realizados. É presenteado com um time padronizado. Seu pai trouxera de Pelotas um time branco e vermelho. Naquela noite quase não consegue dormir, olhando para os botões empilhados na cabeceira da cama.
Com eles participa ativamente, assimilando a regra e os seus macetes. A ASFM realiza um torneio denominado “Mergulhão” e, na ocasião, vários times são oferecidos à venda. Interessou-se por um e antes de negociar solicitou a opinião abalizada dos mentores Guido Garcia e Edison Rodrigues, os quais afirmaram que esse seria melhor do que o que vinha usando. Com essa compra foi aprimorando seu estilo, com muitos treinos e prestando atenção nas palavras do grande mestre Guido.
Robson no tempo de jovem na ASFM / HPC
Sua primeira participação fora dos limites da ASFM se deu na cidade de Pelotas. Foi participar do torneio “Circulão”. Nesse torneio, que marcou profundamente a sua vida, os vitorienses trouxeram para sua galeria os três primeiros lugares: Guido seria o campeão, Edison o segundo e ele, o terceiro colocado. Voltaram para Santa Vitória sentindo-se campeões mundiais, tal a satisfação que tiveram.
Com outros rapazes de sua faixa de idade, aprimorou seus treinamentos, cujos treinos começavam sérios, mas acabavam em bagunça, geralmente quando o Guido e o Edison não estavam presentes. O quarteto bagunceiro era formado por Morão (Moisés), Claiton, Cidio e Robson. Assim conseguiu aprimorar sua técnica e elevou seu padrão para o que é hoje. Quem quiser conhecer as diversas histórias desse quarteto terá de procurar os Cromos do Gothe Gol, pois aqui faltaria espaço para reproduzi-las, sendo que algumas delas são fantásticas. Aconselho a quem desejar dar risadas, que faça essa procura e leia o cromo do Robson.
Seu grande incentivador foi certamente essa figura maiúscula chamada Guido Garcia. Foi obra dele a mesa que Robson levou para a sua casa, onde realizava grandes jogos com o seu irmão Gelson e seu pai. Junto com Guido, participando em brasileiros, teve a oportunidade de observar a plástica na modalidade lisos e se encantou. Ficava extasiado, pois o jogo era praticado sem que houvesse as coberturas tradicionais da modalidade livre. Em 1997, migrou para o liso, aconselhado por seu pai que via nele a grande possibilidade de conquistas magníficas.
Em 1997 e 1998, nas cidades de Aracajú (SE) e Rio e Janeiro (RJ) sagra-se campeão brasileiro na categoria livre.
Robson e o Mestre Guido
Mas, com sua aprovação para a Faculdade, diante da carga de estudos e com apertos financeiros, sua paixão pelo futebol de mesa fica adormecida pelo espaço de dez anos. Após sua formatura, migrou por diversas cidades, até se estabelecer em Lajeado. Em 2010, ao tomar conhecimento da realização dos Jogos Abertos de Caxias, promovido pela AFM Caxias do Sul, enviou um recado, o qual foi prontamente respondido pelo Daniel Pizzamiglio, afirmando que ele seria muito bem vindo. Foi acolhido e pôde realizar o desejo de seu pai, jogando somente a modalidade recomendada. Infelizmente, nem tudo foi alegria nesse ano, pois seu querido pai sucumbiu diante da doença que o acometia há dois anos. Foi uma perda irreparável para ele e para todos de sua família.
Seu início foi arrebatador na AFM, pois consegue vencer o Torneio Inicial e o estadual por equipes, jogando pela sua Santa Vitória do Palmar.
Equipe campeã do estadual de lisos 2011 (Vinicius - Guido - Robson -Umberto)
Em 2011, sagra-se Campeão Caxiense, sendo o 17º nome a figurar no seleto grupo de campeões municipais. Além disso, no XXIX Centro Sul, realizado e promovido pela AFM, fica com o honroso vice-campeonato. Em 2012, torna-se campeão do Torneio de Inverno, promovido pela AFM e Campeão do Centro Sul, realizado em Vitória. No ano seguinte, consegue vencer e jubilar-se como campeão no tradicional Torneio Primus, na AFM e, voltando ao botão cavado, mostra que quem foi rei, nunca perde a majestade, vencendo de forma categórica o Lagoão, promovido pelo Grêmio Esportivo Lourenciano.
Campeão Centro Sul 2012
Campeão do Lagoão 2013
Esse exemplo de campeão não fica restrito somente a ele, pois está promovendo, em sua residência, campeonatos para crianças, motivando seu filho Renan a lhe seguir os passos vitoriosos.
Parabéns a esse amigo vencedor, sua esposa Luciana e ao nosso futuro campeão Renan.
Robson ao lado de seus novos amigos da AFM Caxias - sua nova família
Mario Vargas(Campeão Centro Sul 2011) / Adauto Sambaquy / Robson Bauer (vice em 2011 e campeão em 2012 do Centro Sul)
Nesta foto momento antes da decisão de 2011 em Caxias do Sul


Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

O ROUBO DO COLADINHO...

Essa história aconteceu há mais de sessenta anos. Naquela época, jogava muito na casa do Enio Chaulet, o qual tinha diversos times de botões puxadores. Entre eles havia um, quebrado pela metade e que fora magistralmente colado. O Enio era perfeccionista e seus botões eram imaculados, cuidadosamente polidos e o Coladinho estava ficando um pouco de lado. Certo dia, perguntei se ele venderia o botão. Relutou em desfazer-se do mesmo, até que estabeleceu um preço pelo mesmo.
Coladinho - o botão goleador
Ao saber o valor da transação, solicitei-lhe que o guardasse, pois eu o compraria. Para isso necessitaria juntar as minhas parcas reservas financeiras e me privar de matinês, lanches, doces e picolés. Estava com 14/15 anos na época. Fui guardando as minhas economias e, por fim, ataquei o cofre de moedas de minha mãe. Habilmente, colocava uma faca na abertura que permitia a colocação das moedas, fazendo com que algumas delas deslizassem para o meu bolso. Finalmente, o montante da maior transação botonística daquela época estava em meu poder.
No sábado, dia que nos reuníamos para jogar, desloquei-me até à casa do Enio. A primeira coisa foi negociar o Coladinho. Com ele no meu time, senti-me como presidente do Real Madrid ou do Barcelona. Um craque de alto valor que se reunia aos outros botões que faziam parte de meu plantel. Naquele sábado estavam lá, além de nós dois, o Dario Panarotto e um rapaz que era conhecido pela alcunha de Português. Jogamos um torneio rápido e o Coladinho começou a fazer suas vítimas, pois não errava um chute em direção ao gol. No final, o tal de Português fez um convite para participarmos de um torneio que seria realizado em sua casa no domingo pela manhã. O Enio, que era filho único teria de acompanhar a mãe assistindo à missa, e o Dario teria de compensar o sábado, trabalhando no bar de seu pai no domingo. O bar ficava na esquina da Igreja, defronte à Loja Magnabosco. Restou somente o feliz proprietário do Coladinho. Aceitei o convite, afinal estava a fim de mostrar a minha nova contratação a todos os botonistas caxienses, e a oportunidade se apresentava, embora eu nunca houvesse jogado naquela casa. O Português me informou que a mesma ficava ao lado do campo do Juventude, solicitando que aparecesse cedo, pois estariam por lá mais cinco botonistas.
No domingo pela manhã, com a minha caixinha debaixo do braço, desci a Rua Alfredo Chaves em direção ao campo do Juventude. Ao chegar ao local, já se encontravam cinco rapazes que eu não conhecia pessoalmente. Mas, quem gosta de jogar botão não escolhe adversário. Fui enfrentando um a um e vencendo, fazendo com que a fama do Coladinho aumentasse a cada novo gol conquistado. Fiz a partida final e venci. Foi então que o pessoal veio me cumprimentar, rodeando-me e dizendo que eu deveria ir jogar sempre com eles, enfim me bajulando, deixando-me no meio da roda. Eu me senti um ás, um vencedor, apesar de que não havia troféu algum em jogo. Após essa encenação, fui recolher meu time e... quase todos os botões ainda estavam em cima da mesa. Olhei incrédulo, procurando pelo mais importante e ele não estava lá. Faltava o Coladinho. Pedi que me devolvessem o botão que estava faltando. Todos fizeram cara de surpresos, afirmando que ninguém o havia pegado. Reclamei, insisti e perdi a paciência, chamando-os de bando de ladrões, salafrários, dissimulados, desonestos. Até a mãe deles apareceu na sala para saber o que estava havendo; ao saber do furto, simplesmente defendeu seus filhos e amigos, dizendo que ninguém dali pegaria um botão. Mas, não era um botão, era o botão, era o Coladinho, pelo qual eu fizera tanto sacrifício para ter em meu plantel. Não aguentei mais e chorei. Juntei os restantes, colocando-os na caixa e saí porta afora, soluçando, subindo a Alfredo Chaves, até chegar a casa, desolado. Havia feito uma compra almejada, e o botão apenas dormira em minha caixa uma noite. Fui roubado vergonhosamente. Nunca mais soube do Coladinho e também nunca mais falei com aqueles gatunos. Perdi um botão que me dera em poucos jogos imensas alegrias, mas me livrei de tornar-me amigo de pessoas desonestas.
Foi a minha primeira decepção no futebol de mesa. Muitas outras viriam a acontecer, mas a primeira a gente nunca esquece. Ao longo de minha vida de botonista tive decepções com pessoas que considerava amigas e que traíram a minha confiança. Fui enganado por pedidos dramatizados de botonista, dizendo que necessitaria de um empréstimo para cobrir um cheque para poder internar sua mãe em um hospital, com promessa de pagamento para dali a dias. Perdi dinheiro e o falso amigo. Graças a Deus eu nunca fui escravo do dinheiro e o uso para o seu fim com honestidade. Nunca deixei de cumprir minhas obrigações e acredito que continuarei assim até o fim dos meus dias. Com isso mantenho a minha consciência tranquila e fico sempre em paz na hora de dormir. Talvez, por essa razão eu sofra quando acontecem coisas assim, pois sempre procurei ajudar aqueles que considero meus amigos e nunca esperei retorno algum. Mas, pelo gigantismo que o futebol de mesa atingiu, não podemos estar imunes de sofrer decepções como às que sofri. Sempre procuro seguir à máxima que aquilo que fazemos aqui na Terra, pagaremos aqui mesmo. Por isso, ainda espero um dia encontrar o Coladinho e render-lhe homenagem, colocando-o em minha prateleira com um cartão de agradecimento pelos gols nos dois dias em que esteve em minhas mãos.

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

A VERDADE ESTÁ NAS RUAS

Minha gente, quando a água bate no bumbum todo mundo se levanta de onde está e começa a procurar modificar a situação. Isso aconteceu com o nosso país, onde a roubalheira está consumindo as economias de todos nós.
Copa do Mundo é uma festa que deveria ser prestigiada, se tivéssemos condições reais para patrociná-la. Fazer uma Copa do Mundo com o sangue dos brasileiros é um crime e é isso que esses governantes idiotas estão fazendo. Confesso que não acreditava mais na juventude, em razão da má educação que está sendo aplicada no país, formando alienados de bonezinho virado na cabeça, que não respeitam nem seus pais, quanto mais pessoas idosas e mulheres. Mas, a surpresa é deveras agradável. A Internet está fazendo aquilo que as redes de televisão deveriam fazer se não fossem atreladas aos interesses governamentais, sempre de olho nas gordas verbas que estão à sua disposição todos os meses.
Pior do que isso são as manifestações de ídolos como Pelé e Ronaldo, que colocam acima de seus fãs os interesses do governo que está desmoralizado totalmente, ao ponto de um ministro afirmar que o seu partido, o mesmo da presidente, ir para a rua junto com os manifestantes. Então vão fazer manifestações contra eles mesmos? Juro que não estou conseguindo entender mais nada.
Ronaldo, que conquistou o coração de todos os brasileiros afirmou que a Copa se faz com estádios e não com hospitais. Esquece que a Copa dos Estados Unidos não apresentou nenhuma arena padrão FIFA, coisa exigida da África e agora de nós, que mal conseguimos manter nossas contas em dia. E falando de Hospitais, não pode o governo melhorar os nossos, mas constrói Hospital em Jerusalém. Nada contra, se não necessitássemos de melhorias nos nossos e até a criação de novos, com a finalidade de atender a demanda sempre crescente da população que envelhece e necessita deles.
Pelé se expõe contra as manifestações contrárias à Copa. Ninguém pensa como ele, que se consagrou através delas. Estamos vivendo em um mundo completamente diferente, pois necessitamos de muitas coisas essenciais à nossa sobrevivência: SAÚDE, EDUCAÇÃO, SEGURANÇA, HONESTIDADE, GOVERNO VOLTADO AO POVO, POLÍTICOS HONESTOS QUE DEFENDAM AQUELES QUE OS ELEGERAM, ESTRADAS, CUMPRIMENTO DAS DECISÕES DO JUDICIÁRIO, EMPREGOS, ASSISTÊNCIA SOCIAL AOS NECESSITADOS; seria  preciso escrever uma coluna inteira colocando as necessidades prementes do povo que tem de trabalhar quase cinco meses por ano para destinar aos impostos. Somos o país que tem a maior carga tributária do mundo. E, saber que o movimento da Inconfidência Mineira aconteceu por apenas 1/5 (um quinto dos infernos). Hoje, pagamos mais de dois quintos e estamos inertes diante dos desmandos de pessoas inescrupulosas que enriquecem em quatro anos, bastando assumir o poder.
Romário, bem diferente desses dois citados, desde o início prevenia que os estádios só ficariam prontos quase no final do prazo, quando seria necessário injetar verbas para a sua conclusão, isso sem falar nas licitações que seriam “esquecidas” em virtude da pressa em acabá-los. Fomos avisados e nada foi feito; estávamos embevecidos com a Copa no Brasil, coisa que hoje  é  impossível aos nossos modestos recursos financeiros
O povo brasileiro não tem condições de adquirir ingressos para assistir aos jogos da Copa do Mundo, pois estão acima de nosso poder aquisitivo. A não ser como um “certo amigo” de uma cidade do Nordeste, que pede dinheiro emprestado, não paga e depois posta no Facebook as imagens de seus ingressos para a Copa das Confederações. Só que a Copa do Mundo será no ano que vem e ele, com isso, não terá condições de enganar mais ninguém. Terá de comprar seus ingressos com o seu próprio dinheiro. O restante dos brasileiros, a grande maioria recebendo salários menores do que é dado aos presidiários, não terá condições de ajudar a FIFA a ficar com um enorme bolo financeiro à sua disposição. Realmente, quem vai ganhar dinheiro com a Copa do Mundo serão pessoas que já têm bastante dinheiro, como proprietários de Hotéis, Restaurantes, locadoras de veículos. Alguns outros ganharão umas migalhas, com muito esforço, mas por tempo limitado.
Isso sem falar em estádios Padrão FIFA, construídos onde não há equipes de futebol que disputem a primeira ou segunda divisão de nosso Campeonato Brasileiro.
Desculpem-me aqueles que defendem a Copa no Brasil, mas nós entramos em uma tremenda fria e vamos pagar muito caro por esse ato desesperado, assumido por quem nunca pensou no futuro de nossa gente. Infelizmente, quem vai pagar a conta somos nós, os trouxas brasileiros, que poderão ser salvos por essa juventude que está dando a cara a bater e sendo alvejada por balas de borracha e gás lacrimogêneo.


Até a semana que vem, se Deus assim permitir.