segunda-feira, 26 de agosto de 2013

UMA TAÇA QUE VIROU CAMPEONATO BRASILEIRO

Após a realização do segundo Campeonato Brasileiro na cidade de Recife (Pernambuco), em agosto de 1971, a afluência de botonistas ao terceiro campeonato ficou bastante reduzida. As despesas em deslocamentos eram imensas. Naquele tempo, as passagens aéreas eram quase proibitivas para a grande maioria dos botonistas. Além delas, havia também despesas de hospedagem, alimentação e outros gastos que seriam efetuados no tempo em que estivessem fora de casa.
Na tentativa de resolver parte disso tudo, a Liga Caxiense de Futebol de Mesa, encarregada de organizar e promover o terceiro encontro botonístico brasileiro resolveu optar por um campeonato diferenciado. Chamou de Taça Brasil e, com isso, evitou o campeonato por equipes, fazendo com que somente fosse realizado o individual. Seriam apenas dois botonistas de cada Estado. Aproveitando para promover a Regra Brasileira no Rio Grande do Sul, convidando uma dupla de cada cidade que sabíamos praticar a nossa Regra. Mesmo assim, as defecções foram grandes. Estiveram presentes: Bahia, Sergipe, Alagoas, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina e várias duplas do Rio Grande do Sul.

A Liga Caxiense contou com a colaboração valiosa do Conselho Municipal de Desportos que, na figura de seu presidente Mário de Sá Mourão não mediu esforços no sentido de realizar uma competição que ficasse marcada na memória de todos os que a ela comparecessem. O Conselho Municipal patrocinou todos os troféus, hospedagem e alimentação, além de ônibus para os deslocamentos dos participantes. Além disso, monitoraram os órgãos de imprensa, ofertando material para a divulgação, que teve o seu início em 15 de abril no Jornal “O Pioneiro” e sequência em 13 de maio no “Correio Riograndense”, 15 de julho também no “Correio Riograndense” e 29 de julho com o encerramento e a divulgação dos números finais da competição no Jornal “O Pioneiro”.


Outro trabalho realizado foi a divulgação através de fotografias e jornais para todas as Associações que estariam participando, tendo inclusive um jornal de Belo Horizonte estampado a fotografia oficial da Competição em sua página de esportes, convocando os botonistas locais para participarem do evento. Até um festival do Chope, promovido pela Associação Caxias de Futebol, antecessora da S. E. R. Caxias do Sul serviu para promover a festa que iríamos realizar. No desenho da ilustração aparecem, no canto esquerdo, as caricaturas do Marcos Barbosa e minha, ostentando um cartaz que estampava estar chegando a Copa do Brasil de Futebol de Mesa.

Além dessas providências, realizamos por convocação um jantar com a imprensa esportiva de Caxias do Sul, nas dependências da AABB, onde foi explicada a razão da realização do campeonato brasileiro que promoveria a cidade em todo o país. Muitos jornalistas e até o Vice-prefeito aproveitaram para bater uma bolinha, relembrando os tempos em que praticavam o futebol de mesa com botões. O Vice Prefeito Mansueto de Castro Serafini Filho era meu ferrenho adversário quando iniciei a minha vida botonística. Morávamos perto e jogamos muitas vezes. Com isso, diariamente as Rádios locais davam notícias sobre o andamento das inscrições, anunciando as adesões e fazendo reportagens com os participantes que chegavam à cidade. Os sergipanos foram os primeiros a chegar e foram entrevistados, reclamando do frio que o mês de julho, na serra gaúcha, martirizava aqueles que vinham da linha do Equador.
O Rio Grande do Sul e Santa Catarina pagaram o preço muito alto por estarem afastados dos centros em que a Regra Brasileira era praticada com mais assiduidade. As partidas finais reuniram os representantes cariocas e baianos que ficaram com as quatro maiores premiações. Antonio Carlos Martins, do Rio de Janeiro, carregou o Troféu Victório Três, como campeão. Orlando Nunes, da Bahia, foi premiado com o Troféu Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, ficando com o vice-campeonato. Fernando, do Rio de Janeiro abiscoitou o Troféu Mansueto de Castro Serafini Filho e, à Jomar Moura, coube o Troféu Liga Caxiense de Futebol de Mesa. Mas, a surpresa maior estaria reservada ao final, pois todos os participantes receberam um troféu denominado Conselho Municipal de Desportos de Caxias do Sul. Aos árbitros e representantes da imprensa foi ofertada uma medalha comemorativa ao evento.
O sucesso foi imenso e recebemos visitas de interessados de diversos locais do Rio Grande do Sul. Pessoas de Uruguaiana, Veranópolis, Bento Gonçalves, Flores da Cunha, Santa Maria e Lajeado visitaram o Ginásio da AABB para assistir aos emocionantes jogos realizados.
À noite, após o encerramento do Campeonato Brasileiro, apelidado de Copa do Brasil, todos estiveram reunidos no salão de festas da AABB, onde compareceram o Senhor Prefeito Municipal Victório Trez, o Vice Prefeito Senhor Mansueto de Castro Serafini Filho, o Presidente da Câmara de Vereadores Senhor Ilson Kayser, o Presidente do Conselho Municipal de Desportos Senhor Mário de Sá Mourão, o Diretor do Conselho Municipal, Senhor Joel Bastos de Souza, o Senhor Odilo Tirelli, Gerente do Banco do Brasil, o Senhor Lauro Finco, Presidente da AABB, num jantar maravilhoso, sendo então procedida a solenidade de entrega de troféus a todos os participantes.
Entrega ao campeão feito pelo Prefeito Vitório Trêz
Fica a sugestão a todos que promovem competições nacionais; municiem os órgãos de imprensa com material relativo ao evento. Recebemos, naquela ocasião, muitos jornais de diversas localidades, dando conhecimento da divulgação do evento, sendo muito produtivo para alavancarmos o movimento no sul do país.

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

FOLHEANDO VELHOS JORNAIS

A Folha da Tarde Esportiva, publicada em oito de fevereiro de 1969, trazia a reportagem de lavra de Guiomar Chies, com o título Futebol de Mesa leva o nome de Caxias para o norte do país. Seu texto era o seguinte: O futebol de mesa teve um início pitoresco em Caxias do Sul. Hoje em dia, é a cidade gaúcha onde esse esporte é mais aperfeiçoado e seus praticantes recebem correspondências de muitos locais, solicitando informes sobre esta atraente modalidade esportiva.
Como surgiu. O futebol de mesa surgiu em Caxias há muitos anos atrás. Adauto Sambaquy, um dos grandes entusiastas brasileiros recorda-se que, em 1947, já o praticava com uma particularidade: empregavam-se botões de roupa, lixados nas bordas, jogando-se escondido, nos porões das casas, a fim de fugir da gozação dos maiores e mesmo dos que viam nisto algo de ridículo. Já, em 1963, o movimento do futebol de mesa era grande e havia ganhado muitos adeptos. Os adultos já o praticavam. E foram dois clubes de estabelecimentos bancários que iniciaram as disputas oficiais, promovendo certames entre seus associados: Grêmio Banrisul e AABB. O primeiro intercâmbio ocorreu em junho de 1965, com técnicos de Porto Alegre. Em 1966, foi realizado um torneio com representantes da Bahia, Oldemar Seixas e Ademar Carvalho, vindos do maior centro praticante da modalidade. Em 1965, Caxias foi vice-campeã do Estado. Atualmente, centenas de pessoas o praticam na cidade, cujas idades variam entre os seis até o mais velho habitante da Pérola das Colônias.
Reportagem da Folha da Tarde Esportiva, que chegava à tarde em Caxias
Bahia e Caxias do Sul. O uso de botões comuns (puxadores) em Caxias do Sul caiu em desuso, passando a serem usados os chamados botões baianos, sendo o esporte praticado dentro do sistema daquele estado. Graças ao intercâmbio, em 1967, numa excursão ao Estado da Boa Terra, efetuada por caxienses chefiados por Adauto Sambaquy, levaram um anteprojeto das regras de futebol de mesa, sendo aceito com alegria e entusiasmo pelos conterrâneos de Ruy Barbosa. Atualmente, está sendo usada para júbilo e orgulho dos caxienses em todo o território nacional. A entidade caxiense era filiada à Federação Riograndense de Futebol de Mesa. Porém, como essa não se adaptou ao novo sistema, os integrantes da Liga de Caxias do Sul se desfiliaram e passaram a realizar intercâmbio mais acentuado com a Bahia e cidades que estivessem interessadas na implantação da modalidade dentro do novo método. O resultado até hoje é surpreendente. Somente agora é que, na capital, ao que nos consta, existe a prática do futebol de mesa baiano, graças aos componentes do Departamento do S. C. Internacional. Mas um fato causa impacto a quem presta atenção. A cobertura dos jornais baianos em relação ao futebol de mesa e, isto é interessante, o destaque quase diário que é dado ao esporte do botão com relação à Caxias do Sul. Inclusive resultados dos jogos aqui efetuados repercutem em Salvador. Nem o futebol profissional, o de campo, consegue dar tanta publicidade a Caxias do Sul, na Bahia, como futebol de mesa. Pode-se afirmar que Caxias e Bahia vivem abraçadas para o engrandecimento do esporte dos técnicos.
Confirmando essa última parte, que fala dos resultados divulgados na Bahia, possuímos um exemplar do Jornal A Tarde, de Salvador, de dezenove de agosto de 1973, que publicou a reportagem: Gaúchos viram o que a Bahia tem. Veja.
Jornal A TARDE de Salvador, que recebemos à bordo do avião da Varig. Nos sentimos o máximo...
Gaúchos viram o que a baiana tem... Torneio Bahia X RGS - 1973
Dizia a reportagem: Estarão retornando, dentro de algumas horas ao Rio Grande do Sul, os gaúchos Adauto Celso Sambaquy, Airton Dalla Rosa, Sérgio Calegari, Adaljano Tadeu Cruz Barreto e Mário de Sá Mourão, que nesta capital participaram do torneio Bahia- Rio Grande do Sul de Futebol de Mesa, em homenagem ao Sesquicentenário da Independência da Bahia. Os jogos foram disputados na sede da Associação Bahiana de Futebol de Mesa e pela Bahia tomaram parte Oldemar Seixas, José Ataíde, Luiz Alberto Magalhães, Geraldo Holtz e Guilherme José. Os baianos, melhor ambientados e jogando bem conseguiram a maioria das vitórias, num atestado que na “Boa Terra” ainda se pratica um excelente Futebol de Mesa. Além dos jogos na Associação Bahiana, os gaúchos, que na capital ficaram hospedados no Hotel São Bento, visitaram também a Liga da Pituba, onde seu presidente Otávio Dantas ofereceu um coquetel aos visitantes, premiando-os com o troféu simpatia. Na quinta feira, os caxienses realizaram vários amistosos na sede particular de Orlando Nunes, enfrentando entre outros: Valter Motta (que perdeu de 5 a 1 para Sambaquy), Vital Cavalcanti, Guilherme Freitas, Raimundo Gantois e muitos outros técnicos da Liga da Barra, tudo num ambiente de excelente camaradagem.
Todos estão com as camisas de seus clubes.

Torneio Salvador Bahia – 1973
A Associação Bahiana quem tem como Presidente de Honra: José Ataíde e como Presidente: Oldemar Seixas, contou com a colaboração do Hotel São Bento, na hospedagem, e a Casa Esportiva que ofertou os troféus do torneio. Com a vinda dos gaúchos, ficaram ainda mais fortes os laços de amizade que unem os desportistas dos dois estados, tendo o Futebol de Mesa, mais uma vez servido para aproximar ainda mais os baianos dos gaúchos, pioneiros da Regra Brasileira.
Adauto Sambaquy vem lutando no sul do Brasil, para divulgar o moderno Futebol de Mesa que já está sendo disputado nas cidades de Cachoeira do Sul, Giruá, Arroio Grande, Passo Fundo, Pelotas, Rio Grande, Canguçú, Santana do Livramento, Bagé e até no exterior, nas cidades de Pozadas, na Argentina e Encarnacion, no Paraguai.
Na sequência da reportagem, dá os resultados da Liga Bahiana, Liga do Barbalho e Liga Brasil.
O inédito nisso tudo é que recebemos o jornal a bordo do avião da Varig que nos traria ao Rio Grande, de regresso. O pessoal que lia o jornal, dentro do avião, saudava-nos com alegria. Foi o nosso momento de glória, pois nas mesas não ganhamos nada.
Nós trocamos as camisas de nossos times pela da Liga Caxiense de Futebol de Mesa
Por essa razão é que eu sempre defendi o apoio da mídia ao futebol de mesa. Seríamos muito maiores do que já somos se houvesse mais pessoas que mostrassem aos leitores o que é o futebol de mesa, a grande paixão dos brasileiros. Nossos blogs são lidos por botonistas, mas os jornais e revistas são manuseados por milhares de pessoas e isso contribui para o conhecimento de todos. 
Em Caxias, na época em que estávamos implantando a Regra Brasileira, com essas reportagens que saiam seguidamente nos jornais locais, a Rádio Difusora Caxiense abriu um horário para que apresentássemos nossas idéias, e por algum tempo o Paulo Valiatti e eu nos revezamos, dando os resultados da rodada, falando de jogos e convidando as pessoas a nos visitarem. Despertamos o interesse em muitos botonistas que estavam parados e que voltaram a praticar o seu esporte favorito. Lendo esses recortes de jornais, a saudade me faz viajar no tempo e voltar àquela época glamorosa em nossas vidas.

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

NERIVALDO LOPES, O BOTONISTA PARAIBANO

Os caminhos do futebol de mesa nos proporcionam amizades maravilhosas e que perduram através dos tempos. Eu colecionei amigos desde os meus primeiros passos no futebol de mesa e a grande maioria foi conservada com carinho e emoção. Já falei do meu reencontro com o meu primeiro adversário no Campeonato Brasileiro de 1970, realizado no ano passado em Salvador. Hoje, relembro um dos meus adversários do segundo Campeonato Brasileiro, realizado de 13 a 17 de agosto de 1971, na adorável cidade de Recife, capital do Pernambuco.
Copa Guarabira FM (1970) - Em 1º plano Haroldo, Fernando e Zezinho Chinês
Por incrível coincidência, o resultado desse jogo foi idêntico ao que realizei com o José Inácio, de Sergipe: 1 x 1. Meu adversário era o também bancário Manoel Nerivaldo Lopes que jogava com o Náutico, o Timbú pernambucano. Foi um jogo em que a maior oportunidade que surgiu foi a amizade que travamos. Por algum tempo nos correspondemos, mas a distância se encarregou de nos deixar afastados. Isso até que, recebendo uma mensagem religiosa muito profunda e cativante, procurei o nome de seu autor: Nerivaldo Lopes.
Nerivaldo (Naut.) X Guarabira (Toinho Amarelo) - 1970
A curiosidade tomou conta e não sosseguei até enviar um e-mail para o endereço indicado, o qual dizia o seguinte: Manoel Nerivaldo Lopes, gostaria de saber se você é originário da Paraíba, se trabalhou no Banco do Brasil e se jogava futebol de mesa? A razão é que eu conheci Manoel Nerivaldo Lopes em 1971, quando participamos do 2º Campeonato Brasileiro de Futebol de Mesa em Recife (Pernambuco). Na ocasião, seu time era o Náutico e estava representando a Liga Guarabirense de Futebol de Mesa, de Guarabira (Paraíba). Em 13 de agosto de 1971, jogamos uma partida no Geraldão e o resultado foi o de 1 x 1. Eu sou o Adauto Celso Sambaquy e ficaria feliz em saber que encontrei um amigo que há muitos anos não tinha notícias. Forneci-lhe o meu e-mail e solicitei: Por favor, dê retorno.
II Nordestão- Aracaju - SE - 1970 - A partir da esq - Guilherme, Zezinho, Nerivaldo, Zequinha
Poucos dias após, recebo a resposta tão aguardada:
Meu caro Sambaquy,
Sou eu mesmo. Que alegria abrir a minha caixa de mensagens e encontrar seu e-mail! Você só pode ter recebido uma das mensagens que formato e mando para os meus contatos, não é? Só pode ter sido. Fico muito feliz. Saí de Guarabira em abril de 1976, transferido, a pedido para João Pessoa onde nasci. Aposentei-me no início de outubro de 1990. Ao chegar aqui, tentei implantar nossa regra, mas não foi possível. Daí aos poucos fui perdendo o interesse pelo futebol de mesa, e hoje é uma boa lembrança de minha vida.
Tenho bem presentes em minha mente aqueles gostosos momentos em Recife, quando do 2º Campeonato Brasileiro. Tenho saudade de meu saudoso compadre, Ivan Lima, falecido em 1994. Bons tempos aqueles! 
Ivan Lima e Nerivaldo Lopes
Você ainda mora em Brusque? Ainda conservo comigo as cartas recebidas de vários colegas de Ligas, inclusive cópia da ata de fundação da Associação Brasileira de Futebol de Mesa, datada de 19.07.1976, onde você aparece como Conselheiro representante de Santa Catarina. Lá estão os nomes de Oldemar Seixas, do falecido Jomar Moura, José Nunes Orcelli, Getúlio Reis de Faria e outros. Caro amigo, que bom esse reencontro, ainda que pela internet. A seguir informa seu novo e-mail e seu endereço.
Desde então, religiosamente, mantemos correspondência, sendo que para as suas mensagens religiosas criei uma pasta e, sempre que alguma coisa me perturba, vou até lá e leio algumas, as quais sempre me mostram como devo proceder.
A cada vitória do meu Inter, recebo parabéns, não me esquecendo de retribuir quando o Fluminense vence, pois, além de Náutico, meu amigo é tricolor carioca roxo. Pois agora, depois de ler tantas colunas escritas, manifestou sua vontade de possuir um time do Fluminense e até detalhou a forma como devem ser os botões. A parte baixa deverá ser branca e, na parte superior, um circulo bordô, outro branco e no centro verde, com o distintivo e numeração. Se não praticar, pelo menos vai ter a alegria de possuir um time de seu coração de torcedor. Solicitei ao meu filhão Daniel Maciel que seja o intermediário, pois é quem mantém contato com o seu Manoel de Rio Grande, o fabricante dos botões de sua preferência. Espero que chegue às minhas mãos o modelo e enviar para aprovação ao Nerivaldo, pois será o meu presente a esse amigo querido.
Nerivaldo tem uma família linda e, na atualidade, desempenha as funções de pastor evangélico, razão pela qual produz suas mensagens que edificam muito a fé das pessoas. Uma amizade que perdura há quarenta e dois anos, feita através do futebol de mesa, é algo que deve ser enaltecida sempre. Assim como ele, muitos outros amigos são preservados em meu coração. Existe algo melhor do que isso? Algum troféu substitui algo tão grandioso e tão forte em nossa existência? Não, por isso eu sempre afirmo que as minhas maiores conquistas foram as amizades que o esporte que escolhi praticar me proporcionou.
Nerivaldo Lopes e sua esposa na comemoração de suas bodas.

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

ANTONIO MARIA DELLA TORRE – O ARTISTA DO FUTEBOL DE MESA

Della Torre - o grande presidente da FPFM
Nascido em Casa Branca, interior de São Paulo, no ano de 1942, conheceu e se apaixonou pelo futebol de mesa aos onze anos de idade, em 1953. Antonio, assim como todos, começou furtando os botões de casacos de suas tias, os quais eram mais vistosos que os dos casacos de sua mãe. Desde cedo se iniciou na fabricação de botões, usando tampas de vidros de pomadas e cremes, deixando sua mãe zangada. Com sua atividade construtiva, juntou-se aos “cobras” da Congregação Mariana Casa-branquense, onde havia uma formidável mesa de cerejeira inteiriça. Conseguiu alguns campeonatos e vice-campeonatos. Em 1963, transferiu-se para a capital paulista, ingressando na empresa C.Itho do Brasil, ocupando a gerência financeira. O futebol de mesa ficou parado até o dia em que, ao chegar a casa, encontrou seus dois filhos jogando num Estrelão. Os garotos tinham jeito para a coisa e isso o motivou a comprar uma mesa oficial.
Frequentou a escola de Árbitros da Federação Paulista de Futebol, onde se formou e atuou até 1968, desligando-se dela por princípios e pela falta de tempo devido à sua atividade profissional. Em sua empresa, um dia, encontrou um rapaz com alguns botões. Interessou-se, pois havia voltado a jogar em casa com seus filhos e foi informado que o Riachuelo era o clube onde ele poderia praticar. No sábado seguinte, lá estava ele, assustado com tanta técnica.
Filiou-se ao Riachuelo, onde conheceu Geraldo Cardoso Décourt, de quem se tornou o grande amigo. Junto com Décourt fundam o BOTUNICE (Botonistas Unidos de Campos Elíseos) e ajuda a reativar a Federação Paulista de Futebol de Mesa que estava desativada, tornando-se o seu presidente mais ativo até hoje. Isso aconteceu em 1983, seu grande ano, pois, em São José dos Campos, é realizado extra oficialmente o primeiro campeonato brasileiro na regra de 12 toques e Della Torre torna-se campeão brasileiro, seguido por Libório (Brasília) e Muradian (São Paulo).
Della Torre e Décourt em uma solenidade de entrega de prêmios
Foi um excelente fabricante de botões, de troféus maravilhosos e o maior divulgador do futebol de mesa que já conheci. Dele vieram inúmeros times de vidrilhas para Santa Catarina, os quais foram distribuídos para jovens interessados na prática do esporte.
Décourt, Della Torre e Sambaquy
Tive a felicidade de privar dessa amizade, principalmente quando realizai um curso em São Paulo e por lá permaneci durante um mês. Conheci, com ele, todos os clubes da capital paulista e de Santos, pois Della Torre passava pelo Hotel onde estava hospedado e me carregava, juntamente com Décourt, durante as noites e nos finais de semana, quando então me conduzia até sua residência em São Bernardo do Campo. Além de um artista na confecção de botões, troféus, mesas, bolinhas tinha uma veia poética. É dele a poesia que transcrevo e que encontrei no livro Botoníssimo, de Ubirajara Godoy Bueno.

O ÚLTIMO TREINO.
Doutor Teixeira, médico excelente
Sem preconceito de cor ou crença,
Atendia pobres, ricos e todo doente
Que lhe viesse com qualquer doença.

Amável e muito bom esposo,
Pai de duas saudáveis crianças,
Era esse o médico bondoso
Daquela cidade e toda vizinhança.

Não cobrava aos pobres a consulta,
Recebendo bem a quem a seu consultório viesse;
Rico ou pobre, analfabeta ou culta,
Era querido por gente de toda espécie.

Certa vez, estando de viagem a família
Fica o bom médico só com o seu outro amor;
BOTÕES DE JOGO: uma verdadeira pilha
Treinava e treinava só, mas com ardor.

Chutes a gol, toques e passes;
Jogadas e táticas queria aprimorar,
Tinha do botonista muita classe,
Que era bom vê-lo jogar.

Mas a caminho, numa estrada,
Enquanto o doutor se divertia,
Levada pela mãe, uma criança desenganada
A casa do doutor se dirigia.

Chegando à porta da moradia
A mulher chamava e batia palmas
Doutor Teixeira, alheio a tudo, os botões polia
E aos pequenos discos se entregava com alma.

O bom médico absorto em sua diversão
Não escutava a mulher que à porta batia
Ao ponto de ter sangrado a mão
E, lá dentro, o remédio que ele tão bem conhecia.

Meia hora depois, ainda chamava a mulher aflita,
E a criança que a febre queimava
Fechando os olhos, perdeu a vida
Diante da família do médico, que regressava.

Trazido pela esposa, o doutor a cena via
E ao constatar que a criança estava morta
Confessou que salvá-la poderia
Se houvesse, há dois minutos batido à porta.

Ao saber que a mulher estivera tanto tempo ali na rua
O médico caiu em prantos
Chorava... chorava, como se a criança fosse sua
E, a todos, causava espanto.

Dirigiu-se à sala do treinamento
Pegando os botões, no lixo, com ira os atirou
E com triste e firme pensamento
Doutor Teixeira NUNCA MAIS JOGOU!

Infelizmente esse amigo tão querido nos deixou ainda na flor da idade. Com 56 anos de idade, em 27 de setembro de 2000, um enfarte fulminante o levou para o grande time de botonistas celestiais. Ficaram saudades imensas desse coração bondoso, desse amigo fantástico que impulsionou o futebol de mesa paulista a essa potência que todos nós admiramos na atualidade.
Torneio no Circulo Militar em Curitiba 09 1982, foi nossa ultima participação juntos.
Aparecem Décourt (2), Della Torre (4) e Sambaquy (8).


Até a semana que vem, se Deus permitir.