segunda-feira, 29 de setembro de 2014

POR QUE EU GOSTO TANTO DO FUTMESA

Conheci o futebol de botões quando estava com onze anos de idade. A apresentação foi na residência de meu colega de escola, Marco Antônio Barão Vianna. Era um torneio entre o pessoal que estudava na Escola Normal Duque de Caxias. Marco Antônio jogava com um time pequeno de São Paulo. Não lembro se era Comercial ou Ypiranga, mas as suas cores eram branco e preto. Ele possuía uma caixa com um grande distintivo desenhado. Ao mostrar seus botões, enfatizava seus titulares elogiando o seu potencial em detrimento de alguns que eram considerados reservas. Conseguiu me contagiar com o seu costumeiro entusiasmo.

Era meu colega de carteira. Como tinha um pouco de dificuldade em responder perguntas rapidamente, devido a uma gagueira que o atormentava, solicitava que eu respondesse a chamada em seu lugar. Como o meu nome era sempre o primeiro e ele estava no meio da lista, não havia problema algum. Era um grande amigo. Ensinou a lixar os botões e dava conselhos sobre como jogar.
Meus primeiros craques foram surrupiados dos paletós e sobretudos de meu avô.  E comigo, o pessoal da minha rua passou a jogar botão. A mesa mais perfeita estava na casa do Renato Toni, onde, com seu irmão Reni, passávamos tardes e parte da noite jogando. O Renato foi o meu primeiro parceiro no futebol de mesa. Sabia lixar os botões e preparava goleiros de madeira, semelhantes aos atuais da Regra Brasileira. Só que os que ele confeccionava tinham a rebarba para encaixar as bolinhas. Como ele morava na frente de uma oficina de reparos e pintura de carros, aproveitava para pintar os goleiros, deixando-os muito bem acabados.
Como os nossos campeonatos nunca terminavam, resolvemos, aos domingos, excursionar pelos bairros, jogando contra outros botonistas que conhecíamos. No bairro de Lourdes, jogávamos contra a turma do Puccinelli; perto do campo do Juventude, na casa do Rui Pratavieira; em São Pelegrino, visitávamos o Vanderlei Prado. Todos eles tinham boas mesas. Ainda, sempre que podia, visitávamos o José Roque Aloisie, cujo pai era alfaiate e morava na frente da Livraria Saldanha, jogando na mesa que ele usava para cortar os ternos de seus clientes.
Um dia, sem explicação, rompemos a amizade. Até hoje não sei o que houve e depois de tanto tempo, já não faz diferença. Ficamos sem jogar por um tempo. Foi aí que apareceu o Vasco Balen, que ofereceu uma sala num prédio de seu pai. A sala estava desocupada e nós levamos nossa mesa para lá. Jogavam conosco o Mansueto Serafini Filho, Sérgio Gobetti, Ítalo Bazzo, Lyon Kunz, Luiz Felipe Kunz Neto, Vilson Tomazi e aparecia por lá, para assistir  aos jogos, um garotinho chamado Marcos Fúlvio de Lucena Barbosa. Durou pouco a nossa alegria, pois o pai do Vasco descobriu que estávamos usando a sala e nos expulsou de lá.
Já havia aparecido em nosso meio os botões puxadores. Cada um de nós procurava munir-se de dinheiro para comprar todo o craque que aparecia. Eu já tinha meu time montadinho e fiquei triste, pois não tínhamos mais um lugar para jogar. As brincadeiras mudaram e os botões ficaram um pouco de lado.
Foi então que conheci o Enio Chaulet. Grande jogador de botão e que possuía uma mesa maravilhosa, idêntica à mesa utilizada na Regra Brasileira. Para montá-la, necessitavam de dois botonistas forçudos. Eu era um deles, pois estava sempre na casa do Enio. Ele morava na frente da Caixa Econômica Federal; na parte de cima de um Café Bilhar famoso de Caxias. O pai do Enio era dentista e na frente de seu consultório havia uma enorme sala, onde colocávamos a mesa e passávamos dias inteiros jogando.
Meu pai, por essa época, havia comprado uma casa no Bairro Pio X. Estava agora morando longe do centro, sem a possibilidade de frequentar os locais onde jogava frequentemente. No Bairro Pio X, encontrei um rapaz, cuja mãe era doceira com especialidade em fazer cocadas. Com isso as cascas de coco eram aproveitadas por ele, que fazia excelentes botões. Comprei um time inteiro dele. E, esse time foi ornamentado com uma fotografia do Vasco da Gama, pois recortava os rostos dos jogadores e colava em cima dos botões. Aquilo era uma novidade entre os botonistas da época. Meus botões eram reconhecidos pelos meus adversários. Ainda lembro a escalação: Barbosa, Augusto e Wilson, Eli, Danilo e Jorge, Friaça, Maneca, Ademir, Ipojucan e Chico. Foi nessa época que comecei a jogar com os colegas de ginásio: Marcos Lisboa, Roberto Grazziotin, Delesson Orengo, Giovanni Zanetto.  O Marcos Lisboa era um excelente fabricante de botões, pois tinha um torno mecânico e com ele fazia maravilhas. Transformava um botão sem valor em uma peça rara, super cobiçada por diversos botonistas. O Delesson era um perfeccionista e tinha uma variedade imensa de botões. Foi uma das únicas pessoas que possuía um time do São Cristóvão, do Rio de Janeiro.
Em todo esse tempo, dos onze aos dezessete anos, jamais organizamos um campeonato com tabelas, com súmulas, com troféus. Nem mesmo anotávamos nossos jogos, o que foi uma lástima, pois deixei de registrar uma parte importante de minha vida e que deu origem ao que sou hoje. Com dezoito anos, passando pelo quartel, namorando, noivando e casando, o futebol de mesa ficou guardado em caixas. Mesmo assim, sempre que havia oportunidade, eu jogava sozinho em casa, pois havia conseguido uma mesa emprestada e que pertencia a um primo de minha ex-esposa. Nos primeiros anos de casado, eu trabalhava na Indústria Metalúrgica Gazola. Como jogava futebol, fiz muitas amizades e entre elas com o Adão, ponteiro direito da empresa, que era torneiro mecânico de alto valor. Encontrei uma placa de acrílico de cor amarela. Conversei com o Adão e ele pediu que eu lhe mostrasse um botão. Levei um atacante e entreguei ao Adão. Com ele, riscou o acrílico e cortou em quadrados e fez vários botões todos idênticos. Fiquei com um bom estoque de atacantes, mas faltavam botões de defesa. Fui trocando com antigos botonistas e consegui quase fechar um time de alto gabarito. Faltava um centro avante matador. E esse veio, pois ganhei de presente de um colega do curso de Contabilidade. Raul Stalivieiri me deu um centro avante preto que foi batizado de Victor e foi goleador nos meus dos campeonatos na AABB.
Já nessa ocasião eu trabalhava como contador na empresa Claumann & Cia. Ltda. Foi nessa empresa que conheci o Vanderlei Duarte, pois escutei uma conversa dele no balcão, falando sobre futebol de mesa. Saí do meu escritório e fui participar da conversa, pois acendeu uma luzinha em minha cabeça. Combinamos realizar algumas partidas, pois jogávamos na Faculdade de Ciências Econômicas. Alguns dias depois, Vanderlei disse que tinha uma surpresa para mim.  Entregou-me um goleiro todo em listras amarelas e azuis que havia sido meu, no tempo em que jogava na casa do Enio Chaulet. Pensei comigo: - Por onde andou esse goleiro, nesses anos todos. Foi incorporado ao time, que agora não era mais Vasco da Gama e sim Grêmio Esportivo Flamengo, atual SER Caxias do Sul.
Foi então que fui aprovado no Concurso do Banco do Brasil. E para a minha alegria, encontro um Departamento de Futebol de Mesa. Foi demais. A partir do momento em que me apresentei ao diretor do Departamento, Raymundo Antônio Rotta Vasques, senti-me com onze anos de idade. Já tinham se passado quatorze anos desde a apresentação ao futebol de mesa e somente agora eu começaria a jogar para valer. Joguei o meu primeiro campeonato com uma gana, com um desejo de ser campeão que, confesso, foi algo emocionante quando venci a última partida, derrotando o meu amigo Paulo Luís Duarte Fabião. Foi o meu primeiro troféu e, talvez, o mais emocionante de todos que já ganhei.
Primeiros troféus - recebidos a 51 anos
Por essa razão eu gosto tanto do futebol de mesa. Por ele trabalhei para completar o meu sonho que foi crescendo com o tempo. Acredito que se voltasse no tempo, faria tudo isso novamente, com uma única diferença. Jamais venderia botão algum, pois hoje tenho saudade daqueles puxadores que me deram tantas alegrias, dos goleiros que passaram pelas minhas mãos, dos diversos times que doei e com os quais tinha conseguido glórias. Fui campeão caxiense em 1969, com um time de paladon branco e não tenho mais esse time, fui bi- campeão da AABB com um time de puxadores especiais e vendi esse time. Guardo ainda o time com o qual fui campeão Olímpico Bancário de Caxias do Sul, o time que me deu três campeonatos em Brusque. Mas, acredito que a saudade também deve fazer parte de nossa história e, com toda a certeza, esses botões que saíram de minhas mãos deram alegrias a quem os possui na atualidade.
Um dia, espero ainda fazer e organizar um museu de botões. Em minhas mãos está o primeiro time que veio para o Rio Grande do Sul, fabricado na Bahia, em 1966. Tenho um time que pertenceu ao Geraldo Décourt, o criador da regra de futebol celotex, em 1930; possuo times da Regra Pernambucana, Regra Fogo Tebei, Rega Unificada, Regra Gaúcha, Regra de Doze Toques, Regra de Três Toques, Botões de vidrilhas, Botões de plástico, enfim, algo que será muito interessante e que quase foi parar no Museu que a Federação Paulista estava organizando em 2000, através de seu presidente Antônio Maria Della Torre. Nesse ano, mais precisamente em 27 de setembro de 2000, o coração desse amigo deixou de funcionar e o futebol de mesa perdeu um grande impulsionador.
Primeira foto em um campeonato oficial disputado
Primeira foto em um  Brasileiro

Mas, os sonhos continuam e estão sendo realizados. Cada um no seu tempo.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A ORGANIZAÇÃO NO FUTEBOL DE MESA

Até nisso os gaúchos foram pioneiros. A primeira Federação deste esporte surgiu em Porto Alegre, em 1961, fundada por Lenine Macedo de Souza. Até então, todas as promoções sobre o futebol de mesa eram de caráter individual, de fundo de quintal, de porões, de reuniões de amigos em garagens para jogarem botões.
Lenine fundou a Federação Riograndense de Futebol de Mesa, apoiando a Regra Gaúcha e organizou as competições que passaram a ter cunho oficial.
E não ficou somente na sua obra, pois foi a São Paulo e ajudou a criar a Federação Paulista em 1962 e, depois, a Belo Horizonte, incentivando a criação da Federação Mineira, alguns dias após a conquista paulista. Sobre a Federação Mineira não tenho conhecimento de providências em organizar campeonatos, pois as notícias escassearam, mas a paulista realizava grandes confraternizações que se chamavam Integrações, já que eram jogos de clubes contra clubes, fazendo com que cinco ou mais integrantes se deslocassem de sua sede para enfrentar adversários em outros bairros e até em cidades distantes.
A falta de intercâmbio, entretanto, foi fator determinante para o enfraquecimento das três entidades. A Riograndense praticava a regra gaúcha, enquanto que os paulistas e mineiros jogavam a regra de doze toques e a de três toques respectivamente, com bolinha esférica, primeiro de linha e depois de feltro. Por serem modalidades diferentes, não houve química que pudesse aproximar os botonistas desses três estados, pioneiros em organização.
Com o tempo, a Federação Paulista foi diminuindo sua atividade, chegando a adormecer completamente. Nesse período, houve a criação da Regra Brasileira, com a união de gaúchos e baianos. Na Bahia não havia uma Federação, pois quem regia os destinos do futebol de mesa por lá era a Liga Baiana de Futebol de Mesa. A aproximação de dois estados fortes no esporte fez com que os horizontes do futebol de mesa fossem ampliados. O Nordeste aderiu à Regra Brasileira imediatamente. Rio Grande do Sul ficou dividido, com a Liga Caxiense aderindo à Regra Brasileira e a Federação Riograndense promovendo a Regra Gaúcha. Mas, a Regra Brasileira havia chegado para vencer e surgem pontos de envolvimento em diversas cidades do Brasil. No Rio de Janeiro, Getúlio Reis de Faria adere à Regra e surgem nomes de grande relevância para a sua divulgação entre os cariocas. Antônio Carlos Martins, diretor dos Cursos Martins foi um deles. Em Cataguazes, Minas Gerais, surgiu um engenheiro chamado André Carvalho Tartaglia, que passou a praticar a Regra Brasileira.
Surgem os campeonatos brasileiros, a partir de 1970.  Em 1976, por ocasião do quarto campeonato, realizado em Jaguarão, os adeptos da Regra Brasileira fundam a Associação Brasileira de Futebol de Mesa, que regeria os destinos dos botonistas adeptos desta modalidade. Com isso surgem vários líderes, sempre na tentativa de organizar de maneira grandiosa o nosso esporte.
Em 1981, fomos eleitos para assumir a presidência da Associação Brasileira. A entidade já caminhava com várias lideranças em diversos pontos e isso fazia com que se solidificasse o trabalho inicial. Faltava uma aproximação entre os diversos grupos, o que foi feito durante o ano em que dirigi a entidade. Aproximei-me dos paulistas e brasilienses, pois vários deles editavam boletins mensais com notícias de suas atividades. Ao receber alguns deles, pude fazer contato com seus editores, e a troca de correspondência aumentou a curiosidade de ambos os lados.  No mês de dezembro de 1980, de 16 a 18, estive participando de um Curso pelo Banco do Brasil em Brasília. Lá fui recepcionado por José Ricardo Caldas e Almeida, seu irmão Antônio Carlos e o polêmico Sérgio Antunes Netto.
José Ricardo, campeão com troféu, Antônio Carlos e Eduardo. (os três são irmãos)
Trocamos ideias sobre os movimentos e os convidei para participarem do campeonato brasileiro que realizaríamos em Brusque. Em fevereiro de 1981, aproveitando um Curso realizado pelo Banco do Brasil, fiquei na capital paulista de 5 a 26, o que me proporcionou a enorme oportunidade de conhecer grandes nomes do botonismo nacional. Conheci Geraldo Cardoso Décourt, o homem que, em 1930, teve a ousadia de editar um livreto com regras de foot-ball celotex. O primeiro livreto de regras editado em nosso país. Com ele conheci Antônio Maria Della Torre, o homem que primava pela organização, pelo trabalho em aglutinar os botonistas, criar premiações maravilhosas e fabricar botões de vidrilha (tampas de relógio). Era uma quantidade imensa de nomes famosos que desfilavam em minha frente: Antônio De Franco, Huratian Muradiam, Geraldo Atienza, Domingos Varo Neto, José Mesquita, Sérgio Soto, uma galera que se entregava de corpo e alma ao esporte da taubinha, como diz meu amigo Mário Fernando Carvalho Ribeiro.
Celotex - Geraldo Décourt
                             

Decourt (e) -  Della Torre(c) - Sambaquy (d)
Assim, todos nós verificamos que os interesses eram comuns. Queríamos jogar botão e era isso que interessava, não importando a regra. A aproximação foi saudável e abriu o caminho para o reconhecimento de nosso esporte pelo CND alguns anos depois.
Em São Paulo, Antônio Maria Della Torre consegue organizar e reorganizar a Federação Paulista que estava adormecida. Até então eram regidos por uma organização chamada COFI (Comitê Organizador e Fiscalizador das Integrações), administrado pelo próprio Della Torre. A aproximação da Associação Brasileira com a Federação Paulista e a Confederação Brasileira (extraoficial, criada em Brasília, para amparar a Regra de Três Toques) fizeram com que as lideranças pudessem chegar ao Major Tubino, presidente do C.N.D. e apresentarem a ele o movimento que unia milhares de brasileiros ao redor de mesas, praticando um esporte que era por ele (CND) considerado apenas um lazer. Essa foi a razão de serem reconhecidas três regras de futebol de mesa, pois uma só seria impossível. As três reuniam a grande maioria de botonistas em atividade no país e para premiá-los veio o reconhecimento da entidade.
A Confederação Brasileira, que era usada por Rio de Janeiro, Brasília e Minas Gerais, acabou sendo transferida para a oficial, que foi criada em comum acordo com os botonistas que lideraram o movimento de reconhecimento. Com isso, criam-se as Federações estaduais que estão, na atualidade, comemorando seus trinta anos de idade. As mais antigas ainda funcionando somam mais de cinquenta anos de idade. A Federação pioneira foi extinta dando lugar à Federação Gaúcha de Futebol de Mesa, que funcionava como Associação de Ligas Gaúchas para a prática da Regra Brasileira.

Infelizmente, ainda há discordâncias e, em Pernambuco, duas Federações de Futebol de Mesa dividem os participantes daquele estado.
A alegria de ver o funcionamento dessas Federações faz com que reconheçamos que o esforço inicial foi coroado de pleno êxito. Que possamos comemorar com cada Federação estadual e com a nossa Confederação cada campeonato brasileiro realizado, seja na regra de Um Toque, Três Toques, Doze Toques, Dadinho ou Sectorbal, modalidades reconhecidas e que já nos fizeram participar de campeonatos mundiais, coisa que há poucos anos passados seria impossível de ser sonhada.
Botunice

Dois representantes de Brasília (Distrito Federal) em Brusque

Roberto_e_Mury dirigentes cariocas. Mury era presidente da CBFM não oficial.

Tarcizio,Antonio e Zé Ricardo dirigentes brasilienses.


Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O SONHO É REAL: SOMOS CAMPEÕES

Logo (e) da antiga Liga Caxiense de Futebol de Mesa que em 2005 torna-se a AFM Caxias
Quando iniciamos a caminhada em torno do futebol de mesa, tínhamos um pequeno sonho: jogar contra pessoas de outra cidade. Na época, sabíamos que Porto Alegre, a nossa capital detinha a Federação Riograndense de Futebol de Mesa. E de lá, através das notíciais veiculadas na imprensa, conhecíamos os nomes de Lenine Macedo de Souza, Sérgio Duro, Claudio Saraiva, Renato Ramos, Paulo Borges, Gilberto Ghizi, o que fazia alimentar o desejo de intercâmbio. Isso foi conseguido quando fundamos a Liga Caxiense. Organizamos um Torneio de inauguração e trouxemos o botonistas porto-alegrenses para nos ensinar a malandragem que possuíam.
O sonho continuou, pois em contato com esses amigos tomamos conhecimento de outros centros, onde o futebol de mesa era praticado constantemente. Foi então que surgiu a Revista do Esporte com a reportagem que mudou o futebol de mesa brasileiro. Um baiano escreveu que a Bahia dava lições de futebol de botão. E para melhor ilustrar sua ousadia, colocou seu endereço no término da reportagem.
Choveram cartas para seu endereço das mais diversas regiões do país, inclusive a minha carta, pois achava uma ousadia dizer que davam lições, já que nós possuíamos a primeira Federação criada no país. Eram outros sonhadores que, como nós, desejavam conhecer e jogar contra adversários de outros lugares.
Na troca dessas correspondências que iniciaram em 1965, uma amizade solidificou-se para sempre. Oldemar Seixas tornou-se o irmão que não tive em minha família. Ao comemorar o nosso primeiro aniversário, em junho de 1966,organizamos o Torneio de 1º aniversário da Liga Caxiense de Futebol de Mesa. Convidamos o pessoal da Federação, gente de Rio Grande, Pelotas, São Leopoldo e, ousadamente, enviamos convite para Salvador na Bahia. Convite que foi aceito e que originou a ideia da criação da Regra Brasileira.
O sonho tomava maiores proporções. Já não pensávamos só em jogar contra outros adversários gaúchos. Agora, tínhamos baianos em nosso caminho. E, através deles, soubemos onde encontrar cariocas, pernambucanos, paraibanos, sergipanos que faziam grandes competições chamadas Nordestões. Era pensar em algo muito maior do que aquilo que havíamos sonhado no início de nossa caminhada. Mas faltava uma Regra que fosse aceita por todos, pois sonhar em jogar era possível, mas cada um tinha sua regra regional. Foi então que surgiu o movimento que criou a Regra Brasileira, cujos seis componentes de comum acordo apararam as arestas de duas principais regras disputadas no paÍs: a baiana e a gaúcha. Em janeiro de 1967, essa parte do sonho foi concluída e foi dada a largada para que o movimento se solidificasse e unisse brasileiros de todos os quadrantes do país.
Em 1970, três anos depois da criação da Regra Brasileira, iniciou-se a disputa de campeonatos brasileiros. Caxias do Sul foi o polo centralizador da Regra Brasileira no Rio Grande do Sul. Foi um trabalho gigantesco, pois a Federação Riograndense continuava sua caminhada e não nos aceitava. Afinal, ela era a mantenedora do esporte no estado: era a Federação que deveria gerir os destinos do futebol de mesa. Mesmo assim, contra tudo e contra todos, continuamos nossa luta. A Regra Gaúcha usava botões cavados, nós usávamos botões lisos e jogávamos em campos muito maiores em tamanho. Fomos perseverantes e conseguimos vencer, pois aos poucos a beleza e plasticidade da Regra Brasileira ganhou adeptos e foram se formando núcleos, aonde a Regra Brasileira ia sendo difundida. Só que os botonistas gaúchos e cariocas não viam com bons olhos os botões lisos. Aos poucos foram aparecendo botões cavados entre os padronizados. Primeiro os defensores e, finalmente, os atacantes. Criou-se, com isso, uma nova modalidade que passou a chamar-se livre, pois os botões poderiam ser lisos ou cavados. Vários campeões brasileiros jogavam com times mesclados. A partir de 1972, quando realizamos o campeonato Brasileiro em Caxias do Sul, Antônio Carlos Martins, do Rio de Janeiro, sagrou-se campeão; os botões cavados ganharam força entre os praticantes. A Regra era a mesma, mas eram duas maneiras diferentes de jogar. Enquanto os lisos deslizavam pelas mesas, os cavados conseguiam realizar coberturas espetaculares. Criava-se com os lisos, desfazia-se com os cavados. Chegou ao ponto que os mandatários resolveram adotar as duas maneiras de jogar, separando-os em categorias liso e livre (cavado).
Caxias do Sul foi a pioneira no Rio Grande do Sul. Parte do sonho estava realizada, faltava agora consagrar um campeão brasileiro. Por ter ficado exclusivamente na modalidade liso, ficamos a anos luz dos nordestinos que só jogavam dessa maneira. O restante do Rio Grande do Sul praticava a modalidade livre e começavam a aparecer campeões brasileiros em diversas agremiações do estado. Caxias participava e sempre participou de todos os campeonatos brasileiros. Em 1978, Marcos Fúlvio de Lucena Barbosa, jogando com lisos conseguiu sagrar-se vice-campeão brasileiro. Isso mostrou a muitos adeptos do cavado que seria possível laurear-se no cenário nacional e começam a aparecer núcleos em Porto Alegre, Rio Grande e Pelotas. Botonistas que haviam escrito seus nomes na categoria livre migravam para os lisos e, com isso, tornamo-nos fortes também nessa modalidade.
Mas, a pioneira ainda não conseguira escrever seu nome entre os que conseguiam o laurel máximo da modalidade. Falta o título de campeão brasileiro. E ele veio na modalidade que não era a usual em Caxias. A AFM Caxias do Sul adotou um núcleo paulista, onde vários gaúchos que se radicaram no centro do país e que jogavam com botões cavados, mas que não possuíam um clube e por essa razão não participavam de brasileiros, passaram a defender as cores caxienses. Em 2011, no Brasileiro de Recife, Cristian Baptista consegue trazer para a cidade o primeiro título de campeão brasileiro. Foi a realização de mais uma etapa do sonho inicial.
Cristian Baptista - Campeão Brasileiro Livre em 2011 - com a camisa da AFM e troféu nas mãos

O mesmo grupo paulista, com a incorporação do Daniel Maciel, com as cores de Caxias consegue o título brasileiro por equipes, o qual seria nosso primeiro campeonato brasileiro por equipes. 
1º título nacional de equipes foi na modalidade livre em Cascavel - PR
Na categoria júnior, nosso menino prodígio GUSTAVO LIMA (PICA PAU) conseguiu dois campeonatos brasileiros, um em Salvador (2012) e outro  em Caiobá -PR (2013). Caxias já pode sentir-se orgulhosa de suas conquistas.
Pica-Pau 2012 - Campeão Junior Liso
Pica-pau (1º da dir.) no pódio de Caiobá com o troféu de campeão
Mas, estava guardada mais uma surpresa agradável nesse 41º Campeonato realizado com brilhantismo incomum na terra do Dirney Bottino Custódio: Santana do Livramento. Esse campeonato, realizado na categoria livre, traria uma conquista maravilhosa para nossa cidade. A equipe caxiense formada por Robson Bauer, Daniel Maciel, Fernando Alves e Vinicius Nunes atropelou seus adversários e conseguiu o bicampeonato na modalidade cavados. Por não ser a modalidade usual de nossos campeonatos e torneios, foi algo indescritível essa conquista. Robson já havia sido bicampeão brasileiro livre, Vinicius e Nando vieram do livre para o liso, mas Daniel Maciel sempre foi jogador da modalidade liso. Mas, quem quer faz, não manda fazer e o meu filhão foi lá e convenceu, trazendo para a sua amada AFM Caxias do Sul mais esse título. Agora, para que o sonho seja completo, quem sabe no ano do cinquentenário não tenhamos um campeão brasileiro na modalidade que sempre foi jogada em nossas mesas.

O desafio está lançado. Queremos o brasileiro liso para enfeitar as prateleiras de nossa Associação que, em junho de 2015, estará completando cinquenta anos de idade, com muitas conquistas e formando grandes amigos.

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

REGRAS GAÚCHA E BRASILEIRA SE AJUDARAM E CRESCERAM COM O TEMPO

Sei que muita gente vai refutar essa ideia, mas vou seguir adiante. A Federação Riograndense de Futebol de Mesa foi fundada em 1961 por Lenine Macedo de Souza. Logo após a consolidação dessa Federação, Lenine passou a um plano mais ousado e ajudou a fundar as Federações de São Paulo e Minas Gerais. No Rio Grande do Sul, onde foi criada a primeira federação da modalidade no país, Lenine comercializava o material que fabricava em sua empresa, próprio para a Regra Gaúcha. Vendia mesas, botões e bolinhas. E fazia isso com uma habilidade espantosa. Promovia, através da imprensa, as visitas que faria a determinada cidade, mostrando a beleza do futebol de mesa regulamentado. E, assim, ia vendendo os seus produtos, como o fez em Caxias do Sul, quando realizou uma demonstração no Recreio Guarany. Vendeu mesas, times e bolinhas para a Associação Atlética Banco do Brasil, Associação Banrisul e Recreio Guarany. Tudo fazia crer que, a partir dessa compra, teriam os caxienses direito a jogar os campeonatos promovidos pela Federação. Com o êxito dessas vendas que realizava, partiu para outros centros e ajudou, com o seu conhecimento, na criação de Federações. Fez isso com os paulistas e com os mineiros. Mas, apesar de toda a sua boa vontade, tendo inclusive organizado um campeonato brasileiro em Porto Alegre, em dezembro de 1962, conforme reportagem da Folha Esportiva, recebeu da Metalúrgica Abramo Eberle, de Caxias do Sul a premiação para o referido campeonato. Foram 20 taças e 20 medalhas que seriam disputadas em quatro categorias entre Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais. O campeonato deveria ser realizado na Regra Gaúcha, o que não foi aceito pelos paulistas e mineiros, já que ambos jogavam com bolinhas redondas e em regras diferentes e, por essa razão, não compareceram. Acabou esse campeonato se transformando em um torneio entre gaúchos.
Em 1963, quando iniciei minha carreira no Banco do Brasil, tomei conhecimento da existência de um Departamento de Futebol de Mesa. Lá encontrei a mesa oficial da Regra Gaúcha, dois times de plástico, da marca Lione e várias bolinhas usadas nessa regra. Como eu já havia formado um time com botões de galalite, não me interessei pelos botões comprados pela AABB, os quais eram utilizados por quem não possuía time e desejava jogar. E assim, por dois anos ficamos realizando o nosso campeonato interno, da mesma forma que o Banrisul realizava os seus; o Sindicato dos Bancários promovia o campeonato bancário da cidade e, todos juntos, aproveitando a sede do Sindicato, realizávamos o campeonato caxiense. Mas, não éramos convidados para participar dos campeonatos estaduais, os quais tiveram o seu início naquele mesmo mês de dezembro de 1962, em substituição ao Campeonato Brasileiro. Em viagem a Porto Alegre, procurei o então presidente da Federação, Dr. Renato Ramos, o qual me orientou para que criássemos uma entidade que congregasse as agremiações da cidade. Foi então que fundamos a Liga Caxiense de Futebol de Mesa em 12 de junho de 1965.
Nosso primeiro campeonato, realizado em 1963, na Regra Gaúcha.
 Paulo Fabião
enfrentando Adauto Sambaquy. Árbitro Raymundo Vasques
O primeiro campeonato estadual a que participaríamos seria em dezembro de 1965. Partimos de Caxias, carregando o nosso campeão Deodatto Maggi e o nosso associado Sérgio Calegari. Iríamos conhecer outros botonistas. O campeonato, segundo a programação recebida, seria na sede do Clube Piratas. Rumamos para lá e tivemos a grande decepção de verificar o descaso da Federação, pois o campeonato estadual a que tanto ambicionávamos se resumiria em uma partida entre o campeão de Porto Alegre: Paulo Borges e o de Caxias: Deodatto Maggi. Sérgio Calegari foi o árbitro do jogo e eu o único assistente. Questionamos a ausência de outras cidades, mas não recebemos respostas convincentes. Paulo Borges sagrou-se campeão gaúcho de 1965 e Deodatto Maggi o vice. Não houve solenidade alguma, nem entrega de troféus, muito menos a presença de responsáveis pela Federação Riograndense de Futebol de Mesa.
No ano seguinte, ao comemorarmos o nosso primeiro aniversário, realizamos um torneio em nossa cidade que acabou tornando-se um Torneio Interestadual. Contamos com a participação de botonistas de Porto Alegre, Rio Grande, Pelotas, Caxias do Sul e, especialmente, os convidados Oldemar Seixas e Ademar Carvalho, baianos de Salvador. Desfilaram nas mesas Paulo Borges (campeão gaúcho), Clair Marques (campeão de Rio Grande), Gilberto Ghizi (Presidente da Federação Riograndense), Vicente Sacco Netto (representando Pelotas), Claudio Saraiva, Sergio Duro e Cláudio Bittencourt (todos de Porto Alegre) e os caxienses Deodato Maggi, Marcos Lisboa, Vanderlei Duarte, Carlos Valiatti, Paulo Valiatti, Raymundo Vasques, Sérgio Calegari, Sérgio Silva e Adauto Celso Sambaquy. Após a entrega dos troféus do Torneio, os dois baianos realizaram, em uma mesa especialmente construída para a ocasião, a partida que mudou os destinos da unanimidade da Regra Gaúcha em território sulista. Gilberto Ghizi se apaixonou pela maneira eficiente demonstrada pelos baianos, no que foi acompanhado por todos os presentes. O sucesso desse torneio fez com que Gilberto solicitasse que a Liga Caxiense fosse a promotora do campeonato estadual de 1966. Isso nos aproximou bastante da direção da Federação e, juntos, realizamos um anteprojeto, mesclando as Regras Gaúcha e Baiana em suas partes boas, extirpando aquilo que julgávamos absurdo em ambas. No mesmo tempo em que trabalhávamos nesse anteprojeto, propusemos que o campeonato estadual que realizaríamos seria em três categorias: infantil, juvenil e adulto, o que foi aceito pelo Gilberto Ghizi. Em 17 e 18 de dezembro, no Colégio Nossa Senhora do Carmo, conseguimos reunir as cidades de Porto Alegre, Rio Grande, Arroio Grande, São Leopoldo, Rosário do Sul e Caxias do Sul. Na categoria adulta, o campeão foi Carlos Saraiva (Porto Alegre), vice: Fausto Borges (São Leopoldo), 3º Paulo Valiatti (Caxias do Sul); quarto Clair Marques (Rio Grande). Na categoria juvenil, o grande campeão foi Gerson Garcia (Rio Grande), ficando Mauro Borges (Rosário do Sul) em segundo; Airton Dalla Rosa (Caxias do Sul) o terceiro e Luiz Elodi (Porto Alegre) quarto colocado. Na categoria infantil, o campeão foi José Roberto Sobreiro (Porto Alegre) Almir Manfredini (Caxias do Sul) o seu vice-campeão.
No ano seguinte, poucos dias após esse campeonato, a Regra Brasileira foi aprovada em Salvador.  Apesar de haver sido discutida no campeonato estadual, apresentada que fora pelo Gilberto Ghizi e aprovada por todos os presentes, a resistência à mudança foi incrível. Os dois gaúchos que participaram de sua confecção foram taxados de traidores e houve um golpe de estado na Federação, quando Lenine, que estava afastado, retorna e destitui Gilberto Ghizi da presidência. Declarada guerra à Regra Brasileira que, entretanto fora aceita em Caxias do Sul e dali para todo estado, através de um trabalho minucioso de demonstração, exibição, torneios e muitas viagens. Isso fez com que a Federação Riograndense se motivasse e marcasse para Rio Grande o próximo campeonato estadual. Clair Marques ficou encarregado de arrumar o local e no dia aprazado, com queima de fogos de artifício, vários carros fizeram uma passeata pela cidade, promovendo o futebol de mesa na Regra Gaúcha. Só que havia modificações na regra, impostas pelo lado comercial do Lenine. Em cada competição promovida pela Federação, o botonista deveria retirar de seu time cinco botões, substituindo-os por cinco botões da fabricação Lione. Isso não foi aceito pela grande maioria dos botonistas da Regra Gaúcha, pois formavam seus times com muito cuidado e atenção. Escolher cinco e substituí-los de última hora foi um tiro n´água. Mas, o perigo maior que os praticantes da Regra Gaúcha enxergavam era o crescimento da Regra Brasileira no estado. Por essa razão, a partir de então realizaram mais competições, procurando mostrar a força do futebol de mesa pioneiro no estado. Realizaram campeonatos estaduais em diversas cidades, difundindo a Regra Gaúcha.
O primeiro campeonato estadual realizado na Regra Brasileira no estado foi em 1973. A cidade de Canguçú, com a chegada de Vicente Sacco Netto, resolveu sediar a competição, inédita até então. Foi um sucesso absoluto. Na ocasião, por proposição nossa, foi criada a União de Ligas de Futebol de Mesa da Regra Brasileira no Estado do Rio Grande do Sul. Ela se tornaria o embrião da atual Federação Gaúcha de Futebol de Mesa. O detalhe é que não queríamos, de maneira alguma, interferir com a Federação Riograndense já existente. Ela seria a primeira e nós seríamos uma entidade que reuniria apenas os simpatizantes da Regra Brasileira.
O tempo passou e a Federação Riograndense fechou suas portas. Foi então que o grupo que geria a União de Ligas adonou-se da sigla e criou, mudando o nome para Federação Gaúcha de Futebol de Mesa.
Flâmula do Estadual de Canguçu - 1973
1º Estadual de Canguçu (Regra Brasileira) -1973
2º Estadual em Jaguarão (Regra Brasileira) -1974
A pergunta que deve ter ficado no ar: As duas regras se ajudaram? Eu acredito que sim, pois foi de nossa parte uma luta limpa e justa. Nunca atacamos a Regra Gaúcha, que foi onde iniciamos. Nós sempre primamos pela grandeza do futebol de mesa, nunca tivemos interesse comercial para defender. A luta, entretanto, fez com que a Regra Gaúcha crescesse bem mais do que antes e se tornasse uma regra com grandes botonistas, evitando perder espaço para a Regra Brasileira. Ao mesmo tempo, nós estávamos fazendo o nosso trabalho e vendo a aceitação se espalhar pelos diversos recantos do estado, com a grata recompensa de mantermos, com botonistas de outros estados, um intercâmbio valioso.
Hoje, depois de tantos anos passados, vejo com alegria a participação de botonistas em ambas as Regras e trocando mensagens amistosas, como sempre foi sonhado por nós. O futebol de mesa é algo maravilhoso e deve ser compartilhado com fervor e amizade por todos os botonistas. Tenho amigos maravilhosos na Regra Gaúcha e sempre que puder ajudá-los o farei com maior carinho e dedicação. 
Confraria dos Lobos 2ª Copa  na Regra Gaúcha
FOSCA um grande praticante das duas regras (Brasileira e Gaúcha)
Da mesma forma vejo as demais Regras, que proliferam em nosso país continental, ganhando forças e realizando competições maravilhosas em suas regiões. Futebol de mesa é algo que deve ser encarado com amor e carinho, não importando a maneira pela qual seja praticado, pois a ideia é sempre a mesma: desfrutar da amizade da pessoa que está do outro lado da mesa, pois ela é adversária naquele momento e, nunca, inimigo.
Miguel Oliveira joga nas duas regras, sendo campeão brasileiro e campeão gaúcho
Regra Gaúcha em 2011
Até semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

UMA RAZÃO PARA MUDANÇA: TIMES PADRONIZADOS NAS CORES DOS CLUBES

Como todo gaúcho, meus primeiros times eram super coloridos. Um botão de cada cor, com uma, duas e até três camadas, em cores que nada representavam o meu time defendido em campo. Como já afirmei, anteriormente, tinha Grêmio cheio de botões vermelhos, verdes e amarelos e Internacional com botões azuis, pretos ou roxos.
Botões que iniciaram a caminhada
Primeiros times formados, na década de quarenta
A maior dificuldade era para quem assistia aos jogos. Muitas vezes, em jogos pelo campeonato da AABB, quando recebíamos a visita de inúmeros colegas, pairava a dúvida sobre o botão que efetuaria a jogada, pois a mínima diferença que os distinguia era a numeração, geralmente produzida por números recortados de calendários. Muitas vezes, o mesmo era utilizado pelos dois adversários, o que ocasionava a grande dificuldade de entender o jogo.
Eu sempre admirei times padronizados, pois havia recebido de presente, de um tio que residia em Porto Alegre, um Corinthians de baquelite, todo branco, com o distintivo impresso na parte superior. Já, naquele tempo, eu achava possível formar times de cores idênticas e eu mesmo formei o meu primeiro G. E. Flamengo, com botões azuis, com uma camada vermelha e outra branca. Um desses exemplares está guardado no quadro de campeões caxienses, quando consegui me sagrar com o laurel máximo da cidade. Coloquei o botão para mostrar a minha conquista e está lá até hoje. Depois tive um time fabricado pelo meu irmão Vicente Sacco Netto, que era vermelho na parte de cima e branco em baixo.
Mas, como todo o gaúcho, jogava com um time miscelânea, no qual havia botões roxos, verdes, azuis, pretos, amarelos e vermelhos. E era um time cobiçado por muitos botonistas caxienses, tanto que no último campeonato realizado na regra gaúcha, o Deodatto Maggi fez uma oferta imperdível por ele. Daria o valor idêntico a um time fabricado na Bahia. Vendi o time na hora e continuei o campeonato com o time padronizado: vermelho e branco. E, para ilustrar melhor a narrativa, venci o jogo contra o Deodatto, ele jogando com os meus antigos botões.
Com a chegada dos baianos e com a demonstração que fizeram da regra utilizada até então, na Boa Terra, muitos foram os que migraram para a nova maneira de praticar o futebol de mesa. Acredito mesmo que esse foi um fator importante para a aceitação da Regra Brasileira, que acabara de sair do forno, entregue a todos os recantos do nosso estado.
Agora, a partida de futebol de mesa na AABB e nos demais clubes de Caxias era facilmente entendida por quem estava assistindo aos jogos. E com isso, muitos foram aderindo ao futebol de mesa. Queriam representar o seu time do coração e poder ostentar aquelas fichas marcadas com o distintivo que mais lhe agradava. Foi uma febre que alavancou o movimento do futebol de mesa em seus primeiros anos.
Juventude, Flamengo, Internacional, Grêmio, Vitoriense, Vasco, Fluminense, São Paulo, Palmeiras, Corinthians, Cruzeiro, Cruzeiro Novo (uma moeda que surgiu nos anos sessenta e que serviu de motivo para a criação do time), Corinthians, Botafogo, Ponte Preta, Santos, Santa Cruz foram sendo desenhados e encomendados ao senhor José Aurélio, na Bahia. Os times demoravam a chegar, mas, já na primeira semana estavam nas mesas que agora se multiplicavam na cidade de Caxias.
Entretanto, os times multicoloridos continuaram na prática do futebol de mesa, tanto na regra Gaúcha como na Unificada e na Regra Toque-Toque. Essa usada na FIB (Federação Ipanema de Botão) de Porto Alegre, e as outras duas espalhadas por diversas agremiações do Rio Grande do Sul.
Regra Toque toque, da Federação Ipanema F.M. - Porto Alegre
Regra Toque toque - FIB de Porto Alegre
Regra Toque toque  - time postado para foto
Atualmente, com a facilidade de se conseguir emblemas autocolantes fica um pouco mais definido o time, deixando os assistentes mais atentos às jogadas. Mas, o futebol de mesa é algo que consegue fazer com que todos os seus praticantes se motivem e consigam transferir para os seus botões a sua emotividade. E, em todos os recantos onde havia uma mesa, poderemos escutar gritos frenéticos de gol em vibrações que chegam a beirar à loucura. Por vezes, é extravasamento que o botonista guarda em sua labuta e que, naquele momento, podem ser liberados com vigor e exuberância.
Botões da Regra 12 Toques padronizados
Botões Inter de Paulo Jiquia, na Regra Pernambucana

INTER (RS) BOTÕES REGRA PERNAMBUCANA.
Por essa razão, o futebol de mesa é alguma coisa indescritível para quem não o conhece.
Meu time do Internacional que atuei em 2012 no Brasileiro da Bahia
Em ação... Tentando jogar em Salvador
Em Porto Alegre 23.03.14

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.