Jogar futebol de mesa é o que
todo botonista deseja ardentemente. Agora, ser escalado para arbitrar uma
partida é coisa para pensar. São poucos os que se dispõem a apitar um jogo,
principalmente se esse jogo for daqueles encardidos, com dois expoentes lutando
por um caneco.
Trato deste assunto depois de ler
a crônica escrita pelo Flávio Liza, na qual aborda o conhecimento da Regra por
todos os botonistas. Uma das contestações foi feita pelo Augusto, afirmando que
nunca leu a regra, mas que seus jogos jamais são complicados e sempre há paz ao
final de suas partidas.
Penso diferente dele, pois o
posicionamento do árbitro em um jogo pode determinar um final feliz ou criar
uma grande confusão que acaba envolvendo muita gente.
Apitei a final do segundo
campeonato brasileiro, realizada em Recife, entre Roberto Dartanhã e Cézar
Aureliano Zama. Uma partida excepcional, onde não havia senões e nem erros,
pois foi decidida por uma infelicidade do Cezar Zama, numa jogada fácil, mas
que por um problema qualquer o seu botão travou e não atingiu a bolinha.
Dartanhã não perdoou e marcou o único gol do jogo.
Nesse mesmo campeonato tive
contra mim uma falta técnica aplicada por um árbitro nordestino, simplesmente
por ter errado uma jogada e ter reclamado de mim mesmo sem, contudo me dirigir
ao meu adversário. Aquilo me incomodou bastante.
A minha parada com o futebol de
mesa, já relatada em coluna anterior, foi devido a um jogo pelo Campeonato
Brasileiro realizado em 1980, em Pelotas. Jogava contra um grande botonista
baiano e estava vencendo por 1 x 0, quando o referido adversário começou a
minar minha resistência. Criava a jogada e me preparava para bater, mandando-o
colocar seu goleiro. Ele colocava, vinha para a minha direção e olhava meu
botão, olhava seu goleiro, voltava para sua posição de defesa e tocava no
goleiro novamente. Ia e voltava, fazendo isso diversas vezes. Dizia que estava
pronto. Eu colocava a paleta em cima do botão para chutar e ele interrompia
afirmando: espera que vou recolocar o goleiro. Fazia tudo novamente. Chegava a
ficar mais de um minuto nessa lenga-lenga. Eu olhava para o árbitro que ria da
coisa. Chegou um ponto que não aguentei mais e entreguei, literalmente, o jogo.
Disse-lhe que estava agindo mal, mas ele estava imbuído em vencer. Conseguiu
empatar. Eu acabei me desequilibrando e perdendo a calma. As coisas foram
piorando e não dando certo e eu acabei fazendo uma porção de bobagens: dois
toques, gol contra. Para mim terminou a minha participação de forma competitiva
em campeonatos brasileiros, naquele jogo.
Após o ocorrido, eu parei de
jogar campeonatos brasileiros. Organizei um em Brusque e depois disso nunca
mais joguei. Essa parada durou quase trinta anos. E isso por falta de
conhecimento por parte de um árbitro, que tinha a obrigação de alertar meu
adversário sobre o tempo que poderia usar para sua jogada. Não o fez, talvez,
por nunca ter lido a Regra Brasileira.
Voltei a jogar depois desse
episódio, por insistência do pessoal de Caxias, no Centro Sul, realizado na
cidade em 2011. Joguei três partidas, perdendo duas e vencendo uma. Depois
disso fui inscrito no Brasileiro realizado em Salvador, em 2012, onde consegui
jogar duas partidas e perdê-las, tendo entregado o terceiro jogo ao Carlos
Alberto, de Recife, por não reunir mais condições físicas para continuar
jogando.
Fui escalado para arbitrar um
jogo pouco antes desta terceira partida numa sala com um calor tremendo. Avisei aos dois adversários da minha
desatualização da regra e que eles me ajudassem. Graças a Deus não houve
problema algum e conseguimos terminar o jogo com tranquilidade. Só que, para
quem não está treinado, ficar ao redor de uma mesa, marcando o jogo, deixou-me
sem condições para a última partida. Não teria chance nenhuma e procurei o
Carlos Alberto e lhe comuniquei a minha decisão, pedindo que me desculpasse
pelo abandono.
Realmente arbitrar jogos de
futebol de mesa é bem mais desgastante do que jogar. E para que não exista
problema, a regra deverá ser conhecida totalmente.
Por essa razão eu apoio o que o
Flávio Liza escreveu. Deveremos conhecer a regra para podermos ter certeza de
nossas decisões. Com isso, evitaríamos situações desagradáveis como as que
ocorreram em campeonatos brasileiros e que, até os dias atuais, são motivo de
piadas entre os botonistas.
Até a semana que vem, se Deus
assim permitir.