A primeira grande viagem foi
realizada em janeiro de 1967, quando, em companhia de Gilberto Ghizi rumamos a
Salvador, com a finalidade da criação da Regra Brasileira. Foi uma maratona que
logrou êxito e os seus resultados foram sendo noticiados em Caxias do Sul, via
Rádio e jornal O Pioneiro. Isso aguçou a curiosidade de desportistas da região
serrana e frequentemente recebíamos visitas de interessados em conhecer a Regra
Brasileira.
De 1967 até 1973,
indiscutivelmente Caxias do Sul tornou-se a referência gaúcha da Regra
Brasileira, por vezes confundida com a antiga Regra Baiana. Acolhíamos
botonistas vindos de diversas cidades e apresentávamos a eles o nosso modo de
jogar. Arroio Grande, Veranópolis, Lagoa Vermelha, Porto Alegre, São Leopoldo,
Santa Maria, Flores da Cunha, Giruá e Uruguaiana eram as cidades que queriam
conhecer o futebol de mesa praticado pelos caxienses.
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Noticias de como o Futebol de Mesa andava na cidade de Caxias do Sul |
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Uma das reportagens que davam força ao futebol de mesa caxiense |
Flores da Cunha estava realizando
uma festa e convidou para que fizéssemos uma demonstração para a garotada
daquela cidade. Na ocasião, presidia a Liga Caxiense o Sérgio Calegari.
Combinamos viajar em dois carros e levar a garotada do Recreio Guarany, pois
não sabíamos quem seriam os interessados. Se fossem muito jovens, talvez o
interesse não fosse tão intenso vendo dois adultos jogando, para isso teríamos
os meninos que demonstrariam como se deve praticar o nosso esporte. Para isso o
Calegari apanhou o Airton Dalla Rosa, Ângelo Slomp, Almir Manfredini e seu
irmão, que já começava a praticar o futebol de mesa. No meu carro levei minhas
filhas, pois elas se queixavam que eu sempre estava indo jogar e elas ficavam
em casa. Ao chegarmos, vários desportistas nos esperavam. Calegari e eu ficamos
explicando a eles como se desenrolava o jogo, a aceitação nacional, tendo
inclusive a possibilidades de realização de campeonatos brasileiros, enquanto
os meninos partiam para a mesa alegremente. Como dois jogavam e um apitava,
sempre sobrava um, que era o menor de todos, o irmão mais novo do Almir
Manfredini. Acontece que os florenses haviam preparado uma mesa com diversos
petiscos e algumas bebidas. Flores da Cunha era terra onde fabricavam vinhos de
excelente qualidade, além de bebidas destiladas, tendo inclusive naquela época
um uísque chamado Cookland (Terra do Galo). Dentre as bebidas havia diversos
tipos de licores muito apreciados, com sabores de abacaxi, uva, goiaba, ovos
que atraiam pela sua coloração exuberante. Como eram doces, o perigo estava
diante de nossos olhos.
O irmão do Almir, sem ter
ocupação, passou a experimentar os licores e acabou totalmente embriagado. Uma
de minhas filhas veio me chamar, pois ele estava se sentindo mal. Eu abortei a
minha participação naquela demonstração, deixando o Calegari encarregado de
trazer os meninos para casa, pois voltaria para Caxias trazendo o menino que
passara da conta. O pior seria a explicação para a Dona Cecy Puerari, mas ela
entendeu, pois conhecia o filho que tinha.
Com isso resolvemos que doravante
sempre iriam os adultos.
Os convites surgiam e várias
vezes nos deslocamos até Canguçú, pois era o reduto em que nosso companheiro de
futebol de mesa, Vicente Sacco Netto estava radicado. Ali se iniciou o
movimento que hoje é uma realidade naquela cidade.
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A primeira viagem a Canguçu - G.E.Flamengo (Sambaquy) foi o campeão |
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A segunda viagem a Canguçu - Internacional (Ghizoni)) foi o campeão |
Em junho de 1973, fomos
procurados por Saul Torres, diretor de esportes do Jornal do Povo de Cachoeira
do Sul, no centro do estado gaúcho. O jornal patrocinava um campeonato aberto
de futebol de mesa, na Regra Gaúcha, com botões puxadores. Ao tomar
conhecimento de nosso movimento, manifestou interesse em uma apresentação em
sua cidade, pois seria algo inédito e motivador aos jovens praticantes.
Aceitamos o convite e em 27 de julho rumamos para aquela linda cidade. Saímos
de Caxias em dois carros. Luiz Ernesto Pizzamiglio e Airton Dalla Rosa em um e
Marcos Fúlvio de Lucena Barbosa e eu no outro. Naquele tempo eu não gostava de
andar de carona, queria era estar na direção e na estrada. Fomos recepcionados
como autoridades e levados ao clube onde estava sendo realizado o aberto em
homenagem aos 45 anos do Jornal do Povo. A garotada nos olhava desconfiada.
Mas, o toque de mágica foi quando colocamos nossos times na mesa. Os olhinhos
de todos eles brilhavam de espanto e inveja. Estavam vendo times do São Paulo,
do Santa Cruz, do Cruzeiro e do Flamengo (de Caxias), arrumados para uma
partida de demonstração. Expliquei a
todos eles que na atualidade essa era a modalidade em que poderiam disputar
campeonatos brasileiros, os quais já haviam sido realizados em Salvador
(Bahia), Recife (Pernambuco) e Caxias do Sul. Que continuando com a sua
modalidade só poderiam disputar campeonatos regionais, pois a Regra Gaúcha não
era reconhecida fora do estado. Entregamos a eles uma boa quantidade de Regras
impressas, mandadas confeccionar pelo Conselho Municipal de Desportos de Caxias
e os endereços dos diversos fabricantes, que nessa ocasião só existiam na
Bahia. Não sei se fizeram encomendas ou se mudaram sua maneira de jogar, pois,
após nosso regresso não houve mais contatos. E nesse mesmo ano eu fui
transferido para Brusque (Santa Catarina), deixando de estar presente na Liga,
apesar de continuar a minha participação no campeonato daquele ano, tendo
ficado em terceiro lugar no resultado final.
Devo contar aos amigos que,
quando da realização do Centro Sul em Caxias, em 2011, o Marcos Barbosa
recordou essa nossa partida, realizada em Cachoeira do Sul. Fizemos uma
demonstração para a garotada que cercou a mesa. Marcos começou fulminante e o
primeiro tempo acabou 3 x 0 para ele. Estava com o pé no acelerador passando
por cima do meu Flamenguinho. No segundo tempo, depois de uma carraspana nos
jogadores de Caxias, o time voltou com outra mentalidade e acabou virando o
jogo para 4 x 3. Até hoje ele não acredita nisso. Estava tão fácil, que ele
acabou esquecendo-se de jogar o segundo tempo. Rimos muito disso tudo.
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Jornal do povo de Cachoeira do Sul, comentando o Aberto 45 anos do Jornal do Povo |
Esse foi o trabalho de divulgação
e devemos sempre agradecer aos amigos das rádios de Caxias, que abriram um
horário em que Paulo Valiatti e eu apresentávamos o que rolava pelo futebol de
mesa, dando resultados, prognósticos, e até escutando aficionados que ligavam
para sugerir alguma coisa. Muitas vezes, fui parado na rua por amigos, dizendo
que achavam que estivéssemos falando de campeonato de futebol de campo. Todos
escutavam. E também os jornais, pois O Pioneiro sempre dava uma vez, para que
pudéssemos convocar para as rodadas e o Guiomar Chies, jornalista que respondia
pela sucursal da Folha da Tarde Esportiva, que estava sempre pronto a divulgar,
fazendo excelentes matérias de divulgação como a que fez quando em 1968, Airton
Dalla Rosa sagrou-se campeão caxiense.
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Reportagem da Folha da Tarde Esportiva que percorreu todo nosso Estado, mostrando o mais técnico de nossos botonistas |
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Jornal local também dava sua colher de chá aos botonista |
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Campeonato Brasileiro - Equipe RGS era formada por caxienses |
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Campeonato Estadual de 1980 |
Até a semana que vem, se Deus
assim permitir