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Orci Miguel O poeta dos botões |
Nada mais agradável para um velho
botonista do que encontrar pessoas de sua faixa de idade e imaginar os sonhos
desse amigo. Então podemos verificar que o esporte que tanto amamos não se
restringiu a um local, mas, pelo contrário, estabeleceu-se em todos os recantos
de nosso país, do norte ao sul, do leste ao oeste.
Encontrei um amigo querido,
oriundo de Uruguaiana, terra onde morei durante um ano de minha vida e que
jogava botão. Não o conheci quando lá estive, apesar de estar com um time de
botão e ter outro amigo que praticava o esporte. Esse amigo, que encontrei há
poucos anos é um advogado ilustre de Canoas. Além de advogado é um poeta e,
numa poesia maravilhosa, escreveu: Dedico com exclusividade à tua pessoa,
Adauto. A cópia desses originais fazes por merecer! Em assim sendo, homenageio
todos os nossos abnegados botonistas... que, liderados por ti e espelhados em
ti, congregados por ti, transmitem, como nós aqui transmitimos à geração que
virá após a nossa: o bem querer, a dedicação e a afetividade pelo futebol de
mesa... onde ele estiver... e onde encontrarmos este vai e vem colorido de
nossos botões em uma mesa que tanto nos empolga e nos apaixona!!
Com o meu apreço, estima e benquereza.
MUITAS RAZÕES HÁ MAIS PARA VIVER
Miguel
Xavier Orci
Anos cinquenta, o início em minha
cidade,
Jardim florido à Beira-Rio
plantado!
Mesa no pátio! Casa no
arrabalde...
Dez botões...! Comecei o
aprendizado!
“Chicho”! “Galocha”! “Paulo
Fitipaldi”!
Maia! Oscar! Jurandir!...Wilson “compadre”...
Oito guris...verdor da mocidade;
Aos sábados à tarde,... à
vontade...
Com meus dez “galalites” de
verdade;
Recordar é viver...mas que
saudade!
#
Meus botões? São relíquias
preservadas...!
Todos são valiosos, bem
guardados..
Momentos de lazer já
vivenciados...!
Mais de doze mil jogos
disputados...!
Ao redor duma mesa... caminhados,
Nestes sessenta anos... ”bem
vividos!”
#
Regride lentamente a minha memória,
Tal qual um filme a fita
retornando...
E um gol inesquecível (!) se
apresenta,
Isto faz parte duma linda
história!
#
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Orci Miguel e seu Bangu em um campeonato gaúcho |
O “Meu BANGU”! Paixão
d’adolescência,
Suas listras alvirrubras,
verticais...
Uma vitória! Mais outra... é bom
demais
E a fita retornando... num
glossário..
Bolas brancas nas redes se
aninhando!
Duas... ou três, no gol
adversário!!!
Mais vitória que derrotas!
Contingência
Pra quem fez dos botões o seu
lazer...
Pra quem cultiva este amor
d’adolescência!
Todos meus botões têm meu apreço
Mas... todos os meus botões
nenhum tem preço!
A cada qual, bem sei, estão
ligadas,
Recordações atuais... tempos
antigos;
Pois jungidas a mim... e aos meus
amigos!!!
#
Ficha redonda... colorida e
plana...
Quase quinhentas em sua
quantidade,
Só jogamos com dez! Que
insanidade...!
E que saudades de nossa
Uruguaiana!
#
O “vai e vem” colorido dos
botões,
Nos deixa em cada jogo uma
sequela...
De “queixas”, “paixões”, “risos”,
“gozações”...
-Me permitem dizer: que a vida é
bela!
#
Jovens que me ouvis... – digo a
vocês:
Que o botão que jogamos... é “um
xadrez”!
Pois partidas iguais, não vi
jamais!
Impulsos! Coração! Fé e
destreza...!
Dez botões escrevem numa mesa,
Se ali tens no “placar” a tua
vitória?!
Páginas da tua vida... da tua história!
#
A vida é um palco! Nós seus
atores!
Meus botões, por seus lances:
seus autores,
Das derrotas? Ficaram
cicatrizes...!!
Vitórias mil?! Momentos tão
felizes,
Nos quais me abrigo em meio aos
seus matizes,
Para esquecer jornadas
infelizes..!
#
Zizinho, Algodão e Gasparzinho,
Cabralzinho, Pitanga e Aladim,
Matheus, Cardeal, Fafá e
Valentim...
Só de lembrá-los passo a rir
sozinho!
Zoroastro e Alpadrino e Bataclã;
Douglas, Fafá, Braguinha e Ivorã,
Jorge Black, Cyrilo e Canhotinho,
Craques de ontem, craques de
amanhã!
Orlando, Pé de Gesso e Angorá!
Botões iguais, por certo não os
há,
Neste nosso Universo do Botão!
Um Zózimo! Um Turcão! Um Sapatão!
Tinguá! Biguá! Scotti e Geraldão!
Mencionar os seus nomes como
faço,
Deixa de ser dever, é obrigação!
Bonzo e Turcão! “Estrelas
luzidias”,
Duma constelação bem conhecida,
Brilharam muitos anos em minha
vida!
E fizeram felizes os meus dias!
#
Sim! Falo de conquistas em meus
versos!
Tantas foram, momentos e lugares,
As taças e troféus quando os
olhares,
Falarão de vitórias e sucessos!
#
Uma delas? Pois bem... eu bem me
lembro,
Num dia dezessete de dezembro,
Feliz fiquei! Alegre e tão
faceiro!
À tarde, em Novo Hamburgo, o meu
herdeiro,
SANTA CRUZ! Como tal é conhecido,
“BI-CAMPEÃO estadual”!!!
Reconhecido!
Sem não ter sido por ninguém
vencido!
Nada existe melhor pra um
Botonista...
Nem deixá-lo exultante e tão
feliz,
Do que assistir ao vivo igual
conquista...!
De um título que gente sempre
quis!
A voz levanto! Acelera o coração!
Pois a vida me deu o galardão,
Ser Pai e Professor de UM
BI-CAMPEÃO!
#
Hoje me encontro na casa dos
setenta,
E esse orgulho o meu peito
ostenta!
Minha caixa de botões? Tudo se
ajeita!
Tais lembranças...?! São frutos
da colheita,
Amigos? Companheiros? Mais de
mil...(!)
Os encontro em todo o meu Brasil!
#
Semeia semeador por onde andares,
Sementes do bem querer, sem te
importares
Com quem disputarás uma partida!
Pois é assim que se inicia uma
amizade,
Que te acompanhará por toda vida!
#
Os “meus botões”... estão em um
sacrário(!)
De alvirrubro cetim... (!) Um
Relicário...
Num lugar especial dentro de
mim...!
E se algum dia, tu me visitares,
Verás taças e troféus em “seus
altares”;
E fotos dos lugares d’onde vim!!
#
Botões polidos... grandes,
coloridos,
Num vai e vem na mesa deslizando,
E a expectativa de jogar...
ganhando...
E o tic-tac do relógio, avança...
E vai o teu coração acelerando!
Ao chutares as redes já
balanças!!
Mágico instante do gol! Então
vibrando,
Dás um soco no ar! Um grito
lanças!
Num gesto muito próprio das
crianças,
Pegas teu goleador com tua mão,
E lhes dá um beijo demorado!
Num gesto de carinho e gratidão!
Isto é ser feliz! Estou errado?
Tudo é alegria, risos, emoção!
O futebol de mesa é uma magia,
Que envolveu a minha vida, dia a
dia!
E tu que leste estes meus dispersos,
Despretensiosos e alquebrados
versos,
Te digo em segredo nesta
“oitiva”;
#
O botão para mim é uma Paixão!
Real! Intensa! Eterna! Enquanto
eu viva.
#
Faço destes meus versos...
Oração!!
Agradeço ao Meu Deus cada
conquista!
Com muita fé! Energia! Muito
empenho!
Agradecendo a Deus pelo que
tenho!
Posso dizer que sou um botonista!
#
Poeta não sou! Mas, simples
missivista,
Que te transmite em forma de
poesias,
Momentos lindos! Resumo dos meus
dias,
Jogo botões...quem sou? Um
enxadrista?!
#
Mas este jogo de botões
“antigos”...
Cordão umbilical com meus amigos,
Que há muitos anos já não vejo
mais,
Desperta a rima aqui desta
poesia,
Desta saudade mista de emoção.
#
Minha Uruguaiana está distante,
Mas todas as distâncias são
iguais!
A linda cor de ouro dos trigais!
A verde cor dos arrozais à beça!
As águas claras do Uruguai sem
pressa,
-Serão seus pingos gotas de
cristais?
Pedras brancas da cor dos meus
cabelos!!
Dirigindo-se para as bandas
orientais,
Lá, para a direção do sol poente!
Nesta paisagem linda era que a
gente...
Jogávamos botões tardes
inteiras...
Tendo por perto nossos velhos
pais
Centros do meu amor e meus
desvelos,
Éramos felizes ali... mas sem
sabê-lo!!
Ali, houve abraço dos meus pais,
Nas inesquecíveis festas de
Natais!
O ruído alegre de alegres
carnavais!!
Irmãos e amigos que não tenho
mais!!
Ali, ouvi trinado de pardais,
O assobio do minuano...
vendavais!!
#
Agora uma lembrança mais
recente...
Ao meu redor, ruídos, muita
gente;
Sociedade POLÔNIA, a anfitriã!
Dia de sol, então... linda manhã!
Botonistas amigos lá reunidos,
Uns moços, outros não; outros
“antigos”...
Em disputa o Título Estadual!
A competição, já no fim da
tarde...
Meu coração como brasa arde!
Os jogos transcorreram sem
alarde!
Mas ao final enorme recompensa!
Risos, aplausos, alegria intensa!
“Mil flashes” e manchetes pela
imprensa!
Dois mil e seis, novembro; bem me
lembro!
Tricampeã a equipe das três
cores!
Muitos treinos! Lealdade e alguns
suadores!
Permito-me contar para vocês:
“SANTA CRUZ”, ao final, mais uma
vez!
TRI-CAMPEÃO! Invicto e Laureado!
Mais um troféu nas mesas
conquistado,
Com carinho lá em casa está
guardado!
#
Talvez em breves dias... por que
não?
Já que a Paixão destes botões nos
une,
Pretendo consultar meu coração...
No mundo do botão talvez um dia
Nós, algumas partidas
jogaremos...
E sendo assim então nos
encontremos...
Ao final dos jogos lembraremos:
A regra importante que
aprendemos:
Sermos fieis... Sermos leais...
assim seremos!
#
Afirmo nesses versos com certeza:
Que tudo tem seu preço nesta
vida...
Vai e vem dos botões em uma mesa,
Em meio ao transcorrer de uma
partida,
Deixa então em mim... esta chama
acesa...!
Os botões para nós? A nossa
esgrima!
E esta saudade cheia de emoção,
Inspirou nestes versos a minha
rima!
Esse trabalho deste amigo botonista
deve inspirar a tantos amigos espalhados por esse imenso país continente. Tenho
certeza de que ao ler tudo isso, o meu amigo Abiud, grande batalhador de
Recife, molhará seus olhos com recordações, como o fez o amigo Orci, quando
escreveu.
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Tri Campeão Eduardo e Miguel Orci |
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O Casal de Ouro |
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Só gente graúda. Merecido reconhecimento |
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Orci Miguel sendo jubilado |
Até a semana que vem se Deus
assim permitir.