Hoje, meus amigos, não falarei de
futebol de mesa do passado ou do presente. Usarei um texto que o excelente
Cristiano Gularte publicou em seu Manchester United, em 24 de junho de 2010.
O texto dizia o seguinte: Quando
eu ainda era um menino, ocasionalmente, minha mãe gostava de fazer um lanche na
hora do jantar. Eu me lembro especialmente de uma noite, quando ela fez um
lanche desses, depois de um dia de trabalho muito duro. Naquela noite
longínqua, minha mãe pôs um prato de ovos, linguiça e torradas bastante
queimadas defronte ao meu pai. Eu me lembro de ter esperado um pouco, para ver
se alguém notava o fato. Tudo o que o meu pai fez, foi pegar a sua torrada,
sorrir para minha mãe e me perguntar como tinha sido o meu dia na escola. Eu
não me lembro do que respondi, mas me lembro de ter olhado para ele, lambuzando
a torrada com manteiga e geleia e engolindo cada bocado.
Quando eu deixei a mesa naquela
noite, ouvi a minha mãe se desculpando por haver queimado a torrada. Eu nunca
esquecerei o que ele disse: “Baby, fica tranquila, eu adoro torrada queimada.”.
Na mesma noite, mais tarde,
quando eu fui dar um beijo de boa noite em meu pai, eu lhe perguntei se ele
tinha realmente gostado da torrada queimada. Ele me envolveu em seus braços e
me disse: “Companheiro, sua mãe teve hoje um dia de trabalho muito pesado e
estava realmente cansada. Além disso, uma torrada queimada não faz mal a
ninguém. A vida é cheia de imperfeições e as pessoas também não são perfeitas.
E eu também não sou um melhor empregado ou cozinheiro! O que tenho aprendido
através dos anos é que saber aceitar as falhas alheias, escolhendo relevar as
diferenças entre uns e outros são uma das chaves mais importantes para criar
relacionamentos saudáveis e duradouros. Essa é a minha oração para você, hoje.
Mantenha a neutralidade e a conexão. Que possa aprender a levar o bem, o mal,
as partes feias de sua vida, colocando-as aos pés do Criador. Porque, afinal,
Ele é o único que poderá lhe dar um relacionamento no qual uma torrada queimada
não seja um evento destruidor”.
De fato, poderíamos estender esta
lição para qualquer tipo de relacionamento entre marido e mulher, pais e filhos
e com amigos. Não ponha a chave da felicidade no bolso de outra pessoa, mas no
seu próprio bolso. Veja pelos olhos de Deus e sinta pelo coração Dele; você
apreciará o calor de cada alma, incluindo a sua. As pessoas sempre se
esquecerão do que você lhes fez ou do que lhes disse, mas nunca esquecerão o
modo pelo qual você as acolheu e valorizou.
E esse texto consegue me
emocionar, pois hoje, dia 23 de maio de 2014, faz um ano que perdi meu irmão de
fé, Giovani Zanetto. Fomos amigos desde os primeiros anos de colégio, andávamos
sempre juntos. Jogávamos no mesmo time, participávamos do grupo de escoteiros,
vivíamos um na casa do outro. Lembro-me de tantas aventuras que fazíamos
juntos, com mais o Moacyr Boff. Em nossas casas não havia luxo, mas éramos
considerados da família. Até na Faculdade estivemos juntos. A vida nos separou
quando cada um escolheu o seu destino. O Moacyr radicou-se em Curitiba e lá
ficou até o final de sua vida. Eu vim para Santa Catarina e o Zanetto continuou
morando em Caxias do Sul. Conversávamos telefonicamente e sempre que nossa
turma de colégio se reunia estávamos juntos. Até a doença se manifestar,
estivemos sempre juntos. Nosso último encontro durou um dia inteiro, pois
almoçamos e depois disso estivemos visitando os lugares onde vivíamos fazendo
nossas molecagens. São Pelegrino nós percorremos a pé, lembrando cada antiga
loja que visitávamos. Visitamos a minha irmã e com ela fomos até a casa de meu
sobrinho Márson. Após esse encontro, tivemos mais uma reunião de nossa turma
colegial, mas o Zanetto não apareceu. Vaidoso, não queria que víssemos os
estragos que a doença estava provocando. Pouco antes de seu desenlace, sua
esposa me ligou, avisando que estava em estado terminal. Tentei ir visitá-lo,
mas uma cirurgia na perna não permitiu a minha viagem. Talvez tenha sido
melhor, pois recordo dele sem a marca da doença que o vitimou. Vejo-o alegre e
feliz, cheio de sonhos e manias.
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Nessa foto estão
Moacyr Boff, Giovani Zanetto e Adauto Celso Sambaquy, nos tempos de escola, futebol e escotismo |
Meu irmão, algum dia estaremos
juntos novamente e poderemos recordar as nossas fugas das aulas, nossas
partidas de futebol no campo do Torino, do Flamengo, do Juventude e as
excursões que fazíamos. Poderei te explicar o porquê não pude ir te visitar
quando ainda estavas entre nós. Poderemos trocar o abraço de irmãos e amigos
que sempre fomos, mesmo quando brigávamos, discutíamos, mas sempre tudo voltava
ao normal. Desejo que o Nosso Pai o tenha acolhido e que, de onde estiveres,
possa olhar para os que aqui ficaram e enviar o seu pensamento positivo. A
saudade é grande e sempre emociona esse velho coração.
Até a semana que vem, se Deus assim
permitir.