Apesar
de ter tomado conhecimento do futebol de mesa no ano de 1947, quando migrava
dos dez para os onze anos, foram necessários dezesseis anos até que o primeiro
e o segundo troféus viessem embelezar a minha galeria incipiente.
Depois
de haver sido inoculado com o vírus do botão, por muito tempo os jogos eram
sempre amistosos, pois não havia ninguém disposto a organizar um campeonato.
Até os iniciávamos na rua onde morávamos, mas não chegavam à terceira ou quarta
rodada, pois muitos desistiam quando acumulavam derrotas.
Lembro
que existiam várias mesas para os jogos. Na casa do Renato Toni, numa sala do
prédio do pai do Vasco Balen, no porão do Rui Pratavieira, do Luiz Pozza e até
na garagem da casa do Vanderlei Prado, na alfaiataria do pai do José Roque
Aloise; mas, a melhor de todas era a do Enio Chaulet, bem próxima das atuais em
que desenvolvemos a Regra Brasileira.
O
importante para cada um de nós era jogar. Em cada um desses lugares, o número
de botonistas era reduzido, pois só havia uma mesa e todos ansiavam estar com o
time depositado nela, praticando o nosso futebol de botões. Os convites eram
restritos e a cada semana variava, razão pela qual tínhamos de manter contato
com diversos donos de estádios para saber onde jogaríamos. Uma semana na casa
do Rui Pratavieira, na outra, lá no Bairro São Pelegrino, na garagem do
Vanderlei Prado, depois da aula, na alfaiataria Aloise, no sábado pela manhã,
na casa do Pozza. Na residência do Renato Toni e na sala do Vasco Balen, por
estarem nas imediações de nossas moradias; todos os dias, até que as mães deles
nos expulsassem, pois já era hora de dormir.
E
assim foi passando a nossa infância. Chegamos à idade de aborrescentes e com
ela os namoricos e o futebol de campo. O futebol de mesa ficou meio de lado.
Meus times, entretanto, estavam guardados em uma caixa, com parafina, flanela e
uma infinidade de recordações maravilhosas.
Como
praticávamos o futebol de campo e muitos dos nossos companheiros também foram
adeptos do futebol de botão, em uma tarde, véspera de um jogo de nosso
Corinthians Caxiense, reunimo-nos na casa do Maggi, um dos nossos laterais
direito. Passamos a tarde jogando e eu havia levado meus dois times: Vasco da
Gama e Corinthians. Ao final dos nossos jogos, resolvemos dar uma volta pelo
centro da cidade. Para não carregar a caixa, deixei-a na casa do Maggi. Naquela
noite a casa se incendiou e meus dois times viraram cinzas.
Resolvi
que iria refazer meus esquadrões, mas dessa vez com outro nome. Escolhi o time
de minha preferência na cidade: G. E. Flamengo. Fui comprando os botões de
diversos botonistas, ganhando de outros alguns craques, pois haviam parado de
praticar. Lembro ainda que o Raul Stalivieri, meu colega de curso de
contabilidade do Carmo, presenteou-me com um botão preto, logo batizado de Vitor,
em homenagem ao centro avante do Flamengo e, depois, do Grêmio. E quantas
alegrias o Vitor me presenteou quando, em 1963, começamos a jogar
organizadamente em campeonatos.
Pois
foi o Vitor, junto com Fredolino, Danga e Cinza, Remi, Sinval e Ghizoni, Tim,
Zizinho, Vitor, Sady e Lady, com os reservas Bruxo e Torres que me fizeram
levantar o primeiro e o segundo troféus, ganhos no ano de 1963. O primeiro como
campeão do certame da AABB, e o segundo sendo o terceiro lugar no Campeonato Caxiense.
Foram os dois primeiros a embelezarem uma prateleira em minha casa. E eram
minúsculos, pois o de campeão mede onze centímetros de altura, e o de terceiro
lugar, nove centímetros apenas. Mas, com que alegria eu os mostrava aos amigos
que me visitavam, pois foram angariados em uma competição
com mais de uma dezena de adversários em cada uma delas.
Depois
desses, em todas as competições realizadas, os troféus foram aparecendo, cada
vez melhores e maiores. Mas o valor sentimental deles é inigualável. Quantos
botonistas atuais não somam a idade que esses dois primeiros troféus já
atingiram.
A
minha história começa em 1947, mas só em 1963 passa a ser mostrada
definitivamente para as pessoas que admiram esse esporte.
Saliente-se
que, naquela época, os únicos fabricantes de taças e medalhas eram a
Metalúrgica Abramo Eberle e a Metalúrgica Triches. Geralmente, escolhíamos a
segunda, pois os preços eram mais acessíveis às nossas parcas reservas e pela
amizade que o pessoal que fazia o serviço de Banco tinha conosco. Sempre
conseguíamos um bom desconto e, muitas vezes, um troféu de brinde que nos
ajudava muito.
Quanta
saudade desse meio século de tantas andanças e conquistas pelo mundo do futebol
de mesa. Tenho certeza de que seria capaz de fazer tudo novamente, pois o
resultado disso tudo é comprovado em cada competição a que assisto
pessoalmente, ou na Internet, lendo ou vendo o esforço de alguns abnegados
botonistas em enviar imagens. Por essa razão, leio todos os blogs que posso,
pois sinto em cada um deles a continuidade daquilo que me moveu à
realização do que pude fazer em prol
desse esporte que apaixona as pessoas.
Viva
o futebol de mesa.
Até
a semana que vem, se Deus assim permitir.
Sambaquy
Meu caro Sambaquy. Nossas histórias são bem parecidas, com jogos nos diversos terraços, quintais e garagens dos pais dos nossos amigos. Nos contentávamos com poucas partidas e talvez porisso mesmo realizávamos torneios, sempre no sistema mata-mata. A rigor, foram poucos os campeonatos disputados na minha época de rapazola, daí não ter tido grandes conquistas. Os poucos troféus e medalhas daquela época perderam-se no tempo, inclusive os botões, mas valeu! Abração pernambucano, Abiud Gomes
ResponderExcluirAbiud, meu amigo, talvez essa tenha sido a maior razão para a demora em deslanchar o nosso esporte. No sul existia uma Federação Riograndense de Futebol de Mesa, mas, na única vez que participamos de um campeonato estadual, jogamos contra o campeão da capital. Eramos duas entidades a disputar o campeonato de 1965.
ResponderExcluirE nós já estavamos realizando campeonatos organizados desde 1963. Foi decepcionante, sendo que em 1966 realizamos o estadual em Caxias e dessa vez contamos com diversas cidades, pois formulamos convites.
Houve um preço a ser pago e nós fomos quem mais pagamos. E isso foi em geral, no país inteiro. Por isso eu louvo a união de gaúchos e baianos formulando uma regra para unir norte e sul, leste e oeste.
Abração gaúcho/catarinense.
Prezado Senhor Adauto Sambaquy: me chamo Pedro Gilberto Aloise. Sou filho do José Roque Aloise. Fiquei surpreso em saber que na alfaiataria do meu nonno José Angelo Aloise existia uma mesa de futebol de botão. Não lembro de meu pai haver comentado isso. Gostaria de conversar com o senhor a respeito. É possível? Meu email é pedroaloise@hotmail.com. Meu fone 8124-7359. Atenciosamente, Pedro G. Aloise
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