Meus amigos, hoje lhes falarei de
uma modalidade de futebol de mesa que exige uma habilidade imensa e que retrata
o movimento inicial de Geraldo Cardoso Décourt. Trata-se do Botãobol ou Regra Pernambucana,
tratada pelos seus adeptos como a Rainha das Regras.
A regra surgiu, ao que tudo
indica, nos idos de 1940, à Rua Barão de São Borja, no bairro Boa Vista, na
residência de Aldiro Santos, mas se pode dizer, sem sombras de dúvidas, ser o
maior nome do celotex de todos os tempos. Seus primeiros praticantes foram Armando
Francisco, conhecido entre seus amigos como “Cabeça de Ataúde”, Pedrinho
Palmatória, Vilaça, Chico Aborto Barbosa, Mário Sandes, Severino Vieira, René
Cezar, esse oriundo do bairro São José, onde se jogava o celotex na regra
chamada de “pingue-pongue”.
Com a mudança de residência de
Aldiro Santos, passaram a jogar em sua nova residência, à Rua Montevidéu,
também na Boa Vista. Passou a ser jogada também na Rua da Glória, naquele
bairro, na residência dos familiares de Severino Vieira, já nos anos 50.
Nova safra de botonistas surge:
Gilvan Carvalho, Humberto Simons, Clóvis Sandes, Fernando “Gordo da Pipoca”,
Adão Pinheiro que, juntamente, com os decanos, passaram a difundir a regra em
outros bairros de Recife.
Destaque maior foi para o bairro
de Estância onde pontificavam nomes como o de Lula Pesão, Hemetério, seu irmão
mais novo, Paulo Felinto Gouveia de Albuquerque, o mais fanático praticante do
celotex de Recife, seus primos Murilo, Aldênio e Rominho que praticavam a regra
“leva-leva”.
Somente no início dos anos 60,
com a união de vários grupos de botonistas foi adotada definitivamente a Regra
da Boa Vista, a famosa regra da bola de borracha, da tabelinha.
Destaque para os botonistas
Valdir Santa Clara, Valterlys, os irmãos Abdon e Abiud e a nova safra: Ribamar,
Marcos Securinha, Tuca, Silvio Romero, Adilson, Paulinho, Nadilson, entre
outros. Muitos desses botonistas se espalharam, sendo que alguns já fizeram a
grande viagem e outros deixaram de jogar. Mas os que continuaram levaram a
sério a prática do celotex e procuram fazer com que as novas gerações perpetuem
o futebol de mesa, nome pelo qual vai ficando conhecido.
Foi de propósito de que se deixou
de citar Armando Francisco, o “Armandinho”, filho de um dos pioneiros do
celotex e que deu uma dinâmica maior ao esporte, mesmo utilizando outra regra,
fazendo com que o jogo de botões conseguisse mais e mais adeptos. Graças à
atuação desse maravilhoso botonista, a Regra da Boa Vista foi levada para as
dependências do Santa Cruz Futebol Clube, onde terá grande expansão.
A Regra da Boa Vista, ou
Pernambucana, ou então Botãobol viveu seu período áureo, no Recife, na década
de 60. Depois, foi uma longa pausa, somente retornando nos anos 90. Seus
adeptos, entretanto, frequentavam os terraços e quintais de alguns amigos,
jogando inúmeras partidas de botão. A volta com força total foi em 1999, já no
Santa Cruz, com a Regra de 12 Toques. Com muito esforço, os amantes do celotex
conseguiram introduzir uma mesa. Depois, tudo ficou mais fácil. Acabaram
engolindo a Regra de 12 toques e criaram a Associação Pernambucana de Futebol
de Mesa, isso em 2002. A partir daí, nunca mais pararam.
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Regra Pernambucana, a garotada reunida para comemorar... |
O Quadro de Competições,
recebidos de seu presidente Abiud Gomes, apresenta, desde o ano 2000, mais de
noventa competições, variando o nome de seus competidores, o que atesta a
paridade que existe entre seus praticantes.
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O Presidente ABIUD na
entrega dos prêmios aos vencedores do Campeonato
Pernambucano de 2012 (Troféu Chico Barbosa) |
Acompanho assiduamente dois Blogs
pernambucanos: “A Marreta” e “Chelsea F. M.”, dos botonistas Abiud Gomes e Hugo
Alexandre. A Marreta foi criada como uma brincadeira que servia de motivação
para os torneios e campeonatos que aconteciam no Bairro da Estância, onde Abiud
morava. As edições datilografadas eram levadas todos os sábados para o local de
jogos, que era na casa de seu irmão Abdon, já falecido, onde havia um campo.
Com a Internet, influenciado pelos seus filhos, aderiu ao blog, que acabou
herdando o nome do informativo. O lema do jornaleco era: a luta eterna pela sobrevivência do celotex.
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Troféu Chico Barbosa
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Em ambos são descritas em
detalhes as partidas da rodada. Acompanhei o último campeonato, iniciado em 2012
e terminado no dia 2 de fevereiro de 2013, que destinaria ao campeão o troféu
CHICO BARBOSA. O mesmo nome de um dos decanos que iniciaram a prática nos anos
40. Rodada a rodada, termina o primeiro turno com a vitória do Chelsea, de Hugo
Alexandre. Classificaram-se os melhores colocados para a disputa da chave ouro
e os demais para a prata. Se vencesse, o Chelsea seria campeão antecipado. Foi
então que surgiu Marcos Antonio Silva, carinhosamente chamado de Marcos Bundão
pelos seus camaradas e com o seu Botafogo foi destruindo os sonhos de todos os
adversários. Venceu de forma invicta a chave Ouro e, com a vantagem do empate,
foi decidir com o Hugo Alexandre o campeonato de 2012.
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Lance da final Botafogo x
Chelsea
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Mário fazendo seu Botafogo
"pegar fogo"
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Lendo a descrição da
partida, tanto na Marreta como no blog do Chelsea, sentimos que deve ter sido
um jogo arrepiante, cujo resultado final 5 x 5 mostra a gana que motivava os
dois adversários. Chegou a estar 5 x 3 para Marcos, mas Hugo Alexandre
conseguiu empatar pouco antes do toque final do relógio. Como o empate
favorecia o Botafogo, o troféu Chico Barbosa descansa em sua galeria. Mas o
detalhe mais importante disso tudo, e que não pode passar despercebido, é que o
campeão recebeu o troféu que homenageava seu pai que o introduziu no futebol de
mesa. Não é necessário dizer que lágrimas correram de muitos olhos.
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Bota Campeão, recebendo o
troféu com o nome de seu pai. Emocionante...
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Olhando e admirando as fotos,
vejo um grupo de pessoas de minha geração, cabeças brancas que jogam e brincam
como se fossem meninotes. Então, temo pela continuidade do Botãobol, pois cada
um de nós tem o seu tempo definido pelo Criador. Dentro de mais alguns anos
serão poucos os que o praticarão. Sugiro aos amigos pernambucanos que carreguem
seus netos, os amigos de seus netos e lhes ensinem esse espetacular esporte, pois só sobreviverá o Botãobol, se for herdado
por uma nova geração. Falo isso com a experiência de ter levado, em 1970, por
ocasião do Primeiro Campeonato Brasileiro realizado em Salvador, três meninos
que na ocasião contavam com 14/15 anos de idade. Quando saímos de Caxias do
Sul, foram eles que deram continuidade ao sonho de uma entidade voltada ao
futebol de mesa e, na atualidade, são os filhos deles que administram e jogam
em Caxias do Sul.
A idéia gerada por Geraldo
Décourt,em 1930, ganhou vida através de muitos meninos, os quais ainda hoje
praticam com o mesmo entusiasmo o seu esporte. Por isso, acredito que não será
difícil encontrar meninos que continuem a sua luta e ajudem na divulgação dessa
regra que exige muito controle e perfeição no manejo da bolinha de borracha.
Até a semana que vem, se Deus
permitir.
Sambaquy
Obrigado, Sambaquy, pela divulgação do botãobol. Espero que a matéria motive os botonistas de outros estados brasileiros a praticarem o botãobol. Temos a APFM, mas a luta pela sobrevivência é insana. Torna-se difícil, hoje, conquistar jovens para a prática do botãobol. A concorrência com os jogos eletrônicos é mais do que desleal. Nossa sala é aberta e todos são bem-vindos. Valeu, amigão. Você é simplesmente demais! Esperamos um dia sua visita. Um forte abração pernambucano e um agradecimento leal e sincero de todos os que fazem a APFM. Felicidades, Gauchão!
ResponderExcluirAbiud,
ExcluirNa terça feira passada tivemos o Torneio Botão Folia, lá no Marcilio Dias/Atlântico Sul. Um professor da Univali, que joga conosco me perguntou se poderiamos colocar uma mesa de um toque. Como é grande a mesa, sugeri que jogassemos o Botãobol, com bolinhas de borracha. Tenho duas traves, dois times e várias bolinhas. Quem sabe possa nascer um núcleo do Botãobol em Santa Catarina?
Abração e vocês merecem o apoio.