Meu
sábado, em plena convalescença por causa da retirada de uma ferida duvidosa de
minha perna esquerda, não poderia iniciar-se de maneira pior. Sendo obrigado a
ficar em repouso, parto para o meu companheiro computador, com a intenção de
colocar as correspondências em dia. Dentre os diversos e-mails, destaca-se um,
da Ana Maria Vasques, a filhinha do meu amigo Raymundo. A raridade de aparições
de correspondências dela para mim me fez voltar os olhos e abri-lo em primeiro
lugar. E o choque trazido pela mensagem encheu-me os olhos de lágrimas. Vou
reproduzi-lo:
Prezado
Sambaquy,
Meu
pai veio a falecer hoje de manhã às 6 horas, após 10 dias de internação por
males de rins, vesícula e quadro de descompensação clínica agravada pelo
diabetes. Quero te dizer que o pai vinha muito recluso e, apesar de sempre
lúcido – até o colocarem ontem em estado de sedação, já não enxergava mais,
então somente ouvia notícias e outras que eram lidas para ele. Divertidos
momentos foi ler o que escreveste sobre ele, foste o amigo “Samba” – como ele
te chamava aqui – que permitiu que sua nova família (esposa, filho e nora)
soubesse um pouco mais de sua antiga vida e do quanto seu bom humor e “tiradas”
vêm de longo tempo.
Pena
que não puderam dar um abraço pessoalmente, mas ele recebeu o teu carinho e
afirmação amiga. Obrigada sempre por isso.
Ana.
Então,
como num passe de mágica, recordei diversas passagens em que estivemos juntos na
cidade de Caxias do Sul. Ao receber a revista editada pela AABB e descobrir que
ele era o diretor do Departamento de Futebol de Mesa. A apresentação que forcei
quando recém admitido no Banco, ao diretor do Departamento de Futebol de Mesa,
dizendo que era praticante e que gostaria de poder frequentá-lo. A sua amizade
imediata. Seu carisma entre os
botonistas caxienses, sempre com piadas prontas, alegrando os ambientes que frequentávamos.
Sua condição de pai, carregando sempre o seu filho Raymundinho para jogar com
os demais meninos que frequentavam o departamento, chefiados pelo Sérgio
Calegari, que organizava e cuidava dos campeonatos infantis. Nas vezes em que
ia buscá-lo em sua casa e, juntos, frequentávamos o Vasco da Gama, o Juventus,
o Guarany, o Noroeste, mostrando aos interessados pelo esporte como era
praticado. Sua organização de campeonatos, com tabelas
pré-moldadas e, os nossos jogos, os quais sempre foram clássicos, que se
iniciaram em 1963 e continuaram até 1972. Foram 52 partidas que representam
2.600 minutos que estivemos frente a frente, sem contar quando tínhamos de
apitar um a partida do outro. Enfim, estivemos muito tempo de nossas vidas
juntos, praticando o esporte que amávamos.
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Raymundo atuando como árbitro em confronto entre Sambaquy e Fabião |
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O Clássico Eterno (Vitoriense X G E Flamengo) |
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Torneio Inauguração da sede da Juventus - Vasques foi presença garantida |
Mas,
o Vasques ainda praticava o futsal. E nos diversos torneios promovidos pela
AABB, lá estava ele, dando seus chutinhos e por vezes marcando gols,
principalmente se o goleiro adversário fosse o Calegari. Então, na semana
seguinte, a gozação corria solta na agência.
Em
1973 vim transferido para Santa Catarina e, algum tempo depois, o Vasques
também alçou voo rumo a Curitiba. De lá, telefonou-me dizendo que viria até
Brusque, trazendo o temível Vitoriense para dar uma surra no meu G. E.
Flamengo. Infelizmente, nunca apareceu por aqui e só voltei a ter notícias dele,
quando essa coluna o mencionou e a Ana procurou o meu endereço com o meu filhão
Daniel Maciel.
Chegamos
a conversar por telefone, mas, infelizmente não consegui me encontrar com ele
pessoalmente, deixando para que nosso encontro seja no plano espiritual, onde
todos deverão aportar algum dia.
Meu
querido amigo, hoje, iniciaste uma nova viagem. Que sejas bem recebido por
todos aqueles botonistas que te precederam. Que, ao encontrares, trate logo de
ir formando um clube de Futebol de Mesa, pois quando eu for, levarei o meu time
para aquela revanche prometida quando ainda estava em Curitiba.
Vá
em paz e que o Nosso Pai Celestial te acolha com o carinho que mereces.
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Montagem feita por Ana Vasques (filha de Raymundo) |
Saudades
serão eternas.
Até
a semana que vem, se Deus permitir.
Sambaquy
Sambaquy, novamente nos surpreendeste com mais esta bela homenagem ao meu pai. Muito obrigada querido e sinto muito esta notícia ter chego num momento já tão difícil para ti. Estimo uma breve melhora, és uma pessoa tão sensível e especial imprescindível para trazer à memória histórias que se perderiam no tempo. Abraços. Ana Vasques
ResponderExcluirAninha,
ExcluirSeu pai foi uma pessoa muito querida por todos os participantes da nossa Associação. Os mais antigos o conheceram e com ele conviveram e poderão me ajudar com essas homenagens. Mas o nome dele é respeitado pelos mais novos, pois trata-se de um fundador que muito fez pelo futebol de mesa e seu nome está na história desse esporte, marcado com letras maíusculas. Quanto a mim, me recupero logo, não se preocupe. Abraço.
Meu caro Sambaquy. Infelizmente, essas notícias virão com mais frequência, devido ao peso dos anos. É triste,ver a partida de um amigão que nos proporcionou tantas alegrias. É o ciclo da vida que vai se fechando, causando essa dor, mas que nos conforta pois sabemos que nos encontraremos na vida eterna e, então, a festa vai rolar sempre e fica a certeza que vai ser no futebol de botão.
ResponderExcluirSem mais palavras, amigão, espero que possamos nos encontrar ainda nesse plano e que recuperes logo dessa indesejável e incômoda ferida. Desejo-lhe tudo de bom. Abração pernambucano. Abiud
Meu caro Abiud,
ExcluirTens razão nessa perda constante de pessoas que, pelo futebol de mesa, ficaram ligadas em nossa vida. Esse ano parece que está dificil, pois as perdas estão se multiplicando. Dois grandes amigos só nesse mês. Dia 3 e dia 20. Infelizmente é o caminho natural que devemos percorrer, dia após dia. Antigamente eu brincava com um tio que abria o jornal na parte de necrológio. Agora quem faz isso sou eu. E, as surpresas sempre acontecem. A ferida foi retirada, mas a região é cheia de veias e com sete pontos tenho de ter cuidados ao caminhar, pois algum vaso pode romper-se e o sangue voltar a jorrar. Mas, depois de cinco dias, hoje pude ir ao restaurante com a minha esposa para almoçar. É sinal que estou melhorando. Um abração e eu também espero encontrá-lo nesse plano.