segunda-feira, 10 de novembro de 2014

TUDO TEM INÍCIO, MEIO E FIM

Em 16 de agosto de 2010, motivado pelo meu filhão Daniel Maciel, começaram a ser publicadas, no blog da AFM Caxias do Sul, as colunas escritas por mim, contando histórias sobre o início da Regra Brasileira. Junto com essas histórias, homenageei vários botonistas de diversas épocas. Tudo isso foi feito no sentido de ajudar o blog a se manter no ar. No entanto, há longo tempo o blog deixou de ser municiado, e a única modificação semanal é essa modesta coluna. Por essa razão e movido por uma meta, que no princípio julguei nunca atingir, encerrarei os meus escritos com essa 300ª coluna. Explico que esta é 218ª enviada ao blog da AFM Caxias do Sul que, somada às 40 que escrevi para o Futmesa Brasil e as 42 que Gothe Gol publicou, já dão combustível suficiente para a elaboração de um livro sobre o início do futebol de mesa na Regra Brasileira.
Resta agradecer aos que me incentivaram para que isso tudo tivesse êxito. Ao Daniel Maciel, meu filhão adotivo, que me convidou e incentivou para que eu escrevesse sobre o início do movimento em Caxias do Sul. Acreditei que escreveria umas cinco ou, talvez, dez colunas e acabaria por aí. Errei redondamente. Já se vão 218 semanas amadurecendo um assunto para apresentar a quem me honra com a leitura. Ao Rogério Prezzi, meu querido afilhado, pelo trabalho semanal de publicar a coluna e escolher as fotos para ilustrá-la. Aliado, também, ao fato de carregar um peso sobre um trauma de sua infância, pois seu primeiro aniversário não teve festa, pois o Nelson, Sirlei e Sheila estavam em Brusque participando de um torneio de futebol de mesa, junto com as famílias de Airton Dalla Rosa e Luiz Ernesto Pizzamiglio. O convite para eles estarem em Santa Catarina foi meu, o principal responsável pela falta da festa esse querido afilhado. Agradecer imensamente a minha prima Janete Gheller, pela prestimosidade em revisar meus textos, trabalhando com as palavras, deixando-os compreensíveis aos leitores. Uma excelente professora de Português, que me ensina muito com suas colocações sempre oportunas e sensatas. Um agradecimento especial aos dois leitores mais presentes nas colunas semanais: Luiz Henrique Roza, de Joinville e Abiud Gomes, de Recife. Dois botonistas do passado, atuantes no presente com muita desenvoltura e eficácia. Roza é um aglutinador, praticante de diversas regras e, apesar de residir em Joinville, desloca-se até Curitiba, pois é associado da AFUMTIBA para a prática da Regra Brasileira; e Abiud, que é o trator que impulsiona a Regra Pernambucana. Dois baluartes que, tenho certeza, sentirão falta dos meus humildes escritos. E a todos os amigos que me prestigiaram durante esses mais de quatro anos na tentativa de historiar o nosso esporte, uns através de mensagens, outros por telefonemas ou pessoalmente. Sou grato a todos e os guardo em meu coração.
Nunca foi tarefa fácil, mesmo por que sou apenas um esforçado narrador de coisas acontecidas. Nunca tive a pretensão de ser escritor, pois me faltam condições intelectuais para isso. Sou apenas um esforçado contador de histórias.
Agradeço a todas as manifestações que recebi nesse período em que estive presente entre vocês, escrevendo, recordando, desnudando verdades que estavam deturpadas, mostrando o lado criativo de quem se propôs a criar a Regra Brasileira, unindo brasileiros de todos os quadrantes do país. Acredito que ficou claro para todos que o intuito da criação dessa Regra era atingir o movimento atual, em que encontramos uma integração nacional em torno de uma maneira de praticar o futebol de mesa. Por essa razão eu me considero um homem feliz, pois foi um sonho acalentado e perseguido tenazmente, que conseguiu êxito e se tornou uma realidade palpável. Há outros moimentos, mas o que reúne mais pessoas em campeonatos brasileiros é realmente o nosso, o da nossa querida Regra Brasileira.
Não digo adeus, pois são cinco letras que choram num soluço de dor. Digo até breve, pois continuarei sempre à disposição de todos os amigos botonistas brasileiros.

Até breve, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

NÃO SOLICITARAM, MAS VOU DAR MINHA OPINIÃO...

Há algumas colunas, fiz uma pergunta: Quem será o presidente no cinquentenário da Caxias do Sul, que deverá ser comemorado em junho de 2015? Ninguém se manifestou, respondendo.
Como eu não vivo o dia a dia da AFM, mas fui o fundador do movimento em 1965, seu primeiro presidente e, em 14 de dezembro de 2006, emitiram um diploma de Sócio Honorário em meu nome, atrevo-me a sugerir aos demais membros dessa Associação um nome para ocupar esse cargo tão valioso para todos nós.

Será, em minha opinião, uma questão de reconhecimento pelo muito que foi feito pelo nosso esporte e principalmente por Caxias do Sul, pois se trata de um botonista reconhecido em todos os quadrantes da nação brasileira. Iniciou-se em nossas mesas em 28 de maio de 1973 e nunca mais parou de contribuir e motivar os demais botonistas, com sua simpatia, seu dinamismo, seu talento e sua amizade sempre presente.
Falo do Deca Campeão Caxiense, falo da figura exemplar desse abnegado botonista que representou não só nossa cidade, mas nosso estado em diversas competições nacionais. Falo do companheiro de primeiras lutas, na divulgação da Regra Brasileira pelo interior do Rio Grande do Sul, daquele amigo que esteve comigo em diversas cidades gaúchas, como Cachoeira do Sul, Canguçú, Pelotas, Porto Alegre, que peregrinou com as cores caxienses no Rio de Janeiro, Vitória, Brusque, Salvador, Recife, Maceió, que conseguiu o título de Campeão do Torneio Inter 70 anos, conseguindo o primeiro troféu importante para a galeria de conquistas.
Falo de Luiz Ernesto Pizzamiglio, o mais antigo botonista em atividade na AFM, uma vez que o nosso querido amigo e fundador Marcos Antônio Zeni está afastado das atividades esportivas.
PizzaPai ao lado da Pizza Mãe
Anos 70
Seria o representante daqueles idealistas que, em junho de 1965, criaram a Liga Caxiense de Futebol de Mesa. Representaria a Adauto Celso Sambaquy, Saul Henrique Vanelli, Antônio Oliveira, Delesson Orengo, Raymundo Antônio Rotta Vasques, Sérgio Calegari, Vanderlei Duarte e Marcos Antônio Zeni, numa ocasião tão especial e tão festiva, qual seja a comemoração do cinquentenário da agremiação.
Tenho certeza de que todos os demais associados o ajudarão nessa tarefa difícil e engrandecedora de dirigir essa entidade, a qual tem trazido tantas glórias para a terra caxiense. Além disso, que grande homenagem a esse baluarte que formou gerações de botonistas, o qual no período difícil esteve, junto com Vanderlei Duarte, segurando as pontas, evitando que as portas fossem fechadas e o futebol de mesa deixasse de existir na cidade.
Foi ele, com Airton Dalla Rosa, que ajudou a erguer o futebol de mesa em Brusque (SC), participando de torneios e campeonatos, ensinando e motivando os catarinenses na prática do futebol de botões. Seu nome está gravado no coração de muitos catarinenses, que não cansam de agradecer suas lições memoráveis e pacientes.
Meus amigos, sem ter consultado esse grande personagem da história do futebol de mesa de Caxias, lanço seu nome para a presidência de nossa Associação de Futebol de Mesa de Caxias do Sul.
Tenho certeza de que o querido deca campeão caxiense será um nome inesquecível na história de nosso esporte, na história de nossa Associação e na história do esporte de nossa cidade.
Merece essa honra e espero que aceite, pois serei o primeiro a lhe abraçar nas festividades do cinquentenário e com ele jogar uma partida, recordando o nosso tempo de juventude, quando conseguimos implantar a Regra Brasileira em todo o Rio Grande do Sul.

Luiz Ernesto Pizzamiglio – o Presidente do Cinquentenário.


Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

ARBITRAGEM NO FUTEBOL DE MESA.

Jogar futebol de mesa é o que todo botonista deseja ardentemente. Agora, ser escalado para arbitrar uma partida é coisa para pensar. São poucos os que se dispõem a apitar um jogo, principalmente se esse jogo for daqueles encardidos, com dois expoentes lutando por um caneco.
Trato deste assunto depois de ler a crônica escrita pelo Flávio Liza, na qual aborda o conhecimento da Regra por todos os botonistas. Uma das contestações foi feita pelo Augusto, afirmando que nunca leu a regra, mas que seus jogos jamais são complicados e sempre há paz ao final de suas partidas.
Penso diferente dele, pois o posicionamento do árbitro em um jogo pode determinar um final feliz ou criar uma grande confusão que acaba envolvendo muita gente.
Apitei a final do segundo campeonato brasileiro, realizada em Recife, entre Roberto Dartanhã e Cézar Aureliano Zama. Uma partida excepcional, onde não havia senões e nem erros, pois foi decidida por uma infelicidade do Cezar Zama, numa jogada fácil, mas que por um problema qualquer o seu botão travou e não atingiu a bolinha. Dartanhã não perdoou e marcou o único gol do jogo.
Nesse mesmo campeonato tive contra mim uma falta técnica aplicada por um árbitro nordestino, simplesmente por ter errado uma jogada e ter reclamado de mim mesmo sem, contudo me dirigir ao meu adversário. Aquilo me incomodou bastante.
A minha parada com o futebol de mesa, já relatada em coluna anterior, foi devido a um jogo pelo Campeonato Brasileiro realizado em 1980, em Pelotas. Jogava contra um grande botonista baiano e estava vencendo por 1 x 0, quando o referido adversário começou a minar minha resistência. Criava a jogada e me preparava para bater, mandando-o colocar seu goleiro. Ele colocava, vinha para a minha direção e olhava meu botão, olhava seu goleiro, voltava para sua posição de defesa e tocava no goleiro novamente. Ia e voltava, fazendo isso diversas vezes. Dizia que estava pronto. Eu colocava a paleta em cima do botão para chutar e ele interrompia afirmando: espera que vou recolocar o goleiro. Fazia tudo novamente. Chegava a ficar mais de um minuto nessa lenga-lenga. Eu olhava para o árbitro que ria da coisa. Chegou um ponto que não aguentei mais e entreguei, literalmente, o jogo. Disse-lhe que estava agindo mal, mas ele estava imbuído em vencer. Conseguiu empatar. Eu acabei me desequilibrando e perdendo a calma. As coisas foram piorando e não dando certo e eu acabei fazendo uma porção de bobagens: dois toques, gol contra. Para mim terminou a minha participação de forma competitiva em campeonatos brasileiros, naquele jogo.
Após o ocorrido, eu parei de jogar campeonatos brasileiros. Organizei um em Brusque e depois disso nunca mais joguei. Essa parada durou quase trinta anos. E isso por falta de conhecimento por parte de um árbitro, que tinha a obrigação de alertar meu adversário sobre o tempo que poderia usar para sua jogada. Não o fez, talvez, por nunca ter lido a Regra Brasileira.
Voltei a jogar depois desse episódio, por insistência do pessoal de Caxias, no Centro Sul, realizado na cidade em 2011. Joguei três partidas, perdendo duas e vencendo uma. Depois disso fui inscrito no Brasileiro realizado em Salvador, em 2012, onde consegui jogar duas partidas e perdê-las, tendo entregado o terceiro jogo ao Carlos Alberto, de Recife, por não reunir mais condições físicas para continuar jogando.
Fui escalado para arbitrar um jogo pouco antes desta terceira partida numa sala com um calor tremendo.  Avisei aos dois adversários da minha desatualização da regra e que eles me ajudassem. Graças a Deus não houve problema algum e conseguimos terminar o jogo com tranquilidade. Só que, para quem não está treinado, ficar ao redor de uma mesa, marcando o jogo, deixou-me sem condições para a última partida. Não teria chance nenhuma e procurei o Carlos Alberto e lhe comuniquei a minha decisão, pedindo que me desculpasse pelo abandono.
Realmente arbitrar jogos de futebol de mesa é bem mais desgastante do que jogar. E para que não exista problema, a regra deverá ser conhecida totalmente.
Por essa razão eu apoio o que o Flávio Liza escreveu. Deveremos conhecer a regra para podermos ter certeza de nossas decisões. Com isso, evitaríamos situações desagradáveis como as que ocorreram em campeonatos brasileiros e que, até os dias atuais, são motivo de piadas entre os botonistas.

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

E O SONHO CONTINUA...


Meu afilhado Rogério Prezzi colocou meu nome no Grupo Futebol de Mesa e ao ler a publicação de minha última coluna, deparei com um documentário escrito pelo José Waner, carioca da gema.
A ideia do Waner é a de homenagear as pessoas que fizeram e fazem alguma coisa pelo nosso esporte. Citou meu nome como um dos construtores dessa Regra maravilhosa, que é praticada de norte a sul e de leste a oeste desse nosso país. Para mim, amigo José Waner, sua lembrança de meu nome já se tornou uma grande homenagem, mas saliento que há inúmeras pessoas que merecem ser reconhecidas pelo seu trabalho. Aproveito a sua ideia e ressalto que, em cada região promotora de eventos nacionais, sejam lembrados os nomes daquelas pessoas que muito fizeram pelo futebol de mesa.
Waner - o idealista
Estamos diante de uma promoção maravilhosa que será realizada em Aracajú, Sergipe. E nomes tradicionais dessa parte de nosso país, que escreveram páginas brilhantes em competições nacionais, seriam ideais para figurarem em troféus que serão disputados. Lembro Átila Lisa e José Gomes, ambos já falecidos,os quais valorizariam os troféus em disputa. Sei que devem existir mais alguns grandes botonistas que já não estão entre nós e que poderiam ser homenageados, fazendo com que se eternizassem seus nomes para aqueles felizardos que conseguirem chegar entre os finalistas. Os oito troféus destinados aos premiados poderiam trazer nomes valiosos estampados.
Quando realizamos o terceiro campeonato brasileiro, em 1972, na cidade de Caxias do Sul, o troféu de campeão levou o nome do Prefeito Municipal, o qual colocou a Comissão Municipal de Desportos à nossa disposição, patrocinando todo o custo da competição. O troféu de vice-campeão recebeu o nome do vice-prefeito, o de terceiro lugar o nome do presidente da Câmara de Vereadores e o quarto lugar, o nome da Comissão Municipal de Desportos. Foi uma maneira de agradecer pelo apoio que foi dado ao nosso esporte, pois além de patrocinarem o campeonato, ofereceram aos participantes a alimentação e hospedagem em um hotel da cidade.
Competições a serem realizadas em Recife devem lembrar nomes como o de Ivan Lima, que foi quem levou a Regra Brasileira para lá, Antônio Pinto, que se sagrou campeão brasileiro por equipes em 1971. Em Salvador, há nomes de pais da Regra Brasileira, falecidos, e que devem ser rememorados sempre: Ademar Dias de Carvalho e Nelson Carvalho. Há ainda o nome de José de Souza Pinto, o eterno presidente da então Liga Baiana de Futebol de Mesa.  Homenagear grandes botonistas como Jomar Antônio de Jesus Moura, Orlando Nunes, Webber Seixas, Geraldo Holtz, Próculo Azevedo, Armando Passos, Fernando Contreiras, Kleber Consensa Cabral, os quais, segundo informações recebidas, já cumpriram sua missão neste plano.
No Rio de Janeiro, o próprio Waner recorda do inesquecível Getúlio Reis de Faria que, com João Paulo Mury e Hélio Nogueira, são alguns nomes que poderiam figurar em troféus.
No Rio Grande do Sul, poderíamos criar troféus com o nome de Claudio Schemes, Dirnei Bottino Custódio, Alfredo De Boer, Almir Manfredini, Deodatto Maggi, Lenine Macedo de Souza (pelo pioneirismo), Marcos Lisboa, Valdir Szeckir, Ângelo Slomp, Renato Toni, Antônio Carlos Oliveira (fundador da LCFM), Flávio Chaves, Sylvio Puccinelli, Rubem Bergmann, Enio Chaulet, Vanderlei Duarte, Raymundo Antônio Rotta Vasques, José Domingos Susin, que foram combatentes dos primeiros anos da Regra Brasileira e que já não estão entre nós. Há outros que poderiam também ser lembrados como Domenico Romano (MIMO) que nos deixou há bem poucos dias. Enfim, nomes não faltam para homenagem póstuma, pois procurei não citar nome de campeões que poderiam figurar nessas homenagens.
Claudio Schemes
De Boer
Dirneu Custódio

Seu Domênico - Bazar Mimo
Quase todos os citados fazem parte dos meus adversários nas mesas, mas ainda teria mais nomes para incluir, pois Adelar dos Santos Neves, famoso locutor esportivo caxiense e que administrava o departamento de Futebol de Mesa da Rádio Difusora, Agacir José Eggers, de Curitiba, Agostinho Boing, de Brusque, Aldemiro Ernesto Ulian, de Caxias do Sul, Antônio Maria Della Torre, o grande reativador da Federação Paulista de Futebol de Mesa, Augusto Peletti, de Caxias do Sul, Edgar Panosso, de Caxias do Sul, Edmundo Barbosa, de Curitiba, Edson Appel, de Brusque, Geraldo Cardoso Décourt, de São Paulo, Hamilton Livramento da Silva, de Brusque, Joel do Valle, de Brusque, Luiz Carlos Moritz, de Brusque, Marcio R. Muller, de Brusque, Marcos Antônio Cruz, de Brusque, Pedro Massignani, de Caxias do Sul, Raul Machado Ferraz de Campos, de Giruá, Sérgio Antunes Moreira Neto, de Brasília, Walmir Merísio, de Brusque, todos já faleceram e poderiam ser homenageados, pois foram botonistas que conheci e convivi com muita alegria.
Acredito que a ideia do José Waner é muito oportuna e valiosa, pois seriam enaltecidos os nomes de pessoas que muito fizeram para que a Regra Brasileira chegasse ao ponto atual, onde estamos realizando o 41º Campeonato Brasileiro. Muita água passou por debaixo da ponte e, sem a grande maioria dos citados, não sei se teríamos conseguido realizar essa proeza.
A sugestão fica no ar.

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

HISTÓRIAS DE VIDA

A minha matéria preferida na escola sempre foi História. Mas, eu ficava apenas restrito ao que os livros traziam. Ficava empolgado, mas não procurava enriquecer aquilo que lia, devido à idade, onde o tempo era destinado à diversão, aos jogos de futebol, às festas, aos bailes e ao futebol de botões.
O tempo me ensinou a ser mais minucioso, a não me contentar apenas com a versão daquilo que estava lendo. A grande diferença em minha vida foi a de quando me encantei pela Inconfidência Mineira, pois recebi de um irmão maçom um livro espírita que narrava toda a trama, numa psicografia de Tomás Antônio Gonzaga. Ao ler essa história maravilhosa fui procurar outras obras. Cada acontecimento era abordado por vários autores e cheguei a formar uma história bem diferente daquela que me foi passada nos bancos escolares. Quanta coisa importante foi omitida ou simplesmente modificada ao bel prazer de quem contou a história. Impressionante saber que a delação foi feita por uma escrava, e Joaquim Silvério dos Reis foi apenas um instrumento do Governador das Minas Gerais, para justificar-se diante da Rainha D. Maria I, pois a palavra de um escravo (mesmo que fosse alforriado, valia tanto quanto o latido de um cachorro). Consegui uma visão diferenciada sobre tudo o que se passou naquele movimento libertador, do castigo aos insurretos que jamais puderam retornar ao Brasil e do sacrifício do grande herói José Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes.
Talvez, por essa influência, tenha atendido ao pedido do Daniel Maciel, quando na presidência da AFM Caxias do Sul, para escrever algumas histórias do passado do futebol de mesa, vividos por mim e pelos amigos que comigo lutaram para fazer dele um esporte reconhecido.
Escrevi, até a data de hoje, 213 colunas publicadas no blog da mesma AFM. Contei a minha versão de tudo o que aconteceu naquele tempo, tumultuado por alguns, ajudado por outros, mas sempre num crescente em prol do futebol de mesa como esporte. Acredito que modifiquei pensamentos que duravam desde os anos sessenta, quando era só escutada uma parte da história. A outra teve de ser escrita para mudar ideias errôneas que persistiam.
Obereci Campeão
Ao ler a postagem de José Obereci de Carvalho, colocada no facebook no dia 1º de Outubro, em homenagem ao Dia Internacional do Idoso, não me contive e lhe escrevi um comentário com as seguintes palavras: “Grande Obereci, no mês em que completo 78 anos, uma homenagem dessas é muito bem vinda. Nós, os idosos, devemos ser exemplo aos mais novos. E você tem sido um exemplo a ser seguido pelas suas conquistas primorosas. Parabéns. Continue sempre a lutar pelo futebol de mesa”.
Escrevi pelo grande respeito que tenho, não só pelo Obereci, mas também pelo Foschiera, Enio Seibert, Miguel Orci, Edu Caxias, Domênico Romano (Mimo) e tantos outros que muito têm feito pelo nosso esporte, apesar de saber que jogam em regra diferente da que pratiquei. Mas, para mim são grandes botonistas e pessoas de valor inestimável na história do futebol de mesa brasileiro.
Obereci e Fosca dois ícones brasileiros do futebol de mesa.
No dia 2 de outubro, fui premiado com a resposta postada pelo Obereci. Foi um presente de aniversário que vou guardar para sempre em meu coração, pois, através de suas palavras pude aquilatar o quanto foi importante historiar sobre as lutas do futebol de mesa, deixando bem claro que sempre lutamos, limpamente, no sentido de conseguir ampliar os horizontes botonisticos para fora das fronteiras do nosso amado Rio Grande do Sul.
As palavras do Obereci, que faço questão de dividir com os meus leitores foram estas: “Prezado Adauto Celso Sambaquy. Para mim é uma honra ter como amigo uma lenda viva do Futebol de Mesa. Uma figura marcante na história do nosso esporte. Fui iniciado na Regra Gaúcha, nos anos 60, em Santa Maria, mas com muito poucas informações sobre o Futebol de Mesa, como um todo. Mas talvez pela dificuldade de comunicação na época. Não tínhamos essa maravilha que é a Internet. Depois de formado, em 1970, fiquei praticamente 30 anos sem jogar Futebol de Mesa. Trabalho, filhos, morei onde não jogavam, impediram de praticar. Somente no final dos anos 90, quando voltei para Porto Alegre comecei a jogar novamente Estou dizendo isso para entenderes o que vou comentar. Quando voltei a jogar é que conheci na AFUMEPA a Regra Brasileira (modalidade 1 toque/ disco). No grupo da Regra Gaúcha, onde também jogava, escutava muitas histórias de críticas sobre uma reunião realizada na Bahia em 1967, de traição, etc, etc... que você conhece muito bem. Somente há pouco tempo, através das tuas crônicas conheci a verdadeira história e pude comprová-la na prática. Gostaria de te parabenizar por ter sido um dos responsáveis pela criação de uma Regra Fantástica. A reunião de 1967 foi um grande sucesso! A história comprova isso. Mais de 40 anos de Campeonatos Brasileiros realizados. Parabéns! Você será sempre lembrado com um dos pais dessa Regra excelente”.
Por acaso haverá um presente melhor do que este? Receber estas palavras de uma pessoa que, junto com o Eduardo Machado Fernandes prepara um livro sobre a história da Regra Gaúcha, uma história rica e maravilhosa que abriu as portas para a Regra Brasileira. Sim, pois foi um trabalho conjunto, que tirou o melhor da Gaúcha e da Baiana para que se tivesse uma regra que fosse aceita nacionalmente. E este anteprojeto foi apresentado a todos os participantes do Campeonato Estadual, realizado em Caxias do Sul, em 1966, pelo próprio Presidente da Federação Riograndense de Futebol de Mesa, Gilberto Ghizi. E, por todos aprovado, sem restrições. E lá estavam Paulo Borges, Sérgio Duro, Claudio Saraiva e tantos outros membros participantes da Federação Riograndense. Talvez, pelas grandes dificuldades que havia, na época, julgassem que ficaria apenas na troca de correspondências entre os interessados. Mas, não ficou só nisso, pois o Ghizi e eu embarcamos e atravessamos o país na esperança de realizarmos um sonho que hoje é realidade.
Com a Regra na mão, a realidade se tornou traição e fomos enxovalhados pelas mesmas pessoas que, dias antes, no Seminário Diocesano de Caxias do Sul, haviam aprovado a ideia da criação de uma Regra que possibilitasse a realização de Campeonatos Brasileiros. Persistimos e vencemos, e a Regra está forte, com aprovação de inúmeros estados da nação, juntando a cada campeonato centenas de botonistas de todos os recantos do país.
Obrigado meu amigo Obereci por esse reconhecimento. Foi maravilhoso ler suas palavras e sentir que estivemos certos em perseguir um sonho que não era só meu, mas de todos os botonistas desse nosso país.

Muito feliz com tudo isso, até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

VAMOS INCENTIVAR A JUVENTUDE A PRATICAR O FUTEBOL DE MESA

Vamos abordar na coluna desta semana, um assunto que eu reputo da maior importância, pois dele resultará a continuidade de nosso esporte. Quantas entidades estão patrocinando campeonatos entre os jovens que poderiam estar entre nós, jogando e aprendendo a amar o futebol de mesa? Acredito que são muito poucas as associações que têm esse interesse, mesmo sabendo que se não houver renovação nosso esporte poderá acabar!
No dia 9 de junho de 2015, a AFM Caxias do Sul, nascida como Liga Caxiense, estará completando seu cinquentenário. Cinquenta anos de muitas lutas em prol do esporte dos botões. No início, a preocupação com a juventude foi determinante para essa longevidade. Os campeonatos eram realizados nas categorias: adulto, juvenil e infantil. Adotamos a garotada que praticava o futebol de mesa nas dependências do Recreio Guarany. Todos jovens, na faixa dos 12 a 15 anos de idade. E patrocinávamos os campeonatos, cuidando, orientando e entregando troféus a esses meninos que foram crescendo sob a nossa tutela. Ao atingirem 18 anos, eram incorporados ao grupo de adultos e seguiram a luta iniciada no início dos anos sessenta. Muita coisa aconteceu nesse período e até casamento se realizou, graças ao futebol de mesa. Acompanhamos tudo isso de perto. No Recreio Guarany, uma garotada fabulosa se reúnia e passava horas jogando. Foi lá que o Nelsinho Prezzi conheceu a irmã do Airton Dala Rosa. Aliado ao desejo de fazer seu Penharol um ganhador, havia o interesse em flertar com a Sirlei, que acompanhava os jogos somente quando o Nelsinho estava em atividade. E isso acabou em um casamento feliz e que nos propiciou dois excelentes botonistas, que hoje ajudam a vida de nossa entidade. Vimos meninos se transformarem em homens, assumirem seus compromissos e constituírem famílias. E essas famílias nos entregaram uma geração de campeões, liderados pelo Daniel Pizzamiglio, com acompanhamento do Rogério Prezzi e Alexandre Prezzi, estes frutos da união do Nelson com a Sirlei.
Almir / Angelo / Nelson em cima no Guarany; embaixo no Recreio da Juventude
Airton e Nelson amigos e cunhados
No Recreio da Juventude filhos dos sócios mantinham a paixão de seus pais em uma mesa especialmente criada para eles
A AFM Caxias teve, nas pessoas do professor Ednei Torresini e Enio Durante, dois impulsionadores da ala jovem. Foi um trabalho maravilhoso e competente que nos concedeu a honra de trazer para Caxias do Sul o título de Campeão Brasileiro na categoria juvenil. Enio acabou transferindo-se para a AABB e levando consigo uma quantidade de jovens que conseguiram grandes feitos àquela entidade, que reúne os bancários do Banco do Brasil. Continuam conosco o Gustavo Lima e o Hemerson Leite. São os filhos adotivos de todos os botonistas caxienses. Já disputam os campeonatos caxienses com os adultos.
1º Grupo do Departamento Jovem da  AFM Caxias
2º Grupo do Departamento Jovem da  AFM Caxias

Por ocasião do 29º Centro Sul Brasileiro, realizado em Caxias, entre os dias 24 e 25 de junho de 2011, quando fui homenageado com um lindo troféu de reconhecimento pela AFM, FGFM e CBFM, usando da palavra salientei que o futuro do nosso esporte residia nos jovens. Chamei para junto de mim o querido Gustavo Lima (Pica Pau) e disse para aquela plateia de botonistas que, quando iniciamos, eles todos eram semelhantes ao Pica Pau. Se não houvesse o interesse em divulgar nosso esporte, muitos nem teriam tomado conhecimento deste esporte que tanto amamos. Portanto, incentivem os jovens para que o futebol de mesa continue sendo o esporte de todos nós.
Sambaquy e Pica-Pau no Centro Sul de Caxias do Sul
Pergunto a todos os meus leitores: - Qual a entidade que se preocupa em realizar um campeonato só para juvenis ou infantis? Sem adultos estarem jogando ao mesmo tempo. Só a meninada jogando, correndo atrás de troféus, sendo fotografados, aparecendo em reportagens de jornais e televisão? Nenhuma, respondo com convicção. Fazem campeonatos paralelos e se preocupam muito pouco em levar jovens para jogar.
Desde o início de nossa caminhada, como entidade esportiva, demos atenção especial aos jovens. O primeiro campeonato brasileiro à representação gaúcha tinha três meninos de 14 a 15 anos de idade. Graças a isso sempre tivemos esses meninos trabalhando conosco o tempo todo.
Faço uma sugestão aos dirigentes da Federação Gaúcha, meus queridos amigos Silvio e Daniel: Organizem e promovam um campeonato gaúcho para juvenis e infantis. Um campeonato só para eles, com juízes adultos participando e ajudando a criar novas lideranças. Obriguem as entidades a enviarem pelo menos três botonistas para participarem desses campeonatos e verão os resultados futuros. Eu me lembro dos meninos do Círculo Militar que tanto sucesso fizeram. Eu me lembro dos meninos de Caxias que conseguiram escrever o nome da entidade no rol dos grandes campeões brasileiros. O futuro está nas mãos deles. Façam isso e colherão os frutos saborosos em seu devido tempo. A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória. Se não semearem agora, nada colherão no futuro.
Gostaria de poder falar isso aos meus amigos pernambucanos que praticam o Botãobol à Regra Pernambucana. Trata-se de um grupo de botonistas valiosíssimos, praticantes de uma modalidade difícil e de uma beleza invulgar, mas que é constituída por pessoas da minha geração. Aos poucos, alguns vão desistindo e temo que essa modalidade tão difícil acabe desaparecendo, o que seria uma lástima terrível. Já manifestei ao meu amigo Abiud Gomes essa preocupação. Sei bem que ele pensa como eu. Será uma lástima ver desaparecer uma das modalidades mais difíceis na prática do futebol de mesa. Uma sugestão que apresento ao Abiud: que cada botonista da Regra Pernambucana (a Rainha das Regras) adote uma criança e leve para jogar. Organize um campeonato, para que eles possam sentir a alegria de vocês e seguirem seus passos doravante. Cada botonista terá o compromisso de conseguir apenas um para esta missão. Acredito que não será difícil. Um neto, um amigo de neto, um vizinho, o filho de um conhecido, alguém que possa gostar do futebol de mesa e seguir o trabalho lindo que vocês têm feito. Um pouco de esforço dará resultado e vocês terão a alegria de ver os frutos daquilo que amam se tornar palpável.
O futebol de mesa tem a obrigação de se perpetuar na vida dos brasileiros, e nós somos os responsáveis para que isso possa acontecer. Pensem nisso com carinho.

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

POR QUE EU GOSTO TANTO DO FUTMESA

Conheci o futebol de botões quando estava com onze anos de idade. A apresentação foi na residência de meu colega de escola, Marco Antônio Barão Vianna. Era um torneio entre o pessoal que estudava na Escola Normal Duque de Caxias. Marco Antônio jogava com um time pequeno de São Paulo. Não lembro se era Comercial ou Ypiranga, mas as suas cores eram branco e preto. Ele possuía uma caixa com um grande distintivo desenhado. Ao mostrar seus botões, enfatizava seus titulares elogiando o seu potencial em detrimento de alguns que eram considerados reservas. Conseguiu me contagiar com o seu costumeiro entusiasmo.

Era meu colega de carteira. Como tinha um pouco de dificuldade em responder perguntas rapidamente, devido a uma gagueira que o atormentava, solicitava que eu respondesse a chamada em seu lugar. Como o meu nome era sempre o primeiro e ele estava no meio da lista, não havia problema algum. Era um grande amigo. Ensinou a lixar os botões e dava conselhos sobre como jogar.
Meus primeiros craques foram surrupiados dos paletós e sobretudos de meu avô.  E comigo, o pessoal da minha rua passou a jogar botão. A mesa mais perfeita estava na casa do Renato Toni, onde, com seu irmão Reni, passávamos tardes e parte da noite jogando. O Renato foi o meu primeiro parceiro no futebol de mesa. Sabia lixar os botões e preparava goleiros de madeira, semelhantes aos atuais da Regra Brasileira. Só que os que ele confeccionava tinham a rebarba para encaixar as bolinhas. Como ele morava na frente de uma oficina de reparos e pintura de carros, aproveitava para pintar os goleiros, deixando-os muito bem acabados.
Como os nossos campeonatos nunca terminavam, resolvemos, aos domingos, excursionar pelos bairros, jogando contra outros botonistas que conhecíamos. No bairro de Lourdes, jogávamos contra a turma do Puccinelli; perto do campo do Juventude, na casa do Rui Pratavieira; em São Pelegrino, visitávamos o Vanderlei Prado. Todos eles tinham boas mesas. Ainda, sempre que podia, visitávamos o José Roque Aloisie, cujo pai era alfaiate e morava na frente da Livraria Saldanha, jogando na mesa que ele usava para cortar os ternos de seus clientes.
Um dia, sem explicação, rompemos a amizade. Até hoje não sei o que houve e depois de tanto tempo, já não faz diferença. Ficamos sem jogar por um tempo. Foi aí que apareceu o Vasco Balen, que ofereceu uma sala num prédio de seu pai. A sala estava desocupada e nós levamos nossa mesa para lá. Jogavam conosco o Mansueto Serafini Filho, Sérgio Gobetti, Ítalo Bazzo, Lyon Kunz, Luiz Felipe Kunz Neto, Vilson Tomazi e aparecia por lá, para assistir  aos jogos, um garotinho chamado Marcos Fúlvio de Lucena Barbosa. Durou pouco a nossa alegria, pois o pai do Vasco descobriu que estávamos usando a sala e nos expulsou de lá.
Já havia aparecido em nosso meio os botões puxadores. Cada um de nós procurava munir-se de dinheiro para comprar todo o craque que aparecia. Eu já tinha meu time montadinho e fiquei triste, pois não tínhamos mais um lugar para jogar. As brincadeiras mudaram e os botões ficaram um pouco de lado.
Foi então que conheci o Enio Chaulet. Grande jogador de botão e que possuía uma mesa maravilhosa, idêntica à mesa utilizada na Regra Brasileira. Para montá-la, necessitavam de dois botonistas forçudos. Eu era um deles, pois estava sempre na casa do Enio. Ele morava na frente da Caixa Econômica Federal; na parte de cima de um Café Bilhar famoso de Caxias. O pai do Enio era dentista e na frente de seu consultório havia uma enorme sala, onde colocávamos a mesa e passávamos dias inteiros jogando.
Meu pai, por essa época, havia comprado uma casa no Bairro Pio X. Estava agora morando longe do centro, sem a possibilidade de frequentar os locais onde jogava frequentemente. No Bairro Pio X, encontrei um rapaz, cuja mãe era doceira com especialidade em fazer cocadas. Com isso as cascas de coco eram aproveitadas por ele, que fazia excelentes botões. Comprei um time inteiro dele. E, esse time foi ornamentado com uma fotografia do Vasco da Gama, pois recortava os rostos dos jogadores e colava em cima dos botões. Aquilo era uma novidade entre os botonistas da época. Meus botões eram reconhecidos pelos meus adversários. Ainda lembro a escalação: Barbosa, Augusto e Wilson, Eli, Danilo e Jorge, Friaça, Maneca, Ademir, Ipojucan e Chico. Foi nessa época que comecei a jogar com os colegas de ginásio: Marcos Lisboa, Roberto Grazziotin, Delesson Orengo, Giovanni Zanetto.  O Marcos Lisboa era um excelente fabricante de botões, pois tinha um torno mecânico e com ele fazia maravilhas. Transformava um botão sem valor em uma peça rara, super cobiçada por diversos botonistas. O Delesson era um perfeccionista e tinha uma variedade imensa de botões. Foi uma das únicas pessoas que possuía um time do São Cristóvão, do Rio de Janeiro.
Em todo esse tempo, dos onze aos dezessete anos, jamais organizamos um campeonato com tabelas, com súmulas, com troféus. Nem mesmo anotávamos nossos jogos, o que foi uma lástima, pois deixei de registrar uma parte importante de minha vida e que deu origem ao que sou hoje. Com dezoito anos, passando pelo quartel, namorando, noivando e casando, o futebol de mesa ficou guardado em caixas. Mesmo assim, sempre que havia oportunidade, eu jogava sozinho em casa, pois havia conseguido uma mesa emprestada e que pertencia a um primo de minha ex-esposa. Nos primeiros anos de casado, eu trabalhava na Indústria Metalúrgica Gazola. Como jogava futebol, fiz muitas amizades e entre elas com o Adão, ponteiro direito da empresa, que era torneiro mecânico de alto valor. Encontrei uma placa de acrílico de cor amarela. Conversei com o Adão e ele pediu que eu lhe mostrasse um botão. Levei um atacante e entreguei ao Adão. Com ele, riscou o acrílico e cortou em quadrados e fez vários botões todos idênticos. Fiquei com um bom estoque de atacantes, mas faltavam botões de defesa. Fui trocando com antigos botonistas e consegui quase fechar um time de alto gabarito. Faltava um centro avante matador. E esse veio, pois ganhei de presente de um colega do curso de Contabilidade. Raul Stalivieiri me deu um centro avante preto que foi batizado de Victor e foi goleador nos meus dos campeonatos na AABB.
Já nessa ocasião eu trabalhava como contador na empresa Claumann & Cia. Ltda. Foi nessa empresa que conheci o Vanderlei Duarte, pois escutei uma conversa dele no balcão, falando sobre futebol de mesa. Saí do meu escritório e fui participar da conversa, pois acendeu uma luzinha em minha cabeça. Combinamos realizar algumas partidas, pois jogávamos na Faculdade de Ciências Econômicas. Alguns dias depois, Vanderlei disse que tinha uma surpresa para mim.  Entregou-me um goleiro todo em listras amarelas e azuis que havia sido meu, no tempo em que jogava na casa do Enio Chaulet. Pensei comigo: - Por onde andou esse goleiro, nesses anos todos. Foi incorporado ao time, que agora não era mais Vasco da Gama e sim Grêmio Esportivo Flamengo, atual SER Caxias do Sul.
Foi então que fui aprovado no Concurso do Banco do Brasil. E para a minha alegria, encontro um Departamento de Futebol de Mesa. Foi demais. A partir do momento em que me apresentei ao diretor do Departamento, Raymundo Antônio Rotta Vasques, senti-me com onze anos de idade. Já tinham se passado quatorze anos desde a apresentação ao futebol de mesa e somente agora eu começaria a jogar para valer. Joguei o meu primeiro campeonato com uma gana, com um desejo de ser campeão que, confesso, foi algo emocionante quando venci a última partida, derrotando o meu amigo Paulo Luís Duarte Fabião. Foi o meu primeiro troféu e, talvez, o mais emocionante de todos que já ganhei.
Primeiros troféus - recebidos a 51 anos
Por essa razão eu gosto tanto do futebol de mesa. Por ele trabalhei para completar o meu sonho que foi crescendo com o tempo. Acredito que se voltasse no tempo, faria tudo isso novamente, com uma única diferença. Jamais venderia botão algum, pois hoje tenho saudade daqueles puxadores que me deram tantas alegrias, dos goleiros que passaram pelas minhas mãos, dos diversos times que doei e com os quais tinha conseguido glórias. Fui campeão caxiense em 1969, com um time de paladon branco e não tenho mais esse time, fui bi- campeão da AABB com um time de puxadores especiais e vendi esse time. Guardo ainda o time com o qual fui campeão Olímpico Bancário de Caxias do Sul, o time que me deu três campeonatos em Brusque. Mas, acredito que a saudade também deve fazer parte de nossa história e, com toda a certeza, esses botões que saíram de minhas mãos deram alegrias a quem os possui na atualidade.
Um dia, espero ainda fazer e organizar um museu de botões. Em minhas mãos está o primeiro time que veio para o Rio Grande do Sul, fabricado na Bahia, em 1966. Tenho um time que pertenceu ao Geraldo Décourt, o criador da regra de futebol celotex, em 1930; possuo times da Regra Pernambucana, Regra Fogo Tebei, Rega Unificada, Regra Gaúcha, Regra de Doze Toques, Regra de Três Toques, Botões de vidrilhas, Botões de plástico, enfim, algo que será muito interessante e que quase foi parar no Museu que a Federação Paulista estava organizando em 2000, através de seu presidente Antônio Maria Della Torre. Nesse ano, mais precisamente em 27 de setembro de 2000, o coração desse amigo deixou de funcionar e o futebol de mesa perdeu um grande impulsionador.
Primeira foto em um campeonato oficial disputado
Primeira foto em um  Brasileiro

Mas, os sonhos continuam e estão sendo realizados. Cada um no seu tempo.