segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

MENSAGEM DE FINAL DE ANO

Estamos chegando às últimas horas deste ano de 2013. Foi um ano bastante difícil de ser digerido. No futebol de mesa, as realizações foram bastante envolventes e a atuação do caxiense Daniel Maciel, à frente da Federação Gaúcha de Futebol de Mesa, determinou um ano proveitoso e feliz. Mostrou a sua capacidade e dinamismo na função. Desejamos que o Silvio Silveira continue esse trabalho grandioso, que é o de comandar o nosso esporte em âmbito regional.

Os campeonatos de associações findaram, com surpresas como a verificada em Caxias, onde o colorado Carraro deixou escapar, nas últimas rodadas, a honra de figurar entre os destacados campeões municipais. Coube ao fantástico Robson Bauer somar mais um campeonato em seu curriculum botonístico.
Um fato relevante foi o Gustavo Lima (o nosso Pica Pau) ter sucumbido e caído para a segunda divisão. Ele que já mostrou ao Brasil inteiro a sua força vencedora, fará companhia ao seu fiel escudeiro Hemerson e ao meu afilhado Rogério, disputando o segundo campeonato mais importante da AFM.
A cada ano podemos observar o crescimento do desempenho gaúcho na modalidade liso. Já estamos vencendo campeonatos e deixando os amigos nordestinos falando sozinhos. Ainda falta uma estabilidade maior, mas já estamos chegando ao nível deles.
Para mim, foi um ano frustrante no futebol de mesa. Consegui jogar 22 partidas, todas na Regra de 12 Toques, em Itajaí. Cinco jogos em janeiro, seis em fevereiro e nove em junho com um razoável aproveitamento. Depois de junho, nem ao menos consigo tempo para limpar os botões. Meus compromissos estão me abafando e impedindo de me dedicar ao futebol de mesa como desejaria.
Mas, não adianta ficar chorando diante do leite derramado. O negócio é limpar tudo e procurar modificar nossa vida para enfrentar o ano que se inicia.
Desejo que tenhamos um ano de paz, de muitas realizações, com uma saúde maravilhosa e que possamos, junto com a alegria do futebol de mesa, somar alegrias com os nossos times preferidos, pois em 2013 os jogos foram terríveis, de dar raiva ver tanta nulidade junta. E esses craques famosos, nomes consagrados, recebendo fortunas mensais não corresponderam à expectativa depositada. Times compraram nomes de ex-jogadores em atividade para comporem um quadro que seria imbatível no papel, mas que no campo se mostraram incapazes de dar alegrias à torcida.
Para finalizar o Campeonato Brasileiro de futebol, as decisões ficaram por conta do tribunal. Saudade do tempo em que tudo era resolvido no campo de jogo. Que esse exemplo nunca chegue ao futebol de mesa, pois então estaremos fadados ao fim de tudo.

Em Caxias, vimos o ressurgimento do Juventude subindo para a categoria acima, encostando na S.E.R. Caxias e estando juntos, lutando para galgarem a série “B” do Brasileiro. Que o exemplo da Chapecoense sirva de modelo. Saíram da série D para a C e dessa para a B em três anos e estão debutando na série A em 2014. Foi a união de uma região do estado de Santa Catarina em torno de um ideal. Pelo menos, em 2014, estarão recebendo em sua casa os maiores times brasileiros, dando essa alegria aos seus torcedores.
Bem, meus amigos, que 2014 seja o grande ano na vida de cada um de nós, esperando que continuemos a nos encontrar nas segundas feiras, aqui, nesse espaço gentilmente cedido pela AFM Caxias do Sul, entidade que estará completando 49 anos de existência em 9 de junho de 2014.


Até a semana que vem, a primeira de 2014, se Deus permitir.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

RETROSPECTIVA HISTÓRICA DO PRIMEIRO CAMPEONATO BRASILEIRO, NÃO REALIZADO

Meus amigos, a dois dias do Natal, época em que sempre recordo de fatos acontecidos em minha vida, lembrando do pinheiro que meus pais armavam em casa, sempre ornamentado com um presépio maravilhoso; tudo isso faz com que eu procure sempre coisas que me transportem ao passado. E entre essas coisas, certamente, o futebol de mesa.
Estive, em minhas caminhadas pela orla marítima, dando tratos aos meus pensamentos, imaginando sobre o que poderia falar nessa penúltima coluna do ano de 2013. Foi então que uma luz brilhou em minha memória. Falar sobre o possível primeiro campeonato brasileiro de futebol de mesa que deveria ter sido realizado no país. Procurei entre os meus escritos e fiquei deslumbrado com a ideia de contar para todos o que pensava o presidente da Federação Riograndense de Futebol de Mesa.
A pioneira Federação de nosso esporte foi fundada em 9 de agosto de 1961, com o apoio da ACM, AABB e Clube Juvenil da Amizade. Após essa intrépida atitude, que coordenava os botonistas do Rio Grande do Sul, seu presidente e fundador Lenine Macedo de Souza viajou a São Paulo, com a companhia de Milton Mendonça, campeão do primeiro campeonato interno de clubes e representante da AABB, com a finalidade de ajudar a fundar a Federação Paulista de Futebol de Mesa. Entrando em contato com a Associação Cristã de Moços de São Paulo, AABB e Grêmio Esportivo Ultragaz, conseguiu ajudar na sua fundação em 21 de outubro de 1962, na sede da ACM, Rua Nestor Pestana, 147. Isso foi documentado no jornal Diário da Noite em 6 de novembro de 1962. Em seguida, rumaram para Belo Horizonte e o Diário da Tarde, de Belo Horizonte, em 3 de novembro de 1962, publicava “Será fundada hoje a Federação Mineira de Futebol de Mesa”. Afirmava, no corpo da reportagem, que no Brasil existem, em pleno funcionamento, as entidades no Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná, enquanto os mesistas de Santa Catarina e da Guanabara cuidam de seus primeiros passos para a criação de suas Federações. Na capital mineira, inúmeros desportistas já pensavam, com seriedade, em dar estrutura e regulamento próprio às disputas e aproveitaram a oportunidade da presença do Sr. Lenine Macedo de Souza, presidente da Federação Riograndense de Futebol de Mesa para marcarem a assembléia geral de fundação. A solenidade será realizada hoje, às 20 horas na sede social do Cruzeiro, para a qual estão sendo convidados todos os interessados na prática do futebol de mesa. Para a presidência da nova entidade foi ventilado o nome do jornalista Cleto Filho, que por motivos particulares declinou, indicando o advogado Luiz Carlos Rodrigues, o qual foi eleito o presidente da novel Federação.
Após essas viagens, feitas por conta própria, o sonho de nosso amigo Lenine era a realização de um campeonato brasileiro em sua cidade: Porto Alegre. As datas escolhidas foram os dias 15 e 16 de dezembro de 1962. Os convites foram feitos e o campeonato seria realizado na Regra Gaúcha.
Lenine viajou a Caxias do Sul no dia 3 de dezembro, para se reunir com o Dr. Claudio Eberle, presidente da Fundação Abramo Eberle, com vista ao patrocínio dessa primeira grande iniciativa. O representante da Metalúrgica Abramo Eberle, além do patrocínio, ofertou vinte taças e vinte medalhas para serem distribuídas entre os vencedores.
O local para essa disputa, em âmbito nacional, foi a sede do Aeroclube do Rio Grande do Sul, Avenida Borges de Medeiros, 901, com início às 14 horas. O campeonato seria disputado em duas categorias. Primeira categoria, representada por Lenine Macedo Souza (Cantegril) e segunda categoria, pelos botonistas: Celso Plentz (G.E. Wallig), Jorge Hallal (Estrela Vermelha – Rio Grande) e Caira Casapicola (Gaúcho). Haveria também a disputa feminina com a dupla Zaira Casapicola e Lenita Souza.
Mas, como a disputa seria realizada na Regra Gaúcha, nem paulistas, nem mineiros apareceram por lá. Ambos sempre jogaram com bolinhas esféricas e não aprovaram a bolinha em formato de disquinho.
A Folha Esportiva, de dezembro de 1962 publicou: Gaúchos sozinhos no Brasileiro de Futebol de Mesa, explicando a ausência das Federações convidadas. Por essa razão a Federação Riograndense proclamou os diversos botonistas gaúchos campeões por W.O., em virtude do não comparecimento de seus adversários, destinando aos mesmos os troféus e medalhas que foram ofertados pela Metalúrgica Abramo Eberle S. A. Em nota, na mesma reportagem, a FRFM convocou, por intermédio do jornal, os representantes do interior, para que pudessem comparecer novamente na Capital, no dia 16, a fim de receberem os títulos de campeões brasileiros e disputarem, durante a tarde, o torneio de despedida do ano de 1962.

A ideia de promover o campeonato brasileiro era antiga. Mas, a tentativa de impor a Regra Gaúcha aos demais Estados da União não colou, pois só no nordeste brasileiro havia grupos que jogavam com disquinhos. Os demais jogavam com bolinhas esféricas, o que dificultava a adesão. Para conseguirmos realizar o primeiro Campeonato Brasileiro foi necessária a criação da Regra Brasileira, que juntou muito da Regra Gaúcha com a Regra Baiana, e foi aceita por grande parte de botonistas brasileiros.
Oito anos se passaram, desde a tentativa sem sucesso de Lenine Macedo de Souza até que se concretizasse esse sonho, em 1970, na Bahia. Já, na Regra de 3 Toques, o campeonato brasileiro teve início em 1981, em Brasília. Na Regra de 12 Toques, em 1989, em São Paulo. Portanto, estamos ligados de maneira muito evidente ao sonho de reunir botonistas de vários Estados em um campeonato que apontasse o Campeão do Brasil.
Essa coluna é uma homenagem aos pioneiros que tanto fizeram pelo futebol de mesa, difundindo-o através de jornais que são documentos extraordinários para a história do Futebol de Mesa brasileiro.

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

UM CAMPEONATO DIFERENTE, IMAGINÁRIO, IRREAL

Ao coletar fotos sobre o nosso esporte, deparei-me com inúmeras, de jogadores atuais e ex-craques de futebol que encantaram nossos ideais de torcedores. E, em todas elas, esses mesmos craques estavam praticando o nosso esporte, nas mais diversas regras.
Imaginem, meus amigos, reuni-los em um grande campeonato, com afluência do povo em geral. Seria um sucesso absoluto e mostraria de forma definitiva nosso esporte aos holofotes mundiais.
Tenho conhecimento de que na Regra Brasileira, Bebeto, como bom baiano é um craque e possui uma mesa de jacarandá em sua casa. Quem me segredou foi o amigo Wanner, que postou fotos ao lado do ídolo, em frente a uma mesa de botões. Dirceu Lopes que atuava ao lado de Tostão no admirável Cruzeiro, de Belo Horizonte, foi apresentado à Regra Brasileira em Salvador.
Nas regras de 3 e 12 toques, com bolinhas esféricas, encontraremos uma quantidade maior de ex e atuais futebolistas. Magrão, goleiro do Sport, Caça Ratos, atacante do Santa Cruz, Roberto Dinamite, o falecido Magrão Sócrates, Grafite, Ademir da Guia, Pelé e Oscar, o “Mão Santa” do basquete brasileiro. Na Regra Toque Toque ou Leva Leva o zagueiro do Inter, Juan e o falecido Armando Nogueira.

Além deles, craques de futebol, há os grandes nomes da Televisão e Cinema Nacional. Reunindo Chico Buarque, Rodrigo Santoro, Osmar Prado, Claudio Cavalcanti, Willian Bonner aos falecidos Chico Anísio, Vinicius de Moraes, Geraldo Décourt, conseguiríamos monopolizar e lotar uma grande arena com fãs, ávidos para torcerem por seus preferidos.

Isso seria impossível de realizar. A diversidade de maneiras na prática do esporte, datas a serem conciliadas e compromissos assumidos não permitiriam essa reunião fabulosa. Além de que, muitos já estão falecidos. Jogaram e muito enquanto estavam entre nós.
Resta-nos imaginar um campeonato assim. Sei que foi realizado um campeonato entre os atores e cantores da Rede Globo, havendo até uma reportagem publicada pela Revista Manchete, ilustrada com fotografias de Claudio Marzo, jogando contra Claudio Cavalcanti. Outros artistas também foram fotografados, praticando o futebol de mesa, sempre com a bolinha de feltro.
O pessoal do Atlântico Sul/Marcílio Dias, de Itajaí, formulou um convite a “Mão Santa”, Oscar, para participar de um torneio de verão, mas recebeu uma resposta negativa, devido aos compromissos já assumidos por ele. Seria uma celebridade que faria com que o torneio obtivesse uma cobertura da imprensa catarinense, tanto escrita, quanto falada e televisada. Afinal, estaria entre eles uma celebridade nacional que tantas alegrias já dera nas quadras esportivas.
Há pouco tempo, houve um episódio da série “A Grande Família” em que apareceu um campeonato de botão. Com o uniforme do C. R. Flamengo ganhava de todos os adversários e valia a despesa no bar onde jogavam. Até que apareceu um adversário à altura que poderia vencê-lo. Foi hilário, pois esse adversário conversava com seus botões e o principal deles, “Rivelino”, era infalível. Marcado o encontro, ele dando um trato em seus craques, a esposa entra em seu escritório, na Loja que possuem e discutem. Ela, no auge da discussão, joga seus botões no chão. Ele os junta, mas o “Rivelino” desaparece. Perder o “Rivelino” foi um golpe e ele vai jogar e perde. Só que haviam apostado alto e a Loja de sua propriedade estava na aposta. Perde o jogo e a Loja.
Consegue uma revanche, no intuito de reaver a Loja, mas já não contava com o “Rivelino” em sua caixa de botões. A esposa e as funcionárias da Loja estavam desesperadas, pois a Loja fora perdida e, com certeza, elas estariam sem emprego. Então, uma delas olha no chão e lá está deitado o famoso botão perdido. Apanham-no e as três saem correndo até o bar, onde seria realizado o famoso jogo, levando o trunfo que faria as coisas retornarem aos seus lugares. O engraçado é que, ao receber o “Rivelino” das mãos de sua esposa, ele vê, por trás de todos os assistentes e seu adversário, o próprio Rivelino (imaginário) em carne e osso, transmitindo-lhe confiança. Ele, com tudo isso, acaba trucidando seu adversário e recupera a Loja.
E eu assisti a esse espetáculo por ter sido chamado por minha esposa que, ao ver a chamada para o capítulo, com a mesa de botões na frente do bar, pediu-me para eu ir para a sala. Sinal que o futebol de mesa está instalado em minha família há muito tempo.

Acredito que seria maravilhoso realizar esse tipo de campeonato, mas a impossibilidade é muito maior de reunir essas pessoas que são celebridades e que praticam o futebol de mesa por distração.

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

UMA JUSTA HOMENAGEM A UM LÍDER

No dia sete de dezembro, se estivesse entre nós, Vanderlei Duarte estaria comemorando mais um aniversário. Talvez nenhum de vocês tenha lembrado esse dia, em que seria comemorado mais um ano de vida desse baluarte do futebol de mesa caxiense. Baluarte, pois soube segurar nas mãos os destinos de nosso esporte nos anos difíceis em que lutávamos para reunir disputantes em volta das mesas. O futebol de mesa nunca perdera o seu valor, mas, seus disputantes encontravam outras atividades e se esqueciam de prestigiar o esporte dos técnicos. Mas, a perseverança do Vanderlei predominou, lutando diariamente para encontrar botonistas, convidava a todos a voltarem a praticar.
Tentou de todas as maneiras até conseguir um grupo, na Rua Garibaldi, numa sede alugada e sob sua responsabilidade.  Nela, fui recebido e joguei contra o fabuloso Casara, um clássico caxiense jamais praticado – G. E. Flamengo x S. E. R. Caxias do Sul. Foi lá, também, que o Vanderlei me chamou a um canto e disse: - Vais conhecer um guri que fará muito pelo futebol de mesa. Ele está começando e vai chegar daqui a pouco. – Quero que jogues com ele, pois já te considera  um ídolo. O dia foi 21 de janeiro de 2004. Pouco depois chegava Daniel Alves Maciel, um cara grandão e que foi logo colocando o time na mesa. Jogamos e, naquela época, ainda podia fazer-lhe frente,  já que ele estava apenas iniciando. O Vanderlei era assim, sabia reconhecer um diamante antes de ser lapidado.
Vanderlei Duarte (d) e Daniel Maciel (e)
Depois disso, com um grupo já consolidado, transferiu-se com armas e bagagens para a Rua Hércules Galló, 570, bem pertinho do estádio do E. C. Juventude. Responsabilizava-se pelo aluguel, o qual, muitas vezes era pago com seu dinheiro, até que o caixa do clube o ressarcisse financeiramente. Além disso, fabricava as mesas com uma perfeição de dar inveja aos nordestinos. E colocava nomes nas mesmas. Havia mesas com nomes de Silvio Puccinelli, Ângelo Slomp, Almir Manfredini, Luiz Ernesto Pizzamiglio, Deodatto Maggi e Adauto Celso Sambaquy.
Mas, nosso amigo tinha um gênio terrível. Teimoso, genioso, vingativo, não perdoava aquilo que considerava errado, apesar de não ter a flexibilidade de reconhecer que muitas vezes errava também. E não eram poucas as vezes que isso ocorria. Conseguia reunir muitos adeptos, mas perdeu grandes nomes, em razão de atitudes impensadas. Uma delas, que lamento até hoje, foi o afastamento do Airton Dalla Rosa, o mais elegante jogador de futebol de mesa que já vi atuar. Pois, num campeonato, ainda na Rua Garibaldi, as disputas chegando à reta final e eis que o Vanderlei muda as regras do jogo. Isso viria em prejuízo do Airton, que não aceitou as mudanças feitas quase no final da competição e a abandonou, como deixou o futebol de mesa definitivamente. Perdemos o nosso primeiro Campeão Estadual.
Sua personalidade forte batia de frente com inúmeros botonistas. A situação foi ficando cada vez mais difícil, e a garotada que estava com vontade de assumir cargos mais elevados na Associação, resolveu peitar o grande chefão. A derrota foi eminente, e desgostoso com o que ele considerava uma traição, afastou-se, filiando-se à AABB, junto com o seu amigo Enio Durante;  já que não teve mais forças para lutar, pois perdera a sua própria razão de viver, sem a menina de seus olhos. Isolou-se de tudo e de todos. E o seu isolamento foi fatal.
Muitas vezes entrava em contato comigo via celular. Queixava-se e eu sempre procurava mostrar-lhe que os tempos haviam mudado e que ele se dedicasse a jogar e deixar que a garotada gerisse o futebol de mesa. Mas, ele se considerava o pai daquilo tudo. Não queria perder o pátrio poder sobre os acontecimentos e não admitia que se promovessem competições sem a sua autorização. Tentei, muitas vezes, sem sucesso, convencê-lo de que deixasse acontecer as coisas, pois havendo erro, os meninos é que quebrariam a cara. No entanto, ele não aceitava passivamente minhas palavras. Dizia que sim, mas, depois, por intermédio de outros associados, eu ficava sabendo que ele fizera completamente o contrário.
E isso foi fatal para ele. Entregou-se completamente. A última vez em que estivemos juntos foi nas festividades dos 45 anos da AFM Caxias do Sul, quando, usando da palavra enalteci os esforços despendidos para que se chegasse àquela comemoração, salientando as figuras dele e do Airton. No final de minhas palavras, os dois me abraçaram e choramos copiosamente, como três crianças que perderam seus brinquedos. Talvez, Deus quisesse dizer-me que seria a última vez que estaria com ele nesse plano.
Na festa dos 45 a emoção era visível em seu rosto
Vanderlei teve suas virtudes e a maior delas se chama AFM Caxias do Sul e teve, também, seus pecados, pois partiu sem deixar saudade a muitos botonistas. Mesmo assim, deve-se fazer justiça ao grande valor desse homem que lutou e conseguiu reanimar o futebol de mesa caxiense, tal qual uma fênix ressurge das cinzas. Deve-se a ele a construção daquela pujante organização, a qual enaltece  a cidade de Caxias do Sul nos mais longínquos recantos de nosso país. Vanderlei Duarte deveria ser lembrado pelas suas grandes obras, pois todos nós lhe devemos muito. Que no próximo dia sete de dezembro nos lembremos de enviar uma oração por sua alma, a qual será captada onde ele estiver. E, quem sabe, com o seu jeitão característico diga: Desse aí eu não quero nada. O Vanderlei era assim mesmo. Mas, um dia nos encontraremos novamente e, quem sabe, tudo o que ficou mal resolvido possa ser esclarecido.
No 1º Estadual Vanderlei é homenageado pela FGFM e vai as lágrimas 

Até a semana que vem, se Deus permitir.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

NEM TUDO SÃO FLORES

Os elogios ao 40º Campeonato Brasileiro do Futebol de Mesa mostram a grandiosidade que os amigos paranaenses, capitaneados pelos dirigentes da CBFM, conseguiram na organização e escolha do local. Realmente, segundo os relatos foi algo maravilhoso. Elogios surgiram dos quatro cantos do país. Parabéns a todos.
Mas, mais uma vez foi demonstrado o descaso com a continuidade de nosso esporte. Grande afluência nas competições máster, sênior e especial. A quantidade de valorosos botonistas a disputarem com afinco e denodo os troféus maiores foi considerável.
A categoria máster, destinada aos mais idosos, àqueles que estão há mais tempo vinculados ao nosso esporte reuniu baluartes, que estão fazendo a alegria de suas Associações Esportivas. A categoria sênior mostra uma gama de botonistas fabulosos que, em alguns anos, estarão na última categoria, dando lugar aos especiais que são a grande e esmagadora maioria. E são feras que surgem a cada ano, lutando bravamente para alcançarem o lugar maior na hora da premiação.
Esse ano, pela primeira vez, é laureado um filho de um antigo campeão brasileiro. E esse será o tema dessa coluna que estou escrevendo. Não louvarei o Flávio Lisa, pois melhor do que eu, todos os meus leitores sabem de seu valor. Vários foram os que escreveram enaltecendo as suas qualidades. Vou falar da importância que o meu querido e saudoso amigo Átila teve, ensinando pacientemente aos seus filhos. Hoje, são eles que estão representando o querido estado de Sergipe nas mesas brasileiras.
E quantos de nós estamos fazendo algo parecido?
Ao que eu saiba, as agremiações preocupam-se com os seus campeonatos e esquecem de que envelhecemos. Com os anos, não teremos mais a força e a vontade de estar praticando o esporte que tanto amamos, esquecendo-nos de promovê-lo entre os jovens. Deixamos de chamar nossos filhos, nossos netos para nos acompanharem nas mesas e disputarem campeonatos em sua faixa de idade, incentivando-os a continuarem aquilo que iniciamos. Leio vários blogs de futebol de mesa e as notícias são sobre a categoria especial, nunca ou quase nunca falam sobre a nova geração.
Ressalte-se o esforço do pessoal de Caxias do Sul. Desde o primeiro Campeonato, em 1970, quando cinco gaúchos representaram o estado na linda Salvador. Pois três deles eram meninos de 14/15 anos de idade. Sempre promoveram campeonatos infantis, juvenis e adultos. O resultado disso tudo está nas pessoas de Daniel Pizzamiglio, Alexandre e Rogério Prezzi que continuam a caminhada de seus pais Luiz Ernesto e Nelson. Lembro ainda que, na época em que os jogos eram realizados no Recreio da Juventude, uma das mesas tinha cavaletes menores, pois, nela, os pequenos realizavam o seu campeonato. E, agora, começando com Ednei Torresini e continuando com essa plêiade de botonistas caxienses, em cada competição nacional estamos apresentando um grupo de meninos que vestem a camisa da AFM Caxias do Sul e da Federação Gaúcha.
Mesa com cavaletes menores da turma do Recreio da Juventude
A AFM Caxias cria para crianças carentes o projeto em 2006, projeto que ate hoje é seguido

A 1ª turma do Departamento jovem teve comoando de Enio Durante, que coom sua saída para a AABB Caxias levou os meninos. a Maior conquista foi o Brasileiro de Recife (2011) com Mateus Cruz

2ª turma Edinei Torresine e Rodrigo Guterres recebem uma nova turma e desta surgem dois grandes botonistas
Hemerson Leite e o Fenômeno Pica-Pau (bicampeão brasileiro)
Qual a razão que impede as demais agremiações de carregarem os moleques que, por ventura, jogam em suas mesas? Sei que, em várias delas, há garotos que gostariam de estar em eventos dessa grandeza. Por que os dirigentes dessas agremiações não assumem o compromisso de carregá-los consigo? A responsabilidade  sei bem, é muito grande. Mas, pensem na continuidade de nosso esporte, pensem que algum dia vocês pararão e não irão querer ver o esporte que tanto amamos desaparecer?
Ressaltei os elogios às disputas nas três categorias: máster, sênior e especial, mas acredito que a júnior  é praticamente ignorada. Quantos meninos poderiam estar lá, jogando e aprendendo com os mais antigos e não conseguiram. Até o estado promotor não colocou um único menino para disputar. Por que, quando as disputas são em centros maiores, como Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, a molecada aparece em grande número? Perguntas que certamente encontrarão respostas, mas que, com certeza, não convencerão quem quer ver a continuidade de nosso esporte, seu crescimento e sua aceitação internacional.
Lamento, pois quem disputar a categoria júnior de futebol de mesa, pensando no encontro dos amigos conseguidos em participações em outros centros, acabará frustrado. E, com isso, o desânimo pode atrapalhar aquele que quer crescer no esporte.
Pensem nisso quando forem promover novas competições. Os moleques merecem o incentivo de todos nós e, queiram ou não, serão eles o futuro de nosso esporte.
As coisas nunca foram fáceis, não serão doravante, mas são possíveis de serem realizadas. Portanto, reflitam nisso e, com carinho e organização, promovam a garotada. Garanto que todos sairão felizes com o resultado.
Pódio do Estadual 2013 (da esq para dir.) - Pica-Pau (campeão), Hemersom, Weiss  e Yago

Pódio do Brasileiro 2013 (da esq para dir) - Weiss, Douglas (SC), Hemerson  e Pica-Pau (Campeão)


Até a semana que vem, se Deus permitir.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

VAMOS CONTAR A NOSSA HISTÓRIA, TRABALHANDO EM CONJUNTO?

Há alguns dias estou martelando a ideia de que perderemos muitos fatos históricos sobre o nosso esporte se não os deixarmos escritos. Fatos que aconteceram e acontecem, diariamente, que devem ser preservados para todo o sempre. Fatos que mostram as dificuldades e o crescimento desse esporte que nos acompanha desde os primeiros anos de nossas vidas.
Jogar futebol de mesa é muito bom, mas conhecer a sua história faz com que tenhamos uma noção exata daquilo que ele representa na vida de cada um de nós. E, também, o que representou na vida dos primeiros botonistas que incentivaram o seu crescimento.
Geraldo Cardoso Décourt queria escrever um livro sobre o futebol de mesa. A doença que o atacou impediu que isso se realizasse. Ele, mudando o foco da ideia original, escreveu uma biografia, dedicando um capítulo ao seu hobby preferido. Transferiu essa responsabilidade para o nosso amigo José Ricardo Caldas e Almeida, de Brasília. Dizia Décourt, com a sua fala mansa e cheia de sabedoria, que Zé Ricardo por ser jovem, excelente escritor e um arguto pesquisador reunia as condições ideais para escrever essa história. Municiou-o de muito material referente ao início do grande movimento nos primórdios do século XX. José Ricardo tentou e tenta, sem muito sucesso, colher dados e informações com as lideranças estaduais sobre os movimentos de clubes e Federações. Esbarra sempre na mesma assertiva. Muitos são os que gostam de jogar botão, mas raríssimos os que se preocupam em registrar os fatos.
Decourt e José Ricardo

Uma exceção nisso tudo é o Sérgio Oliveira de Porto Alegre, que é a enciclopédia viva de tudo quanto foi realizado no sul do país. Há o trabalho desenvolvido pelo Obereci e Edu Caxias, no sentido de escreverem sobre a história da Regra Gaúcha, enaltecendo as grandes batalhas de seu pioneiro Lenine Macedo de Souza. Outro nome destacado e que muitos conhecem é Enio Seibert, criador e conhecedor da Regra Unificada, como também da história do futebol de mesa.
Sérgio Oliveira e Carlos Kuhn

Edu Caxias

Enio Seibert

Obereci e Fosca dois ícones

Aponto o amigo Abiud Gomes, de Pernambuco, como um daqueles que possuem condições de escrever e resgatar histórias importantes, acontecidas há mais de meio século e que poderiam encher as páginas de um livro, incentivando na prática da Regra Pernambucana, o Botãobol, apelidada em seu blog A Marreta, de a Rainha das Regras.
Abiud Gomes (Recife)
De uma maneira modesta, tenho tentado escrever sobre acontecimentos que geraram a Regra Brasileira, sua origem, seu desenvolvimento, a continuidade e o momento atual. Muita coisa que escrevi será guardada e mostrada aos novos botonistas desejosos de conhecer a história de nosso esporte.
Esforços isolados, como o Gothe Gol, de postagens diárias, informando o que se realiza em nosso mundo botonístico são admiráveis, pois há mais de dez anos mantém atualizados os acontecimentos, convocando, informando e mostrando aos botonistas aquilo que se desenvolve no país do futebol de mesa. Há outros blogs importantes, semanais, quinzenais, mensais, que também devem ser destacados. Ressalto o Futebol de Mesa News de São Paulo, que informa os acontecimentos do país e do exterior. Mas, depende da boa vontade das pessoas interessadas em divulgar suas notícias. Por vezes, notícias de uma região ficam por semanas e até meses sem que sejam atualizadas. Um blog que eu reputo muito importante é o FUTMESA EXPRESS, do Daniel Pizzamiglio que, apesar de não ser atualizado constantemente, traz a história da AFM – Caxias do Sul, seus campeonatos, seus torneios, seus rankings.  As páginas da Riograndina e Pelotense também fazem a exposição de todos os seus campeões. São de grande utilidade, pois preservam nomes que conquistaram a glória de vencer um determinado campeonato.
Gothe campeão da Liga Inglesa
A vida me ensinou que a história deve ser gravada, para que não se perca. Quando, ainda como funcionário do Banco do Brasil em pequenas cidades do interior de Santa Catarina, escutava histórias muito importantes de antigos moradores. Sugeri que gravassem, pois escrever seria um pouco trabalhoso, e deixassem as gerações futuras tomarem conhecimento de como era a vida naquele local, antes da era eletrônica. Muitos acabaram falecendo e levaram consigo histórias inacreditáveis, as quais, se aproveitadas, dariam um sabor diferente à história do município. Por isso, conclamo os botonistas mais antigos que o façam, enquanto é tempo, para que histórias de sacrifício, amor ao esporte, criação e conquistas sejam motivo de encorajamento aos atuais botonistas que estão vivendo uma era de quase profissionalismo. Encontram tudo pronto e só têm o trabalho de colocar seus botões na mesa e jogar. Mas, para chegar a esse ponto, muita coisa aconteceu, muito sacrifício foi feito, muitos deslocamentos para cidades distantes foram executados, aproximando os botonistas desse país continente.
Se o meu sonho acontecer em 2015, quando a AFM Caxias do Sul completar seu cinquentenário, desejo lançar a minha história, juntamente com essas colunas que escrevo semanalmente, pois se alguém as ler, saberá que o amor que dediquei ao futebol de mesa foi imenso e estará guardado em cada linha escrita.
Até lá, vou incentivar os amigos que possuem condições de retratar nosso esporte, que o façam, enriquecendo a história de um esporte que reúne milhares de pessoas em nosso país e no mundo inteiro, ao redor de mesas, desfrutando a alegria de comandar um time de sua preferência. Afinal, todos nós somos um pouco Técnicos de Futebol.

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O MUNDO NUNCA MAIS SERÁ O MESMO...

OLDEMAR SEIXAS - Na Rádio Cristal, onde apresentava seu programa "Bahia Campeão dos Campeões".
Quando Geraldo Décourt, em 1930, publicou seu livro de Regras do Foot-Ball Celotex, atingiu os botonistas do Rio de Janeiro, onde morava. Obras como o livreto de regras não saiam para muito longe de onde foram impressos. Eram vendidos em bancas de jornal, local onde Getúlio Reis de Faria adquiriu seu exemplar. Desejava, desde essa época, conhecer Décourt, pois viviam na mesma cidade sem, contudo obter êxito. Realizou esse sonho cinquenta anos depois, em 1980.
Depois disso foi a vez de Fred Mello lançar o seu “Jogo de Botões – regras e táticas”. Já o fizera em forma de livro, na década de 1950, e muitos deles saíram das fronteiras do Rio de Janeiro, propiciando a sua prática em várias regiões do país.
Mas, cada região tinha a sua própria regra. Surgia a gaúcha, a paranaense, a carioca, a paulista, a paraíbana, a pernambucana, a sergipana, o celotex paraense. Em cada lugar jogava-se de forma diferente, originando-se uma verdadeira “Torre de Babel” do futebol de mesa.
Foi então que a Revista do Esporte, editada no Rio de Janeiro, publicou, já nos anos sessenta, uma reportagem assinada por Oldemar Seixas, que mexeu com os brios de todos os botonistas brasileiros. Seu título era contundente: “Bahia dá lições de futebol de botão.”
5º campeonato brasileiro - Vitória ES
Choveram correspondências ao seu endereço. Do Rio Grande do Sul, Clair Marques e eu fomos os curiosos que duvidavam dessa possibilidade, afinal éramos filiados à Federação Riograndense de Futebol de Mesa, a pioneira do Brasil. Na minha correspondência ao Oldemar, enviei exemplar da Regra Gaúcha, botões e bolinhas, com fotos diversas.
A resposta foi quase que imediata, com uma enorme explicação sobre a regra baiana original, botões padronizados nas cores das camisas do Vasco, Grêmio e Ypiranga (Bahia), um goleiro de madeira na cor verde e com o distintivo do Ypiranga e algumas bolinhas “olho de peixe”, além de um exemplar da regra.
No mês seguinte, a Revista do Esporte já anunciava a repercussão da primeira reportagem e publicava, entre outras, uma foto em que eu estou jogando contra o meu colega Paulo Luís Duarte Fabião, a partida final do campeonato da AABB de 1963. Publicava também diversos endereços de botonistas que se reportaram ao Oldemar, criando, dessa forma, a primeira rede entre os praticantes das diversas regras existentes no país.
Oldemar defendeu sempre as cores do Ypiranga da Bahia
Até então, tudo era discutido através de correspondência via Correio Nacional. Tomávamos conhecimento de grupos que jogavam o nosso esporte em outros estados, mas desconhecíamos como o faziam. As fotografias eram sempre em branco e preto e muitas delas não tão bem nítidas. Faltava o contato pessoal.
E, ele aconteceu em 1966. Iríamos festejar o primeiro aniversário da Liga Caxiense de Futebol de Mesa. Lógico que seria na Regra Gaúcha, a regra que praticávamos no Rio Grande do Sul. Enviei um convite ao Oldemar, jamais acreditando que fosse aceitar, devido à grande distância entre a Bahia e o Rio Grande do Sul. Para surpresa, não só minha, mas de todos os botonistas gaúchos, Oldemar Seixas veio e trouxe consigo Ademar Dias de Carvalho. Participariam do Torneio de Aniversário da Liga Caxiense, jogando na Regra Gaúcha. E o fizeram com um espírito esportivo de causar inveja a todos nós. Com seus botões lisos, jogando contra nossos puxadores, mostraram a grande qualidade que possuíam. E um detalhe que nos deixou maravilhados, pois os dois jogavam com a unha, coisa inédita para todos nós.
A história, depois desse torneio realizado em Caxias do Sul, é do conhecimento de todos os praticantes da Regra Brasileira. A Regra Brasileira começou forte, pois passou a ser praticada em todo nordeste brasileiro e no sul do país.
E tudo isso aconteceu por um ato de coragem de um baiano, que conseguiu duas páginas na Revista do Esporte, a maior e melhor revista esportiva daqueles anos sessenta. Muito tempo depois surgiu o Placar, e a Revista do Esporte acabou perdendo espaço e terminou seus dias melancolicamente. Mas, foi ela a responsável pela grande mudança no futebol de mesa brasileiro, pois, com a união de esforços, criou-se a Regra Brasileira que misturou a Regra Gaúcha com a Regra Baiana. Coisas boas das duas regras foram aproveitadas e as aberrações que havia foram suprimidas. Toda mudança acarreta dificuldades e aqui no sul elas existiram em número muito grande.
Mas, depois da realização de campeonatos brasileiros, a partir de 1970, os demais movimentos iniciaram seus esforços no sentido de união. Regras paulista e paranaense se uniram e foi criada a Regra de 12 toques. Os cariocas, aliados aos brasilienses e mineiros, criaram a Regra de 3 toques. A partir daí, os campeonatos em âmbito nacional começaram a aumentar o número de participantes e houve o reconhecimento oficial das três regras pelo Conselho Nacional de Desportos.
As demais regras que não se fundiram acabaram ficando isoladas e praticadas por um número restrito de botonistas. Todas elas têm a sua beleza e qualidade e empolgam seus praticantes. Após o reconhecimento, com o advento da informação eletrônica, tomamos ciência de inúmeros países praticantes do futebol de mesa. O leste europeu, com campeonatos disputadíssimos, a Espanha, a Itália e os países da América Latina, além do Japão que pratica a Regra 12 Toques, estão se mostrando diariamente em diversos blogs especializados em futebol de mesa. Antes disso, em uma entrevista, quando esteve asilado na Itália, Chico Buarque de Holanda, respondendo a perguntas de vários artistas, afirmou que não conseguiu impor sua regra, pois eles praticam o futebol de mesa semelhante aos baianos, com petelecos e bola chata. Pena que não havia nenhuma fotografia mostrando a maneira italiana de jogar.
Por essa razão, queiram ou não, o mundo nunca mais foi o mesmo depois que o Oldemar, corajosamente, se manifestou nas páginas da Revista do Esporte. O futebol de mesa evoluiu e hoje está no cotidiano de grande parte de brasileiros. Em qualquer regra jogada, é algo que atrai pessoas e alivia tensões. Imagino que, se a reportagem não tivesse sido publicada, e todos continuassem jogando a sua regra regional, teríamos esse nosso esporte oficializado? Será que haveria essa integração, como existe no Gothe Gol, onde redatores de diversos estados se manifestam, ocupando suas páginas diárias? Será que conseguiríamos tantos amigos em locais distantes?
Oldemar recepcionando Sambaquy no Mercado Modelo - 2012
Acredito que não. Por isso, o mundo esportivo parou no dia em que a Bahia deu lições de Futebol de Botões. E, quando pensarem em homenagear alguém, lembrem-se sempre do nome de Oldemar Seixas, pois queiram ou não, foi por obra sua, por sua perseverança e entusiasmo que hoje podemos ser recepcionados em qualquer ponto do território brasileiro, abraçando amigos que são adversários na mesa durante as partidas. Seu gesto tresloucado de afirmação do futebol de mesa baiano foi quem movimentou a enorme roda que gira alucinadamente até hoje. O mundo nunca mais será o mesmo...
Oldemar com o seu velho Ypiranga  na sala de jogos do Brasileiro de 2012 - Salvador BA

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

TORNEIO PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA – O MAIS ANTIGO DA AFM CAXIAS DO SUL.


Gostaria de falar desse tradicional Torneio, iniciado em 1973 e que depois de um período sem ser disputado, voltou com força e vigor. Seu criador foi o Marcos Antonio Zeni, um dos fundadores da Liga Caxiense de Futebol de Mesa. Lembro que, dias antes do feriado de 15 de novembro, Marcos lançou o convite a diversos botonistas que treinavam na Galeria Martinato, para a possibilidade da realização de um torneio em homenagem à Proclamação da República. Marcou para o dia 17 de novembro, pois ele teria de mandar gravar os troféus a serem disputados naquele sábado.
No dia 17 de novembro, Airton Dalla Rosa, Silvio Puccinelli, Rubem Bergmann, Adauto Celso Sambaquy e Marcos Antonio Zeni disputaram um torneio muito concorrido que acabou apontando esse colunista como o primeiro campeão. Nas disputas que efetuei naquele dia, iniciei perdendo para o Airton, mas venci o Silvio, o Rubem Bergmann e o Marcos Zeni. Somei mais pontos e fiquei com o troféu valioso de campeão.
Sambaquy, o primeiro campeão e Zeni o criador da competição
No ano seguinte, quando já residindo em Brusque (SC), fui surpreendido com a chegada, no dia 16 de novembro de 1974, do Marcos Zeni e do Adaljano Tadeu Cruz Barreto, com a finalidade de realizarmos o Segundo Torneio Proclamação da República. Sem ter avisado com antecedência, em uma cidade próxima às praias catarinenses, conseguir botonistas para participar foi trabalhoso.  Encontrei o Renato Antunes, um carioca rubro negro fanático, meu colega de Banco do Brasil. Dirigimo-nos à sede da Associação Brusquense de Futebol de Mesa que ficava no centro da cidade e fizemos um quadrangular. O campeão foi o Adaljano que, em sua campanha, empatou comigo e venceu o Marcos Zeni e o Renato Antunes.
O terceiro foi realizado em novembro de 1975 em Caxias do Sul, tendo se sagrado campeão o saudoso amigo Silvio Puccinelli. Não tenho maiores detalhes desse torneio, já que não participei, pois residia no Berço da Fiação Catarinense.
Após esse torneio, a Liga Caxiense sofreu um esvaziamento, sendo que os campeonatos foram disputados em 1976, com uma parada até 1981, quando houve um esforço por parte do Vanderlei, mas sem muito sucesso. Nova parada e, em 1985 até 1987, novos campeonatos são realizados, sem oportunizar a volta do Torneio Proclamação da República. O retorno definitivo das atividades aconteceu em 1997, quando não mais sofreu solução de continuidade, tendo o campeonato da cidade sido realizado, anualmente, até os dias atuais.
O Torneio Proclamação da República retornou a ser disputado trinta anos depois do primeiro. Em 2003, seu patrocinador Marcos Antonio Zeni resolveu ressuscitar aquele charmoso Torneio e, carregado de troféus, propiciou a Luiz Ernesto Pizzamiglio a honra de figurar nessa seleta lista. Desta data em diante, o Torneio vem sendo realizado no mês de novembro, reunindo os melhores botonistas da Associação.
A relação de campeões, fornecida pelo Futmesa Express, mantida pelo Daniel Pizzamiglio é a seguinte:
2004 – Vanderlei Duarte
2005 – Ednei Torresini
2006 – Daniel Maciel
2007 –Daniel Pizzamiglio
2008 – Daniel Maciel
2009 – Daniel Pizzamiglio
2010 – Daniel Maciel
2011 – Luciano Carraro

2012 – Mário Vargas Júnior.
O Torneio de 2013 deverá ser realizado no dia 09 de novembro, sábado, quando os botonistas caxienses se reúnem em nossa sede. Que seja o sucesso absoluto que sempre foi essa grande e maravilhosa realização do Marcos Zeni, premiando mais um grande botonista caxiense que escreverá seu nome nessa galeria de torneios tradicionais de nossa Associação.
A título de sugestão, gostaria que o artista das artes gráficas de nossa AFM, o meu afilhado Rogério Prezzi, criasse a relação de campeões do Torneio Proclamação da República, assim como fez com os Campeões Caxienses. Afinal, é o Torneio mais antigo que é disputado em nossa agremiação e entre seus campeões já temos dois falecidos. É uma maneira de perpetuar as conquistas auferidas em um torneio encantador, criado quando ainda estávamos funcionando na Galeria Martinato, no distante ano de 1973.
Até a semana que vem, se Deus permitir.

P.S.
Como a coluna foi descrita no meio desta semana e a disputa foi neste sábado a AFM Caxias divulga o resultado da competição:
Campeão: Daniel Maciel
Vice: Walter Almeida
3º Hemerson Leite
4º Luciano Carraro
Maciel ganhou pela 4ª vez a competição
Disputaram a competição 16 botonistas da AFM Caxias

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

AS DIFICULDADES DE MANTER AGREMIAÇÕES FUNCIONANDO

Recebi no dia 30.10 um e-mail do presidente da agremiação a qual estou associado aqui em Santa Catarina, desesperado com a pouca afluência de pessoas no clube durante o ano inteiro.
Dizia o presidente que estamos finalizando um ano muito difícil para o nosso grupo e necessita saber com quem poderá contar na próxima temporada, pois do contrário não justifica ter uma sede central na cidade, praticamente sem uso.
Os gigantes do futebol de mesa marcilista
Grande número desses atletas ainda está lá no Marcilio.
Acredito que muitos clubes ou associações devem enfrentar esse tipo de problema. E é um tremendo problemão que, se não for devidamente trabalhado, poderá ocasionar o encerramento das atividades.
Particularmente eu vejo da seguinte forma:
(1º) Há pessoas interessadas em praticar o futebol de mesa. Muitos até procuram a sede e são recebidos com muito carinho. Colocam-nos a jogar, caso tenha seu próprio time ou então emprestam um time para que possa tomar conhecimento da modalidade. Ensinam o básico para que esse interessado fique bem mais interessado. É um jogo demonstração e a pessoa fica motivada. Acaba voltando com intenção de participar.
(2º)Há, no clube, certo número de grandes praticantes. Pessoas que jogam por música e são aquelas que sempre estão nas fotografias de premiação.  Ao jogar amistosamente com o novato, transmitem-lhe informações e não forçam o jogo, dando-lhe a ilusão de que poderá fazer frente em disputas oficiais.
(3º) Marcam o campeonato e colocam todos numa mesma panela. Aí é que o caldo engrossa, pois é para valer. Cada jogo é uma disputa de vida ou morte. Valem pontos para a conquista do troféu de campeão, vice, 3º lugar e 4º lugar. O novato, achando que já conhece todos os atalhos do gramado de madeira, não mais encontra um gatinho pela frente. Muito ao contrário, dessa feita encontra um verdadeiro leão que o devora em poucas paletadas. Surgem as primeiras decepções, e as goleadas vão se acumulando na conta de quem achava que estava conhecendo o esporte. Nos Jogos abertos de verão de 2008, assisti a um excelente botonista paulista (multi campeão) aplicar uma sonora goleada em um principiante que, pela 12ª ou 13ª saída de jogo, já nem sabia mais quais eram os seus botões. Nunca mais vi esse principiante na sede depois desse jogo.
(4º) A solução para esse problema de falta de freqüência foi adotada em 2010, quando a sede estava sempre cheia de pessoas jogando. Nessa ocasião, havia a disputa de duas séries. A série “A“ que era composta pelos botonistas que dominavam a regra e tinham vários anos de prática nas mesas e a série “B” que premiava os menos aptos, disputando um campeonato em que não havia papões. Tudo estava nivelado e as partidas acabavam alegrando a todos os participantes. Foi o ano em que mais tivemos pessoas perambulando no recinto onde as mesas estão colocadas.
(5º) A adoção de uma segunda modalidade de jogo, pois o clube foi iniciado na Regra de 12 toques, a do dadinho, repartiu os componentes. Como ninguém pode estar em dois lugares ao mesmo tempo e nem servir a dois senhores da mesma forma, o clube esvaziou devido às preferências individuais. Sem existir um programa anual em que determinasse datas para as disputas dessa ou daquela modalidade, muita gente deixa de comparecer. Em 2010, havia o programa e todos sabiam as datas das disputas, razão pela qual o sucesso foi muito grande.
Muitas serão as dificuldades que sempre existirão, e mudanças devem ser feitas para que o movimento não esvazie. O propósito de cada botonista que procura o clube é idêntico: aliviar a pressão do dia-a-dia e divertir-se jogando botão. Quando essa diversão passa a ser obrigação é algo mais que deve ser agregado às que já possuímos e mais um somatório de coisas que são impostas, declinando a verdadeira intenção de diversão. O futebol de mesa é um esporte amador e como tal deve ser encarado. Jogar por obrigação não faz a alegria de ninguém. O clube deve ter seus campeonatos e torneios, sem se preocupar com o que a Federação determina. As datas comprometidas com competições estaduais ou nacionais pertencem aos botonistas que têm condições de representar a entidade. Os demais podem se reunir e jogar animadamente e divertir-se, fazendo aquilo que gostam de fazer.
Eu acredito que não custa tentar fazer isso. Quem quiser participar de competições estaduais e nacionais, objetivo dos bons botonistas, deverá fazê-lo sem, no entanto, forçar os demais para a obrigação de também estarem participando. Quem quiser ser botonista profissional deverá pensar primeiro em si próprio e depois no grupo. É gratificante encontrar botonistas de diversos lugares, mas tudo isso tem um custo e, às vezes, é muito alto.
A solução está nas mãos de todos nós. As oportunidades também. As escolhas de forma e modalidade de jogar também são individuais, por isso eu acredito que ainda poderemos chegar a bom termo, antes mesmo de o ano terminar.

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

ORLANDO NUNES – UM LEGÍTIMO CAMPEÃO

Há poucos meses esse amigo nos deixou, partindo para o grande time de botonistas celestiais. Resolvi prestar-lhe uma homenagem, embora seu passamento já tenha ocorrido há meses, pois foi uma das maiores pessoas que conheci na Boa Terra.
Em agosto de 1971, após nossa participação no segundo campeonato brasileiro, realizado em Recife, fizemos uma parada em Salvador, com a finalidade de rever amigos e desfrutar das delícias daquela terra de Todos os Santos. Na noite de 23 de agosto de 1971, joguei uma partida contra Orlando e fui derrotado por 2 x 0. Foi a nossa apresentação.
Nosso segundo encontro foi em julho de 1972, quando, juntamente com Jomar Moura, representou a Bahia no Brasileiro que foi realizado em Caxias do Sul. Sua campanha foi extraordinária e só não foi campeão por ter encontrado o rei da malandragem, o carioca Antonio Carlos Martins. Mas, apesar disso, levou para a sua enorme galeria o troféu Câmara de Vereadores, destinado ao vice-campeão da competição, além de ter o ataque mais positivo do certame.
Orlando foi uma pessoa que encantou os caxienses. Fez várias amizades entre os que estiveram participando do Campeonato no Ginásio da AABB. Foram dele as maiores goleadas daquele certame: 11 x 0 sobre Vanderlei (Caxias do Sul) e 12 x 2 sobre Hilton (Minas Gerais).
Na partida em que enfrentou Martins, pela chave A, Orlando o venceu por 3 x 0, classificando-se em primeiro lugar, com Martins em segundo. Pela chave B classificaram-se Fernando (Rio de Janeiro) e Jomar (Bahia). Os jogos de Orlando foram 1 x 1 com Jomar, 0 x 0 com Martins e 3 x 1 contra Fernando. Terminaram empatados em pontos Orlando e Martins, sendo necessária mais uma partida que novamente terminou empatada em 0 x 0. A decisão foi para os pênaltis e Martins foi mais feliz vencendo por 4 x 1.
No ano seguinte, a convite de Oldemar Seixas, realizamos uma excursão à Bahia. E, como sempre, estava Orlando a nos recepcionar em sua Liga. Foi uma festa maravilhosa, onde permanecemos descontraídos jogando o nosso futebol de mesa. Na reportagem que o Jornal A Tarde de Salvador publicou constava que, na tarde de 15 de agosto de 1973, os caxienses estiveram na sede particular de Orlando Nunes, enfrentando entre outros: Valter Motta, Vital Cavalcanti, Guilherme Freitas, Raimundo Gantois e Orlando Nunes, os grandes nomes da Liga da Barra, num ambiente de excelente camaradagem. Nesse dia 15, joguei pela segunda vez contra o meu amigo Orlando e dessa vez o venci por 2 x 1.
BAHIA 1973
(Sambaquy - Dalla Rosa - Adaljano - Tadeu - Calegari - Sá Mourão)


Orlando me presenteou com uma fita K7 com músicas maravilhosas, gravadas em seu estúdio particular. Guardei essa fita por muitos anos. Infelizmente, elas saíram do mercado e não pude reaproveitá-la.
Orlando passou a residir em Juazeiro, norte da Bahia, fazendo divisa com Petrolina em Pernambuco. Lá, formou, com seus amigos, a Associação Sanfranciscana de Futebol de Mesa e continuou a fazer amigos, pois sempre foi um perfeito cavalheiro. Seu passamento foi bastante sentido e do amigo Raimundo Fernando Valverde da Silva, atual presidente, recebi o Cartaz do grande Torneio INCAP (Interior x Capital), na Categoria Especial, realizado nos dias 20 e 21 de julho de 2013 no Grande Hotel de Juazeiro. Confesso que fiquei bastante emocionado, pois entre as fotografias postadas no cartaz, duas mostravam o meu amigo como o conheci, jovem e cabeludo. Contei ao amigo Raimundo Fernando e ele me respondeu da seguinte forma:
Caro Sambaquy: Quando enviei esse cartaz que foi “bolado” por um colega de associação, tinha a certeza de que ele mexeria com o seu emocional, sem que isso fosse intencional. Mas, falar desse companheiro que partiu e nos deixou órfãos, ainda hoje, passados alguns meses de seu desencarne, é muito difícil para todos nós chegarmos à associação para jogar e não encontrar aquela figura que era Orlando. É uma falta muito sentida e confesso que não esperávamos que a sua partida se desse tão rapidamente. Foi uma surpresa muito grande, mas o nosso amigo já tinha cumprido a sua missão e foi chamado pelo “Grande Pai” para outros desafios.


Raimundo Fernando enviou algumas fotos da solenidade de entrega de troféus com o nome Orlando, botonista que deixará saudade não só na Bahia, mas em todos os recantos onde existir um amigo que tenha tido a ventura e felicidade de conhecê-lo.
O Troféu foi entregue ao Campeão pelo genro de Orlando 

Raimundo entrega do Troféu de Vice-campeão ao Colega da Liga da Liberdade
Campeões do INCAP

Deixo aqui o meu preito de amizade e saudade de Orlando Nunes, o grande botonista baiano, que mostrou sempre para todos nós a grande figura de desportista que sempre foi. Com certeza, já deve ter encontrado uma Associação Celestial funcionando, a qual aguarda por todos nós, botonistas que ainda teimamos em continuar jogando o nosso Futebol de Mesa.
Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

Sambaquy