segunda-feira, 25 de junho de 2012

CURIOSIDADES EM TORNO DE UM SONHO... UM GRANDE SONHO


Após escrever cem colunas para o blog da AFM, os assuntos começam a ficar escassos e por isso devo sempre recorrer à memória e a alguns textos que guardei, após ter enviado a minha coletânea guardada para Caxias.
Abrindo uma página impressa da Confederação Brasileira de Futebol de Mesa, deparei-me com o título CURIOSIDADES. Pois será essa a motivação para essa coluna.
O início da regra do disco deu-se na Associação de Alagoinhas, no ano de 1959, seguindo daí para as demais cidades da Bahia e, de lá, para todo o nordeste. O primeiro evento regional ocorreu, em 1969, na cidade de Recife e foi denominado de Nordestão. Reuniam-se na competição os estados que praticavam a regra do disco em todo nordeste brasileiro. Seu campeão foi Webber Seixas da Bahia.
A Bahia foi o centro polarizador do futebol de mesa na região e, por essa razão, a regra passou a ser conhecida como Regra Baiana. Em quase todos os bairros de Salvador havia clubes, onde os campeonatos eram disputados acirradamente entre seus associados.
O primeiro evento considerado nacional, que reuniu brasileiros do nordeste e do sul, foi realizado em Caxias do Sul, em julho de 1966, na comemoração do primeiro aniversário da Liga Caxiense de Futebol de Mesa. Junto aos filiados da Federação Riograndense de Futebol de Mesa estiveram dois baianos, filiados à Liga Baiana de Futebol de Mesa. Esse evento foi disputado na Regra Gaúcha. Havia enorme diferença entre as duas regras e, para surpresa de todos os participantes, o baiano Ademar Carvalho chegou à final do torneio, só sendo derrotado por marcar um gol contra ao atrasar uma bolinha para seu goleiro. Como jogava com botões muito maiores e mais pesados que os utilizados pelos gaúchos e, além disso, lisos, em sua base, o botão ganhou velocidade e empurrou o goleiro e bolinha para o fundo das redes.
Isso serviu para mostrar a qualidade do botonismo baiano, diante do praticado no sul. Após o término do torneio, os dois baianos, numa mesa especialmente preparada, fizeram uma partida de demonstração de sua regra. Foi a gota d’água para que ficássemos motivados no sentido de uma regra única, atando o norte ao sul do país, visando, sempre, a uma disputa em caráter nacional. Foi o embrião da Regra Brasileira, desenvolvida em estudos por gaúchos e baianos, que acabou sendo gerada em janeiro de 1967.
Três anos depois de sua criação, o grande sonho de todos os botonistas seria realizado. Em janeiro de 1970, nas dependências do Clube Espanhol, em Salvador, realiza-se o Primeiro Campeonato Brasileiro de Futebol de Mesa. Nele, marcaram presença representantes de seis estados que, prontamente, adotaram a Regra Brasileira: Bahia (anfitriã), Sergipe, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Ademar Carvalho (presidente da Liga Baiana) abrindo a cerimônia que
antecedeu ao Primeiro Campeonato Brasileiro em Salvador.
Sentados: José Gomes (Sergipe) Adauto Sambaquy (RGS), Ivan Lima (Pernambuco)
João Paulo Mury (Rio de Janeiro) e Oldemar Seixas (Bahia)

Equipe do RGS no Brasileiro - Todos de Caxias do Sul
O primeiro campeonato Centro Sul foi realizado em Brusque (SC) e, na ocasião, foi denominado de Sul-Brasileiro de Futebol de Mesa. Seu vencedor foi Dirnei Bottino Custódio, representando Santana do Livramento. Sua criação foi cópia dos Nordestões que reuniam os praticantes do botonismo no nordeste brasileiro. Agora, teríamos o nosso campeonato, agrupando os botonistas sulistas. A idéia vingou e já chegamos à XXX edição.
O futebol de mesa crescia bastante, mas carecia de divulgação, onde os aficionados pudessem conhecer o que se passava em outras agremiações, não só de seu estado, mas de todo o território nacional. As revistas especializadas em esportes raramente nos concediam espaço para a divulgação. E quando isso acontecia, travavam-se batalhas que mais serviam para distanciar os praticantes das diversas regras existentes.
Então, na década de oitenta, alguns abnegados começam a editar boletins tipo tablóides, noticiando as atividades de suas agremiações. Isso serviu para aproximar os botonistas das diversas regras, muito embora alguns fossem radicais em seus pontos de vista. Aceitavam a sua maneira de jogar, desprezando as demais. Ao assumir a presidência da Associação Brasileira de Futebol de Mesa, em 1981, realizei diversas viagens para encontrar essas pessoas que dirigiam entidades, as quais não praticavam a nossa Regra Brasileira. E, com alegria, fomos sempre respeitados e bem aceitos entre eles. Foi o elo que se tornou poderoso e modificador das lutas isoladas que foram dando lugar a um único objetivo. A fundação da Confederação Brasileira de Futebol de Mesa.
Com o advento da Internet e a criação dos blogs, a velocidade da informação transformou as distâncias, reduzindo-as, fazendo com que possamos estar em todo o país em questão de segundos. Assim, e em função do crescimento de nosso esporte, desenvolveu-se uma indústria paralela que agiliza,  de maneira espetacular, a divulgação do futebol de mesa.
No início, eram apenas uns poucos fabricantes de botões e quase todos eles no nordeste. Nos anos oitenta, quando da aproximação com as demais regras, os botões fabricados na Bahia e em Sergipe foram mostrados aos demais praticantes brasileiros. Em São Paulo, usavam os botões vidrilhas (tampa de relógio). Aos poucos, foi sendo utilizado o acrílico e os botões modificados para melhor. Hoje em dia, os botões de vidrilhas só estão de posse dos colecionadores. Além de fabricantes de botões, desenvolveram-se outras atividades que enriqueceram os botonistas: fábricas de arenas, de maletas para acondicionar os botões, bolinhas, traves, réguas, fichas, etc, além do desenvolvimento na criação de troféus especiais para premiar os vencedores de campeonatos.
Mas, o que é mais importante em tudo isso, acima descrito, são as amizades que conquistamos. Os encontros são aguardados com expectativa inusitada e sempre com a esperança de rever esse ou aquele amigo que há muito não vemos. E os abraços são os melhores troféus que guardamos, pois serão eles que nos acompanharão até o final de nossa jornada terrena. Os amigos são a maior conquista que o futebol de mesa nos concedeu. E isso está eternizado na criação que Claudio Schemes e Luiz Alfredo De Bôer, com mais alguns amigos da velha guarda fizeram dos BOTONISTAS BOLA BRANCA. Que coisa mais linda ler notícias sobre esses ícones do nosso esporte que se reúnem para fazer aquilo de que mais gostam: jogar botão.
Cláudio Schemes
E dizer que tudo isso está acontecendo por que perseguimos um sonho, um sonho que se tornou realidade, que sempre foi o de reunir amigos, jogando futebol de mesa, divertindo-se e mostrando que a felicidade é algo que está ao nosso alcance; basta estender a mão e apanhá-la. E eu posso dizer que tive esse sonho e ele foi tornado realidade. E, dentro dessa realidade, possuo um milhão de amigos que praticam o futebol de mesa, o esporte que sempre amei.
Mais Fotos de momentos marcantes:

2º Campeonato Brasileiro - Recife 1971

3º Campeonato Brasileiro - Caxias do Sul

4º Campeonato Brasileiro - Jaguarão
PRIMEIRO CAMPEONATO BRASILEIRO DE FUTEBOL DE MESA, em 1970, em Salvador.
Sambaquy, Ivan Lima (Pernambuco), João Paulo Mury (Rio de Janeiro) e Oldemar
Seixas, distribuindo flâmulas(Bahia).

Encontro com os dirigentes paulistas Geraldo Cardoso Décourt e Antonio
Maria Della Torre no ano de 1981, em São Paulo

Com o presidente da Confederação Brasileira de Futebol de Mesa - Jorge Farah

Até a semana que vem, se Deus permitir.
Sambaquy

2 comentários:

  1. Prezado amigo Sambaquy!

    Parabéns pelo relato! tenho acompanhado semanalmente suas postagens e vejo, com muita admiração, sua forma clara e objetiva de escrever. Sou novo no mundo do botão, pois comecei a jogar oficialmente em 2008, na Regra Pernambucana (Botãobol). Por isso, poder tomar conhecimento de relatos assim, me faz viajar num passado que gostaria muito de ter vivido. Da mesma forma quando Abiud, Hércules e outros mais velhos daqui de Recife, me contam coisas do antepassado da nossa regra. Conhecer histórias assim, me enriquece muito, fazendo abrir os horizontes.

    Quanto às suas palavras finais acima escritas, saiba que o sentimento nosso, dos que fazem o Botãobol, é exatamente esse: somos grandes amigos, unidos pelo mesmo laço, tornando um sonho em realidade. Isso é o que vale, quando nos reunimos para jogar botão!

    Despeço-me com um grande abraço, usando uma célebre frase utilizada pelo meu grande amigo Abiud, em suas matérias no blog "A MARRETA": VIVA O BOTÃO!

    Hugo Alexandre - CHELSEA FCampeoníssimo

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  2. Meu amigo Hugo Alexandre,
    Você está incluido no rol dos amigos que consegui através desse esporte que tanto amamos. Eu também acompanho as descrições dos campeonatos do Botãobol, pois vocês nos fazem ter a impressão que estamos assistindo os jogos, que por sinal e pelos video que assisti devem ser emocionantes.
    Seu blog CHELSEA e A MARRETA do amigo Abiud são leituras diárias.
    A história que vivi no futebol de mesa é uma longa caminhada. Há uma idéia da criação de um livro, que para os botonistas que desejam conhecer um pouco da evolução da diversão de garotos para um esporte reconhecido exigiu muita luta, muita quilometragem,deixar nossa zona de conforto e enfrentar boa e má vontade de alguns líderes. Felizmente, hoje vivemos em paz e vendo o sucesso em diversas frentes.
    Espero ainda ter a satisfação de poder abraçar aos amigos da Rainha das Regras, e tentar bater uma bolinha com esses mestres da bola de borracha.
    Um grande abraço.

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