Meus amigos, o assunto de hoje é
sobre o que ocorre no futebol de mesa, paralelamente às disputas de torneios,
campeonatos e mesmo amistosos.
Em primeiro lugar, deveremos nos
munir de uma mesa e de, pelo menos, dois times, um para jogar e outro para
emprestar. Depois, um local para instalar a mesa, que seja acessível aos
curiosos que poderão tornar-se botonistas como nós. Isso é apenas o começo. Tem
de haver uma divulgação sobre o que pretendemos. Reunir amigos e fazer com que
entendam aquilo a que almejamos, pois sem isso jamais teremos uma associação de
botonistas.
Todas as associações de botonistas começaram dessa maneira. Se não houver um elemento determinado, impulsionador, fatalmente a mesa e os botões acabarão sendo abandonados.
Quando iniciei, a mesa estava na
casa do meu amigo Renato Toni. Jogávamos depois das aulas e não foram poucas as
vezes que a mãe dele nos mandava embora, fazendo com que ele e seu irmão Reni
se recolhessem. Outras mesas existiam. Na casa do Marco Antonio Barão Vianna,
do Vasco Alceu Balen e uma mesa enorme na casa do Mansueto de Castro Serafini
Filho. Na minha casa eu havia conseguido uma mesa pequena, aposentada pelo meu
pai e que levei para o sótão. Risquei as linhas do campo e, como metas,
serviram dois pregos grandes com um arame entre eles. As redes eram de filó,
coladas com sabão derretido. Não havia proteção lateral e os botões viviam
caindo no chão. Nesse tempo, os nossos times eram botões de roupa.
Lembro que o primeiro, ou melhor,
os dois primeiros times padronizados que vi foram trazidos do Rio de Janeiro,
onde Fred Mello havia lançado um livro detalhando a regra toque-toque,
fabricando os times padronizados. Seus proprietários eram o Luiz Felipe Kunz
Netto e Lyon Kunz. Mas, ao mesmo tempo em que eram admirados por serem todos
iguais, eram repudiados por serem arredondados. As paletas escorriam
rapidamente e não havia condições de fazer boas jogadas. Algum tempo depois
surgiu o primeiro botão puxador e a febre motivou mais ainda os botonistas
caxienses.
Lembro que, aos sábados e
domingos pela manhã, o Renato e eu saíamos para jogar em diversos pontos da
cidade. Visitávamos o Ruy Pratavieira, Vanderlei Prado, José Roque Aloise, José
Pozza, Sylvio Puccinelli nos diversos bairros da cidade. Ora era em São
Pelegrino, Bairro de Lourdes, na casa do Ruy Pratavieira ou então na
alfaiataria do seu Aloise, em frente à Livraria Saldanha. Tempos depois, o
Renato e eu brigamos e, então, descobri o Enio Chaulet e o Marcos Lisboa que
também dispunham de mesas em casa. O Marcos era um mago do botão, pois os torneava
dando o caimento ideal para cada um deles.
Com a criação da Regra
Brasileira, passamos a comprar botões na Bahia. Desenhávamos os tipos de botões
e a encomenda seguia via Oldemar Seixas, sendo fabricados pelo seu Aurélio.
Algumas semanas depois, via Varig, recebíamos os times e partíamos para as
mesas, agora já existindo em quantidade elogiável nas diversas associações da
cidade.
Comprei muitos times, tanto do
seu Aurélio como do José Castro Sturaro. Os do Sturaro eram mais baratos, mas
feitos de acrílico com um bom acabamento. E, muitas vezes, presenteava pessoas
que não tinham condição de adquiri-los. Nunca fui de guardar muitos times. Até
mesmo o time com o qual fui campeão caxiense, em 1969, foi dado de presente a
um menino filho de uma prima.
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Botões da regra Brasileira |
Em Brusque, quando iniciamos a prática
do futebol de mesa, havia uma quantidade enorme de meninos que praticavam, pois
o domingo era o dia deles. Muitos encomendavam os times e eu mandava buscar,
sempre pedindo mais alguns para ter em estoque. Lembro que, depois de receber
um pacote com diversos times, três meninos foram na minha casa para buscá-los no Jardim Maluche. Com eles estavam dois
filhos do roupeiro do Clube Atlético Carlos Renaux. Os dois meninos não tinham
condição alguma de comprar, pois o trabalho de seu pai não lhe rendia valor
para comprar coisas supérfluas. Os dois olhavam encantados para os times dos
seus amigos. Perguntei-lhes se eles jogavam. Disseram que quando alguém lhes
emprestava um time gostavam de praticar, mas não tinham como comprar. Então,
apanhei do estoque um Clube do Remo e um Náutico e dei a cada um. Os dois
choraram emocionados. Até hoje, quando retorno à cidade, lembram do fato e da
alegria que sentiram, quando um desconhecido lhes deu um presente que
almejavam.
Sei que gastei muito dinheiro com
o futebol de mesa, mas acredito que valeu a pena, pois saber que, mesmo com a
dificuldade atual de promover o nosso esporte, ele está sobrevivendo e fazendo
frente aos jogos eletrônicos que abundam por esse país afora.
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Celso Sambaquy Brincando em seu Estrelão. |
Muitas vezes fui enganado por
espertalhões que entravam nesse mercado. Ao me tornar campeão caxiense,
encomendei uma caixa de couro, que era fabricada em Guarabira, na Paraíba, para
guardar meus botões. Era uma caixa muito bonita que vinha com o distintivo do
G. E. Flamengo na parte de cima e escrito meu nome com os dizeres: Campeão
caxiense de 1969. Numa das laterais estava escrito Grêmio E. Flamengo e, na
outra, Caxias do Sul (RS). Na parte de baixo, desenhado um campo com 22 botões,
sendo que um time com a letra F. Paguei antecipadamente e recebi em minha casa.
Tempos depois, quando passei a jogar com o S. C. Internacional, resolvi
encomendar outra, dessa vez com a homenagem ao colorado. O referido fabricante
me forneceu o preço e eu enviei o dinheiro a ele. Ele fez a caixa de couro, mas
nunca me remeteu. Perdi o dinheiro e o amigo. Ninguém é perfeito e nós continuamos a nossa
caminhada.
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Foto Antes do Clássico Caju de 2013. Zambi e Rogerinho no desafio do futebol de mesa. |
Até a semana que vem, se Deus
permitir.
Sambaquy
Sambaquy, minha história é muita parecida com a sua. Jogo botão desde os 6 anos de idade e passei por várias mesas, inclusive já possui campo no tempo da regra leva-leva. Um único detalhe: sempre joguei com bolas esféricas (cortiça, feltro, linha, farinha e conta de colar). Já presenteei times mas aquelas pessoas que receberam não continuaram no botão. Hoje, tenho mais de 1000 botões, distribuidos em mais de 118 times e chegando mais. É uma mania que eu não sei aonde vai parar. Deixarei para os herdeiros, sem dúvida. Um adendo: Guarabira parece não lhe ser muito simpática. Abração pernambucano. Abiud
ResponderExcluirAmigão Abiud,
ResponderExcluirSomos parecidos em nossas escolhas no tocante do futebol de mesa. Acredito que as pessoas que lutaram por ele devem ter situações semelhantes às nossas.
Guarabira é uma pequena cidade da Paraíba, pela qual tenho muito respeito pois representando-a no segundo brasileiro, ai em Recife, conheci e joguei com Manoel Nerivaldo Lopes, uma pessoa fantástica. Conheci também a pessoa que fabricava as maletinhas de couro. Achei até simpático, mas infelizmente, foi desleal comigo. Mas, não deve servir de parâmetro para os demais moradores da cidade, os quais eu comparo ao Nerivaldo, por quem nutro uma amizade imensa.
Em Recife também houve uma pessoa que me enganou, mas isso não vai fazer eu mudar meu pensamento pelos amigos que mantenho, pois são casos isolados que não servem de exemplo para a grande maioria, a qual sempre mostrou-se correta e confiável. Infelizmente acontecem coisas que incomodam, mas ficam guardadas no passado e servem de exemplo para, no futuro evitarmos ser enganados novamente.
Um grande abraço e treine muito para chegar as finais do Chifronésio, pois pelo que lí a coisa está feia para o seu lado.
Um abração gaúcho/catarinense.
Sambaquy