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Clair Marques campeão de tudo, colorado |
A história do Clair poderia ser a
história do futebol de mesa de Rui Grande. Menino ainda, na festa de seus 12
anos, entre todos os presentes, o que mais prendeu sua atenção foi o que seu
cunhado lhe entregou. Eram dois times de plástico, dois “times de futebol de
botão”, um do América e outro do Flamengo, ambos do Rio de Janeiro. Naquele 15
de novembro de 1956, Clair foi inoculado com o vírus que nunca mais o
abandonou.
No piso de madeira da sala de sua
residência deixou seu “amor à primeira vista” desfilar, fazendo suas partidas.
Depois disso passou a jogar
contra os moleques de sua rua. Dentre eles, sobressaía-se o Robertinho. Era
deixar uma bola sem cobertura e tinha de buscar a bolinha dentro de seu gol.
Foi o Robertinho que o levou até a Padaria Sul América, onde, após o
expediente, seu proprietário Antonio Leite, seu filho Antoninho, Rominho,
Grilo, Zé, Walter José Ferreira (o campeão da Padaria) e o próprio Robertinho
disputavam campeonatos organizados com uma regra idealizada por eles mesmos.
Foi lá que ele foi apresentado aos botões puxadores. Conseguiu dinheiro e
adquiriu um time de puxadores, o qual denominou de Real Madrid, o time mais
destacado do mundo na época. Todos eles acompanhavam as notícias sobre esses
times na Revista do Esporte. Com o Real Madrid na mão, passou a frequentar a
Padaria e seu jogo evoluiu consideravelmente.
Mas, a grande dificuldade era e
sempre foi a Regra. Cada grupo tinha a sua. E o sonho do Clair era ver todos
jogarem com uma única regra, pois assim, em qualquer canto da cidade, os jogos
seriam iguais.
Foi então que tomou conhecimento
de que, em Porto Alegre ,
no ano de 1961, um abnegado desportista chamado Lenine Macedo de Souza havia
fundado uma Federação Riograndense de Futebol de Mesa. Juntou dinheiro e mandou
vir duas mesas oficiais, passando a jogar na Regra Gaúcha. Com isso,
participavam de torneios e campeonatos promovidos pela Federação, o que os
obrigou a criar uma Liga Riograndina de Futebol de Mesa.
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Clair em início de carreira, com Lenine Macedo de Souza e o primeiro campeão riograndino Hallal |
Algum tempo depois, toma
conhecimento, através da Revista do Esporte, da reportagem “Bahia dá lições de
Futebol de Botões”, de autoria de Oldemar Dórea Seixas. Escreve a ele e recebe
resposta. Assim é criada a nossa amizade, pois Oldemar nos coloca em contato.
No ano de 1966, ano da
comemoração do primeiro aniversário da Liga Caxiense de Futebol de Mesa, Clair
é convidado e comparece, tendo a oportunidade de conhecer os dois baianos que
estavam presentes: Oldemar Seixas e Ademar Carvalho. O torneio é realizado na
Regra Gaúcha, com brilhantismo e com a participação dos dois convidados
baianos. Após o torneio, é feita uma demonstração do então futebol baiano, com
botões padronizados, num campo muito maior dos oficiais da Regra Gaúcha. Da
mesma forma que os demais assistentes, fica maravilhado com a plástica
desenvolvida e as jogadas de efeito.
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Campeonato Gaúcho em 1966,
Caxias do Sul. Clair aparece no meio da foto
|
Nesse mesmo ano, voltou a Caxias,
agora em dezembro.
Volta a Caxias, pois a Liga Caxiense fora incumbida de
realizar o Campeonato estadual de 1966. Acompanha-o Gerson Marcílio Soares
Garcia que disputaria a modalidade juvenil, sagrando-se campeão. Clair não foi
muito bem nesse campeonato.
No ano seguinte, em 1967, o
estadual de futebol de mesa realiza-se em Rio Grande , sua terra natal. São suas as palavras
que foram incluídas num trabalho maravilhoso feito pelo Rangel, no blog da
AFUMECA: ”Nesse campeonato, em que terminamos no empate Enio Vogues e eu, fomos
declarados campeões. Foi um campeonato estadual realizado em Rio Grande, no Esporte
Clube União Fabril, que ficava localizado em frente ao portão lateral do
Cemitério de Rio Grande e que já não existe mais. Eu estava em minha casa, já
achando que o Lenine e seus convidados não viriam mais, quando escutei o som de
fogos de artifício. Fui olhar no portão e vi que estavam se dirigindo para
minha casa, num comboio de cinco ou seis carros e uma Kombi, com bandeiras da
FRFM e cartazes alusivos ao campeonato estadual de futebol de mesa que seria
disputado na cidade. Juntamos o pessoal de Rio Grande com os demais convidados
e começamos as disputas do certame.
A finalidade maior desse
campeonato estadual, a qual descobri posteriormente, era a de promover os novos
botões plásticos “Lione” da fábrica do Lenine Macedo de Souza. Cada
participante do campeonato teria de retirar cinco de seus botões de galalite do
seu time e, obrigatoriamente, incluir outros cinco da marca “Lione”. Esse
detalhe o Lenine não havia comunicado a ninguém de Rio Grande.”
Já estava em vigor a Regra
Brasileira, promovida pela Liga Caxiense de Futebol de Mesa, mas os
participantes da Liga Riograndina de Futebol de Mesa, diante das enormes
modificações entre as duas regras, permaneceram fiéis à Regra Gaúcha. O
episódio da inclusão dos botões “Lione” entre os botões escolhidos para
comporem os times fez muitos ficarem bastante magoados com a Federação. Mesmo
assim continuavam jogando a Regra Gaúcha.
A adesão à Regra Brasileira
aconteceu a partir de 1979, quando dois amigos foram convidados a participar do
Campeonato Brasileiro desenvolvido em Jaguarão. Voltaram
maravilhados com tudo o que viram. Esses dois e mais um grupo de amigos
fundaram a Associação Riograndina de Futebol de Mesa. Destaque especial para
Ademir Freitas Duarte que confeccionou as duas primeiras mesas e sugeriu o
escudo da nova entidade. Junto com Clair, estiveram desde o início: Luiz
Alfredo De Boer, Carlos Alberto Perazzo, Ronir de Oliveira, Paulo Roberto
Monteiro, Mário Constantino, Gilberto Pereira, Oscar Schmidt, Alfredo Brito,
Douglas, Batista, Silvio Silveira e Alam Casartelli. Nascia a entidade mais
vitoriosa em terras farroupilhas.
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Clair e Silvio dois fundadores da ARFM |
Em 1992, transferido para
Paranaguá (PR), sem ter adversários, para por quatorze anos de jogar. Até que,
em 2005, alertado por Sérgio Oliveira, descobre em Curitiba o botonista carioca
Mauro Paluma. Esse havia recebido de Cláudio Savi Guimarães uma mesa oficial e
a montara no Clube D. Pedro II. Mauro havia descoberto Jeferson Mesquita,
gaúcho de Uruguaiana e que militara o COP – Pelotas. Após a adesão de Clair,
apareceram Marcelo Silva, Alexandre Magnus e Luiz Henrique Ramalho da Roza,
ensejando a fundação da AFUMTIBA – Associação de Futebol de Mesa de Curitiba e
arredores.
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AFUMTIBA - Curitiba
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Clair tem inúmeras conquistas,
dentre as quais destacaremos Tetra Campeão da ARFMN (1979, 1983, 1987 e 1991),
Campeão do Torneio Fronteirão (1983), Bi-Campeão da Taça RS (1980-1985).
Somos amigos desde 1966, quando o
recebi em minha casa em Caxias do Sul, já que ele participaria do Torneio de
aniversário da Liga Caxiense. Lembro ainda que, ao final do torneio,
reunimo-nos com os baianos no Alfred Hotel para discutirmos a possibilidade de
unificarmos as duas regras. Foi um dos baluartes na idéia dessa unificação. Ao
deixá-lo na Rodoviária, de onde partiria de retorno à sua cidade, escutávamos o
jogo Flamengo de Caxias x Rio Grande e, no final do jogo, o vovô do futebol
brasileiro marcou um gol e ele berrou de alegria. Ao saber que eu torcia pelo
Flamengo, pediu desculpas, mostrando o seu caráter digno.
Esse é o Clair Marques, mais uma
bandeira do botonismo gaúcho, a quem envio o meu abraço.
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Gaúchos em Itapetinga BA.
Clair é o penúltimo da esquerda para a direita
agachados. |
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Guido e Clair, duas lendas
do futmesa
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Até a semana que vem, se Deus
assim permitir.