Talvez eu devesse iniciar essa
história da maneira tradicional. ... Era uma vez, um grupo de jovens moleques
que foram incentivados a jogar botão, depois que o presidente da Federação
Riograndense de Futebol de Mesa fez uma demonstração da Regra Gaúcha no clube
onde se reuniam. Era o início dos anos sessenta e o Recreio Guarany acolhia os
filhos de seus associados em um salão, onde Lenine Macedo de Souza deixara uma
mesa, cavaletes, traves com redinhas, dois times e algumas bolinhas adquiridos
pelo clube. Os moleques tinham agora um incentivo maior para os seus
campeonatos, pois um adulto estivera explicando as diversas nuances da regra
que era praticada de forma oficial no estado.
No clube residia o senhor
Frederico Dalla Rosa (Fritz) que ocupava o cargo de ecônomo. Seu Fritz tinha
dois filhos: Airton, que desde cedo se tornara um grandioso e imbatível
botonista e Sirlei, uma loirinha linda, estudante e recatada. Airton logo se
torna um dos líderes desse grupo e reúne seus amigos em ferrenhos campeonatos.
Dentre eles, um quase vizinho, futuro odontólogo, chamado Nelson Prezzi. Outros
também frequentavam o ambiente esportivo e eram amigos, como Ângelo Slomp,
Almir Manfredini, Ariovaldo Sebben, Carlos Berti, Jorge Compagnoni, Ivan
Puerari, José Raul de Castilhos, Marcos Meregalli, Milton Berti, Paulo
Leonardi, Sérgio Silva (garçom do clube) e Vitório Menegotto.
A nossa história se inicia nas
disputas ferrenhas e barulhentas desse grupo que acabou chamando a atenção da
Sirlei que foi dar uma espiadela, matando a curiosidade. Naquele momento, o
anjinho Cupido estava, também, interessado na barulheira da molecada e, de cima
olhando, quando observou a chegada da Sirlei e vislumbrou o olhar que foi
trocado entre ela e o Nelson Prezzi. Foram duas flechas certeiras que
atravessaram os dois corações. A partir daí, Nelson, quem era sempre um
aspirante ao título máximo, passara a ser um mero figurante, com um interesse
único de estar presente no clube e, Sirlei, que nunca se interessara pelo
futebol de mesa, a torcedora mais apaixonada, não perdendo uma só reunião da
molecada.
Desse primeiro olhar passaram ao
flerte, ao namoro, ao noivado e finalmente ao casamento. O futebol de mesa
criava o primeiro casal de apaixonados que daria muitos frutos.
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Da união de Nelson e Sirlei vieram Sheila, Rogério e Alexandre |
Tempos depois, dessa linda união
veio a bela Sheila, o robustinho Rogério e o fininho Alexandre. Nelson
continuava a praticar o futebol de mesa, agora com menos constância, devido aos
seus estudos, sua formatura e a prática da odontologia. Seu Penharol ainda
fazia estragos nos diversos campeonatos que disputava, tanto na Liga Caxiense,
como nos campeonatos do Guarany e do Vasco da Gama.
Quando o Rogério e o Alexandre
estavam com cinco ou seis anos, presenteou-lhes com uma mesa de botão
(Xalingão). Ao Rogério couberam dois times de plástico; Flamengo e Corinthians
e, ao Alexandre, o Fluminense. Marcou a vida dos dois que se tornaram
torcedores desses times para sempre. Como eram pequenos, os campeonatos eram
realizados dentro de casa ou então na escola. Algumas vezes conseguiam
permissão para visitar amigos como Daniel Pizzamiglio ou Marcelo Concli. Recortavam
da revista Placar os escudinhos, criando
times diversos, aumentando as disputas internas, o que deveria causar alvoroço
nas dependências da residência, pois nenhum queria perder.
Por um dever de consciência e
arrependimento, tornei-me padrinho do Rogério, logo após ele ter confessado o
grande trauma de sua vida. Explico melhor. Quando ele completaria o seu
primeiro aniversário, a festa não pode ser realizada na ocasião, pois seus
pais, junto com a Sheila estavam em Brusque, participando de um torneio de
futebol de mesa, convidados que foram pela Associação Brusquense. Participaram
também Airton Dalla Rosa e Luiz Ernesto Pizzamiglio, que com suas famílias
prestigiavam essa entidade catarinense. Senti-me culpado, pois fora eu que os
convidara. Assumi sem o consentimento da Sirlei e do Nelson a função de
padrinho desse menino traumatizado.
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O abandonado Rogério com a Vó Adelina curtindo seu aniversário de 1 ano |
Mas, os moleques cresceram e
acompanhavam os pais que se deslocavam à sede campestre do Recreio da
Juventude, para onde fora levada a Liga Caxiense de Futebol de Mesa. Lá,
ficavam incomodando os adultos que queriam jogar livremente, andando ao redor
das mesas. Foi então que alguma mente iluminada resolveu o problema. Mandou
confeccionar cavaletes com pouca altura e colocou uma mesa à disposição da
piazada. Foi a glória dos moleques. Os Prezzi, Daniel Pizzamiglio, Felipe e
Francisco Barreto, Fábio Crosa (sobrinho do Daniel Crosa), o filho do Marcos
Zeni passaram a realizar campeonatos muito mais emocionantes do que os adultos
realizavam.
No final dos anos oitenta houve
uma parada com o futebol de mesa em âmbito citadino. Mas, os Prezzi continuavam
a usar o Xalingão, disputando inúmeros campeonatos. Na reativação da Liga, obra
do Vanderlei Duarte, o Airton Dalla Rosa e o Luiz Ernesto Pizzamiglio os
levaram para conhecer a nova sede. Estava situada no entroncamento da Rua Moreira César. Era bem mais perto do que
o Recreio da Juventude e os campeonatos começaram a reunir todos em igualdade.
Formaram a Ala Jovem da entidade.
Rogério é presenteado pelo seu
tio Airton com um time azul. Airton sempre jogou com o Cruzeiro de Minas
Gerais. Ele não poderia, portanto, usar o mesmo time. Pensou em um time azul
que pudesse inscrever na Liga. Depois de muitas consultas, optou por Avaí, um
time da capital catarinense, campeão de 1997, na série C do Campeonato
Brasileiro. Alexandre, afilhado do Luiz Ernesto Pizzamiglio, recebeu de
presente um Fluminense. Surgia então a grande disputa que persiste até os dias
atuais, quando os dois irmãos se encontram: Avaí x Fluminense. É um jogo sempre
esperado pelo pessoal da AFM, pois todos sabem que ninguém facilita nada, um
querendo quebrar o outro. Em todas as tabelas é sempre um jogo da primeira
rodada, para não haver brigas na família.
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Clássico realizado na Franzen |
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Clássico na AFM Caxias supervisionado pelo PizzaPai |
Eles se reuniam às sextas feiras,
sempre com a presença do Daniel Pizzamiglio que vinha de Porto Alegre e mais o
Rafael, jogando até a madrugada. Era uma época em o Vanderlei abria a sede nas
tardes de terças e quintas feiras, onde os dois treinavam com o mestre. Mas,
quando começaram a trabalhar, a coisa ficou impossível de continuar e houve uma
parada. E, nessa parada, a defecção com a ausência sempre sentida de Airton
Dalla Rosa, que se afastou dos gramados de madeira e de seu pai, Nelsinho Prezzi,
combatente do vício do fumo, revoltado com o costume de alguns que, no ambiente
praticavam livremente a queima de tabaco. Foram duas perdas muito sentidas.
Continuavam no prédio da Rua
Garibaldi, uma grande sala alugada, quando a Ala Jovem foi tremendamente
reforçada com a chegada do Ednei Torresini e, especialmente, a aquisição do
Daniel Maciel que levou com ele seus primos Paulo Rodrigues e Mário Vargas.
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2005 - Surge uma força mais jovem na AFM Caxias |
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Torneio 40 anos de LCFM - Pontapé inicial da evolução |
Até então as disputas eram
somente locais. Houve a necessidade de se filiar à Federação Gaúcha de Futebol
de Mesa, com intercâmbios com as demais agremiações, fortalecendo os laços de
amizade com milhares de botonistas, não só do Rio Grande do Sul, mas de todo o
país. Com isso, Caxias se torna a Capital da modalidade Liso, no Rio Grande do
Sul.
As participações desses irmãos,
que trazem em seu DNA o futebol de mesa, aconteceram aos poucos. Alexandre fez
parte do grupo que viajou ao Espírito Santo em 2006 e em 2009 sagrou-se Campeão
Gaúcho por Equipes, representando a AFM Caxias do Sul.
Os títulos da dupla são de vice-campeões
em diversas competições. Alexandre foi vice na série A, B, na Copa Primus,
Torneio de Inverno. Rogério foi vice na série B e duas vezes do Torneio Campos
dos Bugres.
Os dois já presidiram a entidade.
O Alexandre, substituindo o Vanderlei, quando teve problemas a resolver e o
Rogério, que foi o presidente mais vitorioso da AFM, ficando no cargo de 2011 a
2012.
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Galeria de troféus dos Prezzi |
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Sempre de perto Nelsinho Prezzi entrega prêmio as filhos |
Realmente, a história, como num
conto de fadas, mostra que o futebol de mesa conseguiu unir um botonista e a
irmã de outro que, casando, aumentaram a grande família botonista gaúcha,
produzindo dois excepcionais botonistas, os quais se somando às virtudes do pai
e do tio, só engrandeceram o esporte dos botões nessa terra maravilhosa que é
Caxias do Sul.
A minha homenagem dessa coluna é
para essa família maravilhosa que guardo no meu coração desde aqueles primeiros
olhares, acompanhados de longe por mim e que produziram filhos maravilhosos, os
quais engrandecem o esporte e fazem com que eu possa sentir a felicidade de
haver contribuído indiretamente para tudo isso.
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Família Prezzi no 88º aniversário do Vô Fritz |
Que Deus conserve esses amigos
queridos para todo o sempre.
Até a semana que vem, se Deus
assim permitir.
Meu caro amigão Sambaquy. Belas reminiscências, que me fazem recordar os meus velhos tempos de botão. A diferença é que éramos muito e muito mesmo desorganizados e as rivalidades levaram muitas disputas ao abandono de um ou de outro. Aqui. temos um botonista da velha guarda, Paulo Felinto Gouveia de Albuquerque, avesso à Internet e que teria muitas e muitas histórias para contar. Por mais que eu o incentive, ele permanece recluso na distante cidade de Rio Formoso, zona da matal sul de Pernambuco. Um alento: suas crônicas, Sambaquy, fazem com que eu viaje no tempo. Que delícia! Abração pernambucano.
ResponderExcluirAmigo Abiud,
ExcluirQue pena que o Paulo Felinto não está colocando no papel todas as histórias sobre o nosso esporte. Acredito que modestamente estou conseguindo reviver uma época dificil, mas que traz muitas saudades a todos nós. O tempo passa e aquilo que não ficar registrado irá com ele. Por isso eu escrevo e vou tentar sempre deixar as histórias vividas em outras eras para aqueles que estão fazendo o futebol de mesa da atualidade. Um dia elas serão recordadas e reverenciadas. Um abração gaúcho/catarinense.
Sambaquy,
ResponderExcluirParabéns pela matéria, a mesma conta em detalhes o histórico da família Prezzi no esporte. É um prazer tê-los como amigos.
Abraços
Meu amigo Daniel Pizzamiglio,
ExcluirVocê está presente nessa história, pois foi o maior incentivador dos Irmãos Prezzi. As histórias acabam se mesclando e seu pai é padrinho do Alexandre. Veja bem que no fundo, todos nós formamos uma grande família botonistica caxiense.
Abração.
É lógico que a emoção rola ao ver este belo texto escrito pelo nosso amigo Sambaquy. Ele acompanhou boa parte desta história toda e até hoje trocamos muitas histórias em nossos papos pela internet, quando não pessoalmente e é fato que sempre ele tem algo a ensinar para nós.
ResponderExcluirAgora só posso é agradecer a ele por transmitir a todos do futebol de mesa nossa história.
Agradecer ao Tio Ito (Airton Dalla Rosa) e ao Tio Teco (Luiz Pizzamiglio) pelos inúmeros incentivos a prática do futebol de mesa e das virtudes que um botonista deve ter em seu comportamento é redundante após ler o texto. Mas principalmente devemos nós, Alexandre, Sheila e eu agradecer todos os dias pelas lições e incentivos dados pelo Dr. Nelson e pela Prof Sirlei que nos aguentam e principalmente nos aconselham sempre que necessário.
Por fim dizer que o Futebol de mesa só traz alegrias com um grande numero de amigos que conquistamos por ai, tai o grande exemplo de nosso Amigo Daniel Pizzamiglio que conservamos desde o tempo de guris. Além de ser um esporte extremamente saudavel.
Obrigado Amigo/Padrinho Sambaquy
Meu afilhado do coração,
ResponderExcluirO Dr. nelson e a Prof. Sirlei já garantiram um lugar no Paraiso. Vocês ainda deverão garimpar para ver se conseguem uma vaguinha.
Meu afilhado, nada mais justo do que tentar homenagear as pessoas que fazem parte de nossa vida. Fico feliz quando acerto as homenagens e sei que vocês são merecedores pelo muito que já fizeram e que ainda vão fazer pelo futebol de mesa.
Um abraço e não esqueça de mandar noticias.