Meus
amigos, a dois dias do Natal, época em que sempre recordo de fatos acontecidos em
minha vida, lembrando do pinheiro que meus pais armavam em casa, sempre
ornamentado com um presépio maravilhoso; tudo isso faz com
que eu procure sempre coisas que me transportem ao passado. E entre essas
coisas, certamente, o futebol de mesa.
Estive,
em minhas caminhadas pela orla marítima, dando tratos aos meus pensamentos,
imaginando sobre o que poderia falar nessa penúltima coluna do ano de 2013. Foi
então que uma luz brilhou em minha memória. Falar sobre o possível primeiro
campeonato brasileiro de futebol de mesa que deveria ter sido realizado no
país. Procurei entre os meus escritos e fiquei deslumbrado com a ideia de
contar para todos o que pensava o presidente da Federação Riograndense de
Futebol de Mesa.
A
pioneira Federação de nosso esporte foi fundada em 9 de agosto de 1961, com o apoio
da ACM, AABB e Clube Juvenil da Amizade. Após essa intrépida atitude, que
coordenava os botonistas do Rio Grande do Sul, seu presidente e fundador Lenine
Macedo de Souza viajou a São Paulo, com a companhia de Milton Mendonça, campeão
do primeiro campeonato interno de clubes e representante da AABB, com a
finalidade de ajudar a fundar a Federação Paulista de Futebol de Mesa. Entrando
em contato com a Associação Cristã de Moços de São Paulo, AABB e Grêmio Esportivo
Ultragaz, conseguiu ajudar na sua fundação em 21 de outubro de 1962, na sede da
ACM, Rua Nestor Pestana, 147. Isso foi documentado no jornal Diário da Noite em
6 de novembro de 1962. Em seguida, rumaram para Belo Horizonte e o Diário da
Tarde, de Belo Horizonte, em 3 de novembro de 1962, publicava “Será fundada
hoje a Federação Mineira de Futebol de Mesa”. Afirmava, no corpo da reportagem,
que no Brasil existem, em pleno funcionamento, as entidades no Rio Grande do
Sul, São Paulo e Paraná, enquanto os mesistas de Santa Catarina e da Guanabara
cuidam de seus primeiros passos para a criação de suas Federações. Na capital
mineira, inúmeros desportistas já pensavam, com seriedade, em dar estrutura e
regulamento próprio às disputas e aproveitaram a oportunidade da presença do
Sr. Lenine Macedo de Souza, presidente da Federação Riograndense de Futebol de
Mesa para marcarem a assembléia geral de fundação. A solenidade será realizada
hoje, às 20 horas na sede social do Cruzeiro, para a qual estão sendo
convidados todos os interessados na prática do futebol de mesa. Para a
presidência da nova entidade foi ventilado o nome do jornalista Cleto Filho,
que por motivos particulares declinou, indicando o advogado Luiz Carlos
Rodrigues, o qual foi eleito o presidente da novel Federação.
Após
essas viagens, feitas por conta própria, o sonho de nosso amigo Lenine era a
realização de um campeonato brasileiro em sua cidade: Porto Alegre. As datas
escolhidas foram os dias 15 e 16 de dezembro de 1962. Os convites foram feitos
e o campeonato seria realizado na Regra Gaúcha.
Lenine
viajou a Caxias do Sul no dia 3 de dezembro, para se reunir com o Dr. Claudio
Eberle, presidente da Fundação Abramo Eberle, com vista ao patrocínio dessa
primeira grande iniciativa. O representante da Metalúrgica Abramo Eberle, além
do patrocínio, ofertou vinte taças e vinte medalhas para serem distribuídas
entre os vencedores.
O
local para essa disputa, em âmbito nacional, foi a sede do Aeroclube do Rio
Grande do Sul, Avenida Borges de Medeiros, 901, com início às 14 horas. O
campeonato seria disputado em duas categorias. Primeira categoria, representada
por Lenine Macedo Souza (Cantegril) e segunda categoria, pelos botonistas: Celso
Plentz (G.E. Wallig), Jorge Hallal (Estrela Vermelha – Rio Grande) e Caira
Casapicola (Gaúcho). Haveria também a disputa feminina com a dupla Zaira
Casapicola e Lenita Souza.
Mas,
como a disputa seria realizada na Regra Gaúcha, nem paulistas, nem mineiros
apareceram por lá. Ambos sempre jogaram com bolinhas esféricas e não aprovaram
a bolinha em formato de disquinho.
A
Folha Esportiva, de dezembro de 1962 publicou: Gaúchos sozinhos no
Brasileiro de Futebol de Mesa, explicando a ausência das Federações
convidadas. Por essa razão a Federação Riograndense proclamou os diversos
botonistas gaúchos campeões por W.O., em virtude do não comparecimento de seus
adversários, destinando aos mesmos os troféus e medalhas que foram ofertados
pela Metalúrgica Abramo Eberle S. A. Em nota, na mesma reportagem, a FRFM convocou,
por intermédio do jornal, os representantes do interior, para que pudessem comparecer
novamente na Capital, no dia 16, a fim de receberem os títulos de campeões
brasileiros e disputarem, durante a tarde, o torneio de despedida do ano de
1962.
A
ideia de promover o campeonato brasileiro era antiga. Mas, a tentativa de impor
a Regra Gaúcha aos demais Estados da União não colou, pois só no nordeste
brasileiro havia grupos que jogavam com disquinhos. Os demais jogavam com
bolinhas esféricas, o que dificultava a adesão. Para conseguirmos realizar o
primeiro Campeonato Brasileiro foi necessária a criação da Regra Brasileira,
que juntou muito da Regra Gaúcha com a Regra Baiana, e foi aceita por grande
parte de botonistas brasileiros.
Oito
anos se passaram, desde a tentativa sem sucesso de Lenine Macedo de Souza até
que se concretizasse esse sonho, em 1970, na Bahia. Já, na Regra de 3 Toques, o
campeonato brasileiro teve início em 1981, em Brasília. Na Regra de 12 Toques,
em 1989, em São Paulo. Portanto, estamos ligados de maneira muito evidente ao
sonho de reunir botonistas de vários Estados em um campeonato que apontasse o
Campeão do Brasil.
Essa
coluna é uma homenagem aos pioneiros que tanto fizeram pelo futebol de mesa,
difundindo-o através de jornais que são documentos extraordinários para a
história do Futebol de Mesa brasileiro.
Até
a semana que vem, se Deus assim permitir.
É isso aí, Sambaquy, até se chegar a um consenso vai uma grande distância e muitas vezes não se consegue. Ainda bem que a semente plantada germinou e a regra brasileira tornou-se realidade. Feliz Natal e um ano de 2014 com muito mais botão. Abração pernambucano.
ResponderExcluirAmigo Abiud,
ExcluirRealmente o sonho que nos moveu na criação da Regra Brasileira fez com que despertasse o sentido coletivo do futebol de mesa, irmanando botonistas de várias regiões. O exemplo serviu para a criação de outrops campeonatos brasileiros em modalidades diferentes.
Feliz Natal e um 2014 com muitas realizações.
Abração gaúcho de coração e catarinense de adoção.