No dia sete de dezembro, se
estivesse entre nós, Vanderlei Duarte estaria comemorando mais um aniversário.
Talvez nenhum de vocês tenha lembrado esse dia, em que seria comemorado mais um
ano de vida desse baluarte do futebol de mesa caxiense. Baluarte, pois soube
segurar nas mãos os destinos de nosso esporte nos anos difíceis em que
lutávamos para reunir disputantes em volta das mesas. O futebol de mesa nunca
perdera o seu valor, mas, seus disputantes encontravam outras atividades e se
esqueciam de prestigiar o esporte dos técnicos. Mas, a perseverança do
Vanderlei predominou, lutando diariamente para encontrar botonistas, convidava
a todos a voltarem a praticar.
Tentou de todas as maneiras até
conseguir um grupo, na Rua Garibaldi, numa sede alugada e sob sua
responsabilidade. Nela, fui recebido e
joguei contra o fabuloso Casara, um clássico caxiense jamais praticado – G. E.
Flamengo x S. E. R. Caxias do Sul. Foi lá, também, que o Vanderlei me chamou a
um canto e disse: - Vais conhecer um guri que fará muito pelo futebol de mesa.
Ele está começando e vai chegar daqui a pouco. – Quero que jogues com ele, pois
já te considera um ídolo. O dia foi 21
de janeiro de 2004. Pouco depois chegava Daniel Alves Maciel, um cara grandão e
que foi logo colocando o time na mesa. Jogamos e, naquela época, ainda podia
fazer-lhe frente, já que ele estava
apenas iniciando. O Vanderlei era assim, sabia reconhecer um diamante antes de
ser lapidado.
Vanderlei Duarte (d) e Daniel Maciel (e) |
Depois disso, com um grupo já
consolidado, transferiu-se com armas e bagagens para a Rua Hércules Galló, 570,
bem pertinho do estádio do E. C. Juventude. Responsabilizava-se pelo aluguel, o
qual, muitas vezes era pago com seu dinheiro, até que o caixa do clube o
ressarcisse financeiramente. Além disso, fabricava as mesas com uma perfeição
de dar inveja aos nordestinos. E colocava nomes nas mesmas. Havia mesas com
nomes de Silvio Puccinelli, Ângelo Slomp, Almir Manfredini, Luiz Ernesto
Pizzamiglio, Deodatto Maggi e Adauto Celso Sambaquy.
Mas, nosso amigo tinha um gênio
terrível. Teimoso, genioso, vingativo, não perdoava aquilo que considerava
errado, apesar de não ter a flexibilidade de reconhecer que muitas vezes errava
também. E não eram poucas as vezes que isso ocorria. Conseguia reunir muitos
adeptos, mas perdeu grandes nomes, em razão de atitudes impensadas. Uma delas,
que lamento até hoje, foi o afastamento do Airton Dalla Rosa, o mais elegante
jogador de futebol de mesa que já vi atuar. Pois, num campeonato, ainda na Rua
Garibaldi, as disputas chegando à reta final e eis que o Vanderlei muda as
regras do jogo. Isso viria em prejuízo do Airton, que não aceitou as mudanças
feitas quase no final da competição e a abandonou, como deixou o futebol de
mesa definitivamente. Perdemos o nosso primeiro Campeão Estadual.
Sua personalidade forte batia de
frente com inúmeros botonistas. A situação foi ficando cada vez mais difícil, e
a garotada que estava com vontade de assumir cargos mais elevados na
Associação, resolveu peitar o grande chefão. A derrota foi eminente, e
desgostoso com o que ele considerava uma traição, afastou-se, filiando-se à
AABB, junto com o seu amigo Enio Durante;
já que não teve mais forças para lutar, pois perdera a sua própria razão
de viver, sem a menina de seus olhos. Isolou-se de tudo e de todos. E o seu
isolamento foi fatal.
Muitas vezes entrava em contato
comigo via celular. Queixava-se e eu sempre procurava mostrar-lhe que os tempos
haviam mudado e que ele se dedicasse a jogar e deixar que a garotada gerisse o
futebol de mesa. Mas, ele se considerava o pai daquilo tudo. Não queria perder
o pátrio poder sobre os acontecimentos e não admitia que se promovessem
competições sem a sua autorização. Tentei, muitas vezes, sem sucesso,
convencê-lo de que deixasse acontecer as coisas, pois havendo erro, os meninos
é que quebrariam a cara. No entanto, ele não aceitava passivamente minhas
palavras. Dizia que sim, mas, depois, por intermédio de outros associados, eu
ficava sabendo que ele fizera completamente o contrário.
E isso foi fatal para ele.
Entregou-se completamente. A última vez em que estivemos juntos foi nas
festividades dos 45 anos da AFM Caxias do Sul, quando, usando da palavra
enalteci os esforços despendidos para que se chegasse àquela comemoração,
salientando as figuras dele e do Airton. No final de minhas palavras, os dois
me abraçaram e choramos copiosamente, como três crianças que perderam seus
brinquedos. Talvez, Deus quisesse dizer-me que seria a última vez que estaria
com ele nesse plano.
Na festa dos 45 a emoção era visível em seu rosto |
Vanderlei teve suas virtudes e a
maior delas se chama AFM Caxias do Sul e teve, também, seus pecados, pois
partiu sem deixar saudade a muitos botonistas. Mesmo assim, deve-se fazer
justiça ao grande valor desse homem que lutou e conseguiu reanimar o futebol de
mesa caxiense, tal qual uma fênix ressurge das cinzas. Deve-se a ele a
construção daquela pujante organização, a qual enaltece a cidade de Caxias do Sul nos mais longínquos
recantos de nosso país. Vanderlei Duarte deveria ser lembrado pelas suas
grandes obras, pois todos nós lhe devemos muito. Que no próximo dia sete de dezembro
nos lembremos de enviar uma oração por sua alma, a qual será captada onde ele
estiver. E, quem sabe, com o seu jeitão característico diga: Desse aí eu não
quero nada. O Vanderlei era assim mesmo. Mas, um dia nos encontraremos
novamente e, quem sabe, tudo o que ficou mal resolvido possa ser esclarecido.
No 1º Estadual Vanderlei é homenageado pela FGFM e vai as lágrimas |
Até a semana que vem, se Deus
permitir.
Parabéns Padrinho pela lembrança. Vanderlei apesar de todos os defeitos que sabemos é uma cara que lembrava do aniversário de todos, sempre ligando para dar felicitações. se falha a nossa memória graças a Deus temos a tua que faz nós por alguns instantes parar ler e refletir todas as lições que aprendemos enquanto do convivio com o Vanderlei
ResponderExcluirContinue assim nos mostrando os grandes exemplos que devemos seguir para o bom andamento do nosso futebol, mesmo que tenhamos de tirar estas lições de fatos errados como alguns q nosso amigo cometeu em sua jornada
Abraço
Meu afilhado, preservar a memória é ajudar a enaltecer os feitos.Devemos ao Vanderlei a atual AFM Caxias. Sua perseverança foi importante para que o futebol de mesa atingisse o plano atual em nossa cidade.
ExcluirNão devemos esquecer nunca quem nos ajudou em determinados momentos de nossas vidas.
Abração.
Amigão Sambaquy. Mais um belo relato. Aqui no Recife tivemos exemplos semelhantes, mas é da natureza humana. Muitas vezes a intransigência causa males irreparáveis, sem que a pessoa que dê causa nem perceba. Aqueles que ficam devem reverenciar sempre os aspectos positivos e relevar tudo aquilo que tenha causado até certo ponto prejuízo. Como um lider, Vanderlei será sempre contestado, mas continuará na memória de todos, para sempre.
ResponderExcluirMeu amigo Abiud, essa é a realidade. Encontramos em nosso caminho pessoas valiosas, mas, nem todas são perfeitas. Tem seus defeitos e as vezes isso machuca a alguns. Tive uma experiência com um conterrâneo seu, que não é pernambucano, mas vive por ai. A decepção é sempre muito grande, quando pensamos ajudar e estamos sendo enganados. Mas, Deus tem muito mais a dar do que para tirar.
ResponderExcluirAbração gaúcho/catarinense.
LH.ROZA...
ResponderExcluirQuem pensa muito faz pouco ... As pessoas entram em nossa vida por acaso, mas não é por acaso que elas permanecem ...
Continue com esse excelente trabalho de divulgação do nosso esporte favorito ...
Amigo Roza,
ExcluirEnquanto tivermos forças e boas lembranças vamos continuar.
Há muita coisa a ser contada, para não ser esquecida.
Sambaquy,
ResponderExcluirSe me permite discordo do seu relato em um ponto, o Vanderlei partiu, mas com certeza para quem gosta do futebol de mesa ele deixou saudades. A maioria das pessoas com opinião forte entraram em desavença com o Vanderlei, eu fui um deles, mas resolvi tirar a situação a limpo e tudo ficou esclarecido.
Na minha humilde opinião o Vanderlei perdeu a chance de se tornar uma unanimidade pela sua personalidade forte eteimosia, como você citou, além de algumas invensões de títulos e histórias que todos sabem. Só por isso coloco ele num patamar logo a baixo do seu, ele refundou o futebol de mesa em Caxias e o liso no estado, se não fosse sua personalidade complicada ele poderia estar jogando conosco até hoje. Mas todos temos defeitos e virtudes e o Vanderlei é uma pessoa que respeito muito, esteja onde estiver.
Daniel,
ResponderExcluirConcordo em gênero, número e grau. O Vanderlei conseguiu reunir desafetos em uma proporção gigantesca graças a seu temperamente explosivo, sua teimosia e mentiras. Sei de sua desavença com ele. Sei de muita coisa que não poderia ser escrita, pois mostraria o lado negro desse amigo. O que eu enalteço é a sua perseverança em segurar as pontas do futebol de mesa, tanto em Caxias como no Rio Grande do Sul, quando então só jogavam livre, modalidade aceita em quase todos os lugares gaúchos. Graças a ele o liso tomou proporções e hoje é o carro chefe estadual.
Credito essa instalibilidade emocional dele ao fato de ter sido criado sem o pai, coisa que ele muitas vezes reclamou. Como não teve quem o corrigisse na infância e juventude, acreditou que sempre estivesse certo. Infelizmente a vida o ensinou de modo muito duro e seu fim foi triste. Mas, louvo a sua manifestação, dizendo que o respeita, pelo bem que conseguiu fazer ao nosso esporte.
Abração.