segunda-feira, 21 de março de 2011

PORQUE EU SOU INTERNACIONAL.


Muitas vezes fui perguntado por que motivo eu comecei a minha carreira de botonista jogando com o G. E. Flamengo, e, hoje jogo com o S. C. Internacional. Afinal, meus primeiros troféus foram conquistados com as três cores do tradicional clube caxiense e entre elas a grande conquista que obtive em 1969: Campeão Caxiense de Futebol de Mesa, entrando para um seleto clube de botonistas de minha cidade.


Bem, o motivo dessa mudança aconteceu após ter vencido o campeonato de Caxias, com o meu G. E. Flamengo. E eu consegui o G. E. Flamengo depois que o Marcos Lisboa abandonou a disputa, com a mudança da regra gaúcha para a regra brasileira, a qual não havia se adaptado. Portanto, quando eu consegui o campeonato da cidade era a terceira vez que o Flamengo erguia o troféu de campeão em Caxias, quando o nosso tradicional adversário nunca havia conseguido tal feito.


Por essa razão, e em virtude de compromissos que estávamos assumindo em disputas de torneios fora da cidade, e também do estado do Rio Grande do Sul, solicitei ao Departamento de Futebol do Grêmio Esportivo Flamengo, uma camisa oficial. A mesma seria honrada e mostrada pelo país afora, em disputas de torneios oficiais de futebol de mesa.


A resposta foi uma grande decepção. NÃO TEMOS CAMISAS DISPONÍVEIS.


A minha decepção foi enorme a ponto de meu amigo, conselheiro do Flamengo, Helio Gomes Pinheiro Machado, me entregar uma camisa que estava em sua coleção e que era famosa, pois foi usada na exitosa excursão que o G. E. Flamengo fez pela Argentina, voltando com a faixa azul, invicto. Fiquei agradecido ao Hélio e conservo essa camisa, com a mesma devoção que ele teria, pois é um manto sagrado do clube que amamos. Mas, a mágoa persistia contra o departamento de futebol do meu clube do coração.


Em 1971, Flamengo e Juventude fazem uma fusão e criam a Sociedade Caxias do Sul de Futebol, nas cores branca e preta.


Meu clube deixava de existir.


O Caxias contrata Celso Tadeu Carpegiani, o popular Borjão. Ele é meu colega de Banco do Brasil e passa a trabalhar na agência, na Praça Ruy Barbosa, onde eu era Caixa Executivo.


Nessa época, como sempre gostei de esporte, acompanhava com interesse o campeonato gaúcho, e estava extasiado com o time do S. C. Internacional. O clube do povo do Rio Grande do Sul estava começando uma era de conquistas, e para isso trazia de sua base os principais jogadores, que compunham o seu elenco. E dentre eles, o irmão de Borjão. Paulo César Carpegiani era o número 10, daquela máquina de jogar futebol.


Um dia, atendo um rapaz, acompanhado de sua esposa. Queria falar com o Celso. Como também tenho Celso em meu nome, perguntei o sobrenome. Carpegiani. Então falei: o Borjão? – Sim, falou ele.


Virei-me e chamei o Borjão que veio atender ao seu irmão, em frente ao meu caixa. Apresentou-me, dizendo: Esse é o meu irmão Paulo Cesar que joga no Inter.


Apressei-me em cumprimentá-lo e, ousadamente fiz a colocação: - Paulo César, eu jogo futebol de mesa e gostaria de poder ter a camisa do Inter, pois meu time é o Internacional.


Ele disse que disponibilizaria uma e que esperasse. Fiquei feliz com o episódio e o tempo foi passando, até que em determinado dia haveria o jogo Caxias x Inter. O jogo foi em Porto Alegre e eu escutando no radio de meu carro, vibrava com cada jogada dessa dupla de irmãos, que afinal eram meus amigos. Não lembro o resultado do jogo, pois ao final dele, escutei emocionado, a descrição feita pelo repórter: - Meus amigos vejam que coisa emocionante: - Paulo Cesar está tirando sua camisa e entregando ao seu irmão Borjão. Confesso que fiquei paralisado e com lágrimas nos olhos. Será que ela viria para mim? Afinal eu havia solicitado e ele dissera que sim...


No dia seguinte, quando cheguei ao Banco, ansioso por encontrar o Borjão, recebo a boa noticia. Tua camisa está em minha casa. Mandei a minha esposa lavar e vou trazê-la, perfumadinha, para você.


Foi o dia determinante em minha vida, pois ela é o troféu mais valioso de minha galeria, com o detalhe que nunca poderá passar despercebido: cada camisa doada pelos jogadores, naquela época, era descontada de seu salário. Desde aquele longínquo ano de 1973, até o último dia de minha vida, sou Internacional e, meu número 10 será sempre o maior craque que eu vi jogar: Paulo Cesar Carpeggiani.


Vibro sempre com as conquistas do Inter, mas paralelamente eu sou Paulo César. Torci por ele quando dirigiu o Paraguai, quando dirigiu diversos times pelo país e agora sou um pouco são- paulino, pois desejo que ele se dê bem.


Afinal, sempre haverá um motivo para que um clube ocupe o lugar de honra em nosso coração. Fui Flamengo até o dia que o meu esforço em representar o clube foi ignorado. Recebi, em troca, uma manifestação de confiança de uma pessoa que conheci naquele momento, e, que nunca havia me visto antes na vida. Nisso, reside à grande diferença entre a mentalidade de quem pensa grande, com a mentalidade de quem pensa minguadamente.


Por uma camisa passei a torcer por um clube de outra cidade, e nunca mais me arrependi disso.


Hoje, ainda reside em mim a simpatia pelas três cores do Caxias, mas acima dele sou Internacional. Perdoem-me os meus conterrâneos, mas, é para sempre.


Até a semana que vêm se Deus permitir.


Sambaquy.

3 comentários:

  1. Beleza de história Adauto. Tens razão em torcer por esse cara incrível que é o Paulo Cesar Carpeggiani. Olha que sou gremista mas acompanhei, maravilhado, aquele time do Inter com Caçapava, Falcão e Paulo César num meio campo infernal. Acima de tudo, no entanto, tenho ouvido algumas referências muito humanas de sua personalidade. Como essa que acabas de narrar.

    Um abraço.

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  2. Li no blog do gothegol que o senhor gosta de acompanhar blogs de futmesa. Se o senhor se interessar em acompanhar o futmesa da Bahia o endereço do meu blog é www.mp-neves.zip.net aprendi muito da história do futmesa pelo seu blog. Gostei muito.

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  3. A antiga Lifma hoje AFMA continua em funcionamento. Seu amigo Vilno Araújo está bem e com excelente saúde. Eu saí da AFMA em 2006 e o vejo em poucas oportunidades, a última vez que o vi tem pouco tempo. Ele está superbem.

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