segunda-feira, 4 de abril de 2011

UM MÉDICO, ESCRITOR E JORNALISTA QUE JOGOU FUTEBOL DE MESA.


Eu sempre procurei escrever sobre as minhas experiências vividas no futebol de mesa. Em cada uma delas, sempre são citados os nomes dos parceiros, que comigo disputavam as partidas. Por isso, deixei de nominar muita gente importante que praticou, pratica ou vai praticar o futebol de botões. Deixei de falar de artistas, cantores, humoristas, desenhistas, que, nesse país praticam o nosso esporte, mas, hoje não vou me furtar em citar um nome respeitável, que admiro de longa data: Dr. Francisco Michielin.

Conheço o Chico desde a época em que ele ganha seu primeiro time de botões. Menino de calças curtas, estudante do Colégio do Carmo, e, que morava há umas três ou quatro quadras de minha casa. Foi na casa de um quase vizinho do Chico, que eu fui apresentado ao futebol de botões.

Foi na casa do falecido Décio Viana, funcionário antigo do Banco do Brasil, quando seu filho Marco Antonio promovia um campeonato, que eu tomei conhecimento desse esporte, o qual nunca mais me abandonou.

Pois bem, como leitor assíduo do Chico, pois tenho algumas de suas obras: Assim na Terra como no Céu, que recebi de suas mãos, em seu consultório, em 02.02.2001, com uma dedicatória; A Primeira Vez do Brasil, que minha querida neta Patrícia me enviou, ainda acompanhava todas as suas deliciosas crônicas semanais. Tenho-as, inclusive, encadernadas. E folheando essa encadernação, encontro uma crônica, escrita em 19 de agosto de 2005, a qual passo a transcrever, pela beleza do texto e a confissão dessa paixão:

MEU PRIMEIRO TIME DE BOTÃO.

“Teria eu, sei lá, cinco ou seis anos, talvez sete, qualquer coisa por ai, mas não mais.

Entre os grandes entretenimentos daqueles tempos, bola de meia na calçada, quando muito de borracha e excepcionalmente, de couro, mas isso já é falar de coisa raríssima.

E por analogia, a sua extensão correspondia à mesa de botão.

Os botões serviam como nossos craques e eram assim chamados, porque, no princípio e por largo período, não passavam mesmo de botões, geralmente os maiores e mais maçudos, arrancados de nossos casacos ou, então, em último caso, comprados nas lojas de miudezas, mas a preço nada atraente para nossos parcos tostões.

Tratava-se, sem dúvida, de uma das grandes diversões da época, dando, para nossas mães, a certeza de que andávamos bem próximos, em alguma casa da vizinhança, pois costumávamos revezar os campos de batalhas, apresentando-nos, alternadamente, em diferentes locais, que, para nós, tinha o mesmo gosto de excursionar para plagas inimigas e enfrentar estádios hostis, cujas vitórias, quando conquistadas, alcançavam o valor inestimável de uma memorável proeza.

Meu primeiro time de botão, o Juventude, bi-campeão da cidade, nos anos de 49-50, com um “timaço” que até quem não era “papo” declamava de cor, pois sua escalação tinha uma rima poética, confira só:

Casara, Borta e Pipinha; Marcon, Anatólio e Brito; Canelinha, Pulim, Homero,Margarida e Lory.

Era um esquadrão imbatível, o supremo dono da cidade, uma verdadeira máquina.

Fiquei me lembrando dessas coisas, ao cair da tarde de domingo, quando o Alfredo Jaconi calou sua agitação e por um minuto, em silêncio, prestou sua derradeira homenagem a um dos grandes ídolos que vestiu a camisa verde e branca.

Morreu o insubstituível ponteiro-direito Canelinha, mais uma baixa para o meu antigo time de botão.

Uma perda irreparável.

E outro gol contra as memórias de minha infância.”

Pela beleza da crônica, pela personificação de seu ponteiro-direito Canelinha, grande pessoa humana, cheio de virtudes e um grande amigo também, a crônica me emocionou a ponto de lágrimas teimosas rolarem, molhando a minha barba já embranquecida.

Há questão de um ano, ou pouco mais, em um site de ofertas de times de botão, encontrei um Juventude, Campeão da Copa do Brasil. Mandei buscar e, enviei ao querido amigo Chico. Recebi dele um e-mail agradecido, dizendo que iria colocar junto com os demais presentes, debaixo da árvore de Natal, e com isso, voltaria a ser aquele menino de sete anos. Fiquei feliz por ter retribuído aquele gesto tão amigo, que recebi naquele distante dia dois de fevereiro de 2001.

Obrigado meu amigo Chico, valeu ler todas as suas crônicas no Pioneiro, o qual deixou de ser o mesmo, depois que paraste de escrever.

Semana que vem, mais um episódio dessa coluna.

Sambaquy.

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