segunda-feira, 19 de setembro de 2011

MARCOS PEDRO AMORETTI LISBOA – NOSSO PRIMEIRO CAMPEÃO




Falar do Marcos Lisboa é reviver os primórdios do futebol de mesa em Caxias do Sul. Fomos colegas de ginásio e seguidamente estávamos jogando em sua mesa. Marcos era Flamengo, do tempo de Garcia, Tomires e Pavão, Jadir, Dequinha e Jordão, Joel, Rubens, Índio, Evaristo e Zagallo. Era imbatível o seu Flamengo. Além de jogar muito bem, qualidade que o acompanhou até o dia em que parou de jogar, era um habilidoso preparador de botões. Marcos conseguia fazer de qualquer objeto redondo um tremendo craque, dando a inclinação que fosse do agrado de seu possuidor.

Após a nossa formatura no ginásio, nossos caminhos tomaram rumos diferentes. Fui estudar contabilidade no Colégio do Carmo e ele se aprimorou no desenho. Só voltamos a nos encontrar quando nos tornamos bancários: ele no Banrisul e eu no Brasil. E o que nos aproximou foi novamente o futebol de mesa. No Banrisul eram vários os colegas que praticavam e desenvolviam seu campeonato interno, sempre vencido pelo Marcos Lisboa. Os demais eram velhos conhecidos: Delesson Orengo, Renato Muller, Jovir Zambenedetti, Antonio Carlos Oliveira, Silvio Puccinelli, Justo Martins e Carlos Bertelli. Na AABB estávamos iniciando no ano de 1963. Nesse ano, nossos esforços conjuntos criaram o campeonato bancário com a adesão do Banco da Província e Sul brasileiro. Marcos Lisboa foi o primeiro campeão bancário de Caxias do Sul. Agora ele jogava com o G. E. Flamengo, clube tradicional de nossa cidade.

Nesse mesmo ano realizamos o primeiro campeonato caxiense de futebol de mesa, baseados na Regra Gaúcha. Novamente Marcos foi o primeiro campeão caxiense de futebol de mesa. Sobrava nas mesas. Tinha suas manhas e poucos conheciam o segredo que seu principal botão possuía. Como ele era um artesão de mão cheia, e todos os botões que possuíamos tinham a capacidade de levantar a bolinha quando impulsionados, porém o craque do Marcos tinha uma parte que formava um ângulo reto. Nem por decreto a bolinha subia, seguindo sempre na direção impulsionada. Pois esse era o segredo de nosso amigo. Ele batia o tiro de meta com esse botão e conseguia com isso cavar um lateral, jogando a bolinha contra um botão adversário. Desse lateral, jogava contra um zagueiro e era brindado com um escanteio. Naquele tempo, pela Regra Gaúcha, era permitido colocar três botões juntos, em posição diagonal, na grande área e bater o escanteio de maneira que a bolinha batesse em um deles e encobrisse o goleiro. Era fatal um escanteio contra seus adversários. Raramente ele errava ou perdia um gol, além de ser um excelente chutador de qualquer parte do campo.

No ano seguinte os campeonatos foram seus. Estava no auge de sua forma e os seus adversários demoravam a aparecer. Em 1963 e 1964, como campeão caxiense não foi convidado a disputar o campeonato estadual, visto que a Liga Caxiense de Futebol de Mesa existia somente em nossas vontades. Foi então que organizamos e fundamos a Liga, no ano de 1965, o que nos deu o direito de disputar com os demais campeões filiados à Federação Riograndense de Futebol de Mesa o campeonato estadual. Pena que em 1965, Marcos estivesse mais voltado ao namoro e tivesse abandonado seus botões.

Em 1965 pouco aparecia para jogar, perdendo jogos por WO, dando a chance de Deodatto Maggi tornar-se campeão caxiense e vice-campeão estadual desse ano.

Com a mudança da Regra Gaúcha para a Regra Brasileira, quando os botões eram fabricados na Bahia e já não necessitavam serem “operados” por ele, deixou definitivamente de jogar, lamentando não adaptar-se ao novo estilo. O futebol de mesa perdeu um grande botonista, mas a história o consagrou pelos seus dois campeonatos conquistados. Seu nome figura na relação dos campeões caxienses de todos os tempos.

Marcos, que era de uma família ilustre, pois era neto de Joaquim Pedro Lisboa, o criador da Festa da Uva, deixou-nos prematuramente. Como grande desenhista que sempre foi, abandonou a carreira bancária e fundou a sua empresa: Marco Artes Gráficas Ltda., que funcionava à rua Jacob Luchese, 251 – na sua Caxias do Sul.

Hoje faz parte do time de grandes botonistas que, no plano espiritual, nos observam e torcem pelas nossas conquistas, aguardando a nossa chegada.

Para minha tristeza, fui procurar a foto do Marcos e somente encontrei uma onde ele aparece. É a da nossa formatura, realizada no Clube Juvenil, no ano de 1954. Nosso lema, nessa formatura era: “Deus como guia e a esperança como companheira”.

Marcos, onde você estiver receba o meu abraço e a minha homenagem pelo grande botonista que você sempre conseguiu ser.

Até a semana que vem.

Sambaquy

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