domingo, 13 de maio de 2012

WALMIR MERISIO, O VELHO


Hoje, a nostalgia voltou e me lembrei de um antigo companheiro de luta que pontificou no nosso esporte na cidade de Brusque.
Trata-se de Walmir Merísio. Em sua juventude, craque de futebol do Carlos Renaux e do Paysandú, clubes que defendeu com muito brio e virilidade. Merísio era um zagueiro que chegava junto e na maior parte das vezes “levantava” seu adversário. Por isso, muitas vezes foi expulso de campo.
Na Foto da esquerda para direita: Adauto Sambaquy, Walmir Merísio (de amarelo), 
José Ari Merico e Oscar Bernardi (então vice presidente da Associação Brasileira e
presidente da Associação Brusquense) 
Ao se aposentar do futebol, passou a trabalhar com seu sogro em uma Marcenaria. As famílias tradicionais de Brusque construíam suas casas em terrenos próximos, e a família Merísio se situava nas terras dos Walendowsky. Seu sogro e o irmão dele tinham terras na Avenida Primeiro de Maio ,onde estava localizada a empresa Walendoswy e a Marcenaria do seu Alois, do sogro do Merísio.
Cidade pequena, grande parte dos seus moradores tem laços de parentesco.
Quando recebemos a primeira mesa oficial, enviada pelo Marcos Zeni, houve um envolvimento de muitas pessoas na cidade. Estavam interessados em saber como era o futebol de mesa organizado, com Associações, Federações e Campeonatos Nacionais. Por isso, ao ter de receber a mesa, solicitei ao Roberto Zen (São Paulo F. C.) que arrumasse pessoas para levá-la à sede da AABB. Roberto chamou seu irmão Valter e o cunhado Sérgio Walendowsky, e os três carregaram a dita por três lances de escada até sua colocação final no recinto social da Associação Atlética Banco do Brasil no centro da cidade de Brusque. O Roberto já havia adquirido um time do São Paulo, fabricado pelo José Castro Sturaro da Bahia. Eu havia recebido alguns times para a comercialização e os dois se interessaram imediatamente. O Sérgio comprou um Vasco da Gama e o Valter, um Fluminense.
O Sérgio, diretor da empresa Walendowsky mandou confeccionar uma mesa para seu uso particular. Foi então que ele chamou o Merísio para verificar a mesa oficial e fabricar uma idêntica.
Comprada a madeira, começa a tarefa de produção da citada mesa. O Merísio, um cara de bem com a vida, que gozava com a cara de todos os seus amigos, a cada visita do Sérgio ou do Valter na Marcenaria, ria e dizia: Dois barbados jogando botãozinho... Não acredito, ainda quero ver isso acontecer.
Só que ele ainda não tinha visto os times de botão. Não tinha conhecimento de como era praticado o futebol de mesa. Os dois já estavam praticando o futebol de mesa nas dependências da AABB e, por isso, já se tornava habitual o manejo dos botões.
A mesa fica pronta e é levada para a casa do Sérgio. Noite festiva, pois era aguardado com ansiedade esse momento histórico. Os cavaletes ajustados, a mesa colocada sobre eles e os dois cunhados, pois o Valter era casado com a irmã do Sérgio, colocam seus times na mesa.
Nesse momento, os olhos do Merísio brilham de forma diferente. Ele esquece todas as gozações que havia feito com os dois primos, pois era casado com uma prima do Sérgio e diz textualmente e alto e bom som: Eu fiz a mesa e por isso serei o primeiro a jogar nela. Ninguém conseguiu dissuadi-lo disso. Pegou o time do Valter e jogou uma partida contra o Sérgio. Ao final dela, apanhou o time do Sérgio e enfrentou o Valter. Mudavam os adversários, pois o Merísio continuava na mesa. Foi amor à primeira vista.
No dia seguinte, ele foi me procurar. Queria um time de qualquer maneira. Entre os que eu tinha para colocação, havia um Juventus, da Mooca, grená. Foi nesse que ele se encantou. Batizou-o como, o Juventus, da cidade de Rio do Sul, um time que era simpático a todos os catarinenses.
Ninguém mais segurou o homem. Jogava e treinava sempre. Bem diferente do seu tempo de futebolista, quando não gostava de treinar. Quando caprichava era difícil dobrá-lo, pois era incisivo no ataque e seguro na defesa. Foi o primeiro a me derrotar em terras catarinenses.
Ao todo, jogamos 23 vezes, com nove vitórias conseguidas contra ele, seis derrotas e oito empates.
Quando ele jogava a sério, era muito difícil vencê-lo. Foi campeão no segundo campeonato brusquense, quando ainda jogava com a Juventus. Depois disso, mandou confeccionar um Corinthians, com o qual conseguiu feitos memoráveis, como ser campeão do Torneio dos Campeões Brusquenses.
Seu espírito brincalhão, muitas vezes, fazia com que se desse mal. Em 1977, ao ter de enfrentar o “Calito” Moritz (Flamengo), que iniciava na prática do futebol de mesa, resolveu brincar e relaxou. Só que o Calito foi amontoando gols, enquanto o Merísio brincava. Quando se deu conta, estava com quatro goles negativos e não deu tempo para mudar a história. Custou cara a brincadeira, pois com essa derrota ficou fora das finais. Depois disso, procurava sempre levar a sério os jogos, sempre afirmando que estava vingando-se daquela derrota vexatória, a qual nos serviu de vingança por todas as suas brincadeiras.
Tornou-se o amigo número um dos caxienses: Airton Dalla Rosa, Luiz Ernesto Pizzamiglio e Nelson Prezzi. Era uma festa quando os encontrava; e o Pizza, também, eterno brincalhão, apelidou-o de “Velho”, coisa que pegou dali por diante. Para nós, o “Velho” era o exemplo da dedicação e o fabricante das mesas que serviram de palco para o primeiro Centro Sul, na época Sul Brasileiro, realizado em 1979 e o sétimo Brasileiro em 1981. Suas mesas eram elogiadas por todos e ele as fazia sempre na cor verde, pois a primeira recebida era assim.
Sempre que estava necessitado de dinheiro, telefonava para mim perguntando se eu precisava de alguma coisa da marcenaria. Então eu pedia alguma coisa, pois sabia que ele faria com presteza. Tenho até hoje uma estante com gavetas, onde guardo os times de botão das diversas regras. Em outras ocasiões, dizia-lhe que necessitava de um balcão para a pia na minha adega; ele ia até a minha casa, media o espaço e, no dia seguinte, estava o mesmo colocado. Dois a três dias depois não conseguia abrir a porta da estante e, se a abria, não conseguia fechá-la. Ele ia lá e arrumava e me cobrava o trabalho. Mas, eram sempre valores pequenos, pois o resultado era para uma festinha programada, coisa frequente naquele tempo.
Foi um colaborador excelente no primeiro centro sul e no sétimo brasileiro. Fazia questão de brincar com todos os que nos visitavam e foi, por eles todos, admirado. Sempre que me encontrava, fazia a tradicional pergunta: “Os veadinhos de Caxias não vêm jogar com a gente? Quero vencer aqueles dois bichinhas.”
Através do futebol de mesa, resgatou todos os prêmios que havia ganhado nos diversos campeonatos de futebol que disputara e um dia me convidou para ir até a sua casa. Fui lá e ele, orgulhoso, mostrou-me uma estante envidraçada que havia construído, contendo os troféus do futebol de mesa e os prêmios que arrebatou no futebol. Havia faixas de campeão catarinense, campeão brusquense, da Liga Blumenauense, misturadas aos diversos prêmios angariados com seu desempenho no futebol de botão.
Depois de sofrer um enfarte, diminuiu sua atividade. Mas estava sempre junto conosco. Era uma figura que se sobressaía em qualquer ocasião. Quando estávamos promovendo o Campeonato Brasileiro, fomos convidados a ir até Florianópolis participar do programa do Roberto Alves, falando sobre a grande iniciativa da Associação Brusquense, inédita em Santa Catarina. Ao entrarmos no estúdio, o Roberto Alves, ao ver o Merísio, enalteceu o craque futebolista e com isso a promoção ganhou um destaque especial. Nessa ocasião, presenteamos o comentarista com um time do Fluminense.
Em janeiro de 1995, o grande Merísio sofreu mais um enfarte e não resistiu. Nessa mesma ocasião, após uma cirurgia, eu sofri várias hemorragias e estive com um pé no lado de lá. O pessoal da Associação, em tom de brincadeira, afirmou que Deus, olhando para os dois que iriam ter de subir, disse: Os dois aqui não. Só um. Que venha o Merísio.
Hoje, com muita saudade, recordo os momentos que passamos juntos, praticando o esporte que tanta alegria nos concedeu.
Até a semana que vem se Deus assim permitir.
Sambaquy

2 comentários:

  1. É isso aí, meu caro Sambaquy. Ainda bem que temos o dom de lembrarmos dos bons momentos que a vida nos proporcionou. Valeu a lembrança!
    De minha parte, Deus quis que eu continuasse mais um pouco, mas muitos dos queridos botonistas já estão em outro plano. Um dia estaremos todos juntos e então o jogo de botão será eterno, para sempre. Abração pernambucano.

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  2. Meu amigo Abiud,
    Para nós, os idosos do futebol de mesa, essas são coisas que acontecem a todo instante: lembranças de amigos que se foram e o aparecimento de novos amigos a todo instante.
    Realmente não há substituição em nosso coração, mas, sempre um lugar para mais um ocupar.
    Enquanto pudermos sonhar, perseguir esses nossos sonhos, com certeza estaremos sempre em atividade. Ainda quero ter a alegria de poder abraçá-lo e aos demais dessa linda Recife. Receba o meu abração gaúcho/catarinense.

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