domingo, 27 de maio de 2012

JOMAR MOURA GANHOU O CERTAME BRASILEIRO DE FUTEBOL DE MESA.

O Jornal da Bahia, na edição de segunda feira, dia 13 de fevereiro de 1978, estampou esse título, na nota que transcrevo abaixo:
O baiano Jomar Moura, sagrou-se campeão brasileiro de futebol de mesa em certame disputado no Rio de Janeiro na sede do Sport Club Mackenzie. O IV Campeonato Brasileiro de Futebol de Mesa contou com a participação de oito estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte, tendo participado 34 técnicos.
A delegação da Bahia esteve formada por Jomar Moura (campeão baiano/77), Geovanne Moscovitz (Campeão Brasileiro de 1976), Nelson Carvalho, Paulo Cortes, Vilno Oliveira e Marialvo Santos.
As disputas foram realizadas por chaves, sendo a primeira fase formada por seis chaves de quatro clubes e duas de cinco. Foram classificados dois clubes de cada chave, num total de 16. Em seguida, foram disputados os jogos num tempo de cinquenta minutos, sendo 25 em cada fase. O campeão brasileiro, Jomar Moura, venceu na final a Marcos Fúlvio Barbosa pelo marcador de 4 x 2. Para se tornar campeão, Jomar teve de realizar onze jogos, com os seguintes resultados: 3 x 0 no Rio de Janeiro, 5 x 2 no Espírito Santo, 3 x 3 com o Rio Grande do Sul, 2 x 1 em Alagoas, 2 x 1 em Pelotas (RS), 2 x 0 em Jaguarão (RS), 1 x 0 no Rio de Janeiro, 2 x 2 em Caxias do Sul (RS), 3 x 0 no Rio de Janeiro e 4 x 2 em Caxias do Sul (RS).
A Bahia já venceu os Campeonatos Brasileiros em 1971 (Recife- PE), 1976 (Jaguarão – RS) e, neste ano, no Rio de Janeiro. As delegações que foram participar do IV Campeonato Brasileiro de Futebol de Mesa ficaram hospedadas no CEFAN – Centro de Educação Física Alberto Nunes.
No encerramento do certame nacional, o professor Antonio Carlos Martins ofereceu um jantar no Alto da Boa Vista, ocasião em que foi entregue o troféu de Campeão Brasileiro. Também ficou decidido nessa oportunidade onde seria a sede do próximo campeonato brasileiro, sendo escolhida a cidade de Vitória no estado do Espírito Santo. A data também foi fixada para janeiro de 1980.
Os baianos sempre obtiveram boas classificações em todos os campeonatos e torneios que têm participado e a galeria de troféus da Associação de Futebol de Mesa da Bahia é um atestado da performance dos nossos técnicos. A Associação, que está situada na Rua General Argolo, 35, além de ser bem instalada, é muito bem dirigida por uma equipe de esportistas que tudo tem feito para elevar essa modalidade.”
Esse campeonato permitiu que a Assembléia decidisse sobre a participação de botões cavados (livres) nas competições, pois, até então, havia a predominância de botões lisos em todas as disputas. No entanto, apesar de ter sido idealizado para botões lisos, já apareciam variações na composição de diversos botonistas. Um deles, o presidente da Associação Brasileira, professor Antonio Carlos Martins, usava um ataque de lisos e uma defesa com botões cavados. Isso serviu de incentivo, pois as coberturas realizadas eram sempre perfeitas e impediam o desenvolvimento utilizado. Muitos foram os adeptos que trocaram do liso para o cavado, fazendo surgir, a partir de 1980, campeões que jogavam com botões cavados. O primeiro foi o carioca Julio Cesar Albuquerque Nogueira, que levantou o troféu campeão em Pelotas. No ano seguinte, disputado em Brusque, com mesas destinadas aos lisos, modalidade praticada naquela cidade, Hozaná Sanches, da Bahia, foi o vencedor. Em 1982, o título foi repartido entre liso e cavado, em Itapetinga. De 1983 a 1990, houve uma sucessão de conquistas de praticantes da modalidade livre, o que motivou a criação, em 1991, das duas modalidades a serem disputadas.
Apesar de a regra ser a mesma, o desenvolvimento do jogo é completamente diferente. O Livre é amarrado, com poucas chances, comumente chamado pelo presidente da Riograndina de embarrados, enquanto o liso faz com que o praticante botonista use de habilidade extraordinária para conseguir chutar ao gol. Enfim, são duas maneiras de praticar a mesma regra e fazem com que seus adeptos se aprimorem cada vez mais, beirando à perfeição.
Resumindo, digo que 1978 e 1991 marcaram, na vida dos botonistas, profundas mudanças, sempre tentando aprimorar e aproximar os desportistas brasileiros. Na coluna da semana passada, quando explorei a idéia gerada pelo amigo Breno, salientei que tudo deve ser muito bem estudado e pensado com profundidade, pois mudanças podem e devem acontecer, mas sempre no sentido de melhorar o conjunto da obra.
Grupo de baianos que participavam dos primeiros brasileiros.  Roberto Dartanhã (campeão em Recife) / Jomar (Campeão no Rio de Janeiro) / Nelson Carvalho que participou do brasileiro no Rio, estão nessa foto.
Até a semana que vem, se Deus assim permitir.
Sambaquy

domingo, 20 de maio de 2012

SERÁ QUE A REGRA DEVE SER MUDADA?


Há alguns dias, tomei conhecimento de uma série de sugestões feitas pelo Breno Kreuzner, visando à exposição na mídia televisiva de nossos campeonatos, sugerindo mudanças na maneira da disputa, na regra, aliado ao fato do tempo de duração de cada jogo e as disputas por aqueles que atingiram uma idade avançada. Alega os altos custos de diárias de Hotéis, deslocamentos e uma série de inconvenientes que todos nós temos para participarmos desses eventos.
Acho justa essa preocupação, pois a quantidade de eventos aumenta a cada ano que passa. Ao mesmo tempo, vejo com temeridade uma modificação de algo que vem sendo utilizado há quarenta e cinco anos com sucesso crescente. Muitas foram as modificações da regra, sempre com consenso da maioria, no sentido de correção de algo que era mal usado por alguns, conseguindo para isso a concordância de todos.
Mudar o tempo de jogo, pois uma partida demora cinquenta minutos, seria uma temeridade. Eu até me atrevo a sugerir que as disputas da categoria máster tenham um tempo reduzido, para vinte ou até quinze minutos, mas somente em eventos oficiais. Certamente, todos os másteres continuam a disputar os seus campeonatos em seus clubes e, lá, terão de jogar contra todos, sendo que a grande maioria é ainda bastante jovem. Então, terão de jogar os cinqüenta minutos sempre.
Eu próprio não aguentaria jogar mais do que três partidas. Por isso estou fora do circuito, visto que, se conseguisse êxito nas minhas primeiras partidas, o meu corpo cansado não teria a mesma desenvoltura nos jogos seguintes e assim o meu esforço teria sido em vão. Estaria tirando a chance de alguém que poderia chegar às finais do torneio.
Penso que tudo isso terá de ser amadurecido, não só no âmbito dos antigos botonistas, mas em sentido amplo e geral. Modificar para agradar a quem assiste aos jogos é temerário, pois quem fica à frente do computador, olhando as partidas é alguém que gosta do esporte, e ficar trinta ou cinquenta minutos não fará diferença. Estamos ainda iniciando esse trabalho excelente de divulgação, no qual o próprio Breno é um dos pioneiros.
Mudar a regra seria uma temeridade. Tenho certeza de que a grande maioria dos jovens não apoiaria e isso poderia criar uma cisão em nosso meio. E isso é a última coisa que eu desejaria ver nos meus últimos anos de vida. Já enfrentei essa luta na implantação de nossa Regra e sei bem o quanto sofri na carne. Foram anos terríveis que jamais deverão voltar ao nosso meio.
Afinal, depois de patrocinarmos tantos campeonatos brasileiros, jogados da mesma maneira, termos sido os primeiros a realizar esse empreendimento tão vitorioso, de reunirmos tantas pessoas praticando nosso esporte com vibração e garra, mudar alguma coisa para tentar conseguir um apoio midiático seria dramático. Em minha opinião, estaríamos retrocedendo a 1967, quando houve a grande transformação botonística em nossas vidas.
Amigo Breno, faço novamente a sugestão já explicada anteriormente. Válida somente para a categoria Máster. Jogos de quinze ou vinte minutos cada tempo, válidos somente no evento em que eles participarem. Os demais devem jogar conforme determina a regra atual. Acredito que assim estaríamos beneficiando os mais idosos, com menos tempo de jogo e mais tempo de descanso, com a possibilidade de efetuarem mais jogos com o mesmo vigor do início da competição e valorizando a sua presença, pois é exemplar o comparecimento dos cabelinhos brancos praticando o futebol de mesa.
Talvez não fosse isso que você desejasse que eu dissesse, mas, depois de analisar muito e profundamente, pensar por vários dias sobre o assunto, não vejo com bons olhos qualquer modificação que possa trazer proveito para a continuidade daquilo que já é de domínio público.
Pelo menos eu fico tranquilo comigo mesmo, pois o que foi construído, ao longo dos anos, teve bases sólidas e concretas. Será muito difícil qualquer modificação que interfira naquilo que deu tão certo desde o primeiro brasileiro em 1970.
Na foto dois veteraníssimos vencedores do futebol de mesa, Luiz Pizzamilgio e Marcos Zeni (AFM Caxias) e que hoje já sofrem com competições de longa duração. Exemplo disso, jogaram o mais fino futebol de mesa no último estadual individual na categoria Especial e ficaram entre os 16melhores do estado. Na 3ª fase caíram fora pelo cansaço e mesmo assim fizeram jogos duríssimos para seus adversários mais jovens.

Até a semana que vem, se Deus permitir.
Sambaquy

domingo, 13 de maio de 2012

WALMIR MERISIO, O VELHO


Hoje, a nostalgia voltou e me lembrei de um antigo companheiro de luta que pontificou no nosso esporte na cidade de Brusque.
Trata-se de Walmir Merísio. Em sua juventude, craque de futebol do Carlos Renaux e do Paysandú, clubes que defendeu com muito brio e virilidade. Merísio era um zagueiro que chegava junto e na maior parte das vezes “levantava” seu adversário. Por isso, muitas vezes foi expulso de campo.
Na Foto da esquerda para direita: Adauto Sambaquy, Walmir Merísio (de amarelo), 
José Ari Merico e Oscar Bernardi (então vice presidente da Associação Brasileira e
presidente da Associação Brusquense) 
Ao se aposentar do futebol, passou a trabalhar com seu sogro em uma Marcenaria. As famílias tradicionais de Brusque construíam suas casas em terrenos próximos, e a família Merísio se situava nas terras dos Walendowsky. Seu sogro e o irmão dele tinham terras na Avenida Primeiro de Maio ,onde estava localizada a empresa Walendoswy e a Marcenaria do seu Alois, do sogro do Merísio.
Cidade pequena, grande parte dos seus moradores tem laços de parentesco.
Quando recebemos a primeira mesa oficial, enviada pelo Marcos Zeni, houve um envolvimento de muitas pessoas na cidade. Estavam interessados em saber como era o futebol de mesa organizado, com Associações, Federações e Campeonatos Nacionais. Por isso, ao ter de receber a mesa, solicitei ao Roberto Zen (São Paulo F. C.) que arrumasse pessoas para levá-la à sede da AABB. Roberto chamou seu irmão Valter e o cunhado Sérgio Walendowsky, e os três carregaram a dita por três lances de escada até sua colocação final no recinto social da Associação Atlética Banco do Brasil no centro da cidade de Brusque. O Roberto já havia adquirido um time do São Paulo, fabricado pelo José Castro Sturaro da Bahia. Eu havia recebido alguns times para a comercialização e os dois se interessaram imediatamente. O Sérgio comprou um Vasco da Gama e o Valter, um Fluminense.
O Sérgio, diretor da empresa Walendowsky mandou confeccionar uma mesa para seu uso particular. Foi então que ele chamou o Merísio para verificar a mesa oficial e fabricar uma idêntica.
Comprada a madeira, começa a tarefa de produção da citada mesa. O Merísio, um cara de bem com a vida, que gozava com a cara de todos os seus amigos, a cada visita do Sérgio ou do Valter na Marcenaria, ria e dizia: Dois barbados jogando botãozinho... Não acredito, ainda quero ver isso acontecer.
Só que ele ainda não tinha visto os times de botão. Não tinha conhecimento de como era praticado o futebol de mesa. Os dois já estavam praticando o futebol de mesa nas dependências da AABB e, por isso, já se tornava habitual o manejo dos botões.
A mesa fica pronta e é levada para a casa do Sérgio. Noite festiva, pois era aguardado com ansiedade esse momento histórico. Os cavaletes ajustados, a mesa colocada sobre eles e os dois cunhados, pois o Valter era casado com a irmã do Sérgio, colocam seus times na mesa.
Nesse momento, os olhos do Merísio brilham de forma diferente. Ele esquece todas as gozações que havia feito com os dois primos, pois era casado com uma prima do Sérgio e diz textualmente e alto e bom som: Eu fiz a mesa e por isso serei o primeiro a jogar nela. Ninguém conseguiu dissuadi-lo disso. Pegou o time do Valter e jogou uma partida contra o Sérgio. Ao final dela, apanhou o time do Sérgio e enfrentou o Valter. Mudavam os adversários, pois o Merísio continuava na mesa. Foi amor à primeira vista.
No dia seguinte, ele foi me procurar. Queria um time de qualquer maneira. Entre os que eu tinha para colocação, havia um Juventus, da Mooca, grená. Foi nesse que ele se encantou. Batizou-o como, o Juventus, da cidade de Rio do Sul, um time que era simpático a todos os catarinenses.
Ninguém mais segurou o homem. Jogava e treinava sempre. Bem diferente do seu tempo de futebolista, quando não gostava de treinar. Quando caprichava era difícil dobrá-lo, pois era incisivo no ataque e seguro na defesa. Foi o primeiro a me derrotar em terras catarinenses.
Ao todo, jogamos 23 vezes, com nove vitórias conseguidas contra ele, seis derrotas e oito empates.
Quando ele jogava a sério, era muito difícil vencê-lo. Foi campeão no segundo campeonato brusquense, quando ainda jogava com a Juventus. Depois disso, mandou confeccionar um Corinthians, com o qual conseguiu feitos memoráveis, como ser campeão do Torneio dos Campeões Brusquenses.
Seu espírito brincalhão, muitas vezes, fazia com que se desse mal. Em 1977, ao ter de enfrentar o “Calito” Moritz (Flamengo), que iniciava na prática do futebol de mesa, resolveu brincar e relaxou. Só que o Calito foi amontoando gols, enquanto o Merísio brincava. Quando se deu conta, estava com quatro goles negativos e não deu tempo para mudar a história. Custou cara a brincadeira, pois com essa derrota ficou fora das finais. Depois disso, procurava sempre levar a sério os jogos, sempre afirmando que estava vingando-se daquela derrota vexatória, a qual nos serviu de vingança por todas as suas brincadeiras.
Tornou-se o amigo número um dos caxienses: Airton Dalla Rosa, Luiz Ernesto Pizzamiglio e Nelson Prezzi. Era uma festa quando os encontrava; e o Pizza, também, eterno brincalhão, apelidou-o de “Velho”, coisa que pegou dali por diante. Para nós, o “Velho” era o exemplo da dedicação e o fabricante das mesas que serviram de palco para o primeiro Centro Sul, na época Sul Brasileiro, realizado em 1979 e o sétimo Brasileiro em 1981. Suas mesas eram elogiadas por todos e ele as fazia sempre na cor verde, pois a primeira recebida era assim.
Sempre que estava necessitado de dinheiro, telefonava para mim perguntando se eu precisava de alguma coisa da marcenaria. Então eu pedia alguma coisa, pois sabia que ele faria com presteza. Tenho até hoje uma estante com gavetas, onde guardo os times de botão das diversas regras. Em outras ocasiões, dizia-lhe que necessitava de um balcão para a pia na minha adega; ele ia até a minha casa, media o espaço e, no dia seguinte, estava o mesmo colocado. Dois a três dias depois não conseguia abrir a porta da estante e, se a abria, não conseguia fechá-la. Ele ia lá e arrumava e me cobrava o trabalho. Mas, eram sempre valores pequenos, pois o resultado era para uma festinha programada, coisa frequente naquele tempo.
Foi um colaborador excelente no primeiro centro sul e no sétimo brasileiro. Fazia questão de brincar com todos os que nos visitavam e foi, por eles todos, admirado. Sempre que me encontrava, fazia a tradicional pergunta: “Os veadinhos de Caxias não vêm jogar com a gente? Quero vencer aqueles dois bichinhas.”
Através do futebol de mesa, resgatou todos os prêmios que havia ganhado nos diversos campeonatos de futebol que disputara e um dia me convidou para ir até a sua casa. Fui lá e ele, orgulhoso, mostrou-me uma estante envidraçada que havia construído, contendo os troféus do futebol de mesa e os prêmios que arrebatou no futebol. Havia faixas de campeão catarinense, campeão brusquense, da Liga Blumenauense, misturadas aos diversos prêmios angariados com seu desempenho no futebol de botão.
Depois de sofrer um enfarte, diminuiu sua atividade. Mas estava sempre junto conosco. Era uma figura que se sobressaía em qualquer ocasião. Quando estávamos promovendo o Campeonato Brasileiro, fomos convidados a ir até Florianópolis participar do programa do Roberto Alves, falando sobre a grande iniciativa da Associação Brusquense, inédita em Santa Catarina. Ao entrarmos no estúdio, o Roberto Alves, ao ver o Merísio, enalteceu o craque futebolista e com isso a promoção ganhou um destaque especial. Nessa ocasião, presenteamos o comentarista com um time do Fluminense.
Em janeiro de 1995, o grande Merísio sofreu mais um enfarte e não resistiu. Nessa mesma ocasião, após uma cirurgia, eu sofri várias hemorragias e estive com um pé no lado de lá. O pessoal da Associação, em tom de brincadeira, afirmou que Deus, olhando para os dois que iriam ter de subir, disse: Os dois aqui não. Só um. Que venha o Merísio.
Hoje, com muita saudade, recordo os momentos que passamos juntos, praticando o esporte que tanta alegria nos concedeu.
Até a semana que vem se Deus assim permitir.
Sambaquy

segunda-feira, 7 de maio de 2012

FUTEBOL DE MESA – UM ESPORTE POPULAR


Sempre que falamos em futebol de mesa há uma pergunta que é feita por todos os botonistas brasileiros: Por que foram reconhecidas três regras, como oficiais, pelo C.N.D.?
Vou tentar responder de uma maneira fácil de ser entendida por todos. Apesar de haver maneiras muito antigas de praticar o futebol de mesa, não reconhecidas, oficialmente, temos de nos colocar realisticamente sobre as três regras mencionadas e aceitas como oficiais.
Até o ano de 1967, quando foi criada a Regra Brasileira de um toque, num trabalho conjunto entre baianos e gaúchos, o futebol de mesa era praticado, regionalmente, quase sempre escondido. Não saia muito além dos limites do município e, mesmo dentro dele, várias modalidades eram praticadas. Havia o conhecimento que outras pessoas jogavam, mas se desconhecia o modo como era praticado o jogo. Uma reportagem, escrita por Oldemar Seixas na antiga Revista do Esporte, continha, textualmente, que a BAHIA DÁ LIÇÕES DE FUTEBOL DE BOTÕES.
Escrevi-lhe curioso, pois no Rio Grande do Sul praticava-se a Regra Gaúcha e havia uma Federação Riograndense de Futebol de Mesa. Essa troca de correspondências evoluiu, de forma que, convidados para um torneio de aniversário da Liga Caxiense, dois baianos se deslocaram para o sul do país. Começava o desbravamento do difícil caminho da união em torno do futebol de mesa. Isso culminou com a idéia de gaúchos e baianos em criarem uma regra que fosse um pouco de cada uma das duas principais, a gaúcha e a baiana.
Saia-se do lugar comum para alastrar para o país a nossa idéia, ou melhor, o nosso sonho. O nordeste brasileiro aderiu de imediato à nova modalidade, mas o sul se dividiu,pois os antigos dirigentes da Federação não aceitaram a mudança. Ficamos sós, lutando contra o grupo da Regra Gaúcha. Felizmente, fomos mais persistentes e conseguimos atingir os objetivos de divulgar a nova regra.
Em 1970, Salvador abriu as portas para o Brasil inteiro disputar o primeiro campeonato nacional de futebol de mesa. Desde então, já contamos com a realização de 39 campeonatos brasileiros, unindo botonistas de norte a sul em festas memoráveis, onde a amizade é o ponto culminante do encontro.
Reunião do 1º Campeonato Brasileiro - Salvador 1970
Na década de oitenta, quando assumimos a presidência da Associação Brasileira de Futebol de Mesa - órgão que administrava a Regra Brasileira, procuramos os dirigentes das diversas regras existentes, com a finalidade de promover uma união, sempre no sentido do crescimento de nosso esporte. Estivemos em São Paulo, onde mantivemos contatos com Geraldo Cardoso Décourt, Antonio Maria Della Torre, Geraldo Atienza, José Mesquita, mostrando as reportagens e fotografias dos diversos campeonatos brasileiros realizados. Nessa ocasião, a Federação Paulista de Futebol de Mesa estava desativada, sendo que os paulistas eram seguidores da organização COFI, que coordenava os campeonatos chamados Integração, que eram disputas entre os diversos clubes paulistanos. Estivemos em Brasília, onde fomos recepcionados por José Ricardo Caldas e Almeida, seu irmão Antonio Carlos, Sergio Netto e lá, também, procuramos mostrar o que já havíamos conseguido realizar em diversos campeonatos brasileiros. No Paraná, mais precisamente na capital Curitiba, participamos de um torneio onde, na regra paranaense, juntamente com os paulistas, conhecemos Agacyr José Eggers e os demais praticantes do futebol de mesa local.


Em São Paulo, a figura gigantesca de Antonio Maria Della Torre conseguia unificar os interesses de diversas regiões e fazia a modificação da regra paulista para a regra de doze toques, aceita por todos.

O pessoal de Brasília juntou-se aos cariocas e mineiros e com a regra de três toques, que acredito seja a mais difícil de todas, realiza seu primeiro campeonato brasileiro no ano de 1980.

São Paulo, com a reativação da Federação Paulista, em 1986, realiza também o seu primeiro campeonato brasileiro.
Já eram três as frentes que tentavam aglutinar os botonistas em torno de mesas, embora em maneiras diferentes de praticar o mesmo esporte.
A união dos líderes dos três movimentos, tendo à frente o incansável Antonio Maria Della Torre, que agilizou o envio da documentação ao Conselho Nacional de Desportos, havendo, assim, a aceitação do futebol de mesa, agora, considerado como um esporte.
A razão das três regras terem sido agraciadas com esse aceite foi terem saído do anonimato e mostrado que havia uma abertura para todos os que quisessem praticar o esporte em caráter nacional. Não houve protecionismo e nem arrogância de ninguém. Aceitamo-nos dentro de nossas escolhas e nossa união foi forte e considerável. Assim como foram três poderiam ter sido cinco, seis, ou até mais regras. Nunca houve um limite estabelecido do número delas para que houvesse o aceite. Só que ninguém saiu de sua zona de conforto e correu atrás de seus interesses.
Para justificar tudo isso, devo dizer que percorri várias regiões do Brasil, muitas vezes, de ônibus, outras de avião, de condução própria, sempre procurando encontrar uma maneira de tornar o nosso esporte conhecido e aceito. Deixei a família em segundo plano em alguns momentos, pois estava perseguindo um sonho que, hoje, é uma realidade. Sinto-me realizado cada vez que participo de um encontro de botonistas e vejo que aquele esporte que era praticado escondido, hoje ocupa salões de honra, com presença de autoridades, sendo aceito e divulgado em todos os quadrantes do país.
Há ainda uma alegria que guardo, pois quando iniciamos a nossa luta, três eram os fabricantes conhecidos: José Aurélio, Miltinho e José Castro Sturaro, todos baianos. Hoje em dia, há fabricantes de botões em todos os lugares imagináveis, fazedores de mesas, de maletas para a guarda de botões. Desenvolveu-se uma indústria paralela ao futebol de mesa em todo o país, e muitas pessoas vivem de seu trabalho com esse esporte. Há recompensa maior do que essa? Além da alegria das amizades que foram sendo construídas com o tempo,  através das viagens, dos encontros, saber que pessoas ganham suas vidas fabricando botões, mesas, bolinhas, maletas, etc. Só isso basta para ter a certeza de que o sonho se tornou uma realidade.
Até a semana que vem,  se Deus permitir.
Sambaquy