Sempre que falamos em futebol de
mesa há uma pergunta que é feita por todos os botonistas brasileiros: Por que
foram reconhecidas três regras, como oficiais, pelo C.N.D.?
Vou tentar responder de uma
maneira fácil de ser entendida por todos. Apesar de haver maneiras muito
antigas de praticar o futebol de mesa, não reconhecidas, oficialmente, temos de
nos colocar realisticamente sobre as três regras mencionadas e aceitas como
oficiais.
Até o ano de 1967, quando foi
criada a Regra Brasileira de um toque, num trabalho conjunto entre baianos e
gaúchos, o futebol de mesa era praticado, regionalmente, quase sempre
escondido. Não saia muito além dos limites do município e, mesmo dentro dele,
várias modalidades eram praticadas. Havia o conhecimento que outras pessoas
jogavam, mas se desconhecia o modo como era praticado o jogo. Uma reportagem,
escrita por Oldemar Seixas na antiga Revista do Esporte, continha,
textualmente, que a BAHIA DÁ LIÇÕES DE FUTEBOL DE BOTÕES.
Escrevi-lhe curioso, pois no Rio
Grande do Sul praticava-se a Regra Gaúcha e havia uma Federação Riograndense de
Futebol de Mesa. Essa troca de correspondências evoluiu, de forma que,
convidados para um torneio de aniversário da Liga Caxiense, dois baianos se
deslocaram para o sul do país. Começava o desbravamento do difícil caminho da
união em torno do futebol de mesa. Isso culminou com a idéia de gaúchos e
baianos em criarem uma regra que fosse um pouco de cada uma das duas
principais, a gaúcha e a baiana.
Saia-se do lugar comum para
alastrar para o país a nossa idéia, ou melhor, o nosso sonho. O nordeste
brasileiro aderiu de imediato à nova modalidade, mas o sul se dividiu,pois os
antigos dirigentes da Federação não aceitaram a mudança. Ficamos sós, lutando
contra o grupo da Regra Gaúcha. Felizmente, fomos mais persistentes e
conseguimos atingir os objetivos de divulgar a nova regra.
Em 1970, Salvador abriu as portas
para o Brasil inteiro disputar o primeiro campeonato nacional de futebol de
mesa. Desde então, já contamos com a realização de 39 campeonatos brasileiros,
unindo botonistas de norte a sul em festas memoráveis, onde a amizade é o ponto
culminante do encontro.
Reunião do 1º Campeonato Brasileiro - Salvador 1970 |
Na década de oitenta, quando
assumimos a presidência da Associação Brasileira de Futebol de Mesa - órgão que
administrava a Regra Brasileira, procuramos os dirigentes das diversas regras
existentes, com a finalidade de promover uma união, sempre no sentido do
crescimento de nosso esporte. Estivemos em São Paulo , onde mantivemos contatos com Geraldo
Cardoso Décourt, Antonio Maria Della Torre, Geraldo Atienza, José Mesquita,
mostrando as reportagens e fotografias dos diversos campeonatos brasileiros
realizados. Nessa ocasião, a Federação Paulista de Futebol de Mesa estava
desativada, sendo que os paulistas eram seguidores da organização COFI, que
coordenava os campeonatos chamados Integração, que eram disputas entre os
diversos clubes paulistanos. Estivemos em Brasília, onde fomos recepcionados
por José Ricardo Caldas e Almeida, seu irmão Antonio Carlos, Sergio Netto e lá,
também, procuramos mostrar o que já havíamos conseguido realizar em diversos
campeonatos brasileiros. No Paraná, mais precisamente na capital Curitiba,
participamos de um torneio onde, na regra paranaense, juntamente com os
paulistas, conhecemos Agacyr José Eggers e os demais praticantes do futebol de
mesa local.
O pessoal de Brasília juntou-se
aos cariocas e mineiros e com a regra de três toques, que acredito seja a mais
difícil de todas, realiza seu primeiro campeonato brasileiro no ano de 1980.
São Paulo, com a reativação da
Federação Paulista, em 1986, realiza também o seu primeiro campeonato
brasileiro.
Já eram três as frentes que
tentavam aglutinar os botonistas em torno de mesas, embora em maneiras
diferentes de praticar o mesmo esporte.
A união dos líderes dos três
movimentos, tendo à frente o incansável Antonio Maria Della Torre, que agilizou
o envio da documentação ao Conselho Nacional de Desportos, havendo, assim, a
aceitação do futebol de mesa, agora, considerado como um esporte.
A razão das três regras terem
sido agraciadas com esse aceite foi terem saído do anonimato e mostrado que
havia uma abertura para todos os que quisessem praticar o esporte em caráter
nacional. Não houve protecionismo e nem arrogância de ninguém. Aceitamo-nos
dentro de nossas escolhas e nossa união foi forte e considerável. Assim como
foram três poderiam ter sido cinco, seis, ou até mais regras. Nunca houve um
limite estabelecido do número delas para que houvesse o aceite. Só que ninguém
saiu de sua zona de conforto e correu atrás de seus interesses.
Para justificar tudo isso, devo
dizer que percorri várias regiões do Brasil, muitas vezes, de ônibus, outras de
avião, de condução própria, sempre procurando encontrar uma maneira de tornar o
nosso esporte conhecido e aceito. Deixei a família em segundo plano em alguns
momentos, pois estava perseguindo um sonho que, hoje, é uma realidade. Sinto-me
realizado cada vez que participo de um encontro de botonistas e vejo que aquele
esporte que era praticado escondido, hoje ocupa salões de honra, com presença
de autoridades, sendo aceito e divulgado em todos os quadrantes do país.
Há ainda uma alegria que guardo,
pois quando iniciamos a nossa luta, três eram os fabricantes conhecidos: José
Aurélio, Miltinho e José Castro Sturaro, todos baianos. Hoje em dia, há
fabricantes de botões em todos os lugares imagináveis, fazedores de mesas, de
maletas para a guarda de botões. Desenvolveu-se uma indústria paralela ao
futebol de mesa em todo o país, e muitas pessoas vivem de seu trabalho com esse
esporte. Há recompensa maior do que essa? Além da alegria das amizades que
foram sendo construídas com o tempo,
através das viagens, dos encontros, saber que pessoas ganham suas vidas
fabricando botões, mesas, bolinhas, maletas, etc. Só isso basta para ter a
certeza de que o sonho se tornou uma realidade.
Até a semana que vem, se Deus permitir.
Sambaquy
Meu caro Sambaquy. Valeu. Quando, um dia, se dispuser vir a Recife,por favor, não deixe de visitar a Associação Pernambucana de Futebol de Mesa, berço da regra pernambucana (botãobol). Talvez, não seja do seu conhecimento, mas o Recife respira botão. Um forte abraço pernambucano. Abiud
ResponderExcluirAmigo Abiud,
ResponderExcluirJá estive nessa terra maravilhosa por duas vezes. Em 1971, disputando o segundo campeonato brasileiro, no Geraldão. E há dois anos, para visitar meu irmão e amigo Padre Aloísio Guerra.
Podes estar certo que quando retornar a esse Paraíso, estarei procurando aos amigos e tentando aprender a dominar a bolinha de borracha.
Sei bem que Recife respira botão, pois são diversas as regras aceitas nesse rincão abençoado. Ontem à noite levei o time da Regra Pernambucana e o da Fogo Tebei para mostrar ao pessoal do Atlântico Sul/Marcílio Dias que estava curioso para conhecer os botões. Todos gostaram, mas acharam pequenos os botões da pernambucana. Gostaram da bolinha de borracha, que corre bastante.
Estou dando uma de embaixador dos botonistas pernambucanos por aqui.
Um grande abraço.