Após escrever cem colunas para o
blog da AFM, os assuntos começam a ficar escassos e por isso devo sempre
recorrer à memória e a alguns textos que guardei, após ter enviado a minha
coletânea guardada para Caxias.
Abrindo uma página impressa da
Confederação Brasileira de Futebol de Mesa, deparei-me com o título
CURIOSIDADES. Pois será essa a motivação para essa coluna.
O início da regra do disco deu-se
na Associação de Alagoinhas, no ano de 1959, seguindo daí para as demais
cidades da Bahia e, de lá, para todo o nordeste. O primeiro evento regional
ocorreu, em 1969, na cidade de Recife e foi denominado de Nordestão. Reuniam-se
na competição os estados que praticavam a regra do disco em todo nordeste
brasileiro. Seu campeão foi Webber Seixas da Bahia.
A Bahia foi o centro polarizador
do futebol de mesa na região e, por essa razão, a regra passou a ser conhecida
como Regra Baiana. Em quase todos os bairros de Salvador havia clubes, onde os
campeonatos eram disputados acirradamente entre seus associados.
O primeiro evento considerado
nacional, que reuniu brasileiros do nordeste e do sul, foi realizado em Caxias
do Sul, em julho de 1966, na comemoração do primeiro aniversário da Liga
Caxiense de Futebol de Mesa. Junto aos filiados da Federação Riograndense de
Futebol de Mesa estiveram dois baianos, filiados à Liga Baiana de Futebol de
Mesa. Esse evento foi disputado na Regra Gaúcha. Havia enorme diferença entre
as duas regras e, para surpresa de todos os participantes, o baiano Ademar
Carvalho chegou à final do torneio, só sendo derrotado por marcar um gol contra
ao atrasar uma bolinha para seu goleiro. Como jogava com botões muito maiores e
mais pesados que os utilizados pelos gaúchos e, além disso, lisos, em sua base,
o botão ganhou velocidade e empurrou o goleiro e bolinha para o fundo das
redes.
Isso serviu para mostrar a
qualidade do botonismo baiano, diante do praticado no sul. Após o término do
torneio, os dois baianos, numa mesa especialmente preparada, fizeram uma
partida de demonstração de sua regra. Foi a gota d’água para que ficássemos
motivados no sentido de uma regra única, atando o norte ao sul do país, visando,
sempre, a uma disputa em caráter nacional. Foi o embrião da Regra Brasileira,
desenvolvida em estudos por gaúchos e baianos, que acabou sendo gerada em
janeiro de 1967.
Três anos depois de sua criação,
o grande sonho de todos os botonistas seria realizado. Em janeiro de 1970, nas
dependências do Clube Espanhol, em Salvador, realiza-se o Primeiro Campeonato
Brasileiro de Futebol de Mesa. Nele, marcaram presença representantes de seis
estados que, prontamente, adotaram a Regra Brasileira: Bahia (anfitriã),
Sergipe, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Equipe do RGS no Brasileiro - Todos de Caxias do Sul |
O primeiro campeonato Centro Sul
foi realizado em Brusque (SC) e, na ocasião, foi denominado de Sul-Brasileiro
de Futebol de Mesa. Seu vencedor foi Dirnei Bottino Custódio, representando
Santana do Livramento. Sua criação foi cópia dos Nordestões que reuniam os
praticantes do botonismo no nordeste brasileiro. Agora, teríamos o nosso
campeonato, agrupando os botonistas sulistas. A idéia vingou e já chegamos à
XXX edição.
O futebol de mesa crescia
bastante, mas carecia de divulgação, onde os aficionados pudessem conhecer o
que se passava em outras agremiações, não só de seu estado, mas de todo o
território nacional. As revistas especializadas em esportes raramente nos
concediam espaço para a divulgação. E quando isso acontecia, travavam-se
batalhas que mais serviam para distanciar os praticantes das diversas regras
existentes.
Então, na década de oitenta,
alguns abnegados começam a editar boletins tipo tablóides, noticiando as
atividades de suas agremiações. Isso serviu para aproximar os botonistas das
diversas regras, muito embora alguns fossem radicais em seus pontos de vista.
Aceitavam a sua maneira de jogar, desprezando as demais. Ao assumir a
presidência da Associação Brasileira de Futebol de Mesa, em 1981, realizei
diversas viagens para encontrar essas pessoas que dirigiam entidades, as quais
não praticavam a nossa Regra Brasileira. E, com alegria, fomos sempre
respeitados e bem aceitos entre eles. Foi o elo que se tornou poderoso e modificador
das lutas isoladas que foram dando lugar a um único objetivo. A fundação da
Confederação Brasileira de Futebol de Mesa.
Com o advento da Internet e a
criação dos blogs, a velocidade da informação transformou as distâncias,
reduzindo-as, fazendo com que possamos estar em todo o país em questão de
segundos. Assim, e em função do crescimento de nosso esporte, desenvolveu-se
uma indústria paralela que agiliza, de
maneira espetacular, a divulgação do futebol de mesa.
No início, eram apenas uns poucos
fabricantes de botões e quase todos eles no nordeste. Nos anos oitenta, quando
da aproximação com as demais regras, os botões fabricados na Bahia e em Sergipe
foram mostrados aos demais praticantes brasileiros. Em São Paulo, usavam os
botões vidrilhas (tampa de relógio). Aos poucos, foi sendo utilizado o acrílico
e os botões modificados para melhor. Hoje em dia, os botões de vidrilhas só
estão de posse dos colecionadores. Além de fabricantes de botões,
desenvolveram-se outras atividades que enriqueceram os botonistas: fábricas de
arenas, de maletas para acondicionar os botões, bolinhas, traves, réguas,
fichas, etc, além do desenvolvimento na criação de troféus especiais para
premiar os vencedores de campeonatos.
Mas, o que é mais importante em
tudo isso, acima descrito, são as amizades que conquistamos. Os encontros são
aguardados com expectativa inusitada e sempre com a esperança de rever esse ou
aquele amigo que há muito não vemos. E os abraços são os melhores troféus que
guardamos, pois serão eles que nos acompanharão até o final de nossa jornada
terrena. Os amigos são a maior conquista que o futebol de mesa nos concedeu. E
isso está eternizado na criação que Claudio Schemes e Luiz Alfredo De Bôer, com
mais alguns amigos da velha guarda fizeram dos BOTONISTAS BOLA BRANCA. Que
coisa mais linda ler notícias sobre esses ícones do nosso esporte que se reúnem
para fazer aquilo de que mais gostam: jogar botão.
Cláudio Schemes |
E dizer que tudo isso está
acontecendo por que perseguimos um sonho, um sonho que se tornou realidade, que
sempre foi o de reunir amigos, jogando futebol de mesa, divertindo-se e
mostrando que a felicidade é algo que está ao nosso alcance; basta estender a
mão e apanhá-la. E eu posso dizer que tive esse sonho e ele foi tornado
realidade. E, dentro dessa realidade, possuo um milhão de
amigos que praticam o futebol de mesa, o esporte que sempre amei.
Mais Fotos de momentos marcantes:
2º Campeonato Brasileiro - Recife 1971 |
3º Campeonato Brasileiro - Caxias do Sul |
4º Campeonato Brasileiro - Jaguarão |
PRIMEIRO CAMPEONATO BRASILEIRO DE FUTEBOL DE
MESA, em 1970, em Salvador. Sambaquy, Ivan Lima (Pernambuco), João Paulo Mury (Rio de Janeiro) e Oldemar Seixas, distribuindo flâmulas(Bahia). |
Encontro com os dirigentes paulistas Geraldo
Cardoso Décourt e Antonio Maria Della Torre no ano de 1981, em São Paulo |
Com o presidente da
Confederação Brasileira de Futebol de Mesa - Jorge Farah
|
Até a semana que vem, se Deus
permitir.
Sambaquy
Prezado amigo Sambaquy!
ResponderExcluirParabéns pelo relato! tenho acompanhado semanalmente suas postagens e vejo, com muita admiração, sua forma clara e objetiva de escrever. Sou novo no mundo do botão, pois comecei a jogar oficialmente em 2008, na Regra Pernambucana (Botãobol). Por isso, poder tomar conhecimento de relatos assim, me faz viajar num passado que gostaria muito de ter vivido. Da mesma forma quando Abiud, Hércules e outros mais velhos daqui de Recife, me contam coisas do antepassado da nossa regra. Conhecer histórias assim, me enriquece muito, fazendo abrir os horizontes.
Quanto às suas palavras finais acima escritas, saiba que o sentimento nosso, dos que fazem o Botãobol, é exatamente esse: somos grandes amigos, unidos pelo mesmo laço, tornando um sonho em realidade. Isso é o que vale, quando nos reunimos para jogar botão!
Despeço-me com um grande abraço, usando uma célebre frase utilizada pelo meu grande amigo Abiud, em suas matérias no blog "A MARRETA": VIVA O BOTÃO!
Hugo Alexandre - CHELSEA FCampeoníssimo
Meu amigo Hugo Alexandre,
ResponderExcluirVocê está incluido no rol dos amigos que consegui através desse esporte que tanto amamos. Eu também acompanho as descrições dos campeonatos do Botãobol, pois vocês nos fazem ter a impressão que estamos assistindo os jogos, que por sinal e pelos video que assisti devem ser emocionantes.
Seu blog CHELSEA e A MARRETA do amigo Abiud são leituras diárias.
A história que vivi no futebol de mesa é uma longa caminhada. Há uma idéia da criação de um livro, que para os botonistas que desejam conhecer um pouco da evolução da diversão de garotos para um esporte reconhecido exigiu muita luta, muita quilometragem,deixar nossa zona de conforto e enfrentar boa e má vontade de alguns líderes. Felizmente, hoje vivemos em paz e vendo o sucesso em diversas frentes.
Espero ainda ter a satisfação de poder abraçar aos amigos da Rainha das Regras, e tentar bater uma bolinha com esses mestres da bola de borracha.
Um grande abraço.