Parece que foi ontem que nos
reunimos, a meu pedido, no intervalo de uma das minhas aulas na Faculdade de
Ciências Econômicas de Caxias do Sul, com a intenção de fundarmos a nossa Liga
Caxiense de Futebol de Mesa.
Era um grupo de amigos que
gostavam de praticar o futebol de botões. Como todos comungavam da mesma
vontade, a reunião foi rápida e, ao sairmos do Centro Acadêmico Amaro Cavalcanti,
já havia nascido a entidade que regeria nossos caminhos dali em diante.
Nada foi fácil, pois poucos eram
os que dispunham de tempo para se dedicarem a embalar o bebê que nascera. Mas,
aos poucos, ele foi se desenvolvendo e rapidamente dava seus primeiros passos.
Nessa época nós praticávamos a
“antiga Regra Gaúcha”. Nessa antiga regra, havia maneiras indescritíveis de
conseguir marcar goles, sem que o adversário conseguisse jogar. Explico melhor,
pois muita coisa mudou e, talvez, aqueles que hoje a praticam nem imaginem as
aberrações de seu início. Marcos Lisboa era hábil em realizar essas proezas.
Seu time, todo de botões puxadores, tinha um zagueiro com um dos lados retos.
Nem por decreto conseguia levantar a bolinha. Pois, o Marcos batia o tiro de
meta e jogava a bolinha de encontro a um dos laterais adversários, conseguindo
um lateral. Desse lateral, batido com esse botão reto, jogava contra outro
botão adversário e conseguia mais um lateral. Com esse lateral, já no campo de
ataque, ele cobrava jogando a bolinha contra um zagueiro e fazia com que esse
cedesse um escanteio. Aí, então, a coisa ficava feia para seu adversário, pois
o escanteio era batido e para isso colocavam-se três botões em posição
inclinada em relação ao goleiro. Mandava
colocar o goleiro e batia o escanteio para que a bolinha batesse em um dos três
botões e encobrisse, dessa forma, o arqueiro, marcando o gol. Até então, o seu adversário
apenas colocara o goleiro e teria de apanhar a bolinha no fundo das redes para
dar nova saída.
Essa era uma das “brigas” que
tínhamos, pois muita gente jogava apenas para conseguir escanteios, eis que se
especializara nessas cobranças.
Após o Torneio de Aniversário que
promovemos com o pessoal da Federação e com convidados baianos, foi que vimos
uma maneira diferente de praticar o futebol de mesa. Mas não pensem que na
baiana também não havia aberrações! Havia e não eram poucas. Uma delas era o
“carrinho”. O “carrinho” era utilizado para entrar numa cerquinha efetuada com
dois a três botões. O praticante do “carrinho” jogava seu botão contra um ou
dois botões adversários, sem triscar a bolinha, e se os botões tocados não se afastassem
um centímetro de onde estavam não seria falta. Com isso conseguiam entrar nas
“cerquinhas” que eram comuns naquele tempo.
Aproveitando uma mensagem que
recebi, via Internet, retiro esse pensamento:" O que fizemos já não
podemos desfazer. O mais importante é aprender com o passado, para aprender a
jogar no presente e assim no futuro nos movermos com maior liberdade.”
Ao adotarmos a Regra Brasileira,
sem as aberrações ridículas que desmereciam o jogo, muitos dos antigos
botonistas que haviam se especializado naquela regra gaúcha não conseguiram se adaptar.
Foi o caso do Marcos Lisboa, Deodatto Maggi, Renato M. Muller, Dauro Brandão de
Mello, Delesson Orengo, Ivan Mantovani, Pedro Massignani, Francisco Rebstein,
José Raul de Castilhos, Saul Henrique Vanelli, Enio Chaulet e Antonio Azevedo.
Mas, a adesão de novos botonistas foi imediata. Ter um time padronizado foi uma
febre que atingiu até pessoas que nunca haviam praticado o futebol de mesa,
como Dirceu Vanazzi, Rubens Bergmann, Luiz Alfredo Gastaldello, Homero Kraemer
de Abreu, Heitor Stumpf, que se uniram ao Paulo Luís Duarte Fabião, Vicente
Sacco Netto, Sérgio Calegari, Raymundo Antonio Rotta Vasques, Airton Dalla
Rosa, Almir Manfredini, Angelo Slomp, Nelson Prezzi, Sérgio Silva, Paulo
Valiatti, Carlos Valiatti, Silvio Puccinelli, Marcos Zeni, Vanderlei Duarte,
Jorge Compagnoni, Roberto Grazziotin, Rubens Constantino Schumacher para realizarmos
campeonatos maravilhosos, a partir de 1967, ano em que iniciamos na Regra
Brasileira.
Por isso, meus amigos, não deixem
para fazer as coisas amanhã, pois poderá ser tarde demais. Façam, hoje, tudo o
que tiverem vontade. Soprem aos ventos os seus sonhos, eles se espalharão e
voltarão a vocês em forma de realidade.
Sambaquy
Meu caro Professor Adauto Celso Sambaquy. É isso aí, grande mestre, mas toda mudança traz consequências. No Botãobol não foi diferente. Antes, a regra era livre, com infinidade de toques, o famoso "leva-leva". Quando adotamos, em 2001, o limite de doze toques coletivos, foi um Deus nos acuda. Muitos botonistas não se adaptaram às mudanças e, hoje, já não são mais assíduos ao botão. Louvo, você, pois sabemos que a luta é inglória, mas nos conforta. É o nosso legado. Abração pernambucano. Abiud
ResponderExcluirMeu caro amigo Abiud, toda mudança traz uma série de dificuldades no sentido de adaptação. Muita gente acostumada às vitórias não admite ter de reiniciar praticamentedo zero e por isso abandona, reclamando das modificações. Essas são feitas no sentido de melhorar, como foi o caso do Botãobol. Infelizmente perdemos muitos companheiros com as modificações, mas acredito que os que ficaram acabaram somando muito no sentido da continuidade e crescimento de nosso esporte.
ResponderExcluirAbração ao amigo que ocupa um lugar especial no coração.