Huberto Rohden, um dos maiores escritores espirituais que já li,
escreveu:
“Lembra-te de mim, Senhor, quando entrares no teu reino...
Em verdade te digo, ainda hoje estarás comigo no paraíso...
Diálogo mais estranho nunca se travou no mundo do que este, de cruz a
cruz, entre dois moribundos.
Lembra-te de mim. – quem pede apenas uma gotinha de amor no meio dum
inferno de dores não é um homem mau, pois o homem mau maldiz os seus
sofrimentos e os autores dos mesmos. O homem mesquinho pede libertação dos
tormentos ou aceleração da morte. O ladrão na cruz pede apenas uma lembrança,
um pouco de amor... Pede uma migalha daquilo cuja falta o tornara celerado,
perverso, cruel ... um pouco de amor.”
Usei o texto acima para expressar
o meu sofrimento pela notícia que recebi simultaneamente do meu querido
afilhado Rogério (Presidente da AFM Caxias do Sul) e do Enio René Durante,
através de um e-mail, comunicando-me o falecimento do amigo de longa data VANDERLEI DUARTE.
Confesso que a notícia me abalou
profundamente, pois conheci Vanderlei menino, no ano de 1962, ou seja, há mais
de cinquenta anos. Sempre foi uma pessoa de personalidade forte, quase
intransigente em seus pontos de vista. Lutador abnegado, mas por dentro dessa
casca dura habitava um coração generoso e gentil. Jamais foi adulador, mas
reconhecia os valores de seus amigos. Por muito tempo fui seu confidente, visto
que diante de qualquer dificuldade usava seu celular para aconselhar-se com seu
velho amigo. Lembro-me que, há dois anos, no aeroporto de Guararapes, esperando
para embarcar de retorno recebi um telefonema dele, solicitando que eu entrasse
em contato com um antigo colega bancário que estava adoentado. Era durão,
turrão, mas tinha um coração pleno de bondade.
Graças a ele, a sua infatigável
vontade e amor pelo futebol de mesa, a Regra Brasileira pode manter-se com a
sua originalidade, jogando sempre em Caxias na modalidade liso. E graças à sua
imensa força, ela pode reerguer-se das cinzas, tal qual uma fênix e projetar-se
nacionalmente, fornecendo botonistas que ocupam até a presidência da Federação
Gaúcha.
Como relatei, conheci o Vanderlei
quando ele estava com 18 anos de idade. Na ocasião, eu trabalhava em uma
empresa comercial de Caxias e do escritório podia verificar o que acontecia no
balcão. Vi um rapazote conversando com os balconistas e falando em futebol de
botão. Como sempre fui apaixonado por esse esporte, levantei-me e me aproximei,
perguntando onde é que ele jogava suas partidas. Foi o marco inicial de uma
profunda amizade, pois todos os dias o Vanderlei passava por lá, com novidades
ou com presentes. Um desses presentes foi um goleiro que havia sido meu, nas cores
azuis e amarelas e que estava com ele. Deu-me de presente o que me deixou
feliz, pois era uma peça antiga que voltava ao grupo de botões que eu guardava
desde então, os meus puxadores.
Depois disso, com o entusiasmo
dele, passamos a levá-lo a jogar conosco. Primeiramente, no Recreio Guarany e,
depois, na AABB. Ao fundarmos a Liga Caxiense de Futebol de Mesa, o Vanderlei
estava junto conosco. Após a fundação, ele desapareceu por um tempo. Foi servir
o Exército Nacional e depois estudar engenharia. Ficamos algum tempo afastados,
mas no início dos anos setenta ele estava de volta. E voltava com toda a gana
que sempre teve. Já havíamos mudado para a Regra Brasileira, a qual ele
incorporou-se imediatamente. Em 1972, quando realizamos o Campeonato Brasileiro,
em Caxias do Sul, ele e Marcos Barbosa foram os nossos representantes. Jogava
muito o nosso amigo. E preservava a modalidade de botões lisos, jamais
permitindo que se usassem as mesas para botões cavados. Era fiel e foi muito
importante essa sua luta, pois hoje os lisistas gaúchos devem agradecer a ele
por estarem desfrutando dessa extraordinária maneira de praticar o futebol de
mesa.
Entretanto, sua forte
personalidade o fazia centralizar ao seu redor todas as atividades do futebol
de mesa. Não era de dar chances ao surgimento de novas lideranças e manteve
isso por muito tempo, até que conflitando com uma grande parte de associados,
afastou-se do grupo, unindo-se ao antigo reduto que o viu nascer para o futebol
de mesa: AABB.
Uma de suas últimas atitudes como
presidente da AFM foi a de distinguir-me com o título de Sócio Honorário da
entidade que ele tanto ajudou a se agigantar em 14 de dezembro de 2006. Sua
assinatura passa a ser agora uma doce recordação desse amigo/irmão que partiu
para o reino do Pai Celestial.
Após ter recebido o diploma de
Sócio Honorário, senti que a sua participação na AFM ia rareando e tomava
conhecimento de muitos assuntos quando ele ligava, querendo desabafar e eu
sempre procurava aconselhá-lo a deixar que a garotada aprendesse com os erros a
conduzir a entidade com a seriedade necessária. Isso, aparentemente o acalmava,
mas eu sabia que fatalmente ele retornaria ao assunto, pois não era nato nele
aceitar, passivamente, mudanças em seu modo de agir e pensar.
Quando da realização das
festividades de comemoração dos quarenta e cinco anos da entidade, usando a
palavra, descrevendo os primeiros anos de dificuldades imensas e olhando à
minha frente dois pioneiros com olhos marejados, fui sentindo um tremendo nó na
garganta e ao conseguir terminar, os dois me abraçaram e choramos juntos como
crianças. Vanderlei e Airton sabiam bem o que eu havia dito, pois viveram desde
os primeiros passos dessa imensa caminhada. Essa será a última lembrança que
terei desse amigo querido, o qual findou a sua jornada entre nós. Suas lágrimas
emocionadas molhando meu ombro.
Vanderlei vá em paz. Que os anjos
do Senhor o acolham em seus braços e o façam chegar aos pés do Altíssimo, onde,
por certo vais encontrar vários companheiros que já partiram. Diga-lhes que
nunca os esquecemos e que um dia, quando nosso Pai Maior determinar, estaremos
todos juntos. Quem sabe, já não exista por lá uma entidade para nos congregar
em torno de uma mesa, fazendo aquilo que todos nós sempre amamos fazer.
GALERIA DE IMAGENS DE NOSSO ETERNO VANDERLEI DUARTE NA LCFM/AFM CAXIAS:
Vanderlei foi um dos 2 representantes da cidade na Taça Brasil realizada em Caxias |
Na festa de 45 anos de LCFM/AFM Caxias ao lado de dois grandes amigos e fundadores da entidade Marcos Zeni e Adauto Sambaquy |
Daniel Pizza,Sergio, Maciel e Vanderlei vencedores da 4ª Copa Primus em 2008 |
Fim de ano e festa de encerramento na Casa Prezzi, Vanderlei era presença garantida |
Como Presidente entregou muitos troféus em nossa sede, como neste momento entregando o prêmio ao atual presidente da FGFM Daniel Maciel no Torneio da Festa da Uva |
E rolou muita emoção ao final da edição 2006 do Estadual de Liso. Nosso presidente Vanderlei ao lado do vice-campeão Daniel Pizzamiglio |
Alexandre Prezzi premia Vanderlei |
Equipe AFM Caxias do integração Grêmio X AFM |
Equipe AFM Caxias do integração Grêmio X AFM - a equipe vencedora |
Nesta mesma integração Vanderlei ficou como melhor de Caxias, mas na final foi derrotado pelo nosso amigo Breno que na época jogava pelo Tricolor (time do coração dos dois) |
Vanderlei Durte - Futebol de Mesa de Caxias do Sul lhe deve muito por todo teu esforço para a manutenção deste esporte que amamos. |
A Família AFM Caxias sempre será grato e nunca esquecerá este Botonista que nos deixa para fazer mesas (as melhores do estado) agora lá no céu. |
Vá em paz e que Deus te receba
como mereces.
Até a semana que vem, se Deus
assim permitir.
Mestre Samba!
ResponderExcluirEm muitos momentos de nossas vidas alguem especial tem que partir para junto de Deus antes de n�s. Mas s�o essas not�cias amargas que nos fazem reunir for�as para dar continuidade a obra que que esse alguem iniciou e deu prosseguimento. Estamos cientes que alguem como Vanderlei Duarte nunca mais teremos em nosso meio mas seu nome ser� lembrado quando se falar em futebol de mesa. Tuas palavras eternizar�o a lembran�a deste amigo que partiu.
Meu querido Zeni,
ResponderExcluirLembre-se sempre que você também faz parte desse grupo que iniciou tudo em Caxias. Nós temos de preservar essas pessoas que destinaram parte de suas vidas para que, hoje tenhamos nosso esporte reconhecido e com força de tornar-se campeão brasileiro, como, por obra do destino conseguiu no dia em que Vanderlei foi cremado.
Acredito que nossa AFM deveria organizar, como o faz com os campeões anuais, um quadro com as fotografias daqueles que fizeram-na crescer. Guardar as fisionomias de pessoas que trabalharam para chegar até onde chegou nossa entidade.
Obrigado por sua manifestação, pois era o mínimo que eu poderia fazer por esse amigo que nos deixou.
LH.ROZA
ResponderExcluirMeu IRMÃO FUTMESISTA...
"Desde o tempo de Bacon, todos os bons intelectos têm repetido que a única sabedoria válida é baseada em fatos ovservados."
Portanto, assim como VANDERLEI, outros tantos amigos nossos já o esperavam para bater uma bolinha...