O fato que me levou a escrever
sobre esse assunto prende-se à Regra Pernambucana. Semanalmente, acompanho o
movimento da bolinha de borracha, através dos blogs dos amigos Abiud (A
Marreta) e de Hugo Alexandre (Chelsea). Pois há um mês não está sendo postada
nenhuma notícia sobre o campeonato. A razão é a reforma da sala onde são
realizados os jogos empolgantes que aqueles amigos realizam todos os sábados.
Imagino a dificuldade deles, não podendo postar notícias detalhadas sobre as
partidas, com fotos e descrição completa do que aconteceu na rodada semanal.
Somos dependentes de espaço
físico. Necessitamos de salas com capacidade para colocar mesas e realizar,
dessa forma, nossos campeonatos.
E não são só os amigos de
Pernambuco. Em todos os cantos de nosso país, a coisa é sempre igual, pois
raramente alguém dispõe desse espaço físico para ceder ao futebol de mesa, em
detrimento de outros interesses.
Aconteceu quando iniciamos a
prática organizada em Caxias. Em 1963, a sede da AABB tinha um salão onde
realizavam alguns bailes e que ficava disponível para nós. Foi lá que
realizamos os torneios de aniversário da Liga Caxiense e onde, também, germinou
a Regra Brasileira, quando da apresentação da partida inaugural em uma mesa nas
medidas utilizadas pela nossa Regra. Com a reforma da sede, passamos a jogar no
piso inferior, ao lado das canchas de bolão. Era um tempo em que as pessoas não
se prendiam à TV, com novelas e programas esportivos. Quando muito assistíamos
a lutas livres, onde o Ted Boy Marino representava o grande lutador, contra
alguns mascarados que sempre usavam de malícia e malandragens. Por essa razão
eram muitos os que estavam sempre presentes na sede da AABB. Com isso,
começaram a maltratar as nossas mesas, pois geralmente quando chegávamos para
as nossas rodadas, tínhamos de lixar, limpar e reclamar de colegas que
colocavam garrafas e copos molhados em cima delas. Isso nos fez pensar em
alugar uma sala central, onde somente fosse praticado o futebol de mesa.
Começava a nossa peregrinação por vários locais na cidade até terminar onde
está atualmente.
A dificuldade sempre nos
acompanhou, pois nem todos os que eram filiados podiam cumprir com o pagamento
de mensalidades, as quais cobriam o aluguel da sala. Sobrava para os que tinham
emprego, os quais acabavam sempre arcando com os custos, geralmente elevados.
Abro um parêntese para citar um
feito histórico, pois a Associação Brusquense de Futebol de Mesa, depois de ter
sido criada na AABB, teve de fazer sucessivas mudanças: Rua Ruy Barbosa, sede
do S. C. Paysandú, Brusque Hotel, até que, num esforço conjunto de seus
associados, políticos e comércio brusquense, conseguiu construir a sua sede
própria. Para tal, nosso presidente Oscar Bernardi, que era amigo do presidente
da Câmara de Vereadores da cidade, recebeu um terreno na barranca do rio Itajaí
Açú. Planejamos a construção e nos programamos para conseguir reunir numerário
suficiente para a concretização do sonho. Fomos ajudados por políticos que viam
com bons olhos a nossa ideia de difundir o futebol de mesa entre a juventude,
já que realizávamos campeonatos infanto-juvenis, reunindo muitos meninos de
famílias brusquenses. Assim, foram realizadas grandes promoções, pois criamos o
primeiro Centro Sul, no ano de 1979, e o oitavo Campeonato Brasileiro, em 1981;
nossos botonistas foram conhecendo praticantes do futebol de mesa de todos os
tipos, inclusive, pois nós só praticávamos a modalidade liso, começaram a
aparecer os botões cavados. Era difícil jogar contra eles, pois sempre foi mais
fácil destruir do que construir. Além de muitos dos nossos botonistas imitarem outros
botonistas que, ao marcar um gol, gritavam, pulavam e vibravam como se tivessem
faturado a Mega Sena, sozinhos. Isso foi constrangendo alguns, outros revidavam
da mesma forma e o clima acabou ficando pesado e muitos abandonaram o barco,
apesar de ter uma casa só sua. Os nossos professores, nossos mestres foram
Airton Dalla Rosa e Luiz Ernesto Pizzamiglio, dois botonistas de alta estirpe e
educadíssimos na mesa. Mas, com a evolução e aparecimento de botonistas de
outras índoles, não foi possível evitar que os exemplos, nem tão bons, fossem
sendo adquiridos. Um a um, abandonaram os campeonatos. De 1974 até 1986,
tivemos campeonatos regulares, mas ao longo dos anos se esvaziando em número de
participantes. Em 1985, foi o único campeonato vencido por botões cavados,
tendo o amigo Décio Belli, com seu Guarany se sagrado campeão. Houve uma
primeira parada, até 1991, quando então, os meninos, uns filhos de botonistas e
outros seus amigos, reuniram-se e voltaram a disputar até 1997, até que, sem
incentivo, pararam definitivamente. Desde aquela época aos dias atuais, a sede
da ABRFM está entregue às moscas.
Talvez nosso esporte só sobreviva
quando tiver de enfrentar dificuldades. Ter de garimpar uma sede, ter de
batalhar para reunir botonistas, a fim de disputar campeonatos; isso sem falar
nas diversas regras que proliferam por esse nosso país, pois comecei falando da
regra pernambucana. Como ela, há centenas de outras e todos os seus praticantes,
tendo as mesmas dificuldades: local, pessoas, regras, federações, confederação,
etc.
Em Brusque, por não haver toda
essa gama de dificuldade, pois tínhamos o local, sem depender de ninguém, não
tendo de pagar aluguel, não conseguimos mais nos organizar e reunir um número
de botonistas suficientes para realizar campeonatos; sentimos que, se tivéssemos
ficado jogando entre nós, talvez até hoje ocorreriam campeonatos anuais. Quiçá nosso
erro tenha sido partir para outros horizontes e ampliar os números de amigos, o
que não foi entendido por alguns, razão pela qual tudo acabou ou, quem sabe,
foi o resultado do campeonato seguinte que derrubou nossos sonhos. Um
campeonato que só foi resolvido em uma reunião realizada no Rio de Janeiro para
definir quem havia sido campeão. No retorno de nossa delegação que foi ao Rio,
composta por ex-presidente da Associação Brasileira, seu vice, e mais dois
botonistas que ocupavam cargos de diretoria, por decisão unânime, abandonamos a
Associação Brasileira. Pouco a pouco, nosso sonho definhava e fazia com que
ficássemos mudos diante de fatos tristes que não convém serem relembrados.
Por isso, faço votos que a sede
do Botãobol, da Regra Pernambucana fique pronta logo, para poder voltar a
acompanhar os resultados das rodadas emocionantes que aqueles amigos realizam
semanalmente.
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Abiud Gomes e seu Náutico |
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Uma das decisões do campeonato pernambucano: Abiud x Hugo Alexandre |
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Armando Pordeus, de
Pernambuco que joga com a SER CAXIAS
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Até lá, fiquem com Deus.
Meu caro Sambaquy. Grato, muito grato mesmo, pelo nosso primeiro contato a viva voz. Foi simplesmente gratificante. Quanto ao botãobol, nós restamos já no finalzinho da restauração e no próximo dia 10 de novembro faremos a reabertura da sede da APFM, com a realização de um torneio aberto.
ResponderExcluirComo não tudo são flores na nossa vida, amargamos a perda de dois botonistas queridos: Tuca de Oliveira, com seu famoso Milan e o nosso homenageado no Campeonato Oficial, Chico Barbosa. O botãobol ficou mais pobre, pois são perdas irreparáveis, porém, fica a certeza de que, lá onde estiverem, juntar-se-ão aos saudosos botonistas que nos deixaram há um bocado de tempo: Armando, Zig-Zig, Abdon, Gilvan Carvalho, Gladiador, Mário Sandes, Aldiro Santos, Arlindo Vilaça, Pedrinho Palmatória. Farão um belo campeonato. Amém.
É isso aí, Sambaquy. É a vida. Abração pernambucano