domingo, 13 de novembro de 2011

NUNCA HOUVE CAMPEÕES IGUAIS AOS DE 1958.

Meus amigos botonistas, hoje eu entrarei na área do saudosismo. 
Tenho um motivo muito grande para essa divagação, pois o primeiro time de futebol de mesa liso, que veio da Bahia para o Rio Grande do Sul, encontra-se em minha galeria, desde o longínquo ano de 1966. É uma seleção brasileira que, de cara, foi batizada como a seleção de 1958: Gilmar, Djalma Santos (que me perdoe o De Sordi), Bellini, Orlando e Nilton Santos, Zito e Didi, Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo. Tenho ainda um reserva que chamei de Dino Sani.

Com ela iniciei minha campanha pela regra brasileira em terras gaúchas. Quando nos dirigimos à Bahia para a confecção da regra, ela estava a bordo e foi com ela que perdi muito, até aprender um pouco da manha que os lisos escondem. Tive duas vitórias e ambas contra adversários que também jogavam com seleções brasileiras. Um foi Mariano Salmeron Netto, engenheiro de Mataripe, quando visitamos o clube dos engenheiros e jogamos diversas partidas, e outra foi contra uma fera baiana de Santo Amaro, Amauri Alves. Gilberto Ghizi; nas primeiras derrotas voltou ao seu time de puxadores, mas não adiantava muito, pois os baianos faziam milagres e, jogando com a unha, conseguiam realizar coberturas e cavadas impressionantes.

Ao retornar, essa seleção estava sempre nos campos de madeira, desfilando a sua beleza e o pouco que o treinador havia captado com as feras baianas.

A diferença daqueles botões para os atuais é que a quina era apropriada para quem jogasse com a unha. Era mais arredondada e, para quem usasse paleta, geralmente os botões deslizavam antes de fixarmos definitivamente para o chute. Com isso, muitas jogadas eram desperdiçadas. Os times que foram encomendados, após descobrirmos esse problema, vinham com a quina mais viva, retendo a paleta por mais tempo. Nós estávamos engatinhando nos segredos dos botões, da regra, de tudo enfim.

Por que, então, resolvi batizar a seleção de Campeão Mundial de 1958? Nessa ocasião já portávamos o bi-campeonato, com a conquista realizada em Santiago do Chile.

A razão é muito simples. Havíamos fracassado, em 1950, no Maracanã. Em 1954, apanhamos no campo e fora dele na Suíça. Em 1958, ainda na flor da idade, acompanhei a caminhada dessa seleção rumo à Suécia.

Pouco se acreditava nesse grupo e, antes de saírem do país, foram vaiados no Maracanã. Reclamavam que era uma temeridade levar um menino que para viajar teve de ter autorização paterna, pois estava com dezessete anos de idade. Além disso, o clima na Confederação andava tenso. Carlito Rocha, o eterno presidente do Botafogo, adversário de João Havelange à presidência da CBD, na hora da eleição aprontou a maior bagunça e quase foi às vias de fato. Em 17 de janeiro de 1958, elegia-se Jean-Marie Faustin Godefroid de Havelange que contou com quase todas as federações. Só votaram contra ele as Federações do Amazonas, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Faltava o técnico, pois eram vários os nomes sugeridos, João Saldanha, Silvio Pirilo, Oswaldo Brandão, Zezé Moreira, Aimoré Moreira, Martin Francisco e Gentil Cardoso. Mas, ninguém se entendia na CBD. Foi então que o vice da CBD Paulo Machado de Carvalho indicou o nome de Vicente Feola. Isso fez aumentar a ira dos cariocas, pois a chefia da Seleção e seu técnico seriam paulistas. Fervilhavam os jornais com reclamações e crônicas contra tudo e contra todos.

Como gaúchos, acompanhávamos pela Rádio Guaíba o desenrolar dos fatos. A viagem, os amistosos sem muito êxito, a chegada à Suécia.

Lá funcionou o grande líder Paulo Machado de Carvalho. Foi o pai de todos na seleção.
E os jogos foram transcorrendo; Brasil 3 x 0 Áustria, Brasil 0 x 0 Inglaterra, com a formação idealizada por Feola. Na partida decisiva da primeira fase, os jogadores se reuniram e pediram mudanças. Eles estavam imbuídos de vencer e não iriam protelar mais esse título que estivera em nossas mãos em 1950. Garrincha e Pelé foram escalados. Vavá já entrara contra a Inglaterra. E o que se viu contra a poderosa Rússia do imbatível Yachin? O verdadeiro futebol brasileiro em campo. Garrincha, de cara, mostrou a seu marcador como se sambava por aqui. Em poucos minutos já tínhamos derrotado o poderio russo. Brasil 2 x 0 Rússia.

Na outra chave, a França estava detonando com Fontaine, sendo o grande artilheiro.

Nas quartas de finais, iríamos enfrentar o País de Gales. Um time enjoado, retrancado, com grandalhões espalhados pelo campo inteiro. Foi então que o gênio de um menino de dezessete anos apareceu e marcou um dos gols mais lindos feitos em mundiais. Brasil 1 x 0 País de Gales.

As semifinais reuniriam os dois melhores times da competição: Brasil e França. Dava gosto escutar pela Guaíba os lances emocionantes. O Brasil encontrara seu verdadeiro futebol e massacrava a França. Final Brasil 5 x 2 França. Estávamos na final mais uma vez.

Dia 29 de junho de 1958, no Estádio Rasunda, em Estocolmo, Brasil e Suécia entram em campo para a partida final. E o Brasil vestia azul, pois a Suécia, dona da casa, tinha o direito de usar a amarelinha. E, logo de cara, Suécia abre o marcador. Então, a figura grandiosa de Didi entra em nosso gol, pega a bola e caminha até o meio de campo, acalmando a todos os companheiros. Ali nós começamos a ganhar o jogo. Vavá marcaria duas vezes, Pelé, também, duas vezes e, Zagalo,  completariam o placar. Brasil 5 x 2 Suécia. Brasil, Campeão do Mundo pela primeira vez. E, quebrando todos os protocolos existentes, pela primeira vez um país ganhava a Copa fora de seu continente.  Eles que saíram daqui vaiados, voltaram cobertos de glória. Abriram o caminho para as demais conquistas, pois a primeira será sempre a mais difícil de todas e, ainda mais, dentro do continente europeu.

Por isso, meus queridos amigos botonistas, para mim essa foi e será sempre a melhor seleção brasileira de todos os tempos. Não enchiam os olhos de ninguém jogando bonito, não eram milionários, muitos sequer tinham carro, seus salários eram pequenos, nunca combinaram valores por vitórias ou empates. Jogaram por amor à camisa, jogaram para resgatar a honra que havíamos perdido em 1950, quando, mesmo com empate seríamos campeões e deixamos escapar. Por isso será sempre, para mim, a seleção brasileira inesquecível.

E os meus botões, guardados com carinho, desde 1966, representam cada um desses grandiosos craques que nos deram alegria, pelas ondas da Rádio Guaíba, de Porto Alegre.

Hoje já me emocionei demais, até a semana que vem, se Deus permitir.

Sambaquy.

3 comentários:

  1. LH.ROZA
    Amigo SAMBAQUY...

    POR FALAR EM SOUDOSISMOS, INFORMO QUE AINDA GUARDO UMA CARTEIRA(PLASTICA)QUE NA ÉPOCA SERVIA PARA GUARDAR CÉDULAS.

    NO LADO EXTERNO TEM A "FOTO" DESSES ATLETAS QUE NOS BRINDARAM COM A CONQUISTA DA COPA...

    ATÉ +

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  2. Grande coluna meu amigaçõ Sambaquy!

    Apenas um comentário sobre o que tu escrestes: Há anos atrás, jogava-se na seleção POR AMOR, não por dinheiro cmo é hoje, e, mais, nunca me esqueço do que disse o mestre ZAGALLO numa entrevista sobre sua vida: "Quando conheci meu sogro, tive vergonha de dizer que jogava futebol na seleção brasileira". Naquela época, jogar futebol era sinônimo de vagabundage. Pode?
    Nos dias de hoje é uma verdadeira vergonha o que os c lubes pagam para uns que nem sabem escrever seu próprio nome.
    abração
    Breno

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  3. Caro Sambaquy, antes de mais nada gostaria de te agradecer o prestigio que vem prestando a coluna do SACI É LEVANTADOR, saiba que lendo o teu blog me veio na mente as histórias que meu PAI contava sobre o futebol, olha muito obrigado por você estar conosco, gostaria muito de lhe conhecer pessoalmente para poder lhe dar uma abraço de agradecimento, por enquanto vai ser um abraço virtual, fique com Deus.
    Rogério D'avila Feijó

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