segunda-feira, 29 de outubro de 2012

SÓ PROSPERAMOS NAS DIFICULDADES?


O fato que me levou a escrever sobre esse assunto prende-se à Regra Pernambucana. Semanalmente, acompanho o movimento da bolinha de borracha, através dos blogs dos amigos Abiud (A Marreta) e de Hugo Alexandre (Chelsea). Pois há um mês não está sendo postada nenhuma notícia sobre o campeonato. A razão é a reforma da sala onde são realizados os jogos empolgantes que aqueles amigos realizam todos os sábados. Imagino a dificuldade deles, não podendo postar notícias detalhadas sobre as partidas, com fotos e descrição completa do que aconteceu na rodada semanal.
Somos dependentes de espaço físico. Necessitamos de salas com capacidade para colocar mesas e realizar, dessa forma, nossos campeonatos.
E não são só os amigos de Pernambuco. Em todos os cantos de nosso país, a coisa é sempre igual, pois raramente alguém dispõe desse espaço físico para ceder ao futebol de mesa, em detrimento de outros interesses.
Aconteceu quando iniciamos a prática organizada em Caxias. Em 1963, a sede da AABB tinha um salão onde realizavam alguns bailes e que ficava disponível para nós. Foi lá que realizamos os torneios de aniversário da Liga Caxiense e onde, também, germinou a Regra Brasileira, quando da apresentação da partida inaugural em uma mesa nas medidas utilizadas pela nossa Regra. Com a reforma da sede, passamos a jogar no piso inferior, ao lado das canchas de bolão. Era um tempo em que as pessoas não se prendiam à TV, com novelas e programas esportivos. Quando muito assistíamos a lutas livres, onde o Ted Boy Marino representava o grande lutador, contra alguns mascarados que sempre usavam de malícia e malandragens. Por essa razão eram muitos os que estavam sempre presentes na sede da AABB. Com isso, começaram a maltratar as nossas mesas, pois geralmente quando chegávamos para as nossas rodadas, tínhamos de lixar, limpar e reclamar de colegas que colocavam garrafas e copos molhados em cima delas. Isso nos fez pensar em alugar uma sala central, onde somente fosse praticado o futebol de mesa. Começava a nossa peregrinação por vários locais na cidade até terminar onde está atualmente.
A dificuldade sempre nos acompanhou, pois nem todos os que eram filiados podiam cumprir com o pagamento de mensalidades, as quais cobriam o aluguel da sala. Sobrava para os que tinham emprego, os quais acabavam sempre arcando com os custos, geralmente elevados.
Abro um parêntese para citar um feito histórico, pois a Associação Brusquense de Futebol de Mesa, depois de ter sido criada na AABB, teve de fazer sucessivas mudanças: Rua Ruy Barbosa, sede do S. C. Paysandú, Brusque Hotel, até que, num esforço conjunto de seus associados, políticos e comércio brusquense, conseguiu construir a sua sede própria. Para tal, nosso presidente Oscar Bernardi, que era amigo do presidente da Câmara de Vereadores da cidade, recebeu um terreno na barranca do rio Itajaí Açú. Planejamos a construção e nos programamos para conseguir reunir numerário suficiente para a concretização do sonho. Fomos ajudados por políticos que viam com bons olhos a nossa ideia de difundir o futebol de mesa entre a juventude, já que realizávamos campeonatos infanto-juvenis, reunindo muitos meninos de famílias brusquenses. Assim, foram realizadas grandes promoções, pois criamos o primeiro Centro Sul, no ano de 1979, e o oitavo Campeonato Brasileiro, em 1981; nossos botonistas foram conhecendo praticantes do futebol de mesa de todos os tipos, inclusive, pois nós só praticávamos a modalidade liso, começaram a aparecer os botões cavados. Era difícil jogar contra eles, pois sempre foi mais fácil destruir do que construir. Além de muitos dos nossos botonistas imitarem outros botonistas que, ao marcar um gol, gritavam, pulavam e vibravam como se tivessem faturado a Mega Sena, sozinhos. Isso foi constrangendo alguns, outros revidavam da mesma forma e o clima acabou ficando pesado e muitos abandonaram o barco, apesar de ter uma casa só sua. Os nossos professores, nossos mestres foram Airton Dalla Rosa e Luiz Ernesto Pizzamiglio, dois botonistas de alta estirpe e educadíssimos na mesa. Mas, com a evolução e aparecimento de botonistas de outras índoles, não foi possível evitar que os exemplos, nem tão bons, fossem sendo adquiridos. Um a um, abandonaram os campeonatos. De 1974 até 1986, tivemos campeonatos regulares, mas ao longo dos anos se esvaziando em número de participantes. Em 1985, foi o único campeonato vencido por botões cavados, tendo o amigo Décio Belli, com seu Guarany se sagrado campeão. Houve uma primeira parada, até 1991, quando então, os meninos, uns filhos de botonistas e outros seus amigos, reuniram-se e voltaram a disputar até 1997, até que, sem incentivo, pararam definitivamente. Desde aquela época aos dias atuais, a sede da ABRFM está entregue às moscas.
Talvez nosso esporte só sobreviva quando tiver de enfrentar dificuldades. Ter de garimpar uma sede, ter de batalhar para reunir botonistas, a fim de disputar campeonatos; isso sem falar nas diversas regras que proliferam por esse nosso país, pois comecei falando da regra pernambucana. Como ela, há centenas de outras e todos os seus praticantes, tendo as mesmas dificuldades: local, pessoas, regras, federações, confederação, etc.
Em Brusque, por não haver toda essa gama de dificuldade, pois tínhamos o local, sem depender de ninguém, não tendo de pagar aluguel, não conseguimos mais nos organizar e reunir um número de botonistas suficientes para realizar campeonatos; sentimos que, se tivéssemos ficado jogando entre nós, talvez até hoje ocorreriam campeonatos anuais. Quiçá nosso erro tenha sido partir para outros horizontes e ampliar os números de amigos, o que não foi entendido por alguns, razão pela qual tudo acabou ou, quem sabe, foi o resultado do campeonato seguinte que derrubou nossos sonhos. Um campeonato que só foi resolvido em uma reunião realizada no Rio de Janeiro para definir quem havia sido campeão. No retorno de nossa delegação que foi ao Rio, composta por ex-presidente da Associação Brasileira, seu vice, e mais dois botonistas que ocupavam cargos de diretoria, por decisão unânime, abandonamos a Associação Brasileira. Pouco a pouco, nosso sonho definhava e fazia com que ficássemos mudos diante de fatos tristes que não convém serem relembrados.
Por isso, faço votos que a sede do Botãobol, da Regra Pernambucana fique pronta logo, para poder voltar a acompanhar os resultados das rodadas emocionantes que aqueles amigos realizam semanalmente.
Abiud Gomes e seu Náutico

Uma das decisões do campeonato pernambucano: Abiud x Hugo Alexandre

Armando Pordeus, de Pernambuco que joga com a SER CAXIAS

Até lá, fiquem com Deus.

Um comentário:

  1. Meu caro Sambaquy. Grato, muito grato mesmo, pelo nosso primeiro contato a viva voz. Foi simplesmente gratificante. Quanto ao botãobol, nós restamos já no finalzinho da restauração e no próximo dia 10 de novembro faremos a reabertura da sede da APFM, com a realização de um torneio aberto.
    Como não tudo são flores na nossa vida, amargamos a perda de dois botonistas queridos: Tuca de Oliveira, com seu famoso Milan e o nosso homenageado no Campeonato Oficial, Chico Barbosa. O botãobol ficou mais pobre, pois são perdas irreparáveis, porém, fica a certeza de que, lá onde estiverem, juntar-se-ão aos saudosos botonistas que nos deixaram há um bocado de tempo: Armando, Zig-Zig, Abdon, Gilvan Carvalho, Gladiador, Mário Sandes, Aldiro Santos, Arlindo Vilaça, Pedrinho Palmatória. Farão um belo campeonato. Amém.
    É isso aí, Sambaquy. É a vida. Abração pernambucano

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