domingo, 17 de fevereiro de 2013

... NO INÍCIO ERA CELOTEX, HOJE BOTÃOBOL...


Meus amigos, hoje lhes falarei de uma modalidade de futebol de mesa que exige uma habilidade imensa e que retrata o movimento inicial de Geraldo Cardoso Décourt. Trata-se do Botãobol ou Regra Pernambucana, tratada pelos seus adeptos como a Rainha das Regras.
A regra surgiu, ao que tudo indica, nos idos de 1940, à Rua Barão de São Borja, no bairro Boa Vista, na residência de Aldiro Santos, mas se pode dizer, sem sombras de dúvidas, ser o maior nome do celotex de todos os tempos. Seus primeiros praticantes foram Armando Francisco, conhecido entre seus amigos como “Cabeça de Ataúde”, Pedrinho Palmatória, Vilaça, Chico Aborto Barbosa, Mário Sandes, Severino Vieira, René Cezar, esse oriundo do bairro São José, onde se jogava o celotex na regra chamada de “pingue-pongue”.
Com a mudança de residência de Aldiro Santos, passaram a jogar em sua nova residência, à Rua Montevidéu, também na Boa Vista. Passou a ser jogada também na Rua da Glória, naquele bairro, na residência dos familiares de Severino Vieira, já nos anos 50.
Nova safra de botonistas surge: Gilvan Carvalho, Humberto Simons, Clóvis Sandes, Fernando “Gordo da Pipoca”, Adão Pinheiro que, juntamente, com os decanos, passaram a difundir a regra em outros bairros de Recife.
Destaque maior foi para o bairro de Estância onde pontificavam nomes como o de Lula Pesão, Hemetério, seu irmão mais novo, Paulo Felinto Gouveia de Albuquerque, o mais fanático praticante do celotex de Recife, seus primos Murilo, Aldênio e Rominho que praticavam a regra “leva-leva”.
Somente no início dos anos 60, com a união de vários grupos de botonistas foi adotada definitivamente a Regra da Boa Vista, a famosa regra da bola de borracha, da tabelinha.
Destaque para os botonistas Valdir Santa Clara, Valterlys, os irmãos Abdon e Abiud e a nova safra: Ribamar, Marcos Securinha, Tuca, Silvio Romero, Adilson, Paulinho, Nadilson, entre outros. Muitos desses botonistas se espalharam, sendo que alguns já fizeram a grande viagem e outros deixaram de jogar. Mas os que continuaram levaram a sério a prática do celotex e procuram fazer com que as novas gerações perpetuem o futebol de mesa, nome pelo qual vai ficando conhecido.
Foi de propósito de que se deixou de citar Armando Francisco, o “Armandinho”, filho de um dos pioneiros do celotex e que deu uma dinâmica maior ao esporte, mesmo utilizando outra regra, fazendo com que o jogo de botões conseguisse mais e mais adeptos. Graças à atuação desse maravilhoso botonista, a Regra da Boa Vista foi levada para as dependências do Santa Cruz Futebol Clube, onde terá grande expansão.
A Regra da Boa Vista, ou Pernambucana, ou então Botãobol viveu seu período áureo, no Recife, na década de 60. Depois, foi uma longa pausa, somente retornando nos anos 90. Seus adeptos, entretanto, frequentavam os terraços e quintais de alguns amigos, jogando inúmeras partidas de botão. A volta com força total foi em 1999, já no Santa Cruz, com a Regra de 12 Toques. Com muito esforço, os amantes do celotex conseguiram introduzir uma mesa. Depois, tudo ficou mais fácil. Acabaram engolindo a Regra de 12 toques e criaram a Associação Pernambucana de Futebol de Mesa, isso em 2002. A partir daí, nunca mais pararam.
Regra Pernambucana, a garotada reunida para comemorar...
O Quadro de Competições, recebidos de seu presidente Abiud Gomes, apresenta, desde o ano 2000, mais de noventa competições, variando o nome de seus competidores, o que atesta a paridade que existe entre seus praticantes.
O Presidente ABIUD na entrega dos prêmios aos vencedores do Campeonato
Pernambucano de 2012 (Troféu Chico Barbosa)
Acompanho assiduamente dois Blogs pernambucanos: “A Marreta” e “Chelsea F. M.”, dos botonistas Abiud Gomes e Hugo Alexandre. A Marreta foi criada como uma brincadeira que servia de motivação para os torneios e campeonatos que aconteciam no Bairro da Estância, onde Abiud morava. As edições datilografadas eram levadas todos os sábados para o local de jogos, que era na casa de seu irmão Abdon, já falecido, onde havia um campo. Com a Internet, influenciado pelos seus filhos, aderiu ao blog, que acabou herdando o nome do informativo. O lema do jornaleco era: a luta eterna pela sobrevivência do celotex.
Troféu Chico Barbosa
Em ambos são descritas em detalhes as partidas da rodada. Acompanhei o último campeonato, iniciado em 2012 e terminado no dia 2 de fevereiro de 2013, que destinaria ao campeão o troféu CHICO BARBOSA. O mesmo nome de um dos decanos que iniciaram a prática nos anos 40. Rodada a rodada, termina o primeiro turno com a vitória do Chelsea, de Hugo Alexandre. Classificaram-se os melhores colocados para a disputa da chave ouro e os demais para a prata. Se vencesse, o Chelsea seria campeão antecipado. Foi então que surgiu Marcos Antonio Silva, carinhosamente chamado de Marcos Bundão pelos seus camaradas e com o seu Botafogo foi destruindo os sonhos de todos os adversários. Venceu de forma invicta a chave Ouro e, com a vantagem do empate, foi decidir com o Hugo Alexandre o campeonato de 2012.
Lance da final Botafogo x Chelsea
Mário fazendo seu Botafogo "pegar fogo"
 Lendo a descrição da partida, tanto na Marreta como no blog do Chelsea, sentimos que deve ter sido um jogo arrepiante, cujo resultado final 5 x 5 mostra a gana que motivava os dois adversários. Chegou a estar 5 x 3 para Marcos, mas Hugo Alexandre conseguiu empatar pouco antes do toque final do relógio. Como o empate favorecia o Botafogo, o troféu Chico Barbosa descansa em sua galeria. Mas o detalhe mais importante disso tudo, e que não pode passar despercebido, é que o campeão recebeu o troféu que homenageava seu pai que o introduziu no futebol de mesa. Não é necessário dizer que lágrimas correram de muitos olhos.
Bota Campeão, recebendo o troféu com o nome de seu pai. Emocionante...
Olhando e admirando as fotos, vejo um grupo de pessoas de minha geração, cabeças brancas que jogam e brincam como se fossem meninotes. Então, temo pela continuidade do Botãobol, pois cada um de nós tem o seu tempo definido pelo Criador. Dentro de mais alguns anos serão poucos os que o praticarão. Sugiro aos amigos pernambucanos que carreguem seus netos, os amigos de seus netos e lhes ensinem esse espetacular esporte,  pois só sobreviverá o Botãobol, se for herdado por uma nova geração. Falo isso com a experiência de ter levado, em 1970, por ocasião do Primeiro Campeonato Brasileiro realizado em Salvador, três meninos que na ocasião contavam com 14/15 anos de idade. Quando saímos de Caxias do Sul, foram eles que deram continuidade ao sonho de uma entidade voltada ao futebol de mesa e, na atualidade, são os filhos deles que administram e jogam em Caxias do Sul.
A idéia gerada por Geraldo Décourt,em 1930, ganhou vida através de muitos meninos, os quais ainda hoje praticam com o mesmo entusiasmo o seu esporte. Por isso, acredito que não será difícil encontrar meninos que continuem a sua luta e ajudem na divulgação dessa regra que exige muito controle e perfeição no manejo da bolinha de borracha.
Até a semana que vem, se Deus permitir.
Sambaquy

2 comentários:

  1. Obrigado, Sambaquy, pela divulgação do botãobol. Espero que a matéria motive os botonistas de outros estados brasileiros a praticarem o botãobol. Temos a APFM, mas a luta pela sobrevivência é insana. Torna-se difícil, hoje, conquistar jovens para a prática do botãobol. A concorrência com os jogos eletrônicos é mais do que desleal. Nossa sala é aberta e todos são bem-vindos. Valeu, amigão. Você é simplesmente demais! Esperamos um dia sua visita. Um forte abração pernambucano e um agradecimento leal e sincero de todos os que fazem a APFM. Felicidades, Gauchão!

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    1. Abiud,
      Na terça feira passada tivemos o Torneio Botão Folia, lá no Marcilio Dias/Atlântico Sul. Um professor da Univali, que joga conosco me perguntou se poderiamos colocar uma mesa de um toque. Como é grande a mesa, sugeri que jogassemos o Botãobol, com bolinhas de borracha. Tenho duas traves, dois times e várias bolinhas. Quem sabe possa nascer um núcleo do Botãobol em Santa Catarina?
      Abração e vocês merecem o apoio.

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