segunda-feira, 22 de abril de 2013

PERDEMOS O RAYMUNDO ANTONIO ROTTA VASQUES


Meu sábado, em plena convalescença por causa da retirada de uma ferida duvidosa de minha perna esquerda, não poderia iniciar-se de maneira pior. Sendo obrigado a ficar em repouso, parto para o meu companheiro computador, com a intenção de colocar as correspondências em dia. Dentre os diversos e-mails, destaca-se um, da Ana Maria Vasques, a filhinha do meu amigo Raymundo. A raridade de aparições de correspondências dela para mim me fez voltar os olhos e abri-lo em primeiro lugar. E o choque trazido pela mensagem encheu-me os olhos de lágrimas. Vou reproduzi-lo:
Prezado Sambaquy,
Meu pai veio a falecer hoje de manhã às 6 horas, após 10 dias de internação por males de rins, vesícula e quadro de descompensação clínica agravada pelo diabetes. Quero te dizer que o pai vinha muito recluso e, apesar de sempre lúcido – até o colocarem ontem em estado de sedação, já não enxergava mais, então somente ouvia notícias e outras que eram lidas para ele. Divertidos momentos foi ler o que escreveste sobre ele, foste o amigo “Samba” – como ele te chamava aqui – que permitiu que sua nova família (esposa, filho e nora) soubesse um pouco mais de sua antiga vida e do quanto seu bom humor e “tiradas” vêm de longo tempo.
Pena que não puderam dar um abraço pessoalmente, mas ele recebeu o teu carinho e afirmação amiga. Obrigada sempre por isso.
Ana.
Então, como num passe de mágica, recordei diversas passagens em que estivemos juntos na cidade de Caxias do Sul. Ao receber a revista editada pela AABB e descobrir que ele era o diretor do Departamento de Futebol de Mesa. A apresentação que forcei quando recém admitido no Banco, ao diretor do Departamento de Futebol de Mesa, dizendo que era praticante e que gostaria de poder frequentá-lo. A sua amizade imediata.  Seu carisma entre os botonistas caxienses, sempre com piadas prontas, alegrando os ambientes que frequentávamos. Sua condição de pai, carregando sempre o seu filho Raymundinho para jogar com os demais meninos que frequentavam o departamento, chefiados pelo Sérgio Calegari, que organizava e cuidava dos campeonatos infantis. Nas vezes em que ia buscá-lo em sua casa e, juntos, frequentávamos o Vasco da Gama, o Juventus, o Guarany, o Noroeste, mostrando aos interessados pelo esporte como era praticado. Sua organização de campeonatos, com tabelas pré-moldadas e, os nossos jogos, os quais sempre foram clássicos, que se iniciaram em 1963 e continuaram até 1972. Foram 52 partidas que representam 2.600 minutos que estivemos frente a frente, sem contar quando tínhamos de apitar um a partida do outro. Enfim, estivemos muito tempo de nossas vidas juntos, praticando o esporte que amávamos.
Raymundo atuando como árbitro em confronto entre Sambaquy e Fabião

O Clássico Eterno (Vitoriense X G E Flamengo)

Paulo Valiatti (Ypiranga) - Jairo Oliveira (Noroeste) - Joel Garcia (Internacional) - Sergio Silva (Grêmio) - Raymundo Vasques (Vitoriense) - Adauto Sambaquy (G E Flamengo). Participantes da Torneio de inauguração da sede do Noroeste FC
Torneio Inauguração da sede da Juventus - Vasques foi presença garantida
Mas, o Vasques ainda praticava o futsal. E nos diversos torneios promovidos pela AABB, lá estava ele, dando seus chutinhos e por vezes marcando gols, principalmente se o goleiro adversário fosse o Calegari. Então, na semana seguinte, a gozação corria solta na agência.
Em 1973 vim transferido para Santa Catarina e, algum tempo depois, o Vasques também alçou voo rumo a Curitiba. De lá, telefonou-me dizendo que viria até Brusque, trazendo o temível Vitoriense para dar uma surra no meu G. E. Flamengo. Infelizmente, nunca apareceu por aqui e só voltei a ter notícias dele, quando essa coluna o mencionou e a Ana procurou o meu endereço com o meu filhão Daniel Maciel.
Chegamos a conversar por telefone, mas, infelizmente não consegui me encontrar com ele pessoalmente, deixando para que nosso encontro seja no plano espiritual, onde todos deverão aportar algum dia.
Meu querido amigo, hoje, iniciaste uma nova viagem. Que sejas bem recebido por todos aqueles botonistas que te precederam. Que, ao encontrares, trate logo de ir formando um clube de Futebol de Mesa, pois quando eu for, levarei o meu time para aquela revanche prometida quando ainda estava em Curitiba.
Vá em paz e que o Nosso Pai Celestial te acolha com o carinho que mereces.
Montagem feita por Ana Vasques (filha de Raymundo)

Saudades serão eternas.
Até a semana que vem, se Deus permitir.
Sambaquy

4 comentários:

  1. Sambaquy, novamente nos surpreendeste com mais esta bela homenagem ao meu pai. Muito obrigada querido e sinto muito esta notícia ter chego num momento já tão difícil para ti. Estimo uma breve melhora, és uma pessoa tão sensível e especial imprescindível para trazer à memória histórias que se perderiam no tempo. Abraços. Ana Vasques

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Aninha,
      Seu pai foi uma pessoa muito querida por todos os participantes da nossa Associação. Os mais antigos o conheceram e com ele conviveram e poderão me ajudar com essas homenagens. Mas o nome dele é respeitado pelos mais novos, pois trata-se de um fundador que muito fez pelo futebol de mesa e seu nome está na história desse esporte, marcado com letras maíusculas. Quanto a mim, me recupero logo, não se preocupe. Abraço.

      Excluir
  2. Meu caro Sambaquy. Infelizmente, essas notícias virão com mais frequência, devido ao peso dos anos. É triste,ver a partida de um amigão que nos proporcionou tantas alegrias. É o ciclo da vida que vai se fechando, causando essa dor, mas que nos conforta pois sabemos que nos encontraremos na vida eterna e, então, a festa vai rolar sempre e fica a certeza que vai ser no futebol de botão.
    Sem mais palavras, amigão, espero que possamos nos encontrar ainda nesse plano e que recuperes logo dessa indesejável e incômoda ferida. Desejo-lhe tudo de bom. Abração pernambucano. Abiud

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Meu caro Abiud,
      Tens razão nessa perda constante de pessoas que, pelo futebol de mesa, ficaram ligadas em nossa vida. Esse ano parece que está dificil, pois as perdas estão se multiplicando. Dois grandes amigos só nesse mês. Dia 3 e dia 20. Infelizmente é o caminho natural que devemos percorrer, dia após dia. Antigamente eu brincava com um tio que abria o jornal na parte de necrológio. Agora quem faz isso sou eu. E, as surpresas sempre acontecem. A ferida foi retirada, mas a região é cheia de veias e com sete pontos tenho de ter cuidados ao caminhar, pois algum vaso pode romper-se e o sangue voltar a jorrar. Mas, depois de cinco dias, hoje pude ir ao restaurante com a minha esposa para almoçar. É sinal que estou melhorando. Um abração e eu também espero encontrá-lo nesse plano.

      Excluir