segunda-feira, 7 de julho de 2014

A MIGRAÇÃO DA REGRA GAÚCHA PARA A BRASILEIRA: CONSEQUÊNCIAS

Logo da Liga Caxiense de Futebol de Mesa
Na última coluna falei sobre as agremiações que iniciaram as atividades na Regra Brasileira. Em Caxias do Sul, a comandante geral, a Liga Caxiense de Futebol de Mesa, aderiu imediatamente. Com isso a AABB e o Recreio Guarany migraram para o novo sistema. Mas, muita gente que estava em alta na Regra Gaúcha sentiu dificuldade nessa mudança. Marcos Lisboa, que era o maior nome do Banrisul e que havia vencido os campeonatos de 1963 e 1964, promovidos pela Liga, sendo também bicampeão bancário, não conseguiu se adaptar ao novo tipo de botões. Ele fabricava seus times. Sabia como ninguém cavar um botão, dar o caimento desejado e seu craque maior era um botão em que 80% da circunferência possuia caimento e suspendia a bolinha, mas nos restantes 20% era cavador. Era com ele que batia tiro e meta, laterais e tiro de canto. Com os 20% cegos ele fazia lançamentos extraordinários e cavava com elegância. E, dependendo de onde ficasse a bolinha, os restantes 80% poderiam chutar e cobrir o arqueiro. Até tentou, mas desistiu e voltou aos campeonatos no Banrisul na Regra Gaúcha.
Inauguração da sede da LCFM em 1971
Outro que também se afastou foi o Delesson Orengo. Delesson fora fundador da Liga e também jogava com o Marcos o campeonato do Banrisul. Ele gostava mesmo era da mesa pequena e dos botões puxadores de galalite. Um time padronizado, com botões lisos, e uma mesa enorme o assustaram e ele deixou de jogar conosco. Ainda, hoje, continua a jogar seus campeonatos em seu escritório de advocacia, com o seu sócio, após os expedientes.
Sambaquy e Orengo nas festividades dos 45 anos de LCFM/AFM Caxias
A grande terceira baixa foi o Deodatto Maggi, campeão de 1965. Maggi também não se adaptou à nova maneira de jogar, apesar de ter mandado confeccionar um Santos, cujo ataque era Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, pelas mãos do seu Aurélio. Chegou a jogar alguns campeonatos, mas seu rendimento não era o mesmo de antes.
A compensação, entretanto, foi na quantidade de novos adeptos que surgiram na AABB. Todos os antigos praticantes mandaram confeccionar seus times, de acordo com seu sonho, desenhados e enviados ao Seu Aurélio. Até o Chicão Bergmann, que jogava os campeonatos da AABB com um dos times Lione, que haviam sido comprados juntamente com a mesa oficial da Regra Gaúcha, mandou fazer um Juventude de 1940, quando ele era titular a zaga. Surgiram Dirceu Vanazzi, Nelson Mazzochi, Luiz Carlos Ponzi, Carlos Peres, Osni de Oliveira, Heitor Stumpf, Walmor Medeiros, Homero Kraemer de Abreu, Milton Machado, Silmar Haubrich, Ricardo Medeiros, Aldo Oliveira, Luiz Alfredo Gastaldello, Sérgio Guimarães e Joel Oliveira que encomendavam times e passaram a disputar os campeonatos da AABB, cada vez mais concorridos.
AABB Caxias do Sul
O pessoal do Recreio Guarany, quase todo composto por rapazes com pouca idade tiveram mais dificuldades para comprar seus times, pois dependiam de mesadas de seus pais. Mas, com inteligência bolavam rifas e as vendiam aos aposentados que frequentavam o clube para jogar seu dominó ou o seu carteado. Com as rifas, conseguiram mandar confeccionar uma mesa oficial e compraram alguns times. E, lá, também o número de adeptos aumentou consideravelmente. Airton Dalla Rosa, Ângelo Slomp, Nelson Prezzi, Vitório Menegotto, Almir Manfredini, Sérgio Silva receberam a companhia de Jorge Compagnoni, Carlos Berti, Ariovaldo Sebben, Ricardo Almeida, José Raul de Castilhos, Enoir Luz, Paulo Santana, Paulo Leonardi e Ivan Puerari que premiavam o campeonato mais concorrido entre os jovens botonistas da cidade.
Almir, Angelo e Nelson alguns dos meninos do Guarany

Sambaquy com outros meninos do Guarany como Airton e Jorge
O sucesso fez com que várias entidades esportivas da cidade abrissem as suas portas ao futebol de mesa. A primeira foi o Vasco da Gama, tendo uma grande quantidade de botonistas. Mário Ruaro Demeneghi, Nelson Ruaro Demeneghi, Rudy Vieira, Boby Ghizzoni, Augusto Peletti, Aldemiro Ernesto Ulian, Jonas Rissi, Jone Almeida, Jorge Rezende, José Machado, Odir Forner, Sergio Salomon, Milton Berti e Neuri Fedrizzi realizavam campeonatos disputadíssimos.
José Machado - Rubens Schumacher - Boby Ghizoni
A Rádio Difusora cedeu uma sala aos seus funcionários e lá colocaram uma mesa. Adelar dos Santos Neves, Renato Monteiro, Gilberto Oliveira, Marcos Meregalli foram os pioneiros que passavam horas jogando futebol de mesa.
Rádio Difusora - Caxias do Sul
O Noroeste, cujo presidente Jairo de Oliveira também era radialista e participava com o pessoal da Rádio Difusora levou os irmãos Valiatti, Paulo e Carlos, José Machado, Oswaldo Costa e Oswalter Soares Borges para ocuparem a sede social do clube onde duas mesas estavam locadas à disposição dos botonistas.
Sede do Noroeste

Botonistas do Noroeste
Havia ainda núcleos no Pombal, Flamengo e Juventus. Mas o número de botonistas era reduzido e acabaram migrando para as disputas da Liga, que funcionava no Edifício Martinato, no centro da cidade.
Juventus - Caxias do Sul
 No início dos anos setenta, novos botonistas foram aparecendo: Luiz Ernesto Pizzamiglio, Marcos Fúlvio de Lucena Barbosa, Luiz Veronese Mascia, Adaljano Tadeu Cruz Barreto, Adalberon Cruz Barreto, Mário de Sá Mourão, José Domingos Susin, Celso Triches e tivemos a alegria do retorno do Marcos Zeni e Roberto Grazziotin.
Foto dos participantes da LCFM nos anos 70
Realmente, foi difícil perder grandes botonistas na migração de uma regra para outra, mas a compensação veio através de tantos nomes que encheram de glória a história do futebol de mesa caxiense.
O regresso de nossa aventura a Canguçu - um time de heróis

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

4 comentários:

  1. Amigão Sambaquy. Mais um belo relato. Imagino o quanto foi dificil essa migração. Algumas baixas iriam ocorrer, mas o que valeu mesmo foi a vontade e a determinação da maioria. Sei que houve perdas, lamentadas, mas os ganhos foram incontestáveis. O botão cresceu e atingiu os dias atuais. Você é um herói! Um forte abraço, bem pernambucano.

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  2. Meu querido amigo Abiud, a coisa foi pegada mesmo. Mas, sempre estivemos com o desejo de ver o sonho ser realizado. E conseguimos mudar o pensamento de muita gente a cerca do futebol de mesa. Hoje, em Caxias do Sul, o futebol de mesa é respeitado e tem apoio do FUNDEL. Isso mostra o quanto valeu o esforço inicial.
    Eu o considero da mesma forma, pois, num estado onde proliferam diversas regras, você ainda mantém o seu grupo jogando e bastante motivado. É um dos meus sonhos passar um dia jogando e vendo jogos do Botãobol, a Rainha das Regras.
    Abração gaúcho/catarinense e colorado.

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  3. LH.ROZA
    Mais uma bela "página" que só vem enaltecer os abnegados pelo futmesa caxiense ...
    Um abç. ao amigo ...

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    1. Roza, os caxienses gostam muito de você. Acredito que esse tipo de luta você enfrentou também em Pelotas. Que ganhava tudo na Regra Gaúcha não queria começar do zero na Brasileira.
      Abração e aproveita a festa em Jaraguá do Sul...

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