Caxias do Sul.
Considero-me um nômade por
excelência e tenho andado de uma a outra banda. Como dizia o poeta gaúcho,
Marco Aurélio Campos, “Se a inspiração me comanda, da trilha logo me afasto e
até semente do pasto replanto pelas estradas velhas, vermelhas, ao repisar no
meu rasto”.
Em 1965, no mês de dezembro,
aportei em Caxias do Sul. Levei comigo alguns poucos botões para alguma eventualidade,
sem muita esperança, pois, afinal de contas, não conhecia ninguém lá. Erro de
previsão, felizmente. Logo nos primeiros dias, conheci um cara que se tornou o
meu, NÃO UM MEU, MAS O meu amigo, COMPADRE E IRMÃO DE VERDADE. Passei a
desfrutar do seu generoso e agradável convívio e descobrimos algumas facetas em
comum: éramos desportistas, adeptos do futebol de mesa e praticantes da
fraternidade humana. Seu nome: Adauto Celso Sambaquy. Seu time: Flamengo, de
Caxias. Que achado! Passei a ter um amigo em todos os momentos e aquele
joguinho de botão atingiu proporções inimagináveis, transformando-se em Futebol
de Mesa. Através do Samba, tomei contato com outros maravilhosos parceiros,
como Chicão, o Mazzochi, o Vanazzi, o Heitor, o Grazziotin, o Paulo Fabião, o
Schumacher, os irmãos Valiatti, o Pizzamiglio, o Airton, o Guizoni, o Sérgio, o
Puccinelli, o Vasques e tantos outros. Dois deles, principalmente, tornaram-se
marcantes pelo espírito esportivo: Sergio Calegari e Raimundo Vasques. Devo ter
omito algum nome. Penitencio-me por isso. Havia dois meninos que nos
acompanhavam como torcedores: o Ric e o Dalla Rosa. Este último arrebatou-me o
título de campeão Estadual em 1975, na cidade de Jaguarão.
Em determinado momento, o Samba,
depois de excursionar com seu time até a Bahia, oportunizou-nos o recebimento
de Oldemar Seixas e do Ademar Carvalho que vieram lá da Boa Terra e nos deram
verdadeira demonstração de seu talento como botonistas. Aliás, lá em 1966 já
tínhamos os nossos times, que eram fabricados com acrílico e estampado neles, as camisetas das respectivas equipes.
Que maravilha! O Futebol de Mesa praticado como entretenimento – como de fato o
é – aproxima as pessoas e lhes transmite muitas lições de desportividade e
respeito. É ideal para os jovens, pois é uma prática sadia. O resultado dos
jogos fica em plano secundário, colocando-se a convivência como ponto
primordial. Sou muito grato ao Sambaquy e, é claro, ao restante da parceria de
Caxias do Sul, de onde levei o esporte para Canguçú. Até hoje, sem
interrupções, os canguçuenses praticam este esporte, cujas competições são
ponto de destaque nos festejos de aniversário da cidade e na Semana da Pátria.
Quanto a mim, estava “adormecido”
até ontem. Sim, até ontem! Hoje, encontro-me inclinado a voltar, nem que seja
para rever a parceria e reabraçar uma prática que me acompanhou por mais de
sessenta anos. Sabem por que devo voltar? Pois é, recebi um carinhoso
telefonema do Adauto Sambaquy aconselhando-me a retornar às lides botonísticas.
Foi mais longe, enviando um gentil confrade, o Luís, que me dirigiu um convite
para jogar no Círculo Operário de Pelotas. Meus “atletas” já estão concentrados
e devidamente parafinados.
Não tenho mais comigo as inúmeras
fotos das competições e da parceria. Não tenho mais os meus troféus nem os meus
velhos botões de minha fabricação. Uma enchente no ano de 2009 levou tudo por
diante, até a minha mesa de botão. Levou muito mais, mas... é bom nem falar a
respeito.
A voz do Sambaquy ao telefone,
tão familiar, tão amiga, tão carinhosa, cutucou o coração deste vulcão inativo.
Estou expelindo cinzas pelos poros e revivendo tantos momentos felizes e
agradáveis. Fases da vida que me deixaram profundas e indeléveis marcas na alma
e no coração. Para falar a verdade, essas marcas, inapagáveis, são muito
semelhantes às daquela significativa parede.
Eu daria tudo que
tivesse
Pra voltar aos tempos
de criança
Ah! Meu Deus, por que
a gente cresce?
Se não sai do peito
essa lembrança.
Aos domingos missa na
matriz
Da cidadezinha onde
nasci
Ah! Meu Deus eu era
tão feliz
No meu pequenino
Mirai
Que saudade da
professorinha
Que me ensinou o “bê
a bá”
Onde andará
Mariazinha
Meu primeiro amor,
onde andará?
Eu igual a toda
meninada
Quanta travessura eu
fazia
JOGO DE BOTÃO PELA CALÇADA
EU ERA FELIZ E NÃO SABIA.
(Música: Mirai –
autor Ataulfo Alves)
Meus amigos leitores, para
culminar tudo isso, quando da realização do Brasileiro, em Salvador, recebo um
telefonema do Vicente, anunciando que a minha caixa postal estava cheia e os
e-mails estavam voltando. Naquele momento, coloquei no celular o Oldemar Seixas
que o saudou com efusão. Depois disso, ainda conversamos por mais duas vezes,
sendo que o Vicente estava interessado em adquirir um São Paulo, nos moldes
atuais, pois os botões que usávamos eram mais altos e menores em circunferência. Pediu-me
que comprasse um, exposto pelos diversos fabricantes, mas, orientado pelo Enio
Durante, nosso colega de Banco do Brasil, a indicação recaiu sobre Adilson
Montenegro, que está produzindo verdadeiras obras de arte. E o Vicente merece
ter uma obra de arte em suas mãos vencedoras. O próprio Enio está encarregado
de receber o time e levá-lo para Pelotas, realizando mais esse sonho do menino
que marcou a parede de cimento penteado de sua infância, com a criação de
tantos craques que povoaram seus sonhos juvenis.
Fico feliz em falar nessa pessoa
maravilhosa que cruzou seu caminho com o meu. Esse irmão que a vida me concedeu
e que faz parte de minha família, pois é padrinho de minha filha Virginia.
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Vicente recebe premiação na Taça Brasil em Caxias do Sul |
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Vicente Sacco nos dias de hoje ao lado de sua esposa Regina |
Até a semana que vem, se Deus
assim permitir.
É isso aí, meu caro Adauto Celso Sambaquy. Nessa véspera de Natal nada como rememorar fatos que marcaram nossa existência. Há uma profunda diferença para com os versos de Ataulfo Alves: "nós éramos felizes e não sabíamos", porém, hoje, entendemos perfeitamente o que aquilo significou e podemos dizer com sã consciência: fomos, somos e seremos sempre felizes. Feliz Natal e Próspero Ano de 2013. Esperamos nos encontrar. Viva o botão!
ResponderExcluirAmigo Abiud. Retribuindo seus votos, informo que o Natal foi uma festa para os dois netos que moram por aqui. E com a felicidade deles a nossa fica completa. E que em 2013 possamos nos encontrar e bater uma bolinha.
ExcluirSomos e seremos sempre felizes, pois tivemos a alegria de conhecer o futebol de mesa. Isso só já bastaria para quelquer um ser feliz.