segunda-feira, 13 de setembro de 2010

FUTEBOL DE MESA EM BRUSQUE – SANTA CATARINA.


Transferido para a agência do Banco do Brasil, na cidade de Brusque, mudei meu modo de vida, que por sinal estava muito agitado, no final de 1973. Depois de todas as providências no sentido de colocar um rumo em minha vida, comecei a pensar no futebol de mesa. Havia deixado para trás a minha Liga, meus amigos, minhas partidas acirradas...

Em Brusque, cidade de tradição germânica, ninguém falava em futebol de mesa. Então, o que eu tinha de fazer era ir até Caxias do Sul (500 quilômetros ida, e mais 500 quilômetros para voltar) para disputar as minhas partidas restantes do campeonato de 1973. Fazia isso de quinze em quinze dias. E quando chegava em Caxias, tinha de jogar uma boa quantidade de partidas, o que me deixava em estado deplorável, pois cada partida era desgastante e os adversários muito competitivos.

Um dia, recebo pelo correio, uma carta da Liga Brasil de Futebol de Mesa, da Bahia, na qual me conferiam uma medalha, como um dos dez mais destacados do futebol de mesa brasileiro. Na ocasião, eu estava trabalhando na função de caixa executivo. Abri o envelope e observei a medalha. Logo, colegas acorreram e vieram ver o que se tratava. Lembro então que o Renato Antunes, olhando a medalha e lendo o que nela estava gravado, perguntou solenemente:

-Você joga botão? Respondi que sim. Foi o inicio do futebol de mesa na cidade.

Solicitei ao Marcos Zeni que me enviasse uma mesa. Haviam algumas sobrando na Liga e prontamente o Marcos a remeteu.

Eu morava no centro da cidade, num apartamento enorme, que antes servira como sede ao Banco, e, hoje estava alugado para minha família. A mesa chegou e coloquei em um dos quartos. Em seguida, entrei em contato com José Castro Sturaro, que fabricava botões na Bahia e fiz diversas encomendas. O que ele tivesse pronto podia mandar. Vieram times que não eram conhecidos no sul, como Paisandu e Clube do Remo, do Pará, Moto Clube, Bahia, etc. E todos foram comprados, pois o futebol de mesa acabou tornando-se uma coqueluche na cidade. Além dos bancários, do Banco do Brasil, parentes deles começaram a se interessar pelo esporte. O Roberto Zen, que era menor estagiário, trouxe seu irmão Valter, e esse o seu cunhado Sergio Walendowsky. Os dois ficaram encantados com o novo esporte que estava sendo apresentado. Mediram a mesa que estava em meu apartamento e mandaram confeccionar uma igual, em madeira de lei, pois a que estava em minha casa era de pinho. O encarregado de confeccionar a mesa foi o Walmir Merísio, antigo jogador de futebol, profissional, uma vez que havia sido campeão catarinense com o Carlos Renaux (clube mais antigo de Santa Catarina). O Merísio não entendeu a razão de fazer um campo de futebol de madeira para dois marmanjos... Ficou zoando com eles... Dois barbados vão jogar botãozinho??? Hahahahahaha???

Dias depois, a mesa ficou pronta e o Sérgio levou para a casa dele, que ficava ao lado da marcenaria. Lá, devidamente colocada, com os cavaletes ajustados, colocaram os dois times na mesa, e começaram uma partida de reconhecimento, diante de um Merísio de boca aberta...

Não demorou muito e o Merísio pediu para jogar um pouquinho, queria experimentar a sensação de jogar botão. Foi o primeiro caso de amor à primeira vista em Brusque, pois daquele momento em diante, trocavam aos adversários, pois o Merisio era o dono de um dos lados do campo. Nunca mais parou de jogar. Me procurou e encomendou um Juventus (time de Rio do Sul). Depois disso comprou um Corinthians. E foi, sem dúvida alguma, um dos maiores jogadores que Brusque conseguiu ver em ação.

A fundação da Liga Brusquense foi feita na sede da AABB. Logo em seguida, nos ofereceram duas salas em um prédio antigo da cidade, quase em frente ao apartamento em que eu morava. Fomos para lá de mala e cuia. E foi lá que jogamos o primeiro e segundo campeonatos brusquenses. E lá também foi realizado o segundo Torneio Proclamação da República, com a participação de dois caxienses: Marcos Zeni e Adaljano Tadeu Cruz Barreto.

A procura pelo futebol de mesa era tanta que tivemos de organizar e promover um campeonato infantil. Os filhos dos funcionários do Banco e a maioria dos irmãos menores dos sócios da Liga estavam disputando partidas com um tremendo vigor. E todos iram uniformizados, com seus times padronizados, lutando por troféus que representavam muito em suas vidas.

No terceiro ano, como fossem reformar as salas, pois uma rede de farmácias estava interessada em colocar uma loja no local, nos pediram as salas. Então surgiu o C.S. Paisandú, cujo presidente era o pai de nosso associado Marinho Vieira. Nos transferimos para a sede do Paisandú, com a presença da crônica esportiva brusquense (jornais e rádio) e lá fizemos a inauguração do espaço do futebol de mesa. Numa de nossas rodadas, fomos interrompidos pela presença de Doalcey Bueno de Camargo, locutor carioca, que levado pelos dirigentes esportivos da cidade foram nos visitar. Na ocasião, o Vasco da Gama estava em Brusque para uma partida amistosa.

Em 1979, com o crescimento dos adeptos, alçamos vôos mais altos. Realizamos, nas dependências da S.E.Bandeirante, tradicional clube social/esportivo da cidade, o primeiro Campeonato SULBRASILEIRO de futebol de mesa. Nesse campeonato, além dos estados sulistas, tivemos convidados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e um representante do Uruguai.

O campeão foi o Dirnei Bottino Custódio, de Santana do Livramento, que ao final do campeonato, em entrevista a um jornal local disse solenemente: "FUTEBOL DE MESA NÃO EXIGE FORMA FÍSICA". Era devido a sua imensa barriga, que ele orgulhosamente ostentava e dela se orgulhava.

Essa história ainda tem muitas facetas a serem narradas, a grande maioria vivida por expoentes da Liga Caxiense, que frequentemente nos visitavam, como Luiz Ernesto Pizzamiglio, Airton Dalla Rosa, Nelson Prezzi e o inesquecível Claudio Schemes, fundador da Afumepa.

Mas, isso é história para a sequência dessa coluna.

Um abraço e que Deus cuide de cada um de nós.

Sambaquy

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