segunda-feira, 22 de novembro de 2010

CURIOSIDADES ACONTECIDAS.


Quando apresentei a vocês, a fábula sobre o mais nobre dos esportes, falei que muitos acontecimentos poderiam ser considerados fábulas.

Cada vez que nos reunimos, muita coisa do passado surge em meio às conversas. Lembro que, quando realizamos o nosso Torneio em comemoração ao primeiro aniversário, recebemos visitas de dois baianos. Oldemar Seixas e Ademar Carvalho. Não foi por maldade, mas a criação da Liga Caxiense de Futebol de Mesa foi em pleno inverno caxiense. Logicamente a comemoração deveria ser feita na mesma época. Os dois baianos saíram de uma Salvador com quase 40º para chegar em Caxias com uma temperatura baixíssima.

De dia tudo ia bem. Ademar, logo acostumou-se ao clima, mas Oldemar passou a sofrer demasiadamente. Nos dias que precederam ao torneio, visitávamos as agremiações que praticavam o futebol de mesa. Sempre rolava uma bebida mais forte para ajudar a enfrentar o frio. Só que o Oldemar só bebia guaraná. Ademar, ao contrário, acompanhava o pessoal de Caxias em tudo. Se bebíamos vinho, ele estava junto, se fosse whisky, o Ademar era companheiro e com isso suportava mais fortemente o frio. Oldemar era municiado de casacos, luvas, mantas, umas quatro a cinco camisas e vivia se queixando.

Como eles ficariam alguns dias entre nós, consegui um local para dormirem, ao lado de minha casa. Era um apartamento de uma tia de minha ex-esposa.

À noite, com o abatimento do Oldemar, essa resolveu entregar a ele uma bolsa com água quente, pois esquentando os pés, conseguiria dormir mais facilmente. Mas, parece que nada estava a favor do baiano chorão. A bolsa de tanto ser apertada entre os pés, acabou estourando e molhando toda a cama.

No dia seguinte, a despeito de toda a boa vontade em acomodá-los, foram de mala e cuia para o Alfred Hotel.

Quando estivemos no Guarany, onde eles mostravam sua técnica, cheguei a fazer uma aposta com eles, dizendo que não estava tão frio assim, pois eu até ficaria sem camisa. Acabei tirando o paletó e a camisa e o Oldemar quase desmaiou quando me viu de peito nu. Dizia que os gaúchos eram todos loucos e que moravam em uma geladeira.

Levei ambos para uma colônia, de propriedade de um amigo. Lá fizemos uma queimada de pinhão, coisa que o Ademar jamais esqueceu. Chamava de castanha os pinhões. Perto da fogueira com galhos de pinheiro o Oldemar conseguia até sorrir. Nesse local, foi-nos servida uma graspa com erva doce, que era fabricada pelo meu amigo. Ao experimentar a dita cuja o Oldemar quase vomitou. O Ademar, pelo contrário gostou.

No dia do torneio, dentro da AABB, com um dia de sol de inverno foi tudo bem. Ficamos até quase à noite, quando o pessoal começou a se dispersar. Muitos iriam viajar para as suas cidades e os dois iriam para o Hotel, onde o ar quente do quarto os protegia.

No dia seguinte iriam para o Uruguai, pois quando saíram de Salvador tinham como meta conhecer o vizinho país. Os levamos até Porto Alegre, onde iriam voar para Montevidéu. Só que jamais imaginaram que por lá o frio é ainda maior. Por aqui ainda estávamos acima de zero.

Ao chegarem em Montevidéu, desembarcaram sob frio intenso e o que mais chamou a atenção foi a manchete de um jornal. Dizia ela: ESTAMOS HELANDO. HOY -6 GRADOS.

Os dois foram diretamente para o Hotel. Ligaram o ar quente e ficaram até o dia seguinte, quando apanharam o avião e voltaram ao Brasil, mais precisamente para a Bahia. Chegando na Bahia, o Oldemar soltou-se e a primeira coisa que fez foi pegar o telefone e ligar para dizer que finalmente estava vivo e feliz. O sol estava com quase 40º e ele havia resistido à geladeira sulista.

Depois de alguns dias recebi, pelo correio, um pequeno bloco com as armas uruguaias em sua face e com a dedicatória: Para o irmão, uma lembrança do Uruguai. Tenho guardado até hoje, entre os meus troféus, pois mesmo naquela situação, lembrou-se o meu irmão de comprar algo, que mostrasse a sua aventura em terras geladas.

Lembrar disso tudo reaviva os momentos de alegria e de muita descontração que marcou a nossa amizade. Pena o Ademar ter partido tão cedo. E, para a minha alegria, fui talvez o último amigo a conversar com ele, antes de sua cirurgia. Ademar prometeu que ligaria para mim tão logo recebesse alta, e, fosse para casa. Com o passar dos dias, sem esse retorno tão esperado, liguei para a Margarida e fui informado que ele não havia resistido à cirurgia do coração, a qual se submetera. Ela me agradeceu por ter falado na noite anterior à cirurgia, pois ele havia ficado muito feliz. Senti-me recompensado, mas imensamente triste pela perda de um amigo querido. Hoje, quando escuto as fitas gravadas daquela época, não consigo reter as lágrimas que teimam em escorrer pelo meu rosto.

Oldemar, por ser consumidor de guaraná, está forte, no alto de seus setenta e quatro anos. Conversamos todas as semanas via telefone. Seu programa radiofônico ”Bahia Campeão dos Campeões” já soma trinta e quatro anos no ar. É uma referência esportiva na Bahia.

Bem, essa é uma história acontecida, uma das inúmeras que ainda pretendo contar.

Uma semana feliz para todos vocês.

Sambaquy.

Nenhum comentário:

Postar um comentário