segunda-feira, 8 de novembro de 2010

PRIMEIRO BRASILEIRO DE FUTEBOL DE MESA REALIZADO NO BRASIL.



Hoje vamos tratar de algo muito sério, que motivou a grande caminhada do futebol de mesa da atualidade.

De 8 a 22 de janeiro de 1967, Gilberto Ghizi e eu ficamos na Bahia, jogando e trocando idéias para a concretização do grande sonho que possuíamos: uma regra nacional para possibilitar a realização de campeonatos brasileiros. Tudo foi motivado por uma reportagem feita por Oldemar D. Seixas, na antiga e extinta Revista do Esporte. Tomamos conhecimento de grupos organizados no nordeste brasileiro e entramos em contato. A história já foi narrada em colunas anteriores. Ghizi, então presidente da Federação Riograndense de Futebol de Mesa e eu, presidente da Liga Caxiense de Futebol de Mesa, rumamos a Salvador. Lá, entre as rodadas para a concretização da regra, éramos constantemente convidados a jogar em diversas sedes, não só em Salvador, como também em Santo Amaro e Mataripe.

Tudo acertado, voltamos ao Rio Grande amado, trazendo exemplares da nova Regra.

Era necessário impulsionar o maior centro praticante do futebol de mesa, que na época era a Bahia. Lá eram feitos botões, goleiros, mesas maravilhosas e em cada bairro existia uma agremiação que praticava o nosso esporte de forma organizada e responsável. Além disso, os componentes da Liga Baiana eram pessoas que encaravam o futebol de mesa com uma seriedade impressionante. Seu presidente, José de Souza Pinto, o único que não jogava botão, tinha metas e um tremendo carisma entre os baianos. Já estava com idade avançada, mas acompanhava o pessoal com o entusiasmo de um campeão. Dele partiu a idéia de realizar o primeiro brasileiro. E essa idéia foi ganhando força e sendo incrementada por todos os praticantes da Boa Terra.

Em fevereiro de 1969, Miguel Silva, nos visitou em Caxias, trazendo as noticias sobre a possível realização no ano seguinte do tão ambicionado campeonato.

Em novembro de 1969, para a nossa alegria, chega o tão almejado convite. A Liga Baiana destinava cinco vagas para o Rio Grande do Sul, mais precisamente para a Liga Caxiense. Seriam três a disputar o torneio por equipes e dois participariam do individual.

Infelizmente, nem todos comungavam do mesmo entusiasmo que iluminava os meus sonhos. Com o convite em mãos, reunida toda a comunidade botonista da Liga, somente o Walmor da Silva Medeiros, meu colega de Banco do Brasil mostrou interesse em participar. Ninguém mais tinha vontade ou desejo de jogar um campeonato brasileiro. Bastava o caxiense.

Com três vagas para serem preenchidas, a solução estava na garotada do Guarany. Compareci à sede do Recreio Guarany e conversei com os meninos. Eram meninos mesmo. A responsabilidade seria imensa, pois teriam de viajar, caso fosse permitido, com autorização de seus pais. Os três escolhidos foram Airton Dalla Rosa, Jorge Compagnoni e Ângelo Slomp. Com as devidas autorizações paternas, passamos para a fase seguinte. Vamos viajar de que maneira? E como faremos para dar cobertura aos gastos que serão necessários para hospedagem, alimentação, viagem? Como sempre, com boa vontade e muito trabalho, pois naquela época não tínhamos apoio algum, começamos a nos movimentar. Requisitei os três e atribui-lhes tarefas. Em primeiro lugar teremos de comprar um livro de ouro e passar na indústria e comércio de Caxias, explicando que estaremos representando o Estado do Rio Grande do Sul e a nossa cidade em uma competição à nível nacional. Não paramos mais de percorrer, diariamente as diversas empresas locais. A receptividade foi muito boa e conseguimos reunir o dinheiro suficiente para as despesas dos três, já que o Walmor e eu pagaríamos as nossas.

Faltava algo muito importante. O fardamento para nos apresentar nas competições. Teríamos de voltar a pedir auxilio as empresas? Foi quando me ocorreu solicitar à Confecção Sebben, fabricante de camisas, que nos socorresse. Ganhamos cinco camisas sociais, meia manga, na cor azul claro. Providenciamos escudos da Liga, bordados e costuramos nos bolsos. Em princípio, os problemas estavam quase todos resolvidos.

Compramos as passagens. O roteiro eu já conhecia, pois há três anos havia feito a mesma viagem. Sairíamos de Caxias rumo ao Rio de Janeiro. Teríamos de pernoitar no Rio e na noite seguinte seguir viagem rumo à Salvador.

Dia 2 de janeiro de 1970 partimos. Esse primeiro trecho era novidade para os meninos, que nunca haviam saído de Caxias. No Rio de Janeiro, tendo o dia livre, fomos visitar o Getúlio Reis de Faria, em Vila Isabel. Os filhos do Getúlio levaram os três gaúchos para conhecerem a praia. Estavam todos em estado de graça.

Naquela noite embarcamos rumo à Salvador. Na primeira parada, para jantar, pedi uma dose de whisky. A moça que nos atendia trouxe um copo liso, cheio de bebida. Já que eu estava pagando, bebi tudo. Resultado, dormi até perto de Salvador. No restaurante, o Ângelo, que era gordinho, um pouco guloso, comprou algumas barras de chocolate e colocou no bolso de sua calça. A viagem, pela noite à dentro era cansativa e o sono bateu em todos. O Ângelo dormiu esquecendo os chocolates no bolso. Com o calor do verão, mesmo à noite, ônibus fechado, derreteu tudo e foi incrível ver a cara de vitima do Ângelo. Não sabemos até hoje se era por ter derretido os chocolates, se era por ter transformado o bolso da calça em um bolo marrom, ou por ter de fazer o restante da viagem cheirando a chocolate. Ao chegar em Salvador teve de mandar a calça para a lavanderia. Ninguém agüentava ficar por perto. Chocolate nunca mais.

Em Salvador, formos recepcionados por um pessoal maravilhoso. Nos levaram ao consultório de dois dentistas que trabalhavam no Edifício Sulacap. Os dois tinham seus consultórios contíguos, separados por uma sala de estar que servia a ambos. Ao chegarmos lá, pararam de trabalhar, fecharam a sala e colocaram uma mesa para jogar. Os doutores Kleber e Próculo foram incansáveis e até um time deram ao Airton.

O campeonato seria realizado no dia 10 de janeiro de 1970, na Sociedade Espanhola.O local muito bonito e cheio de novidades para todos nós. Na noite anterior foi realizado o Congresso, onde foram detalhados os procedimentos e sorteados os jogos. A equipe seria formada pelo Walmor, o Angelo e eu. O Airton e o Jorge jogariam o individual.

A minha campanha foi razoável. Meu primeiro jogo foi contra José Ignácio, (Sergipe – que seria campeão de 1979, no Espírito Santo) que terminou empatado. Depois, joguei contra Marcelo Tavares, de Pernambuco e o venci. A seguir enfrentei a fera baiana: Miltinho e fui goleado. Ele não errava um chute a gol. Foi o primeiro fabricante de botões de palaton. Meu último jogo foi contra Adélcio Albuquerque, do Rio de Janeiro e devolvi a goleada. Um fato que nos impeliu ao quarto lugar foi o primeiro jogo do Ângelo. Jogava contra um baiano. Esse mandou colocar o goleiro e o Ângelo o colocou de forma que uma das extremidades do goleiro ficou meio milímetro dentro da linha de gol. Da forma que o baiano chutaria não conseguiria marcar. Foi dado o chute que bateu na cara do goleiro e voltou ao meio do campo. Então veio a surpresa: o juiz, outro baiano chamado Diogenes validou o gol, pois disse que o goleiro estava irregular. O Ângelo, menino ainda, ficou nervoso e começou a chorar. Não conseguiu mais dominar seus nervos e acabou perdendo os seus jogos. O Walmor também não foi muito feliz, mas teve alguns resultados positivos. Mesmo assim ficamos em quarto lugar, perdendo para três fortes adversários nordestinos, acostumados a jogar naquele sistema: Bahia, Sergipe, Pernambuco.

No campeonato individual, nossos meninos Jorge e Airton, não tomaram conhecimento dos baianos e pernambucanos, alagoanos, paraibanos e cariocas e chegaram a beliscar. Jorge Alberto Compagnoni ficou com o terceiro lugar e Airton Dalla Rosa com o quarto, dando mostras daquilo que estava sendo desenvolvido em Caxias do Sul. Os dois campeões foram dois baianos que residiam em Sergipe: Atila de Menezes Lisa (que cogitou, anos depois em morar em Caxias, pois trabalhava na Policia Federal) e José Marcelo Freire Farias.

Estava sacramentado o primeiro campeonato brasileiro da modalidade. E dele dois caxienses emprestaram seus nomes para figurarem no site da Confederação Brasileira de Futebol de Mesa. Cumprimos com o nosso dever.

Na semana que vem voltaremos a nos encontrar.

Até lá com o meu abração.

Sambaquy.

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