segunda-feira, 9 de maio de 2011

POR QUE ME AFASTEI DO FUTEBOL DE MESA?


Muitas vezes, pessoas têm vontade de perguntar o porquê da minha parada com o futebol de mesa, de dezembro de 1984 a agosto de 2007. Ficam curiosas, respeitando a minha decisão, e protelam a pergunta indefinidamente.

Eu sempre fui dedicado ao esporte. Lutei com forças enormes para implantar a Regra Brasileira no meu estado natal e posteriormente em Santa Catarina. Tive sucesso em ambas as tentativas. Mas isso tudo minou bastante as minhas resistências, e a minha vida ficou bastante atribulada. Responsabilidade de um cargo de chefia no Banco do Brasil, uma família que dependia de minha presença, Rotary Club e Maçonaria. Aliada a isso tudo a minha indicação à presidência da Associação Brasileira de Futebol de Mesa, que na época fazia o papel que hoje cabe à Confederação Brasileira da modalidade.

Acredito que os problemas que surgiram desse cargo pioraram as minhas já parcas resistências.

Para início de conversa, a indicação se deu em Brusque, por ocasião do Primeiro Campeonato Sul Brasileiro, o hoje Centro Sul, através do então presidente da entidade: Antonio Carlos Martins. E, junto ao meu nome foi indicado Eduardo Tonon Narciso da Rocha, de Criciúma.

Dias antes da realização do campeonato brasileiro a ser realizado em Pelotas, recebo um telefonema de um então líder, afirmando que estavam vetando o nome do Eduardo. Solicitei que o comunicassem da decisão, visto que a chapa apresentada pelo presidente Martins, nos colocava lado a lado. O assunto, tratado dessa maneira, seria de fácil contorno, mas nada foi feito. Ao chegar a Pelotas, com a maior delegação presente a um brasileiro, pois saímos de Brusque lotando um ônibus fretado, fomos procurados por líderes que reafirmaram o desejo de não eleger o Eduardo. Novamente solicitei-lhes que usassem de franqueza com ele e explicassem as razões do veto. Novamente nada foi feito. Ao contrário, criaram uma chapa nova e colocaram o nome do presidente da Associação Brusquense, Oscar Bernardi, como o vice-presidente a ser eleito. Tudo isso causou um tumulto inédito em campeonatos brasileiros. O assunto criou um clima de revolta nos botonistas de Criciúma e Florianópolis, julgando traição por parte dos brusquenses. Tudo isso foi sendo acumulado em minha cabeça.

No dia seguinte começam os jogos. Minha primeira partida é com um menino de Santana do Livramento e não consegui jogar direito. Estava abalado emocionalmente. A segunda partida foi contra um carioca, boa gente, e então meu futebol de mesa voltou, aliviando a pressão. A terceira partida foi contra um campeão brasileiro. Primeiro tempo sem abertura do placar. Foi então que, como uma granada, explodiu a minha paciência de uma vez por todas. Foi o pior segundo tempo que eu havia jogado em minha vida. Sob a complacência de um árbitro gaúcho como eu mesmo, caxiense como eu mesmo, morador de outra cidade como eu mesmo, o meu adversário usou e abusou de estratagemas para me irritar. Mandava colocar o goleiro e ele colocava, vinha para a minha posição, voltava para recolocar o goleiro, retornava para a minha e assim ficava minando a minha paciência. Quando eu ia chutar, depois de ter colocado a paleta em cima do botão, ele pedia, para... para, - vou mudar a posição do goleiro.... e assim foi, até que eu perdi a paciência, a razão e a vontade de jogar. Aquilo foi demais para mim. Passei a ceder dois toques, jogar contra meu gol, fazendo bobagens. Revoltado com tudo aquilo, parei de jogar depois daquela partida, que terminou como a minha primeira partida disputada em 1970. Perdi por 7 x 1, como havia perdido para Miltinho, na Bahia. Só que a diferença dessa,o fato para aquela é que não fiz gol contra naquela, e os gols que levei foram conquistados pela perícia do meu adversário. Ao término da partida simplesmente disse que nunca havia jogado sujo contra ninguém, e que essa fora a minha maior decepção no futebol de mesa.

Aprendi desde cedo que o homem que vive a consciência do bem, da dignidade, do caráter, não usa meios ilícitos, vis, para vencer as dificuldades do cotidiano. Seus instrumentos de defesa são o bem, a convicção, a verdade, a honra. Sua coragem nunca hesita no caminho do dever. O ideal constante do dever faz o homem sincero, justo, compreensivo, absolutamente responsável, no exercício da vida.

Confesso que fraquejei, pois não fui consistente. O que pode saber quem não passou pela experiência das provações? A dor prende-se, por um lado ao sofrimento; e por outro, à felicidade. Podemos dizer que é sempre um esforço da Natureza promover o equilíbrio. Na verdade, para muitos homens, se não fossem os sofrimentos, as provações, a melhor parte de suas potencialidades dormiria um sono profundo.

Fui covarde, pois a coragem é a manifestação silenciosa da disciplina interior que, com dignidade, tudo suporta, tudo sofre por lealdade, consciência da verdade e do dever. O homem forte não é aquele que domina fisicamente, mas é aquele que governa o espírito. Pela disciplina constante, esse homem alcançou a avaliação sobre seus pensamentos, sua linguagem e seus atos, vivendo o respeito por si e pelo próximo, administrando com dignidade as contradições do cotidiano.

Confesso que não consegui dominar meu espírito e fracassei. Deixei-me levar por pensamentos torpes e não soube perdoar uma falha de caráter de meu adversário, ou talvez de meus adversários, por que não dizer, pois incluí o árbitro na minha desdita. E tudo isso prejudicou a muita gente e muitos sonhos foram desvanecidos por minha causa, pois o homem que vive a força do amor, suporta com dignidade as areias movediças do social, administrando o desamor, as traições, a inveja; suporta a mentira, sem esmorecer, construindo sua própria tranqüilidade através da perseverança, da paciência para compreender o ser humano.

Retornei à Brusque e participei do campeonato, mas sem vontade e perdendo jogos por WO, por não comparecer, por estar desiludido com o esporte que eu havia ajudado a criar, e que se mostrava naquele momento, bem diferente daquilo que imaginara.

Foi então que me aproximei do pessoal de São Paulo, do Paraná, do Rio de Janeiro e de Brasília, sempre no sentido de uma união, que desde o início mostrou-se impraticável, por diversas regras existentes. Mas, lutando juntos, conseguimos o reconhecimento pelo CND de três regras que predominam no país.

Senti falta do futebol de mesa, mas a lembrança daquele jogo fatídico impedia a minha aproximação das mesas. A mesa que tinha em casa foi vendida a um amigo: Toni Nicolas Bado, que em 1986 conseguiria ser campeão brusquense.

A minha parada influenciou negativamente aos amigos brusquenses, os quais apesar de possuírem uma sede própria, construída com os esforços de todos nós, acabaram entregando-a aos antigos juvenis, que tentaram por algum tempo realizar campeonatos. Terminaram parando definitivamente. Sinto-me responsável por esse fato lamentável.

Voltei por influência de amigos que jogam na regra de 12 toques. Mas não tenho mais a vontade que possuía, quando estava no apogeu, sempre em atividade. Hoje jogo de vez em quando, de dois em dois meses, ou até mais tempo, pois gosto mesmo é da Regra Brasileira.

Foi assim que parei. Por causa de atitudes inconvenientes de pessoas que mandavam na Associação Brasileira de Futebol de Mesa, por atitudes maldosas num jogo de responsabilidade, que poderia ter sido evitado se o árbitro se impusesse, aliados aos problemas que se acumulavam em minha cabeça, os quais, eu não soube administrar como relatei acima. Foi uma fase difícil que está enterrada no passado para jamais voltar a existir. Tudo passou e não existe mais. Enfim, tudo isso acabou, acalmando-se e voltando ao normal com o tempo. Felizmente, as pessoas que estavam imunes aos meus problemas carregaram o futebol de mesa e fizeram dele a potência que hoje vemos diàriamente em todos os estados da União, com líderes que o promovem com amor e dedicação.

Acredito que devia essa explicação aos meus amigos botonistas que não conhecem toda a minha história.

Até a semana que vem.

Sambaquy.

Um comentário:

  1. Parabéns, pela maestria das palavras! Sou amigo do Eduardo Tonon (Criciúma-SC) desde 1983. Um gentleman! Abraços

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