segunda-feira, 10 de junho de 2013

A ALEGRIA E A DECEPÇÃO DE UM CAMPEÃO ESTADUAL DE FUTEBOL DE MESA

Meus queridos amigos, por ocasião do XXXIX Campeonato Brasileiro, realizado em Salvador, no ano passado, recebi um telefonema do meu amigo/irmão/compadre Vicente Sacco Netto. Ao saber que eu estava na Boa Terra, participando de um campeonato brasileiro, não se fez de rogado e me intimou a comprar um time para ele, já que aquele que possuía juntamente com seus troféus, foi levado por uma enchente em seu sítio. Recomendou que procurasse um São Paulo ou então em Milan. Passei a visitar os estandes de oferta de botões, mas sabendo de seu gosto apurado, não me senti entusiasmado por nenhum.
Conversando com o amigo Enio Durante no saguão do hotel, expus-lhe essa dificuldade. O Enio, solícito, imediatamente me tirou da enrascada. Chamou para junto de nós o Adilson Montenegro seu fornecedor de botões. Ali mesmo fez a encomenda, cuja arte seria apresentada ao Vicente para sua aprovação.
Depois de mais de seis meses, o time chegou às mãos do Vicente. No mesmo dia que o recebeu, ligou-me exultante, parecendo um menino excitado com um presente há muito sonhado.
No mesmo domingo, dia 2 de junho, enviou um e-mail narrando a sua alegria, dizendo que após ter recebido o time das mãos do Enio, passou a dormir menos, pensando em seu retorno aos gramados de madeira. No dia seguinte, continua em sua narrativa, encontrou uma caixinha apropriada para acondicionar os botões. Pintou-a de vermelho, preto e branco e, na tampa, com todo o cuidado do mundo, colocou os distintivos do São Paulo e do Milan. Segundo ele, ficou maravilhosa.
Na sexta feira, decidiu telefonar para o seu amigo Professor Calderipe, colega de escola e amigo, a fim de convidá-lo para visitarem um local onde se encontram algumas mesas. Foi quando aconteceu a primeira frustração, pois o Calderipe se encontra em Punta Del Diablo – Uruguai. No dia seguinte, com a caixinha debaixo do braço procurou o primeiro dos locais informados, onde poderia praticar o futebol de mesa. Caminhou bastante e não encontrou. Acometeu-lhe uma crise de nostalgia, pois não pode contar com o meu fusquinha azul que o levava de um lado a outro em Caxias do Sul, visitando as diversas associações botonísticas. Então resolveu procurar um local indicado pelo Enio – e lá encontrou três parceiros que o receberam muito bem. Foi, então, a segunda onda de nostalgia, pois não encontrou como acontecia na década de sessenta e nas seguintes o Calegari, Puccinelli, Vanazzi, Vasques, Chicão, Fabião, Grazziotin, Schumacher, os irmãos Valiatti, o Guizoni, o Dalla Rosa, o Cláudio Mussi, o Clementino Fonseca e tantos outros que o tempo e a geografia levaram. Dia ainda, a bem da verdade, não encontrei a mim mesmo. Disseram os praticantes locais que, agora, são realizadas competições separadas para botões lisos ou cavados. Que a caída é de 6, 7, 8 graus e só se chuta ao gol de bordoada, para que a bola possa levantar um pouco. Sentiu-se perdido, tal como sapo em cancha de bochas e se limitou a dar uns chutes ao gol.
Retornou a sua casa cabisbaixo, convicto de que o tempo é implacável demais. E o pior de tudo, a saudade que sente das pessoas e mais particularmente de mim, que não abraça há mais de quarenta anos.
Realmente, foi em 1972, por ocasião do Terceiro Campeonato Brasileiro, na época Copa do Brasil que nos encontramos pela última vez.
Último encontro de Sambaquy e Vicente Sacco
Respondi-lhe, explicando que, no Congresso, por ocasião do Campeonato Brasileiro de 1978, realizado no Rio de Janeiro, por sugestão de gaúchos e cariocas, os botões cavados foram aceitos. A partir desse campeonato, os cavados foram ganhando espaço e passaram a dominar os campeonatos, até que os dirigentes da Associação Brasileira (que precedeu a Confederação) viram que eram duas modalidades de características completamente diferentes e as separaram, realizando dois campeonatos anuais nas modalidades liso e livre (cavado).
Particularmente eu entendi a frustração do Vicente, pois nos primeiros anos da Regra Brasileira, os times ficavam dentro das quatro linhas, ocorrendo um ou outro botão estar fora de jogo, nas linhas marginais. Hoje em dia, os times jogam com todos os botões praticamente do lado de fora. Nossos jogos permitiam que usássemos cinco botões levantadores, pois primavam as jogadas de efeito, procurando tirar os defensores e fazendo com que os atacantes conquistassem gols maravilhosos, encobrindo os boleiros. Nós usávamos as palhetas redondas e hoje em dia todos jogam com réguas. Até os baianos, que sempre utilizavam a unha para jogar e fazer jogadas maravilhosas passaram a usar a régua que se tornou uma unanimidade nacional. Mudou muito o nosso esporte e, talvez, isso seja um impedimento para o retorno desse primeiro campeão estadual do Rio Grande do Sul, título conquistado em 1973 na cidade de Canguçu, palco do primeiro campeonato estadual.
Quem jogou naquele tempo não consegue assimilar a maneira atual de jogar. Encontra dificuldades imensas. Foi assim com o Airton Dalla Rosa, exímio botonista que jogava classicamente e nunca deu uma cavada como as que são utilizadas na atualidade. E, também, nota-se a pouca procura dos antigos praticantes da AABB de Caxias do Sul, pois mudou muito a maneira de praticar o futebol de mesa. Sei dos esforços do Enio, que conseguiu conversar com Schumacher, Vanazzi e tantos outros botonistas, mas não conseguiu fazê-los retornar.
O tempo passou e nós paramos nele. Ficamos com aquela maneira romântica de praticar o futebol de mesa e dificilmente nos adaptaremos a esse novo jeito de jogar. Lembro ainda que, quando joguei contra o Luiz Ernesto Pizzamiglio, fui admoestado para não jogar com tantos botões atacantes; em vez de atacantes colocasse botões que pudessem cavar. Eu não sei fazer isso, não tenho precisão geométrica para fazer cavadas, as quais devem priorizar as jogadas seguintes. O melhor mesmo é ficar assistindo.

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

4 comentários:

  1. Sambaquy, meu amigão, apesar de tudo, não desanime e não deixe que os outros também fiquem mais desestimulados para a prática do futebol de botões.Quase toda mudança sofre restrições e muitas vezes não são aceitas. Isso também ocorreu no botãobol, mas observa-se que a mudança aqui foi para melhor. Não temos problemas com botões, nem com palhetas. Preocupamos apenas com o tamanho, que varia de 33,5mm a 40mm, com altura máxima de 7mm (raro). A altura média é 5,5mm e o diâmetro 35,5mm. Não separamos os adversários por faixa etária, pois, não existe diferença. Diga ao Vicente Sacco e a todos os demais que experimentem o botãobol. É um desafio. De início, vai ser meio complicado, mas, depois, vão sentir o quanto é maravilhoso. Valeu! Abração pernambucano.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Meu amigo Abiud,
      Desanimar não é bem o termo, pois ainda estamos batendo uma bolinha na 12 toques por aqui. Quem sabe ainda vamos tentar introduzir o botãobol por aqui, mas sempre será necessário alguém conhecer e poder explicar os macetes para o bom andamento do jogo. Eu possuo dois times e um par de traves do botãobol.
      Na hora que aparecer outro adepto, quem sabe a gente inicia a modalidade. Por aqui em Santa Catarina as modalidades que são jogadas são 12 toques e dadinho.
      Abração gaíucho/catarinense.

      Excluir
  2. Amigo Sambaquy:
    Ismael tem 50 e poucos anos e retornou agora ao futmesa aqui em Alagoinhas, na Acra futmesa. Está tendo uma dificuldade enorme. Acredito que ele irá se adaptar. Ele mandou fazer time novo, já recebeu, mas a principal dificuldade é que quando ele jogava era de pente e agora é paleta, ele não está pegando bem o jeito da paleta. Está jogando muito mal por esta não adaptação a paleta. Deve ser questão de tempo. Tomara que ele não desista. Quando jogava Ismael era excelente botonista. Um abraço,

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Amigo Marcio,
      Então imagina a dificuldade de quem já passou dos setenta anos. Na realidade o futebol de mesa da atualidade ficou bem diferente daquele que era praticado nos anos 60/70/80. Não havia tanta cavada naquele tempo. Procuravam tirar os defensores e jogar a bolinha na área adversária, para o centro avante, que era um pouco menor poder chutar ao gol. Tomara que Ismael, que deve ter jogado na época romantica consiga adaptar-se.
      Um abraço.

      Excluir