domingo, 2 de junho de 2013

ADEUS, MEU QUERIDO IRMÃO GIOVANNI ZANETTO

Essa é a segunda vez que tento escrever essa coluna de despedida. Confesso que estou ainda sob o efeito do uísque que, inutilmente, tentava fazer esquecer as passagens de nossas vidas que nos uniram como irmãos. Ele nascido em Veneza e eu em Caxias do Sul. Nem por isso deixamos de ser irmãos, pois a força que Deus impregnou dentro de nossos corações nos transformou em membros da mesma família. E isso acontecia naturalmente, pois em minha casa e na dele, entrávamos e saímos com a maior naturalidade como se estivéssemos no seio da família que nos trouxe ao mundo.
Sambaquy e Zanetto ladeando duas lindas colegas da época
Nossa vida começou ainda nos bancos escolares, quando juntos estudávamos e sofríamos nas provas e exames. Mas, levávamos tudo na maior esportividade. Juntou-se a nós o Moacyr Boff, o qual foi convidado a afastar-se do Carmo, vindo para a Escola Normal Duque de Caxias. Formou-se a maior trinca daqueles tempos, pois onde estava um estavam os três.
Lembro ainda de minha cirurgia de apêndice. No Hospital Del Mese, meus dois irmãos fizeram com que a minha mãe fosse para casa, pois eles iriam cuidar de mim. À noite, com sede pedi água, mas o médico havia recomendado que nada me fosse dado. Eles, além de negarem, ainda me faziam sofrer, pois bebiam os copos com água e a derrubavam pela janela. Foi então que acionei a enfermeira e ela, acordada na madrugada, com a cara de braba mandou que eles me dessem água. O resultado foi que acabei passando mal. Mas, éramos unidos e isso é o que valia. Foram os irmãos de minha vida que Deus me deu de mão beijada para os melhores anos de minha vida. Fazíamos tudo juntos: escoteiros, futebol e escola.
O tempo passou. Crescemos. Eu consegui passar no concurso do Banco do Brasil e ele no Banrisul. Foi a primeira separação em nossas vidas. Mesmo assim estávamos sempre juntos, pois continuamos a estudar, primeiro na escola de Contabilidade do Carmo e depois na Faculdade de Ciências Econômicas. Seguimos sempre juntos em nossa vida.
O Giovanni nunca foi um ferrenho botonista. Jogávamos de vez em quando. Junto conosco estudava o Delesson Pavão Orengo. Esse era um fanático botonista. Em sua casa, jogávamos e brigávamos  seguidamente, mas logo após estava tudo bem.
Os nossos locais de trabalho acabaram nos afastando sem, no entanto, perdermos a amizade jamais. Ficamos distantes. O Moacyr foi morar em Curitiba e o nosso time de futebol esmoreceu e acabamos nos afastando. Outras pessoas tocaram o time e nós passamos a nos aventurar na noite. Lembro ainda de namoradas que conseguíamos em diversos lugares. Em Taquara, terra natal de meu pai, duas meninas que paquerávamos nos convidaram para um baile comemorativo na cidade. Seguimos para lá e nos hospedamos em um hotel. Fizemos o maior sucesso. Mas, éramos dois rapazes sem recursos financeiros. Terminado o baile, no dia seguinte nos despedimos e de ônibus voltamos para Caxias. A vida seguia assim.
Com a minha vinda para Santa Catarina, perdemos um pouco o contato. Eu tive de reconstruir a minha vida e ele a dele. Depois de alguns anos, radicado por aqui, um amigo em comum me convidou para um jantar em um clube. Disse que faria uma surpresa. Fiquei curioso e fui. E lá estava o Giovanni, sua esposa, sua irmã Gineta e o marido Adair. Foi uma emoção enorme para mim. Voltei aos tempos de minha juventude, convivendo com aquelas pessoas que me conheceram tão bem em épocas idas. Depois disso, encontros foram mais constantes. Além disso, as meninas de nossa turma de ginásio faziam encontros, nos quais eu comparecia e o encontrava sempre alegre e satisfeito.
Foram mais de sessenta anos de amizade, de irmandade, de comunhão de pensamentos entre nós. Na última, ano passado, quando pude comparecer e disputar, mesmo que sem condições, o torneio Laborcordis na AFM, ele não compareceu. Fiquei frustrado, pois era a minha referência a sua presença. Afinal, era o meu irmão que restava, pois o Moacyr havia falecido em Curitiba. Alegando que devia estar em tratamento no Hospital, não pude encontrá-lo.
Voltando para casa, mantive contatos telefônicos com ele, quase que semanalmente. Senti então que estava se despedindo dessa vida, pois sua voz, antes tão sonora e displicente, agora era bastante agastada. Aproximei-me de sua esposa, a querida cunhada Solange, que me deixou a par da triste situação que meu irmão estava atravessando.
Na última vez que conversamos, prometi-lhe que iria a Caxias para, em sua casa tomar um café. Foi então que o meu dermatologista resolveu retirar uma ferida cancerígena de meu tornozelo esquerdo. Achei que aquilo seria fácil, mas complicou e, com isso, por mais de um mês fiquei em prisão domiciliar. Até que, na sexta feira, às 0h36 minutos a minha querida cunhada Solange me liga para dizer que meu querido irmão havia terminado sua missão no plano terrestre e partira. Que choque! As lágrimas brotaram em meus olhos e a minha sensação de impotência diante do quadro se fez anunciar. Perdera o meu irmão, o irmão que não nascera em meu lar, mas que fora entregue por Deus aos meus cuidados e que marcara a minha vida com sua amizade. Faltou-me o chão e a noite foi longa e difícil. Giovanni Zanetto foi cremado no dia seguinte e deixou para nós, que ficamos, um legado de grandes realizações e uma amizade maravilhosa.
Tenho certeza que Nosso Pai o acolheu e o juntou ao Moacyr, os quais, espero, estejam me aguardando para restaurarmos a famosa trinca dos anos cinquenta.
Senti-me triste por não ter tido a chance de me despedir de meu irmão, mas ao mesmo tempo, recordando dele, vejo-o lépido, faceiro, cheio de saúde e amigo de todas as horas. Vejo-o como sempre o vi. Saudável e sempre pronto para uma nova aventura, coisa que diariamente fazíamos em nossa juventude. Saudade é uma dor que machuca, mas, ao mesmo tempo, é algo que nos faz reviver o impossível, aquilo que já aconteceu e nunca mais se repetirá, a não ser em nossa mente.


Com saudade e lágrimas, até a semana que vem, se Deus assim permitir.

7 comentários:

  1. Meu caro Sambaquy. Assim é a vida. O tempo vai passando e a cada dia vemos aproximar o fim da estrada. Olhamos para trás e sentimos toda a felicidade do mundo por sabermos que nossa longa caminhada não foi em vão. Fizemos amigos, demos e recebemos amor, construímos um lar, nos realizamos em vida. Esse é o destino de está reservado a cada um de nós nessa efêmera passagem. A vida segue seu rumo até o momento do juízo final. Fica a certeza: fomos, somos e seremos felizes, para todo e sempre. Meus sentimentos, com um fortíssimo abração pernambucano.

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    1. Meu amigo Abiud.
      Estamos fazendo uma grande viagem de trem, onde as pessoas embarcam e desembarcam em cada estação. Por vezes, pessoas caras a nós desembarcam e ficamos com saudade, mas afastados para todo o sempre. Um dia qualquer seremos obrigados a deixar o trem e pisar em outra dimensão, onde talvez possamos nos reunir com os que nos deixaram. Essa é a esperança que nutrimos. Mas, a dor da saudade, que não mata, fere muito o nosso coração.
      Abração gaúcho/catarinense.

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  2. Querido Sambaquy... ao ler sua postagem vem ao meu peito um misto de tristeza e ao mesmo tempo admiração! Tristeza em solidariedade ao seu sentimento, e também, como deves lembrar perdi peu pai a aproximadamente 2 anos, a distância que era comum a relação de vocês encontrava-se entre eu e meu pai, a dor ainda faz parte do meu cotidiano...
    A admiração a qual eu me referi, é pela amizade que vocês compuseram ao longo dessas várias décadas, amizade tamanha a qual só é possível entre irmãos...
    Mais uma vez, como já foi de costume e suas postagens anteriores, parabéns pela sabedoria em transpôr em palavras sentimento tão puro e belo!

    Que Deus te ilumine e guarde.
    TFA

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    1. Meu querido Gelson. Obrigado por entenderes a ausência de alguém que fez parte de nossa vida de uma forma muito forte, como se fosse o irmão que não tive. Talvez possamos voltar a nos encontrar, claro que em uma dimensão diferenciada, pois eu acredito nisso e reviver os momentos felizes de uma juventude em que a amizade era um marco de glória e realização. Você teve seu pai e o Robson, os quais acompanharam a sua caminhada e sabe muito bem o quanto isso é importante para a formação da pessoa que somos. Agradeço a sua manifestação e fico feliz em saber que comungamos de um mesmo ideal. TFA.'.

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  3. Querido Sambaquy, meus pêsames em relação ao teu amigo GIOVANNI ZANETTO, recebe minhas sinceras condolências em solidariedade a ti. Muito comovente a descrição da amizade de vocês e dos momentos tão bonitos e preciosos de parceria e companheirismo.Sinto muito pelo teu tornozelo e as complicações advindas. Espero que estejas melhor e fiques bem saudável para estar por muito tempo agraciando todos com relatos vindos da tua memória fantástica da história do botonismo e, principalmente, trazer a valorização da memória de pessoas queridas. Abraços.

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    1. Minha querida Aninha,
      Acredito que esse ano tem sido o mais dificil dessa minha longa vida. Nos últimos meses perdi três grandes amigos, um em Brusque, onde morei por 24 anos, seu pai em Florianópolis e agora esse irmão de coração em Caxias do Sul. Isso não tem reposição, restando apenas as boas lembranças dos dias felizes que passamos juntos. Quanto ao tornozelo está quase sarado. O susto sempre é maior do que as dores. Se Deus permitir ainda quero falar muito sobre coisas que foram vividas pelos meus amigos e por mim.
      Um beijo em seu coração maravilhoso, coisa que herdaste de seu pai.
      Sambaquy

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  4. Ola sr. Adauto, desculpe usar este topico, mas tentei entrar em contato pelo email e não consegui. Meu nome é Eduardo Serpa, sou de Brusque. estou montando um acervo historico sobre a politica brusquense, um arquivo com os santinhos ( propagandas politicas ) dos candidatos a vereador e prefeito do municipio. vc foi candidato em 1996 e não tenho seu santinho no acervo, gostaria de saber se voce tem guardado um panfleto e se poderia me conceder uma copia dele , caso não tenhas duplicado. sua presença no acervo é muito importante. agradeço MEU EMAIL eduflorestal@bol.com.br
    EDUARDO SERPA

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