segunda-feira, 29 de julho de 2013

CLAIR MARQUES – O PIONEIRO DE RIO GRANDE

Clair Marques campeão de tudo, colorado
A história do Clair poderia ser a história do futebol de mesa de Rui Grande. Menino ainda, na festa de seus 12 anos, entre todos os presentes, o que mais prendeu sua atenção foi o que seu cunhado lhe entregou. Eram dois times de plástico, dois “times de futebol de botão”, um do América e outro do Flamengo, ambos do Rio de Janeiro. Naquele 15 de novembro de 1956, Clair foi inoculado com o vírus que nunca mais o abandonou.
No piso de madeira da sala de sua residência deixou seu “amor à primeira vista” desfilar, fazendo suas partidas.
Depois disso passou a jogar contra os moleques de sua rua. Dentre eles, sobressaía-se o Robertinho. Era deixar uma bola sem cobertura e tinha de buscar a bolinha dentro de seu gol. Foi o Robertinho que o levou até a Padaria Sul América, onde, após o expediente, seu proprietário Antonio Leite, seu filho Antoninho, Rominho, Grilo, Zé, Walter José Ferreira (o campeão da Padaria) e o próprio Robertinho disputavam campeonatos organizados com uma regra idealizada por eles mesmos. Foi lá que ele foi apresentado aos botões puxadores. Conseguiu dinheiro e adquiriu um time de puxadores, o qual denominou de Real Madrid, o time mais destacado do mundo na época. Todos eles acompanhavam as notícias sobre esses times na Revista do Esporte. Com o Real Madrid na mão, passou a frequentar a Padaria e seu jogo evoluiu consideravelmente.
Mas, a grande dificuldade era e sempre foi a Regra. Cada grupo tinha a sua. E o sonho do Clair era ver todos jogarem com uma única regra, pois assim, em qualquer canto da cidade, os jogos seriam iguais.
Foi então que tomou conhecimento de que, em Porto Alegre, no ano de 1961, um abnegado desportista chamado Lenine Macedo de Souza havia fundado uma Federação Riograndense de Futebol de Mesa. Juntou dinheiro e mandou vir duas mesas oficiais, passando a jogar na Regra Gaúcha. Com isso, participavam de torneios e campeonatos promovidos pela Federação, o que os obrigou a criar uma Liga Riograndina de Futebol de Mesa.
Clair em início de carreira, com Lenine Macedo de Souza e o primeiro campeão riograndino Hallal
Algum tempo depois, toma conhecimento, através da Revista do Esporte, da reportagem “Bahia dá lições de Futebol de Botões”, de autoria de Oldemar Dórea Seixas. Escreve a ele e recebe resposta. Assim é criada a nossa amizade, pois Oldemar nos coloca em contato.
No ano de 1966, ano da comemoração do primeiro aniversário da Liga Caxiense de Futebol de Mesa, Clair é convidado e comparece, tendo a oportunidade de conhecer os dois baianos que estavam presentes: Oldemar Seixas e Ademar Carvalho. O torneio é realizado na Regra Gaúcha, com brilhantismo e com a participação dos dois convidados baianos. Após o torneio, é feita uma demonstração do então futebol baiano, com botões padronizados, num campo muito maior dos oficiais da Regra Gaúcha. Da mesma forma que os demais assistentes, fica maravilhado com a plástica desenvolvida e as jogadas de efeito.
Campeonato Gaúcho em 1966, Caxias do Sul. Clair aparece no meio da foto
Nesse mesmo ano, voltou a Caxias, agora em dezembro. Volta a Caxias, pois a Liga Caxiense fora incumbida de realizar o Campeonato estadual de 1966. Acompanha-o Gerson Marcílio Soares Garcia que disputaria a modalidade juvenil, sagrando-se campeão. Clair não foi muito bem nesse campeonato.
No ano seguinte, em 1967, o estadual de futebol de mesa realiza-se em Rio Grande, sua terra natal. São suas as palavras que foram incluídas num trabalho maravilhoso feito pelo Rangel, no blog da AFUMECA: ”Nesse campeonato, em que terminamos no empate Enio Vogues e eu, fomos declarados campeões. Foi um campeonato estadual realizado em Rio Grande, no Esporte Clube União Fabril, que ficava localizado em frente ao portão lateral do Cemitério de Rio Grande e que já não existe mais. Eu estava em minha casa, já achando que o Lenine e seus convidados não viriam mais, quando escutei o som de fogos de artifício. Fui olhar no portão e vi que estavam se dirigindo para minha casa, num comboio de cinco ou seis carros e uma Kombi, com bandeiras da FRFM e cartazes alusivos ao campeonato estadual de futebol de mesa que seria disputado na cidade. Juntamos o pessoal de Rio Grande com os demais convidados e começamos as disputas do certame.
A finalidade maior desse campeonato estadual, a qual descobri posteriormente, era a de promover os novos botões plásticos “Lione” da fábrica do Lenine Macedo de Souza. Cada participante do campeonato teria de retirar cinco de seus botões de galalite do seu time e, obrigatoriamente, incluir outros cinco da marca “Lione”. Esse detalhe o Lenine não havia comunicado a ninguém de Rio Grande.”
Já estava em vigor a Regra Brasileira, promovida pela Liga Caxiense de Futebol de Mesa, mas os participantes da Liga Riograndina de Futebol de Mesa, diante das enormes modificações entre as duas regras, permaneceram fiéis à Regra Gaúcha. O episódio da inclusão dos botões “Lione” entre os botões escolhidos para comporem os times fez muitos ficarem bastante magoados com a Federação. Mesmo assim continuavam jogando a Regra Gaúcha.
A adesão à Regra Brasileira aconteceu a partir de 1979, quando dois amigos foram convidados a participar do Campeonato Brasileiro desenvolvido em Jaguarão. Voltaram maravilhados com tudo o que viram. Esses dois e mais um grupo de amigos fundaram a Associação Riograndina de Futebol de Mesa. Destaque especial para Ademir Freitas Duarte que confeccionou as duas primeiras mesas e sugeriu o escudo da nova entidade. Junto com Clair, estiveram desde o início: Luiz Alfredo De Boer, Carlos Alberto Perazzo, Ronir de Oliveira, Paulo Roberto Monteiro, Mário Constantino, Gilberto Pereira, Oscar Schmidt, Alfredo Brito, Douglas, Batista, Silvio Silveira e Alam Casartelli. Nascia a entidade mais vitoriosa em terras farroupilhas.
Clair e Silvio dois fundadores da ARFM
Em 1992, transferido para Paranaguá (PR), sem ter adversários, para por quatorze anos de jogar. Até que, em 2005, alertado por Sérgio Oliveira, descobre em Curitiba o botonista carioca Mauro Paluma. Esse havia recebido de Cláudio Savi Guimarães uma mesa oficial e a montara no Clube D. Pedro II. Mauro havia descoberto Jeferson Mesquita, gaúcho de Uruguaiana e que militara o COP – Pelotas. Após a adesão de Clair, apareceram Marcelo Silva, Alexandre Magnus e Luiz Henrique Ramalho da Roza, ensejando a fundação da AFUMTIBA – Associação de Futebol de Mesa de Curitiba e arredores.
AFUMTIBA - Curitiba
Clair tem inúmeras conquistas, dentre as quais destacaremos Tetra Campeão da ARFMN (1979, 1983, 1987 e 1991), Campeão do Torneio Fronteirão (1983), Bi-Campeão da Taça RS (1980-1985).
Somos amigos desde 1966, quando o recebi em minha casa em Caxias do Sul, já que ele participaria do Torneio de aniversário da Liga Caxiense. Lembro ainda que, ao final do torneio, reunimo-nos com os baianos no Alfred Hotel para discutirmos a possibilidade de unificarmos as duas regras. Foi um dos baluartes na idéia dessa unificação. Ao deixá-lo na Rodoviária, de onde partiria de retorno à sua cidade, escutávamos o jogo Flamengo de Caxias x Rio Grande e, no final do jogo, o vovô do futebol brasileiro marcou um gol e ele berrou de alegria. Ao saber que eu torcia pelo Flamengo, pediu desculpas, mostrando o seu caráter digno.
Esse é o Clair Marques, mais uma bandeira do botonismo gaúcho, a quem envio o meu abraço.
Gaúchos em Itapetinga BA. Clair é o penúltimo da esquerda para a direita
agachados.
Guido e Clair, duas lendas do futmesa

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

7 comentários:

  1. Meu caro Sambaquy, mais uma bela história, mostrando que a gauchada foi, é e será sempre apaixonada pelo botão. Aqui em Pernambuco, minha geração aprendeu a jogar na famosa regra leva-leva, com bola esférica e mantivemos essa particularidade até os dias de hoje. Com as transformações, criamos o botãobol (12 toques coletivos/1 individual, bola de borracha, goleiro cilíndrico, lateral com as mãos e botões 35,5mm X 5,5mm na média), sem muito intercâmbio, daí nossa eterna luta pela sobrevivência. Abração pernambucano.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Amigo Abiud, eu tenho muita curisidade em ver uma partida de botãobol. Acredito que deva mesmo ser uma modalidade de muita tecnica, pois se a bolinha de feltro já dá trabalho, imagine a de borracha. Tenho dois times da regra pernambucana e algumas bolinhas. Inclusive um par de traves. De vez em quando tento uns chutes ao gol e acredito que é bem mais dificil do que a regra de 12 toques.
      Um dia ainda vou ter a alegria de presenciar esse sonho de conhecer a regra pernambucana e sentir a emoção de vocês em cada jogo.
      Abração gaúcho/catarinense.

      Excluir
  2. LH.ROZA.
    Meu caro "blogueiro
    O que mais comentar desse AMIGO e eterno abnegado por esse lazer,o FUTMESA ??? que tantas emoções nos proporcia.
    Em minha opinião mais vale as AMIZADES conquistadas em torno das mesas do que uma simples vitória, que no decorrer da competição pouco veio contribuir.
    Sua HISTÓRIA em alguns aspectos, muito se iguala a nossa, esse VÍRUS é inegável que jamais nos deixará.
    O certo é que a sua "ARFM" sutenta uma inegavel superioridade técnica na atual conjuntura tanto em nivel ESTADUAL como NACIONAL.
    Ter participado da iniciação da AFUMTIBA em muito nos deixa orgulhoso; primeiro por ter reencontrado velhos botonistas, posteriormente ter formado um novo grupo que apezar das distancias de suas cidades, se disporem aos sacrifícios impostos pela falta de local próprio, o que não impediu de praticarmos nossos encontros regados de uns "churrasquinhos".
    Por fim a minha definição do SR.FALAZORZINHO seria a de: AMIGO-BOTONISTA(altamente técnico) talvez seu principal defeito seja ser freneticamente apaixonado de TIME da BEIRA DO RIO...onde fica a outra paixão o RIOGRANDENSE de sua terra natal...
    BRINCADEIRAS á parte deixo um forte abraço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Amigo Roza,
      Fico feliz com suas palavras. Quanto ao defeito do Clair é o mesmo que eu possuo, pois torcemos para um time que nos dá muitas alegrias.
      Abração.

      Excluir
    2. LH.ROZA
      EU que tenho de agradecer por fazer parte do seu restrito cícurlo de AMIGOS.
      Quanto as preferencias clubisticas, já esperava cutuca-lo.
      Em contra partida estranhamos que os demais botonistas, por alguma razão pessoal, não estejam se manifestando e/ou postando comentarios.
      Até +

      Excluir
  3. Amigo Sambaquy,
    Fiquei muito feliz,honrado e agradecido de ser o assunto de uma de suas famosas "Colunas do Adauto Celso Sambaquy". Sua coluna é leitura obrigatória para todos os botonistas do Brasil. Para mim o futmesa têm a conotação de uma religião... Parece que me falta algo, quando não o pratico, pelo menos uma vez por semana.Tudo que eu sonhava acontecer para o futmesa, aconteceu! Hoje o futmesa é organizado,na regra 01 toque temos uma Regra brasileira, pela qual devemos muito a você! Disputamos campeonatos citadinos, estaduais e brasileiros. O futmesa é respeitado como esporte, em todo o território nacional. Na minha cidade do Rio Grande na regra disco 01 toque, onde se jogavam várias regras, hoje se pratica exclusivamente a Regra Brasileira. O que eu sempre apregoei no passado, se confirma agora no presente: "a cidade do Rio Grande é o berço de grandes botonistas". Principalmente na Associação Riograndina (ARFM), onde se destacam: Alex Degani, Sílvio Silveira, Duda, Michel, Ronir, Azevedo e outros que por lá passaram: Alessandro Rosa, Parada, Douglas, Alan, Márcio, Sérgio Gonçalves e tantos outros que no momento não lembro do nome. Por fim, agradeço as suas palavras elogiosas e as do meu amigo LH Roza. Abraços.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Meu amigo Clair,
      As pessoas que iniciaram o trabalho de divulgação do futebol de mesa, como você o fez, merecem todas as honras e comentários que poderão permanecer para sempre. Nós, um dia terminaremos a nossa missão, mas aquilo que fizemos ficará para todo o sempre.
      E, enquanto houver alguém jogando botão,a nossa luta permanecerá. Tudo então terá valido a pena.
      Um abração, meu amigo.

      Excluir