Della Torre - o grande presidente da FPFM |
Nascido em Casa Branca , interior
de São Paulo, no ano de 1942, conheceu e se apaixonou pelo futebol de mesa aos
onze anos de idade, em 1953. Antonio, assim como todos, começou furtando os
botões de casacos de suas tias, os quais eram mais vistosos que os dos casacos
de sua mãe. Desde cedo se iniciou na fabricação de botões, usando tampas de
vidros de pomadas e cremes, deixando sua mãe zangada. Com sua atividade
construtiva, juntou-se aos “cobras” da Congregação Mariana Casa-branquense,
onde havia uma formidável mesa de cerejeira inteiriça. Conseguiu alguns
campeonatos e vice-campeonatos. Em 1963, transferiu-se para a capital paulista,
ingressando na empresa C.Itho do Brasil, ocupando a gerência financeira. O
futebol de mesa ficou parado até o dia em que, ao chegar a casa, encontrou seus
dois filhos jogando num Estrelão. Os garotos tinham jeito para a coisa e isso o
motivou a comprar uma mesa oficial.
Frequentou a escola de Árbitros
da Federação Paulista de Futebol, onde se formou e atuou até 1968,
desligando-se dela por princípios e pela falta de tempo devido à sua atividade
profissional. Em sua empresa, um dia, encontrou um rapaz com alguns botões.
Interessou-se, pois havia voltado a jogar em casa com seus filhos e foi
informado que o Riachuelo era o clube onde ele poderia praticar. No sábado
seguinte, lá estava ele, assustado com tanta técnica.
Filiou-se ao Riachuelo, onde
conheceu Geraldo Cardoso Décourt, de quem se tornou o grande amigo. Junto com
Décourt fundam o BOTUNICE (Botonistas Unidos de Campos Elíseos) e ajuda a
reativar a Federação Paulista de Futebol de Mesa que estava desativada,
tornando-se o seu presidente mais ativo até hoje. Isso aconteceu em 1983, seu
grande ano, pois, em São José
dos Campos, é realizado extra oficialmente o primeiro campeonato brasileiro na
regra de 12 toques e Della Torre torna-se campeão brasileiro, seguido por
Libório (Brasília) e Muradian (São Paulo).
Della Torre e Décourt em uma solenidade de entrega de prêmios |
Foi um excelente fabricante de
botões, de troféus maravilhosos e o maior divulgador do futebol de mesa que já
conheci. Dele vieram inúmeros times de vidrilhas para Santa Catarina, os quais
foram distribuídos para jovens interessados na prática do esporte.
Décourt, Della Torre e Sambaquy |
Tive a felicidade de privar dessa
amizade, principalmente quando realizai um curso em São Paulo e por lá
permaneci durante um mês. Conheci, com ele, todos os clubes da capital paulista
e de Santos, pois Della Torre passava pelo Hotel onde estava hospedado e me
carregava, juntamente com Décourt, durante as noites e nos finais de semana,
quando então me conduzia até sua residência em São Bernardo do
Campo. Além de um artista na confecção de botões, troféus, mesas, bolinhas
tinha uma veia poética. É dele a poesia que transcrevo e que encontrei no livro
Botoníssimo, de Ubirajara Godoy Bueno.
O ÚLTIMO TREINO.
Doutor Teixeira,
médico excelente
Sem preconceito de
cor ou crença,
Atendia pobres, ricos
e todo doente
Que lhe viesse com
qualquer doença.
Amável e muito bom
esposo,
Pai de duas saudáveis
crianças,
Era esse o médico
bondoso
Daquela cidade e toda
vizinhança.
Não cobrava aos
pobres a consulta,
Recebendo bem a quem
a seu consultório viesse;
Rico ou pobre,
analfabeta ou culta,
Era querido por gente
de toda espécie.
Certa vez, estando de
viagem a família
Fica o bom médico só
com o seu outro amor;
BOTÕES DE JOGO: uma
verdadeira pilha
Treinava e treinava
só, mas com ardor.
Chutes a gol, toques
e passes;
Jogadas e táticas
queria aprimorar,
Tinha do botonista
muita classe,
Que era bom vê-lo
jogar.
Mas a caminho, numa
estrada,
Enquanto o doutor se
divertia,
Levada pela mãe, uma
criança desenganada
A casa do doutor se
dirigia.
Chegando à porta da
moradia
A mulher chamava e
batia palmas
Doutor Teixeira,
alheio a tudo, os botões polia
E aos pequenos discos
se entregava com alma.
O bom médico absorto
em sua diversão
Não escutava a mulher
que à porta batia
Ao ponto de ter
sangrado a mão
E, lá dentro, o
remédio que ele tão bem conhecia.
Meia hora depois,
ainda chamava a mulher aflita,
E a criança que a
febre queimava
Fechando os olhos,
perdeu a vida
Diante da família do
médico, que regressava.
Trazido pela esposa,
o doutor a cena via
E ao constatar que a
criança estava morta
Confessou que
salvá-la poderia
Se houvesse, há dois
minutos batido à porta.
Ao saber que a mulher
estivera tanto tempo ali na rua
O médico caiu em
prantos
Chorava... chorava,
como se a criança fosse sua
E, a todos, causava
espanto.
Dirigiu-se à sala do
treinamento
Pegando os botões, no
lixo, com ira os atirou
E com triste e firme
pensamento
Doutor Teixeira NUNCA
MAIS JOGOU!
Infelizmente esse amigo tão
querido nos deixou ainda na flor da idade. Com 56 anos de idade, em 27 de
setembro de 2000, um enfarte fulminante o levou para o grande time de
botonistas celestiais. Ficaram saudades imensas desse coração bondoso, desse
amigo fantástico que impulsionou o futebol de mesa paulista a essa potência que
todos nós admiramos na atualidade.
Torneio no Circulo Militar
em Curitiba 09 1982, foi nossa ultima participação juntos.
Aparecem Décourt (2), Della Torre (4) e Sambaquy (8). |
Até a semana que vem, se Deus
permitir.
Meu caro Sambaquy. Não teve a felicidade de conhecer Della Torre, pois como você bem sabe, minha vida sempre foi restrita ao gueto do Recife, mas os campos da APFM, em sua maioria foram confeccionados em São Bernardo do Campo, pelos seus familiares. Então, temos um pouquinho dele aqui conosco. Parabéns, por mais uma bela crônica e fiquei imaginando o desespero do Doutor Teixeira. Deve ter sido um grande peso na consciência, a ponto de deixar de lado um pouco da felicidade que encontrara no jogo de botão. Será que hoje existem médicos que agiriam assim? Um forte abração pernambucano.
ResponderExcluirMeu estimado Abiud, Della Torre foi uma pessoa maravilhosa. Sua dedicação ao futebol de mesa é até hoje louvada em verso e prosa pelo pessoal de São Paulo. Afinal, foi obra dele o reerguimento da Federação Paulista, que estava adormecida. Quanto as mesas, são de fabricação de seu filho Carlinhos, que foi inoculado no futebol de mesa pelo pai e sempre o acompanhava. Era o Carlinhos que ia me chamar no hotel, pois o Della ficava no carro devido à proibição de estacionamento no local. Quanto a existirem médicos que agiriam assim, acredito que sim, pois conheço alguns deles que jogam e amam sua profissão. Sentir-se culpado por uma vida que deixou de existir por culpa dos botões faria qualquer um parar de jogar. Abração gaúcho/catarinense.
Excluirtive o imenso prazer de jogar com o Sr Décourt e Antonio Maria Della Torre quando este morava em São Bernardo do Campo na rua Sírius,cheguei a ganhar alguns torneios Copa Sírius,saudades daqueles torneios depois perdi contato com ele....
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