segunda-feira, 5 de agosto de 2013

ANTONIO MARIA DELLA TORRE – O ARTISTA DO FUTEBOL DE MESA

Della Torre - o grande presidente da FPFM
Nascido em Casa Branca, interior de São Paulo, no ano de 1942, conheceu e se apaixonou pelo futebol de mesa aos onze anos de idade, em 1953. Antonio, assim como todos, começou furtando os botões de casacos de suas tias, os quais eram mais vistosos que os dos casacos de sua mãe. Desde cedo se iniciou na fabricação de botões, usando tampas de vidros de pomadas e cremes, deixando sua mãe zangada. Com sua atividade construtiva, juntou-se aos “cobras” da Congregação Mariana Casa-branquense, onde havia uma formidável mesa de cerejeira inteiriça. Conseguiu alguns campeonatos e vice-campeonatos. Em 1963, transferiu-se para a capital paulista, ingressando na empresa C.Itho do Brasil, ocupando a gerência financeira. O futebol de mesa ficou parado até o dia em que, ao chegar a casa, encontrou seus dois filhos jogando num Estrelão. Os garotos tinham jeito para a coisa e isso o motivou a comprar uma mesa oficial.
Frequentou a escola de Árbitros da Federação Paulista de Futebol, onde se formou e atuou até 1968, desligando-se dela por princípios e pela falta de tempo devido à sua atividade profissional. Em sua empresa, um dia, encontrou um rapaz com alguns botões. Interessou-se, pois havia voltado a jogar em casa com seus filhos e foi informado que o Riachuelo era o clube onde ele poderia praticar. No sábado seguinte, lá estava ele, assustado com tanta técnica.
Filiou-se ao Riachuelo, onde conheceu Geraldo Cardoso Décourt, de quem se tornou o grande amigo. Junto com Décourt fundam o BOTUNICE (Botonistas Unidos de Campos Elíseos) e ajuda a reativar a Federação Paulista de Futebol de Mesa que estava desativada, tornando-se o seu presidente mais ativo até hoje. Isso aconteceu em 1983, seu grande ano, pois, em São José dos Campos, é realizado extra oficialmente o primeiro campeonato brasileiro na regra de 12 toques e Della Torre torna-se campeão brasileiro, seguido por Libório (Brasília) e Muradian (São Paulo).
Della Torre e Décourt em uma solenidade de entrega de prêmios
Foi um excelente fabricante de botões, de troféus maravilhosos e o maior divulgador do futebol de mesa que já conheci. Dele vieram inúmeros times de vidrilhas para Santa Catarina, os quais foram distribuídos para jovens interessados na prática do esporte.
Décourt, Della Torre e Sambaquy
Tive a felicidade de privar dessa amizade, principalmente quando realizai um curso em São Paulo e por lá permaneci durante um mês. Conheci, com ele, todos os clubes da capital paulista e de Santos, pois Della Torre passava pelo Hotel onde estava hospedado e me carregava, juntamente com Décourt, durante as noites e nos finais de semana, quando então me conduzia até sua residência em São Bernardo do Campo. Além de um artista na confecção de botões, troféus, mesas, bolinhas tinha uma veia poética. É dele a poesia que transcrevo e que encontrei no livro Botoníssimo, de Ubirajara Godoy Bueno.

O ÚLTIMO TREINO.
Doutor Teixeira, médico excelente
Sem preconceito de cor ou crença,
Atendia pobres, ricos e todo doente
Que lhe viesse com qualquer doença.

Amável e muito bom esposo,
Pai de duas saudáveis crianças,
Era esse o médico bondoso
Daquela cidade e toda vizinhança.

Não cobrava aos pobres a consulta,
Recebendo bem a quem a seu consultório viesse;
Rico ou pobre, analfabeta ou culta,
Era querido por gente de toda espécie.

Certa vez, estando de viagem a família
Fica o bom médico só com o seu outro amor;
BOTÕES DE JOGO: uma verdadeira pilha
Treinava e treinava só, mas com ardor.

Chutes a gol, toques e passes;
Jogadas e táticas queria aprimorar,
Tinha do botonista muita classe,
Que era bom vê-lo jogar.

Mas a caminho, numa estrada,
Enquanto o doutor se divertia,
Levada pela mãe, uma criança desenganada
A casa do doutor se dirigia.

Chegando à porta da moradia
A mulher chamava e batia palmas
Doutor Teixeira, alheio a tudo, os botões polia
E aos pequenos discos se entregava com alma.

O bom médico absorto em sua diversão
Não escutava a mulher que à porta batia
Ao ponto de ter sangrado a mão
E, lá dentro, o remédio que ele tão bem conhecia.

Meia hora depois, ainda chamava a mulher aflita,
E a criança que a febre queimava
Fechando os olhos, perdeu a vida
Diante da família do médico, que regressava.

Trazido pela esposa, o doutor a cena via
E ao constatar que a criança estava morta
Confessou que salvá-la poderia
Se houvesse, há dois minutos batido à porta.

Ao saber que a mulher estivera tanto tempo ali na rua
O médico caiu em prantos
Chorava... chorava, como se a criança fosse sua
E, a todos, causava espanto.

Dirigiu-se à sala do treinamento
Pegando os botões, no lixo, com ira os atirou
E com triste e firme pensamento
Doutor Teixeira NUNCA MAIS JOGOU!

Infelizmente esse amigo tão querido nos deixou ainda na flor da idade. Com 56 anos de idade, em 27 de setembro de 2000, um enfarte fulminante o levou para o grande time de botonistas celestiais. Ficaram saudades imensas desse coração bondoso, desse amigo fantástico que impulsionou o futebol de mesa paulista a essa potência que todos nós admiramos na atualidade.
Torneio no Circulo Militar em Curitiba 09 1982, foi nossa ultima participação juntos.
Aparecem Décourt (2), Della Torre (4) e Sambaquy (8).


Até a semana que vem, se Deus permitir.

3 comentários:

  1. Meu caro Sambaquy. Não teve a felicidade de conhecer Della Torre, pois como você bem sabe, minha vida sempre foi restrita ao gueto do Recife, mas os campos da APFM, em sua maioria foram confeccionados em São Bernardo do Campo, pelos seus familiares. Então, temos um pouquinho dele aqui conosco. Parabéns, por mais uma bela crônica e fiquei imaginando o desespero do Doutor Teixeira. Deve ter sido um grande peso na consciência, a ponto de deixar de lado um pouco da felicidade que encontrara no jogo de botão. Será que hoje existem médicos que agiriam assim? Um forte abração pernambucano.

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    1. Meu estimado Abiud, Della Torre foi uma pessoa maravilhosa. Sua dedicação ao futebol de mesa é até hoje louvada em verso e prosa pelo pessoal de São Paulo. Afinal, foi obra dele o reerguimento da Federação Paulista, que estava adormecida. Quanto as mesas, são de fabricação de seu filho Carlinhos, que foi inoculado no futebol de mesa pelo pai e sempre o acompanhava. Era o Carlinhos que ia me chamar no hotel, pois o Della ficava no carro devido à proibição de estacionamento no local. Quanto a existirem médicos que agiriam assim, acredito que sim, pois conheço alguns deles que jogam e amam sua profissão. Sentir-se culpado por uma vida que deixou de existir por culpa dos botões faria qualquer um parar de jogar. Abração gaúcho/catarinense.

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  2. tive o imenso prazer de jogar com o Sr Décourt e Antonio Maria Della Torre quando este morava em São Bernardo do Campo na rua Sírius,cheguei a ganhar alguns torneios Copa Sírius,saudades daqueles torneios depois perdi contato com ele....

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