segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

RETROSPECTIVA HISTÓRICA DO PRIMEIRO CAMPEONATO BRASILEIRO, NÃO REALIZADO

Meus amigos, a dois dias do Natal, época em que sempre recordo de fatos acontecidos em minha vida, lembrando do pinheiro que meus pais armavam em casa, sempre ornamentado com um presépio maravilhoso; tudo isso faz com que eu procure sempre coisas que me transportem ao passado. E entre essas coisas, certamente, o futebol de mesa.
Estive, em minhas caminhadas pela orla marítima, dando tratos aos meus pensamentos, imaginando sobre o que poderia falar nessa penúltima coluna do ano de 2013. Foi então que uma luz brilhou em minha memória. Falar sobre o possível primeiro campeonato brasileiro de futebol de mesa que deveria ter sido realizado no país. Procurei entre os meus escritos e fiquei deslumbrado com a ideia de contar para todos o que pensava o presidente da Federação Riograndense de Futebol de Mesa.
A pioneira Federação de nosso esporte foi fundada em 9 de agosto de 1961, com o apoio da ACM, AABB e Clube Juvenil da Amizade. Após essa intrépida atitude, que coordenava os botonistas do Rio Grande do Sul, seu presidente e fundador Lenine Macedo de Souza viajou a São Paulo, com a companhia de Milton Mendonça, campeão do primeiro campeonato interno de clubes e representante da AABB, com a finalidade de ajudar a fundar a Federação Paulista de Futebol de Mesa. Entrando em contato com a Associação Cristã de Moços de São Paulo, AABB e Grêmio Esportivo Ultragaz, conseguiu ajudar na sua fundação em 21 de outubro de 1962, na sede da ACM, Rua Nestor Pestana, 147. Isso foi documentado no jornal Diário da Noite em 6 de novembro de 1962. Em seguida, rumaram para Belo Horizonte e o Diário da Tarde, de Belo Horizonte, em 3 de novembro de 1962, publicava “Será fundada hoje a Federação Mineira de Futebol de Mesa”. Afirmava, no corpo da reportagem, que no Brasil existem, em pleno funcionamento, as entidades no Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná, enquanto os mesistas de Santa Catarina e da Guanabara cuidam de seus primeiros passos para a criação de suas Federações. Na capital mineira, inúmeros desportistas já pensavam, com seriedade, em dar estrutura e regulamento próprio às disputas e aproveitaram a oportunidade da presença do Sr. Lenine Macedo de Souza, presidente da Federação Riograndense de Futebol de Mesa para marcarem a assembléia geral de fundação. A solenidade será realizada hoje, às 20 horas na sede social do Cruzeiro, para a qual estão sendo convidados todos os interessados na prática do futebol de mesa. Para a presidência da nova entidade foi ventilado o nome do jornalista Cleto Filho, que por motivos particulares declinou, indicando o advogado Luiz Carlos Rodrigues, o qual foi eleito o presidente da novel Federação.
Após essas viagens, feitas por conta própria, o sonho de nosso amigo Lenine era a realização de um campeonato brasileiro em sua cidade: Porto Alegre. As datas escolhidas foram os dias 15 e 16 de dezembro de 1962. Os convites foram feitos e o campeonato seria realizado na Regra Gaúcha.
Lenine viajou a Caxias do Sul no dia 3 de dezembro, para se reunir com o Dr. Claudio Eberle, presidente da Fundação Abramo Eberle, com vista ao patrocínio dessa primeira grande iniciativa. O representante da Metalúrgica Abramo Eberle, além do patrocínio, ofertou vinte taças e vinte medalhas para serem distribuídas entre os vencedores.
O local para essa disputa, em âmbito nacional, foi a sede do Aeroclube do Rio Grande do Sul, Avenida Borges de Medeiros, 901, com início às 14 horas. O campeonato seria disputado em duas categorias. Primeira categoria, representada por Lenine Macedo Souza (Cantegril) e segunda categoria, pelos botonistas: Celso Plentz (G.E. Wallig), Jorge Hallal (Estrela Vermelha – Rio Grande) e Caira Casapicola (Gaúcho). Haveria também a disputa feminina com a dupla Zaira Casapicola e Lenita Souza.
Mas, como a disputa seria realizada na Regra Gaúcha, nem paulistas, nem mineiros apareceram por lá. Ambos sempre jogaram com bolinhas esféricas e não aprovaram a bolinha em formato de disquinho.
A Folha Esportiva, de dezembro de 1962 publicou: Gaúchos sozinhos no Brasileiro de Futebol de Mesa, explicando a ausência das Federações convidadas. Por essa razão a Federação Riograndense proclamou os diversos botonistas gaúchos campeões por W.O., em virtude do não comparecimento de seus adversários, destinando aos mesmos os troféus e medalhas que foram ofertados pela Metalúrgica Abramo Eberle S. A. Em nota, na mesma reportagem, a FRFM convocou, por intermédio do jornal, os representantes do interior, para que pudessem comparecer novamente na Capital, no dia 16, a fim de receberem os títulos de campeões brasileiros e disputarem, durante a tarde, o torneio de despedida do ano de 1962.

A ideia de promover o campeonato brasileiro era antiga. Mas, a tentativa de impor a Regra Gaúcha aos demais Estados da União não colou, pois só no nordeste brasileiro havia grupos que jogavam com disquinhos. Os demais jogavam com bolinhas esféricas, o que dificultava a adesão. Para conseguirmos realizar o primeiro Campeonato Brasileiro foi necessária a criação da Regra Brasileira, que juntou muito da Regra Gaúcha com a Regra Baiana, e foi aceita por grande parte de botonistas brasileiros.
Oito anos se passaram, desde a tentativa sem sucesso de Lenine Macedo de Souza até que se concretizasse esse sonho, em 1970, na Bahia. Já, na Regra de 3 Toques, o campeonato brasileiro teve início em 1981, em Brasília. Na Regra de 12 Toques, em 1989, em São Paulo. Portanto, estamos ligados de maneira muito evidente ao sonho de reunir botonistas de vários Estados em um campeonato que apontasse o Campeão do Brasil.
Essa coluna é uma homenagem aos pioneiros que tanto fizeram pelo futebol de mesa, difundindo-o através de jornais que são documentos extraordinários para a história do Futebol de Mesa brasileiro.

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

2 comentários:

  1. É isso aí, Sambaquy, até se chegar a um consenso vai uma grande distância e muitas vezes não se consegue. Ainda bem que a semente plantada germinou e a regra brasileira tornou-se realidade. Feliz Natal e um ano de 2014 com muito mais botão. Abração pernambucano.

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    1. Amigo Abiud,
      Realmente o sonho que nos moveu na criação da Regra Brasileira fez com que despertasse o sentido coletivo do futebol de mesa, irmanando botonistas de várias regiões. O exemplo serviu para a criação de outrops campeonatos brasileiros em modalidades diferentes.
      Feliz Natal e um 2014 com muitas realizações.
      Abração gaúcho de coração e catarinense de adoção.

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