segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

CENTENÁRIO DE GERALDO CARDOSO DECOURT


No próximo dia 14 de fevereiro, quando todo o Brasil comemorará o Dia do Botonista, estaremos festejando efusivamente o centenário do Papa do Futebol de Mesa, o inesquecível GERALDO CARDOSO DECOURT. Essa data é e será sempre em sua homenagem.

Nascido em Campinas (SP) em 14 de fevereiro de 1911, desde cedo se dedicou ao futebol de mesa, o qual viu ser praticado na casa de amigos no Rio de Janeiro, onde residia com seus pais. Aos dezenove anos, em uma atitude heróica e inusitada publica o primeiro livro de regras de futebol de mesa, que ele denominou de REGRAS DE FOOT BALL CELOTEX. Com isso fez a sua divulgação em vários jornais, como sejam: A Noite, A Ordem, Diário da Noite, A Batalha, O Globo, Rio Esportivo, Diário de Noticias e as revistas A Noite Ilustrada e o Suplemento de O Cruzeiro, que eram impressos em rotogravura. Como tinham boa circulação nas principais capitais do país a divulgação ficou conhecidíssima, pois, pelos anos afora Decourt era abordado por aficionados pelo esporte da mesa. Havia também a Gazeta (antes de ser Esportiva) que também o apoiaram em sua empreitada. O argumento usado pelo rapazinho foi de se tornar conhecido de Thomaz Mazzonni e José de Moura que administravam a Gazeta.

Naquele tempo o rádio era incipiente e televisão era um sonho futurista.

Nos seus primeiros campeonatos na Liga Carioca ele era um dos mais jovens, pois iniciou a jogar com nove ou dez anos e a grande maioria dos praticantes já passavam dos vinte anos.

Decourt em sua atividade profissional visitou muitas capitais e quando esteve em Porto Alegre, na década de quarenta ou cinqüenta, organizou, apoiado pelo Correio do Povo, um campeonato de futebol de botões. Isso, ele mesmo me contou com uma carga de orgulho, no bom sentido, pois se sentia um gaúcho honorário.

Em 1957, em São Paulo, num encontro casual com Eder Jofre, então Campeão Mundial de Boxe, recebeu o endereço do Grêmio Dramático Luso Brasileiro, no Bom Retiro, onde se praticava o futebol de mesa. Há poucos dias antes desse encontro a TV Record havia transmitido ao vivo uma partida de futebol de mesa entre o Eder Jofre e o Deputado Herbert Levy. Houve uma repercussão muito grande do fato em vários jornais e revistas esportivas.

Decourt montou um time dando o nome aos botões de seus colegas pintores. Sagrou-se vice-campeão da Federação Paulista. Decourt era um flamenguista fanático e colocava o nome em seus botões homenageando os tricampeões do seu C. R. Flamengo.

Ele fez várias interrupções em sua jornada, por motivo de suas constantes viagens de trabalho. Também não admitia que se dissesse que fora ele o inventor do jogo, já que aprendera a jogá-lo com amigos nas ruas do Rio de Janeiro, lá pelos idos de 1920. A sua invenção foi organizar um livro de regras e denominar o futebol de celotex, devido ao material utilizado para confeccionar as mesas que se chamava de Celotex e semelhante ao nosso Duratex atual.

Como citei anteriormente, Decourt era reconhecido por antigos desportistas que praticavam o futebol de mesa. Em 1942, em Vitória (ES), dois senhores ao escutarem seu nome perguntaram se era aquele mesmo Decourt que em 1930 fora jogar Celotex em Niterói. Respondeu afirmativamente perguntando como se lembravam do fato. Roberto Saleto e Gil Veloso então contaram que um irmão de Gil, torcedor do Vasco da Gama, fora assistir a inauguração do Estádio de São Januário e os dois foram a Niterói para assistir o jogo de botões. Em outra ocasião, com Manézinho Araújo, ex cantor de emboladas, lá pelo ano de 1935, quando saiam de um programa do Cesar Ladeira da Rádio Nacional. Manézinho perguntou se ele era o Geraldo Decourt do Futebol Celotex, pois na Liga Pernambucana existia uma fotografia sua na parede. O presidente da Liga era Jota Soares que era cineasta em Pernambuco. Em 1980, visitando Santos, em companhia de Hideo Ué Filho e Eliahou Vidal, foi surpreendido com a presença de um senhor que beirava os setenta anos: Jurandir da Silva Marques. Esse se lembrava das façanhas do Decourt nos anos 29/30 quando o vira jogar e citava os nomes dos companheiros daquela época. Fez uma apologia as façanhas incríveis do nosso Papa. Alguns meses depois recebeu em sua residência um notável jornalista carioca Helio de Souza Lopes que desejava falar sobre futebol de botões. Depois de três horas de conversas Decourt falou sobre o Celotex e apanhou as matérias publicadas nos finais dos anos vinte e inicio dos anos trinta. O homem explodiu de alegria. Era o mesmo Decourt que ele almejava encontrar. Telefonou para a sua residência avisando sua esposa que atrasaria a ponte aérea, pois havia encontrado um filão de ouro.

Ao voltar para o Rio procura Getulio Reis de Faria, botonista na época com 65 anos de idade que ao saber do encontro redigiu uma carta, datada de 23.06.1980, afirmando que há mais de cinqüenta anos o procurava. Foi então criado um momento mágico entre os dois, pois houve o famoso encontro para a comemoração do JUBILEU DE OURO da Regra de Foot Ball Celotex.

Para esse encontro enviei ao Decourt um time fabricado na Bahia liso, pois o Getúlio era praticante da Regra Brasileira. O encontro dos dois foi super emotivo e emocionante e Decourt queria encerrar sua carreira naquele dia, mas foi impedido por Getúlio, pois ali estava começando uma nova etapa em suas vidas. Decourt ainda escreveria em seu BOTUNICE INFORMA: Ainda não conseguimos nos refazer da “sacudidela” que representou para nós, a revigorante missiva do veterano carioca Irmão Getúlio Reis de Faria, e em resposta ao mesmo, afirmamos que o DESTINO houve por bem determinar o ano de 1980 para nos conhecermos de fato, e não 1930, quando ainda éramos jovens demais e não tínhamos condições para sentir o que sentimos hoje, meio século depois, quando podemos sentir pulsar discretamente sadio de dois corações que ainda batem, naquela batida de nossos antepassados que nos geraram para que um dia, FOSSE QUANDO FOSSE, NÃO COMO UM ‘FOSSE QUALQUER’ SEM SABERMOS QUANDO, mas QUANDO TIVESSER QUE SER, sem a PRESSAS DOS APRESSADOS, viéssemos a poder ESTIMULAR os mais jovens que nós, com o exemplo que confirma a tese de que deve-se DAR TEMPO AO TEMPO, para em TEMPO, podermos saborear o TEMPO que estamos saboreando hoje, ou seja, JUNTOS. Afinal, os dois juntos somavam um século de botonismo.

Então surge Agacyr José Eggers, patrocinando um Torneio em Curitiba e convida a equipe do Botunice para participar. Como não conseguiram completar a equipe, Decourt telefona para mim e solicita a minha presença e mais o Oscar Bernardi que era o presidente da Associação Brusquense, para completar a equipe. Encontramos-nos em Curitiba e Decourt já apresentava o problema na perna esquerda. Na volta para Brusque, nos acompanharam Decourt e sua esposa. Na noite seguinte, na sede própria da Associação Brusquense de Futebol de Mesa, houve um churrasco em homenagem ao nosso grande nome do futebol de mesa brasileiro. Foi-lhe ofertado um cartão de prata com os seguintes dizeres: “Ao Mestre Decourt, o reconhecimento dos botonistas brusquenses pelo seu trabalho em torno do futebol de mesa. ABRFM, setembro de 1982.”

A enfermidade agravou-se e sua última obra foi a composição do hino do botonista. Gravara-o contando com as vozes afinadas de suas filhas, acrescentando depoimentos de viva voz, onde anunciava a sua despedida. Foram 15 cópias de fita K7 a serem distribuídas e que hoje é um tesouro para quem foi distinguido em recebê-las.

Decourt contou sempre com o seu fiel escudeiro Antonio Maria Della Torre, outra figura maiúscula no futebol de mesa nacional.

O carinho que todos os botonistas paulistas e brasileiros tinham pelo bondoso DECOURT se reflete nos apelidos carinhosos que ele portava: “Corujão” ,“Raposão”, “Mestre”,”Professor”, “Patriarca”, “Papa”, “Bom Velhinho” com enfatizava sempre o cerebral Atienza.

Decourt foi um guerreiro notável e permaneceu entre nós até o dia 27 de maio de 1998, quando partiu para assumir no Plano Espiritual o seu lugar de vanguardeiro do futebol de mesa, esperando que cada um de nós, na sua hora, nos encontre para realizarmos o grande campeonato de nossas vidas.

Que esse ano seja comemorado o centenário daquele que foi o Papa do Futebol de Mesa brasileiro.

Sambaquy.

Um comentário:

  1. párabéns pelo texto. homenagem mais do que justa a decourt. sou casado com uma de suas netas e irei enviar seu texto para confortar a todos da família neste momento de saudade.

    grande abraço!

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