domingo, 4 de março de 2012

GOLS INESQUECÍVEIS – ALEGRIA E TRISTEZA

Cada um de nós tem um filme rodando em sua memória, lembrando momentos inesquecíveis que trouxeram alegrias imensas, uma euforia incontida, um grito alucinante que nos colocava como guerreiros medievais. Era o momento em que o botão saía de nosso comando e encontrava a bolinha, fazendo-a adormecer no fundo das redes adversárias. Era um brilho que iluminava o rosto da gente num êxtase de conquista inimaginável, gerando em nosso íntimo o despertar do menino que vibrava quando recebia o presente esperado.
Cada um de nós terá histórias para contar, com resultados semelhantes. A construção de uma jogada que conseguiu amordaçar o nosso adversário e culminou com o nosso grito de gol.
Particularmente, eu tenho vivo em minha memória dois gols que me fizeram vibrar de maneira espetacular. O primeiro foi no jogo final, realizado pelo campeonato brusquense, no ano de 1978. Jogava contra Márcio José Jorge (Moto Clube) que lutava pelo bi-campeonato. Eu lutava para alcançar o meu terceiro título no certame citadino. O jogo, como só poderia ser, estava amarrado, sem chances para ambos os lados e jogado no dia 4 de janeiro de 1979.
Na metade do segundo tempo, consegui colocar uma bola na entrada da área resguardada pelo Márcio. Ele não consegue cortar e seria a minha grande chance de um chute ao gol. Quase todos os botões estavam em posição difícil. Restava o Valdomiro, pela ponta direita. Seria um chute em que eu deveria conseguir um ângulo de 90 graus. Se não acertasse a bolinha, haveria o perigo de cometer falta em um botão adversário. E isso seria fatal, pois o Márcio teria dois toques e fatalmente sairia na frente. Só havia uma chance e tinha de ser o Valdomiro mesmo. Olhei bem para a bolinha e depois para o Valdomiro. Coloquei a ficha e rezei para dar certo. Nem cheguei a olhar para o gol adversário para não perder a concentração naquilo que estava planejando. Foram alguns segundos de concentração; a ficha desceu e o Valdomiro partiu em direção à bolinha. Alcançou-a exatamente no ponto ideal e a bolinha levantou em direção ao gol. Passou por cima do goleiro e estufou a rede do Moto Clube. Eu não sou de gritar, mas não pude resistir e pulei, gritando “golaço”...
Com a vantagem ainda consegui um segundo gol que consolidou o meu terceiro campeonato brusquense.
O segundo aconteceu alguns dias depois, ou seja, mais precisamente no dia 21 de janeiro de 1979, no Campeonato Brasileiro realizado em Vitória (ES). Estava jogando a minha classificação para as semifinais do referido campeonato. Meu adversário era Wilson Marques, do Rio Grande do Norte. Um jogo bem catimbado e bastante difícil. O resultado 1 x 1 indicaria uma decisão por pênaltis à distância. Foi então que consegui jogar uma bola na intermediária direita comandada pelo Wilson. Ele não conseguiu encobrir e nem afastar a bolinha. Estava distante do gol e eu tinha, à minha disposição, somente o Paulo Cesar Carpeggiani, na minha intermediária esquerda. Mandei colocar e usei a mesma concentração que havia usado no gol do Valdomiro. Só havia um lugar para acertar a bolinha e tinha de ser ali que o Paulo Cesar chegaria. A ficha em cima do botão, os olhos fixos na bolinha e a sorte foi lançada.
O Paulo Cesar saiu célere e alcançou a bolinha exatamente onde eu imaginara. Essa levanta e encobre o goleiro, com bastante força. Bate na rede atrás dele e volta ao campo. Wilson, muito matreiro, diz: não foi gol. E o árbitro confirma: não foi gol, foi um golaço espetacular. Isso foi confirmado por todos os que estavam assistindo, que aplaudiram o gol. Eu não gritei, pois fechei os olhos e só abri quando escutei o juiz dizer que eu havia feito um golaço. Venci o jogo por 2 x 1 o que me habilitou a jogar contra o Átila Lisa nas semifinais.
Assim como eu tive a felicidade de fazer esses dois gols, meus adversários que lutavam pelo mesmo objetivo, com certeza tiveram a tristeza que cada um deles produziu em suas vidas de botonistas, pois dificilmente nos esqueceremos daqueles momentos que nos deram alegrias ou decepções.
Como venho praticando a regra de 12 toques, pois aqui não há núcleos que joguem a Regra Brasileira, tenho sentido que os gols são construídos, procurando sempre a melhor posição para o arremate final. Bem diferente da nossa regra, quando surge uma oportunidade, talvez seja essa a única que teremos no jogo. Geralmente, para chutar ao gol, o pessoal chega até a entrada da área, isso lá pelo 11º ou 12º toque, quando então mandam colocar. Essa é a grande dificuldade que eu encontrei, pois a bolinha sobrando, eu chuto ao gol, seja de onde for. Com isso, eu dou chance ao adversário, pois, após meu chute ao gol, a bola será sempre de posse dele e ele realizará seus doze toques. Mesmo assim eu consegui um lindo gol, num jogo realizado no campeonato do ano passado e que foi filmado pelo meu amigo Ivo. Não sei se haverá a possibilidade de reproduzir o vídeo de sete segundos, mas, se for possível, valerá a pena ver um gol que achei lindo, pois foi chutado de longe e encobriu o goleiro adversário.
Como o gol é o objetivo de cada botonista, ainda há de se salientar quando se consegue e o mesmo é anulado. Essa história é antiga e aconteceu em Pelotas. Um grande botonista estava lutando para a sua classificação e o jogo empatado. Quase no final desse, seu adversário comete pênalti. O nosso amigo apanha seu número 11 (Pepe), coloca na frente da bolinha e o adversário diz pode chutar. Ele chuta, marca o gol da classificação e o árbitro o anula, afirmando que ele não havia mandado colocar. Mas, sendo uma pena máxima, um pênalti, fica subentendido que vai ser chutado ao gol. Mas, enfim, acabou que aquela associação perdeu um líder natural que acabou ajudando outra a se projetar no cenário botonistico pelotense e gaúcho.
Há, também, a história, essa, na regra de doze toques, em São Paulo, contada pelo meu amigo saudoso Antonio Maria Della Torre. Seu filho mais velho, Henrique, estaria jogando contra Gabriel, seu sobrinho. O Gabriel deu a saída e na sequência perdeu a bola para o Henrique, perto da área penal deste. Como a bola ficara muito ajeitada para o botão do Henrique, mas contra a sua própria meta, o Gabriel, muito maroto, perguntou: “Vai Chutar?” O Henrique, eterno super distraído, falou: “Vai pro gol”! O Gabriel, já esboçando um sorriso, sem tocar no goleiro do Henrique, falou: “Tá”. E o Henrique mandou a bola contra suas próprias redes em meio a uma gargalhada geral.
Por essa razão, meus amigos, o gol é a concretização de todos os sonhos de todos nós botonistas. Quando o conseguimos, a alegria e a satisfação fazem parte e até a cerveja no final fica mais deliciosa. Quando os nossos adversários é que ficam felizes, apenas comemoramos junto a eles, mas com um gostinho amargo na boca.
Queiram ou não, é assim mesmo. Em qualquer regra.
Aqui um dos meus gols marcados na regra 12 toques

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.
Adauto Celso Sambaquy

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